Quando estreou a primeira
temporada de Monstros, nova série de
antologia sobre crimes reais produzidas por Ryan Murphy, acabei deixando de
conferir a história do assassino Jeffrey Dahmer por já estar saturado na época
de séries “true crime”. A série chega a sua segunda temporada com este Monstros: Irmãos Menendez Assassinos dos
Pais contando o caso de dois irmãos que mataram os pais no final da década
de 80. Eu tinha ouvido falar do caso algumas vezes, mas nunca soube muito à
respeito, então resolvi conferir a série.
A narrativa acompanha os irmãos
Lyle (Nicholas Alexander Chavez) e Erik Menedez (Cooper Koch) que em 1989
assassinam o pai, José (Javier Bardem), e a mãe, Kitty (Chloe Sevigny), com
múltiplos tiros de espingarda. O crime chamou atenção pela crueldade e pelo
fato de que os irmãos inicialmente tentaram culpar a máfia pela execução dos
pais, tentando sugerir que o pai, um rico empresário da indústria fonográfica,
estava envolvido com o crime organizado. O caminho até a eventual condenação
dos irmãos levou quase uma década e foi marcado por denúncias de abusos físicos
e sexuais que José Menendez teria cometido contra eles.
Apesar do título em português
evocar um suspense investigativo, Assassinato
em Gosford Park é um drama mais interessado no que o assassinato no centro
da trama movimenta entre os diferentes personagens que habitam a luxuosa mansão
britânica na qual a narrativa se passa do que no crime em si. É um filme sobre
questões de classe social e como a criadagem é tratada de forma invisível, com
os funcionários usando essa invisibilidade a seu favor.
A narrativa se passa em 1932 e
acompanha um final de semana na propriedade de Gosford Park, chefiada pelo
truculento William McCordle (Michael Gambon). A propriedade abriga no final de
semana membros proeminentes da sociedade britânica, como lady Constance
Trentham (Maggie Smith), a filha de McCordle, Sylvia (Kristin Scott Thomas),
Raymond Stockbridge (Charles Dance), além de convidados estrangeiros como o
produtor de cinema Morris Weissman (Bob Balaban). Esses ricos vem acompanhados
de seus criados, como Mary (Kelly Macdonald), que serve lady Trentham, ou Henry
(Ryan Philippe) assistente de Weissman que acaba sendo colocado junto com os
outros criados, além da própria equipe da mansão, como a sra. Wilson (Helen
Mirren), Elsie (Emily Watson), George (Richard E. Grant) e o chefe dos criados,
o sr. Jennings (Alan Bates).
Nunca li os livros de Jo Nesbo,
mas meu contato com adaptações de suas obras não foi dos melhores. Primeiro com
o péssimo Boneco de Neve(2017) e
agora com este fraco Calor Mortífero,
produção da Prime Video que adapta o conto O
Homem Ciumento de Nesbo.
Mistério requentado
A trama se passa na Grécia e
acompanha o detetive particular Nick Bali (Joseph Gordon Levitt) contratado
pela socialite Penelope (Shailene Woodley) para investigar a morte de seu
cunhado Leo (Richard Madden). Leo teria morrido ao cair de um penhasco durante
uma escalada livre (sem equipamentos), com a morte sendo considerada um
acidente. Penelope, no entanto, desconfia de algo, já que o controle da empresa
da família está em jogo, contrata o detetive. As principais suspeitas recaem
sobre Elias (Richard Madden), irmão gêmeo de Leo e marido de Penelope, e Audrey
(Claire Holman), a controladora mãe dos gêmeos.
Se não me engano foi o crítico Roger
Ebert que disse que um filme bom nunca é longo o bastante e um filme ruim nunca
é curto o bastante. Isso se aplica perfeitamente a este O Cara da Piscina, cujos meros cem minutos de duração se
transformam em algo tão dolorosamente excruciante que o filme parece ter mais
de quatro horas de duração.
A trama é centrada em Darren (Chris
Pine), um tratador de piscinas hiponga, conspiracionista, metido a filósofo e
ativista político, sempre cobrando mudanças nas linhas de ônibus na câmara de
vereadores. Quando ele esbarra em um escândalo envolvendo o presidente da
câmara, Stephen Toronkowski (Stephen Tobolowski), que pode estar recebendo
propina do magnata imobiliário Theodore Hollandaise (Clancy Brown) para aprovar
um grande empreendimento, Darren decide investigar a questão. No meio do
caminho encontra a femme fatale June
(DeWanda Wise) e mais uma série de personagens pitorescos.
Reunindo Casey Affleck e Matt
Damon depois de ambos dividirem a cena na trilogia Onze Homens e Um Segredo, Os Provocadores tenta ser um filme de
roubo que mistura comédia e algum comentário político. A trama segue Rory (Matt
Damon) e Cobby (Casey Affleck), dois sujeitos que estão em um péssimo momento
de suas vidas que aceitam a proposta do pequeno criminoso Scalvo (Jack Harlow,
do fraco remake de Homens Brancos Não Sabem Enterrar) para roubarem o dinheiro de propina que o prefeito Miccelli
(Ron Perlman) tem escondido em um cofre. O assalto dá errado e agora Rory e
Cobby são homens procurados precisando encontrar um meio de fugirem da cidade,
indo pedir ajuda à terapeuta de Rory, a dra. Rivera (Hong Chau).
Um sujeito leva a filha para o
show de uma diva pop e se espanta com o volume de policiais no local. Ele logo
fica sabendo que as autoridades montaram no show uma armadilha para prender um
perigoso assassino em série ao saberem que ele estaria lá. O problema é que o
sujeito é o assassino que polícia procura. Novo filme do M. Night Shyamalan, Armadilha parte de uma premissa que
parece saída de um suspense B e abraça completamente essa natureza, talvez o
filme de sensibilidade mais B do diretor desde A Visita (2015).
A prisão do pop
Cooper (Josh Hartnett) está com a
filha no show da cantora pop Lady Rave (Saleka Shyamalan, filha do diretor). Ao
descobrir que a polícia montou uma armadilha para prendê-lo ele usa todas as
suas habilidades para encontrar um meio de fugir do local ao mesmo tempo em que
tenta manter sua fachada diante da filha.
A narrativa tem sua parcela de
conveniências, como o fato de Cooper constantemente encontrar pessoas que
revelam facilmente os segredos da operação ou algumas soluções pouco
plausíveis, como o avental roubado de um funcionário estar com a carteira do
sujeito dentro para que Cooper possa usar um documento para sair de um
problema. Muito disso, no entanto, é tratado com alguma medida de humor, parte
da autoconsciência que o filme exibe a respeito de toda a sua vibe de filme B.
Hartnett, que vem experimentando
uma renascença na carreira com participações em produções como Black Mirrorou Oppenheimer (2023), é ótimo em construir a dualidade de Cooper. Um
pai amoroso, que parece se importar de verdade com a filha e quer mantê-la
longe de sua faceta mais sombria, e um assassino ardiloso e cruel que não se
importa em mentir, manipular ou ferir os outros para conseguir o que quer. A
composição de Harnett mostra aos poucos as rachaduras que vão aparecendo em sua
fachada de cidadão pacato, ficando mais agitado e com mais dificuldade de se
manter no controle.
Esse desvelamento da
personalidade do protagonista se dá também pelo modo como Shyamalan o filma,
recorrendo a closes mais fechados ou planos detalhe de pequenos tiques e
expressões do personagem que revelam sua tensão e gradual perda de controle,
além de ressaltar a sensação de acuamento e como as opções e espaços estão
diminuindo ao seu redor. A narrativa se equilibra em uma corda bamba tonal,
tentando ao mesmo tempo nos fazer temer Cooper por sua natureza cruel e
implacável e fazer nos importarmos com sua relação com a filha, a exemplo de
toda a subtrama envolvendo a briga da filha com uma colega de escola. Essas
duas facetas eventualmente convergem, como no momento em que Cooper convence a
produção do show a escolher sua filha para ser chamada para dançar com Lady
Raven no palco, simultaneamente conseguindo acesso aos bastidores da arena e
fazendo a filha provocar ciúmes na patricinha que a maltratou.
O caos da liberdade
É uma pena que toda essa
construção cuidadosa e o crescimento da tensão desmoronem assim que a narrativa
deixa o estádio. A impressão é que Shyamalan tinha umas três ideias diferentes
de como encerrar sua narrativa e resolveu executar todas ao mesmo tempo,
resultando em um vai e vêm constante de caminhos narrativos, reviravoltas que
se acumulam tão rápido que não causam o impacto devido e soluções tão
convenientes que mesmo no clima de excesso do filme soam pouco críveis.
A revelação envolvendo a
personagem de Alison Pill, por exemplo, falha em ser a grande reviravolta que o
filme a conduz para ser por soar desonesta. A personagem aparece muito tarde e
muito pouco para sentirmos que aquela é uma guinada inesperada que ressignifica
o que achávamos entender da dinâmica daquelas personagens e mais algo que o
roteiro tira da cartola no último minuto porque precisava chocar o espectador.
Para funcionar como o filme esperava que funcionasse era preciso apresentar a
personagem antes, mostrar o estado da relação de Cooper com ela e ir
construindo alguma medida subjacente de ambiguidade.
É mais um exemplo que mostra como
Shyamalan é um ótimo diretor, mas um péssimo roteirista, algo que já mencionei
quando escrevi sobre Batem à Porta(2023).
Shyamalan só tinha a ganhar se concentrasse seus esforços na direção e tivesse
alguém para desenvolver os roteiros ao seu lado a partir dos argumentos que ele
próprio cria.
Armadilha vale pelo modo como constrói o senso crescente de tensão
no jogo de gato e rato entre o protagonista e seus perseguidores, bem como na
dualidade que traz ao protagonista, sendo lamentável que ele se perca no
clímax, desperdiçando o seu próprio potencial.
Depois de assistir O Reencontro da Turma pensei seriamente
se eu escreveria algo respeito. É uma produção tão inane, tão desprovida de
qualquer qualidade minimamente memorável que pensei que seria difícil fazer
render um texto sobre ele, mesmo nas pílulas críticas da coluna Drops. Ainda
assim, resolvi tentar como um desafio (ou penitência, sei lá) auto imposto para
ver o que consigo extrair.
Dirigido por Osgood Perkins,
filho do ator Anthony Perkins (famoso pelo Norman Bates de Psicose), este Longlegs:
Vínculo Mortal mistura um thriller
de serial killer com horror
sobrenatural. Nem sempre a mistura transita de maneira fluida entre os gêneros,
mas a condução de Perkins é eficiente em criar uma atmosfera de constante
tensão.
Instinto sombrio
A narrativa é centrada em Lee
Harker (Maika Monroe, de Corrente do Mal)
uma jovem agente do FBI que tem um instinto afiado para encontrar criminosos.
Ela acaba incumbida pelo seu superior, Carter (Blair Underwood), de investigar
os assassinatos cometidos pelo misterioso Longlegs (Nicolas Cage). Ao longo de
anos, o assassino matou cerca de dez famílias inteiras, sempre deixando uma
carta cifrada no local do crime, mas nenhuma evidência física de sua
participação nos crimes, que são considerados assassinatos seguidos de suicídio
e as provas apontam para os pais de cada família cometendo os crimes.
Motéis são um espaço de discrição
e também de livre exercício de nossos desejos. Um lugar em somos encorajados a
fazer o que queremos porque ninguém nos vê. Não é acidente, portanto, que a
locação central de Motel Destino, um filme
cuja história gira em torno de desejo e da necessidade de se esconder, seja um
motel.
Neon Noir
A trama é protagonizada por
Heraldo (Iago Xavier). Ele e o irmão trabalham para a chefe de uma facção local
e são incumbidos de eliminar um rival dela. Um dia antes do assassinato,
Heraldo se envolve com uma mulher que conheceu em um show e vai com ela para um
motel, ele acorda no dia seguinte atrasado para o assassinato e quando chega no
local combinado descobre que o irmão tentou o ataque sozinho e foi morto.
Temendo a vingança da chefe e dos companheiros, Heraldo volta ao motel para se
esconder e convence o casal de donos, Dayana (Nataly Rocha) e Elias (Fábio
Assunção) a deixá-lo ficar lá em troca de emprego. Aos poucos, tanto Elias
quanto Dayana demonstram interesse nele, com Heraldo eventualmente se
envolvendo com Dayana.
Depois de dois filmes bem aquém
do esperado com Prometheus (2012) e Alien: Covenant (2017) eu não tinha
muitas expectativas em relação a este Alien:
Romulus. Sim, o diretor Fede Alvarez tem uma trajetória sólida no horror
com filmes como O Homem nas Trevas
(2016) ou A Morte do Demônio (2013),
mas a impressão é que não havia muito mais a ser dito sobre o universo criado
em Alien: O Oitavo Passageiro (1979).
Alien: Romulus não é uma reinvenção
da franquia, mas trabalha de modo consistente seus temas de totalitarismo
corporativo, soberba humana ou a tentativa do homem em tomar para si a criação
da vida. Inclusive executa melhor alguns conceitos que não foram muito bem
aproveitados em produções anteriores neste universo.
A trama é centrada em Rain
(Cailee Spaeny), que trabalha em uma decadente colônia de mineração da
Weyland-Yutani. Ela acumulou horas de trabalho suficientes para conseguir um
passe para deixar o lúgubre planeta minerador que não recebe luz solar para um
lugar, mas habitável. Quando a empresa muda a cota de horas na última hora, ela
decide encontrar um outro meio para sair do planeta junto com o sintético Andy
(David Jonsson), a quem considera um irmão. A chance de fuga aparece através de
Tyler (Archie Renaux) que propõe a Rain usar as permissões que Andy tem dos
sistemas da Weyland-Yutani para invadirem uma estação espacial desativada e
roubarem os suprimentos que precisam para chegar no planeta mais próximo.
Chegando na estação, porém, descobrem que o local não foi desativado, mas
destruído e que experimentos perigosos estão à solta no local.
Adaptando o romance de mesmo nome
escrito por Holly Jackson, Manual de
Assassinato Para Boas Garotas é uma trama investigativa para o público
jovem que remete a produtos similares como as histórias de Nancy Drew ou
Veronica Mars. O problema é que a série não faz muito mais além de seguir todas
as estruturas típicas desse tipo de narrativa sem muito brilho.
A trama é protagonizada por Pippa
(Emma Myers, de Wandinha) que decide
investigar o assassinato de Andie Bell (India Lillie Davies), a garota mais
popular da escola, ocorrido cinco anos atrás. O crime abalou a pequena cidade
em que Pippa vive e a garota pensa em usar sua investigação como a redação para
a faculdade. Sua investigação também é motivada pelo fato dela não acreditar
que Sal (Rahul Pattni), o namorado de Andie, tenha cometido o crime.
Quando foi anunciado, Guerra Sem Regras dava a impressão que
seria a versão britânica de Bastardos
Inglórios (2009) do Tarantino ao narrar a história de um grupo violento de
soldados usando táticas de guerrilha para sabotar a ocupação nazista na Europa.
O filme é isso, com o problema de que não faz nada além de tentar emular a
produção de Quentin Tarantino sem que o diretor Guy Richie consiga criar um
senso de identidade ou estilo próprio para a sua narrativa.
A narrativa é levemente baseada
na história real da Operação Postmaster, uma missão clandestina das forças
armadas britânica para sabotar a cadeia de suprimentos nazista que abastecia os
barcos que patrulhavam o oceano Atlântico. O renegado Gus March-Philips (Henry
Cavill) é incumbido de liderar uma missão clandestina a uma ilha na costa oeste
da África que serve de base para a estrutura de suporte aos submersíveis
alemães que patrulham o oceano. Com ele está um grupo de soldados desajustados
como o sueco Anders Lassen (Alan Ritchson, de Reacher) ou o piromaníaco Freddy (Henry Golding).
Sinto que toda vez que eu pisco
sai mais um filme de ação estrelado pelo Jason Statham e a essa altura a
maioria deles é muito similar entre si para despertar meu interesse. O que me
atraiu para este Esquema de Risco:
Operação Fortune foi a inesperada parceria entre Statham e Aubrey Plaza, já
que o senso de humor excêntrico que a atriz costuma carregar em todos os seus
projetos não é algo que você imagina junto das fitas de ação estreladas pelo
ator inglês.
A trama traz Statham como o
mercenário Orson, contratado pela inteligência britânica para recuperar um HD
roubado na Ucrânia que traz em si um avançado sistema de armas. Com a ajuda da
hacker Sarah (Aubrey Plaza) eles descobrem que o drive está em posse do traficante
de armas Greg (Hugh Grant), que planeja vendê-lo. Como não é qualquer um que se
aproxima dele, Orson decide usar o astro do cinema Danny (Josh Hartnett), de
quem Greg é fã, para se infiltrar no círculo social do criminoso.
Comecei a assistir a minissérie Acima de Qualquer Suspeita sem esperar
muita coisa. Parecia só mais um drama jurídico e investigativo. Na prática ele
é isso, não tendo qualquer reinvenção da roda nas mecânicas desse gênero, seja
em forma ou conteúdo, mas é muito bem executado ao ponto de se elevar no oceano
de produções similares.
Adaptando o romance homônimo de
Scott Turow, a trama acompanha o promotor Rusty Sabich (Jake Gyllenhaal).
Quando a promotora Carolyn Polhemus (Renate Reinsve, de A Pior Pessoa do Mundo) é assassinada com um método similar a um
assassino que ela prendeu, Rusty se torna o promotor responsável pelo caso. O
problema é que Rusty mantinha uma relação extraconjugal com Carolyn e esteve
com ela na noite do assassinato, tornando-o suspeito do crime. Ele é retirado
do caso e o promotor Tommy Molto (Peter Sarsgaard) trata Rusty como o principal
suspeito. Agora Rusty precisa provar sua inocência.
O cinema de Brian de Palma sempre
teve algo de referencial, com o diretor misturando influências de diferentes
cineastas. Isso é visível em Dublê de
Corpo, thriller erótico lançado em 1984 em que o diretor tenta fazer algo
hitchcockiano. A trama segue Jake (Craig Wasson), um ator iniciante que
recentemente perdeu um papel por conta de sua claustrofobia e pegou a namorada
na cama com outro homem. Sem ter onde ficar, ele acaba aceitando a oferta Sam
(Gregg Henry), um outro ator que ele conhece durante testes. Sam vai ficar fora
da cidade por um tempo e oferece a Jake a casa onde ele está ficando. Ao levar
Jake para o imóvel, Sam chama a atenção do amigo para a vizinha, que toda noite
dança pelada em seu quarto. Jake começa a observá-la todo dia até que a vê ser
abusada pelo marido e percebe uma figura estranha seguindo a mulher. Obecado,
Jake tenta avisar a vizinha do que está ocorrendo.
É uma narrativa que claramente
mistura Janela Indiscreta (1954) com Um Corpo que Cai (1958). Do primeiro de
Palma pega a narrativa de viés voyeurístico, um sujeito que fica fascinado em
observar as janelas até que observa algo que não deveria e se coloca em
problemas. Do segundo ele pega a ideia de um protagonista com uma fobia
paralisante que é usado como bode expiatório e cujo plano do vilão envolve usar
uma mulher se passando por outra para atrair o protagonista.
Primeiro longa metragem da
diretora Jade Halley Bartlett, A Garota
de Miller investiga o limite que separa desejo e desespero. A narrativa
tenta dar conta das complexidades disso, mas fica na superfície de suas várias
ideias apesar do esforço de seu elenco. A trama é centrada na estudante Cairo
Sweet (Jenna Ortega), uma garota precoce e com talento para ser escritora que
anseia por uma conexão real, mas não encontra ninguém que considere estar a sua
altura na pequena cidade em que mora. As coisas mudam quando conhece o
professor Jonathan Miller (Martin Freeman), um escritor frustrado que se
resignou a ser professor de colegial.
Ter alguém que a compreende
desperta o interesse de Cairo, do mesmo modo que Miller se atrai pela
possibilidade de ser o mentor de alguém com talento real para ter sucesso no
universo literário. São personagens movidos por suas carências. Cairo é uma
garota rica cujos pais ausentes tentam compensar a distância afetiva (e física)
dando tudo que ela quer, criando alguém que deseja ser próxima de alguém ao
mesmo tempo em que não é alguém acostumada a ouvir um não. Jonathan é um
escritor medíocre que nunca conseguiu o sucesso que almejava e sente que o
mundo foi injusto consigo. Ele também ressente o sucesso da esposa, Beatrice (Dagmara
Dominczyk de Succession), que o faz sentir diminuído e emasculado, enquanto que Beatrice parece
ressentir a mediocridade do marido, constantemente soltando farpas
passivo-agressivas lembrando-o de sua inferioridade.
Estrelado por Lily Gladstone (de Assassinos da Lua das Flores), O
Rito da Dança fala sobre a dificuldade das comunidades nativas dos Estados
Unidos em manter contato com suas raízes e suas comunidades unidas diante de um
descaso generalizado por parte do Estado. É também sobre conexões familiares,
tentando construir um senso de intimidade com suas duas protagonistas.
Jax (Lily Gladstone) tenta procurar por sua irmã
desaparecida já que a polícia tribal de sua reserva, composta apenas por uma
pessoa, nada podem fazer e as autoridades externas não dão a mínima aos seus
pedidos. Ela também cuida da sobrinha Roki (Isabel Deroy-Olson), filha da irmã
desaparecida. Para manter a garota ocupada, Jax promete levá-la ao Powwow, um
evento que reúne diferentes nações nativas do estado.
Eu perdi a conta de quantas vezes assisti Velocidade Máxima na Sessão da Tarde.
Lançado em 1994, o filme foi responsável por sedimentar o status de estrela de
ação de Keanu Reeves (que vinha do sucesso de Caçadores de Emoção e de uma performance criticada em Drácula de Bram Stoker) e também de
Sandra Bullock, que tinha ganhado evidência no ano anterior ao estrelar O Demolidor ao lado de Sylvester
Stallone e Wesley Snipes. É um filme marcado pelo tipo de cinema de ação feito
na década de 90 com tudo de positivo e negativo que isso carrega.
Na trama, o policial Jack Traven (Keanu Reeves) impede que
um criminoso exploda bombas em um arranha-céu, com o suspeito aparentemente
morrendo ao tentar fugir. Tempos depois ele e o parceiro, Harry (Jeff Daniels),
recebem uma medalha pela ação. O problema é que o criminoso Howard (Dennis
Hopper) não morreu e quer se vingar de Jack. Ele coloca uma bomba em um ônibus
que irá se armar assim que o veículo chegar a 80 quilômetros por hora e irá
explodir se o veículo ficar abaixo dessa velocidade. Jack localiza o ônibus e
precisa mantê-lo em movimento até encontrar um meio de desarmar a bomba ou
localizar o criminoso, contando com a ajuda da passageira Annie (Sandra
Bullock) para guiar o ônibus depois que o motorista se fere.
Lançado em 2006, o suspense Estrada da Morte entrou para a história do cinema hollywoodiano
como a bilheteria mais baixa da indústria, tendo arrecadado apenas trinta
dólares na única semana em que ficou em cartaz. Essa manchete atraiu atenção
para o filme, despertando a curiosidade de muitos em saber como isso aconteceu
e se a produção era realmente tão ruim.
O fracasso
Considerando o preço do ingresso na época, o que foi
arrecadado na bilheteria corresponde a seis pessoas indo assistir ao filme,
sendo que duas delas, segundo uma reportagem da Entertainment
Weekly, foram de pessoas que trabalharam na produção, especificamente uma
maquiadora que foi assistir com um amigo. Estrada
da Morte ficou em cartaz apenas uma semana em um único cinema de Dallas, no
Texas, com uma sessão por dia. A exibição restrita foi proposital para cumprir
uma resolução do SAG (o sindicato dos atores), que permite filmes de baixíssimo
orçamento, como foi o caso de Estrada da
Morte, de pagarem cachês aos atores abaixo de determinados pisos
estipulados pela entidade, em contrapartida o sindicato obriga que o filme seja
exibido nos cinemas dos EUA.
Estrelado por Jon Hamm, Confesse,
Fletch é a segunda aventura do jornalista investigativo Irwin M. “Fletch”
Fletcher nos cinemas. Criado na literatura por Gregory Macdonald, Fletch
primeiro apareceu nos cinemas em Assassinato
Por Encomenda (1985) que era uma adaptação do primeiro livro do personagem
e tinha Chevy Chase como Fletch. Já Confesse,
Fletch é uma adaptação do segundo romance protagonizado pelo jornalista.
Na trama, Fletch (Jon Hamm) vai aos Estados Unidos para
investigar a venda de obras de arte que foram roubadas na Itália. Quando uma
estudante de arte é assassinada e Fletch é colocado como o principal suspeito,
cabe ao jornalista resolver o crime e limpar o próprio nome. Estruturalmente a
narrativa apresenta uma trama policial bem comum, com um protagonista acusado
de um crime que não cometeu precisando correr contra o tempo para provar a
própria inocência, mas envolve pelo espírito de comédia e pela quantidade de
personagens pitorescos que apresenta.