Eu fui assistir este Jogo Sujo, produzido pela Prime Video,com alguma curiosidade, já que o
diretor e roteirista Shane Black, criador de Máquina Mortífera, dirigiu algumas das comédias de ação mais
divertidas e subestimadas dos últimos anos em Beijos e Tiros (2005) e Dois Caras Legais(2016). Infelizmente, no entanto, o que acontece aqui é uma
produção sem graça, mais próxima do que Black fez no fraco O Predador(2018) do que em seus melhores trabalhos.
Honra entre ladrões
A narrativa adapta um dos
romances protagonizados pelo ladrão Parker, criado por Donald Westlake e que já
tinha sido levado antes aos cinemas em um filme protagonizado por Jason
Statham. Aqui, Parker (Mark Wahlberg) sobrevive a uma emboscada depois de um
roubo e decide se vingar de quem o traiu. No caminho ele descobre que a ladra
Zen (Rosa Salazar, de Alita: Anjo de Combate) um esquema de roubo ainda maior, envolvendo roubar o tesouro de
uma ditadura latino-americana que está sendo exposto na ONU.
Lançado em 1997 Eu Sei o que Vocês Fizeram no Verão Passado não
era lá grande coisa, mas surfou na onda do revival de filmes slasher causado pelo sucesso do primeiro
Pânico, tendo também em seu favor um
jovem elenco de astros em ascensão como Ryan Phillipe, Sarah Michelle Gellar,
Jennifer Love Hewitt e Freddie Prinze Jr. A tentativa de transformar esse filme
em uma franquia morreu na praia na péssima continuação lançada um ano depois.
Este novo Eu Sei o que Vocês Fizeram no
Verão Passado tenta renovar esses filmes em uma produção que não consegue
se decidir se é um reboot ou uma
continuação tardia e não faz nada digno de nota.
Feriado macabro
Como no filme original, a história
acompanha um grupo de jovens que, depois de uma noite de bebedeira, causam um
acidente na estrada matando uma pessoa. Como o lugar era deserto e não tinha
mais ninguém eles fazem um pacto de nunca mais falar sobre isso. Dois anos
depois eles se afastaram por conta do trauma, mas Ava (Chase Sui Wonders)
retorna para sua cidade por conta do aniversário de Danica (Madelyn Cline).
Durante a festa Danica recebe um bilhete com o lembrete do que aconteceu e logo
uma estranha figura portando um gancho começa a atacar os envolvidos. Sem saber
como lidar com a ameaça Ava procura Julie (Jennifer Love Hewitt) para entender
como ela sobreviveu no passado.
O suspense A Mulher na Cabine 10 parecia uma típica trama investigativa cujo
elenco variado poderia ser capaz de sustentar sua narrativa mesmo que a
estrutura do mistério fosse bem conhecida. Infelizmente não é isso que
acontece, já que a péssima condução da intriga e soluções pouco verossímeis
estragam o que poderia ser um thriller competente.
Mulheres desacreditadas
A narrativa é protagonizada por
Laura (Keira Knightley), uma repórter que recentemente passou por uma
experiência traumática ao noticiar injustiças cometidas contra mulheres. Para
que ela relaxe, sua chefe, Rowan (Gugu Mbatha-Raw), lhe passa uma tarefa que
pode ser mais tranquila. Laura deve passar três dias acompanhando a viagem
marítima do super iate da ricaça norueguesa Anne (Lisa Loven Kongsli). Ela está
com câncer terminal e com a ajuda do marido, Bullmer (Guy Pearce), irá devotar
sua fortuna a uma fundação de pesquisa ao câncer, fazendo uma festa de
arrecadação para o lançamento da ONG. Na viagem, Laura tem como tarefa
entrevistar Anne e ajudar a divulgar a causa. Os problemas começam quando Laura
vê uma estranha mulher loira na cabine ao lado da sua e na primeira noite ela
ouve sons de briga na cabine vizinha e vê um corpo sendo atirado ao mar. Ela
alerta a equipe, mas é informada que não havia ninguém na cabine ao lado. Agora
ela precisa desvendar o que aconteceu.
O primeiro O Telefone Preto(2022) era um conto eficiente sobre perda de
inocência que tocava em alguns elementos sobrenaturais, mas se mantinha
razoavelmente pé no chão focando no protagonista que tentava escapar do
cativeiro de um serial killer. Este O Telefone Preto 2 entra mais no
sobrenatural e expande a mitologia ao redor dos personagens apresentados no
filme anterior.
Nas montanhas da loucura
A narrativa se passa alguns anos
depois que Finn (Mason Thames, cujo crescimento torna um pouco difícil
acreditar que seu personagem ainda é um adolescente) sobreviveu ao Sequestrador
(Ethan Hawke). Ele é marcado pelo trauma de tudo que viveu e sua irmã caçula
Gwen (Madeleine McGraw) começa a ter visões intensas de crianças sendo mortas
na neve e de sua falecida mãe ainda jovem em um retiro religioso nas montanhas.
Finn recebe estranhas ligações, similares às do telefone preto de quando estava
em cativeiro e Gwen passa a acreditar que as duas coisas estão conectadas. A
garota logo descobre que a mãe deles trabalhou em um acampamento cristão nas
montanhas geladas do interior e convence Finn a se candidatar com ela para
trabalharem no local como monitores para investigar mais. Chegando lá, o local
é tomado por uma violenta tempestade de neve, deixando Finn, Gwen e os
funcionários do local isolados antes que os campistas chegassem. Presos nas
montanhas, eles precisam descobrir o que conecta aquele lugar à mãe deles e ao
Sequestrador.
Dirigido por Paul Greengrass este
O Ônibus Perdido conta a história
real de uma catástrofe natural e usa esse evento para pensar sobre as mudanças
climáticas que tem acontecido no planeta e como desastres são potencializados
por conta disso. Como de costume na filmografia de Greengrass sua estética pende
para o realismo e por fazer tudo soar o mais autêntico possível, embora sua
história tenha uma estrutura típica de filme-catástrofe.
Cortina de fogo
A narrativa se baseia na história
real dos incêndios florestais que aconteceram no interior da Califórnia em
2018, um incidente que se tornou o mais mortal incêndio florestal da história
do país. Depois que uma subestação de energia em mau estado dá início a um
incêndio, os ventos e a secura da mata facilitam que o fogo rapidamente se
espalha. Kevin (Matthew McConaughey) é um motorista de ônibus escolar que está
retornando para a garagem ao terminar seu turno, mas é chamado a ajudar no
transporte de uma escola da região que está sendo evacuada. Ele pega a
professora Mary (America Ferrera) e sua turma de crianças do ensino
fundamental. Durante a evacuação, o ônibus fica preso em uma área de incêndio e
Kevin perde o contato via rádio com a base. Agora ele e Mary precisam encontrar
um jeito de sobreviverem e levarem as crianças em segurança.
Quando escrevi sobre Vício Inerente(2014)mencionei que o diretor Paul Thomas
Anderson tinha feito um “noir para
maconheiros”. Agora, com este Uma Batalha
Após a Outra o diretor parece ter feito um “thriller de conspiração para maconheiros”. Curiosamente os dois
filmes são adaptações de romances do Thomas Pynchon cujas narrativas se constroem
em cima de personagens delirantes e alguma medida de desencanto político.
A luta não para
A narrativa acompanha Bob
(Leonardo DiCaprio), que durante muitos anos participou de grupos revolucionários
que lutavam por direitos civis nos Estados Unidos. Seus dias de luta terminaram
depois que ele teve uma filha com Perfidia (Teyana Taylor), uma das líderes do
grupo revolucionário que participava. Perfidia quis continuar na luta e Bob se
afastou de tudo. Dezesseis anos depois Willa (Chase Infiniti) já é uma adolescente
e vive com o pai em uma pequena cidade. Bob ainda teme que as autoridades
possam estar no seu encalço e mantem uma vida discreta junto da filha. Os
temores de Bob se confirmam quando o coronel Lockjaw (Sean Penn) chega com sua
força-tarefa na cidade procurando os dois. No passado o coronel perseguiu Bob e
Perfidia, chegando a se envolver com a revolucionária, então a caçada é pessoal
para o militar.
Eu não esperava muito de um filme
com um título tão genérico quanto Missão
Resgate: Vingança. A impressão é que alguém juntou as palavras mais comuns
de filmes de ação num liquidificador e o resultado foi esse aí. Inclusive só
quando fui pesquisar sobre a produção que descobri se tratar de uma continuação
de um filme chamado Missão Resgate,
lançado em 2021. Não fosse a presença do Liam Neeson eu provavelmente passaria
longe de algo que soa como um caça-níqueis qualquer jogado em plataforma de streaming.
Comboio perigoso
A trama é protagonizada por Mike
(Liam Neeson), que vai ao Nepal cumprir uma promessa ao irmão falecido de
espalhar suas cinzas no Evereste. Chegando lá, ele e sua guia, Dhani (Bingbing
Fan), pegam um ônibus turístico até a montanha. No caminho o veículo é atacado
por criminosos que visam sequestrar um dos passageiros. Aparentemente o rapaz
pertence a uma família cujas terras são valiosas para um empresário que quer
construir uma represa na região e o vilão pretende usar o sequestro para forçar
a família a vender as terras. Agora Mike e Dhani precisam enfrentar os
criminosos e levar o ônibus em segurança.
A produção Animais Perigosos é o tipo de filme B que não tem medo de se
assumir como tal. Ele usa isso em seu favor para criar um suspense que consegue
ser minimamente envolvente a despeito de suas falhas. A narrativa é centrada em
Zephyr (Hassie Harrison), uma surfista morando na Austrália que se vê capturada
pelo serial killer Bruce (Jai
Courtney), que captura turistas e os mata alimentando-os aos tubarões. Presa no
barco do assassino, Zephyr precisa encontrar um jeito de sobreviver.
Predadores marítimos
De início tudo parece um torture porn bem típico. Personagens
femininas a mercê de um psicopata que irão ser torturadas e sofrer muito para o
prazer escopofílico do espectador até eventualmente escaparem e a narrativa
tentar construir uma história de empoderamento em cima disso. Esse início é
agravado ainda pelo fato de Jai Courtney não conseguir transmitir a
instabilidade e agressividade de Bruce, falhando em fazer o assassino soar como
uma ameaça genuína.
A primeira temporada de Wandinha sofria por sacrificar muito do
que torna a personagem (e toda a família Addams) singular em prol de uma trama
adolescente excessivamente aderente aos clichês desse tipo de história. Essa
segunda temporada prometia evitar esses lugares comuns e ser mais fiel ao
espírito da personagem. Tendo assistido a temporada completa é possível ver um
vislumbre disso, mas a verdade é que ainda soa como uma série adolescente
genérica vestindo a aparência do universo dos Addams.
Visões sinistras
A trama começa com Wandinha
(Jenna Ortega) tendo uma visão de eventos catastróficos acontecendo na sua escola
que culminariam na morte de sua amiga Enid (Emma Myers). Diante disso, a jovem
Addams decide investigar o que suas visões significam ao mesmo tempo que lida
com mudanças na escola, como a chegada do irmão Feioso (Isaac Ordonez) para
estudar lá e o novo diretor, Dort (Steve Buscemi), que parece ter seus próprios
interesses com o local.
Quando o diretor Spike Lee
anunciou que seu próximo projeto, este Luta
de Classes, seria um remake de Céu e
Inferno (1963), de Akira Kurosowa, fiquei temeroso. A última vez que Lee
fez uma nova versão de um filme asiático o resultado foi um dos piores (talvez
o pior) filmes de sua carreira no péssimo Oldboy:
Dias de Vingança (2013), remake do sul-coreano Oldboy (2003). Felizmente Luta
de Classes é, ao menos, um suspense competente, embora se perca um pouco no
que quer dizer.
Dias de luta
A narrativa é protagonizada por
David King (Denzel Washington), um magnata da música que está tentando tomar o
pleno controle de sua gravadora para impedi-la de ser vendida para um grande
conglomerado. As coisas se complicam quando o filho de seu motorista é
sequestrado por engano, com os sequestradores acreditando que levaram o filho
do próprio King. Agora ele é colocado em uma encruzilhada moral entre usar o dinheiro
para salvar seu império ou para pagar o resgate do filho do amigo, Paul
(Jeffrey Wright).
Dirigido por Brian De Palma, Um Tiro na Noite foi lançado em 1981 e
constrói uma narrativa de suspense que funciona como uma reflexão sobre a
importância do som no cinema, lembrando como a dimensão é tão responsável pela
construção de elementos emocionais, sensoriais e narrativos quanto a imagem. É
também um filme que sabe muito bem manejar a tensão do espectador.
Ruídos e sussurros
Jack (John Travolta) é um técnico
de som que vem trabalhando em produções B de terror em Hollywood. Uma noite ele
está em um parque capturando sons ambientes quando grava um carro perdendo o
controle e mergulhando em um lago. Jack salva uma mulher, Sally (Nancy Allen),
que estava no banco do carona, mas não consegue salvar o motorista. Na
delegacia, descobre que o motorista era o governador, prestes a ser candidato à
reeleição, e que ele não sobreviveu. A polícia enquadra o evento como um
acidente, afirmando que o carro perdeu o controle ao furar um pneu, mas Jack
suspeita de assassinato, já que em sua gravação ele capta o som de um tiro
antes do carro perder o prumo. O problema é que ninguém acredita em Jack.
É difícil não olhar para O Clube do Crime das Quintas-Feiras e
não pensar em trabalhos da Agatha Christie protagonizados pela personagem Miss
Marple ou na série Assassinato Por
Escrito, ambos produtos em que protagonistas idosas resolvem crimes. O Clube do Crime das Quintas-Feiras não
esconde sua referências e tenta ser uma versão contemporânea desse tipo de
história.
Detetives de poltrona
A trama é centrada nos amigos
Elizabeth (Helen Mirren), Ibrahim (Ben Kingsley) e Ron (Pierce Brosnan), que
vivem na mesma comunidade de idosos e todas as quintas-feiras se reúnem para
discutir algum crime antigo sem solução na esperança de resolvê-lo. Ao trio se
junta Joyce (Celia Imrie), enfermeira aposentada que traz ao grupo um
importante conhecimento médico. As coisas se tornam mais sérias para eles
quando um dos donos da comunidade em que vivem é assassinado e o outro planeja
vender o local, o que implicaria em tirar dali todos os idosos. Agora eles
precisam correr contra o tempo para resolver o crime antes de perderem seus
lares.
Dirigido por Jordan Scott, filha
de Ridley Scott, e adaptando um romance Nicholas Hogg A Seita tenta falar sobre a natureza das seitas e como elas
mobilizam o impulso humano por sociabilidade. Estruturado como um misto de
drama e suspense, a produção tem grandes pretensões, mas não alcança nenhuma
delas.
Culto perigoso
A narrativa gira em torno de Ben
(Eric Bana), um psicólogo social que foi morar na Alemanha depois do divórcio.
Reconhecido em sua área e professor universitário, Ben é chamado para auxiliar
a polícia em um caso de suicídio coletivo que parece resultado de algum culto
apolíptico. No curso da investigação ele se aproxima da policial Nina (Silvia
Hoeks). Ao mesmo tempo, a filha de Ben, Mazzie (Sadie Sink, de Stranger Things), chega a contragosto na
Alemanha para morar com o pai. Ela fica amiga de Martin (Jonas Dassler), mas
logo o espectador percebe que o rapaz está tentando aliciá-la para a mesma
seita que Ben investiga.
O título nacional de Motorista de Fuga vende a ideia de que
este será um filme de perseguições, alta velocidade, adrenalina e a produção
nunca entrega isso. Em parte por quase não ter perseguições, embora o principal
problema é que a produção não sabe exatamente o que quer ser.
Fuga sobre rodas
A narrativa é centrada em Edie
(Samara Weaving), uma mulher que na juventude foi motorista de fuga para
criminosos e agora tenta levar uma vida legítima. Ela acaba sendo puxada de
volta para o crime por conta do ex-namorado, John (Karl Glusman), que está
devendo a pessoas erradas, principalmente a Nico (Andy Garcia), com quem Edie
trabalhou no passado. Para ajudar John, Edie se envolve em um esquema para
roubar milhões de um cassino.
Estrelada por Vanessa Kirby, a
produção da Netflix A Noite Sempre Chega
tenta funcionar simultaneamente como thriller,
além como um drama social e um estudo de personagem. O filme nem sempre
consegue equilibrar suas várias ideias, no entanto, alguns elementos bem
executados fazem a experiência valer à pena.
Noite afora
A trama é centrada em Lynette
(Vanessa Kirby), que vive junto com a mãe, Doreen (Jennifer Jason Leigh), e o
irmão mais velho, Kenny (Zack Gottsagen), que tem Síndrome de Down. Lynette se
equilibra entre vários empregos e outros serviços para tentar equilibrar as contas.
Ela e a mãe estão prestes a conseguir um empréstimo para comprarem a casa onde
moram ou perderão o imóvel. No dia de assinarem o financiamento, no entanto, Doreen
não aparece e Lynette descobre que a mãe comprou um carro com o dinheiro que
tinham guardado para a entrada da casa. Sem poder dar a entrada e iniciar a compra,
Lynette tem até a manhã seguinte para levantar o valor ou perderá a chance de
comprar o imóvel, iniciando uma corrida desesperada através da noite.
Entre os vários gêneros que o
cinema brasileiro tem explorado com regularidade nos últimos anos, o thriller é um dos que menos aparece na
nossa cinematografia. Dirigido por Fernando Coimbra (responsável pelo excelente
O Lobo Atrás da Porta) este Os Enforcados tenta construir uma trama
de suspense a partir do universo da contravenção do jogo do bicho.
Profissão de risco
Regina (Leandra Leal) está no
meio da reforma da mansão na qual vive com o marido, Valério (Irandhir Santos),
os gastos estão altos e Valério lhe informa que precisarão diminuir custos pois
seus negócios não estão indo bem. Valério trabalha com o tio (Stepan
Nercessian) na exploração de caça-níqueis e jogo do bicho, sendo responsável
por lavar o dinheiro da contravenção do tio. Regina tenta estimular o marido a
tomar o controle dos negócios, já que o tio teria assassinado o pai de Valério
para chegar ao topo dos negócios. A oportunidade vem quando o tio pede para se
esconder na casa deles antes de fugir do país por conta de algum esquema que
deu errado. Tomar o controle, no entanto, é apenas o início dos problemas do
casal, já que o tio deixou muitas dívidas com outros figurões do crime.
Lançado em 2005, o suspense Plano de Voo chama atenção por sua
atmosfera de incerteza e manejo da intriga ao acompanhar um mistério em que
nada é o que parece. A narrativa é protagonizada por Kyle (Jodie Foster), uma
enlutada engenheira de aviação que parte em um voo de Berlim para os Estados
Unidos levando o corpo do marido recém-falecido. Ela vai acompanhada da filha
pequena, Julia (Marlene Lawston), mas pouco tempo depois do avião decolar a menina
desaparece. Ela pede ajuda à equipe para encontrar a garota, mas logo é
informada pelo capitão que não há registro de que Julia tenha embarcado. Assim,
Kyle tenta descobrir o que está acontecendo.
Voo noturno
A narrativa constrói bem o clima
de claustrofobia e paranoia que envolve a protagonista. Alguém em um ambiente
fechado, com todos duvidando de si, lutando para provar que está correta. A
dúvida se desloca também para o espectador, já que considerando o trauma
recente da perda do marido, começamos a considerar que talvez ela esteja
realmente imaginando coisas e a situação não seja o que ela pensa ser.
No papel Operação Vingança parece um thriller
bem típico. Sujeito tem esposa assassinada por terroristas e monta um plano
de vingança e, bom, é exatamente isso, uma aplicação de fórmulas conhecidas sem
nada que o ajude a se destacar de um oceano de produções similares.
Revanche previsível
Heller (Rami Malek) é um
programador que trabalha para a CIA. Quando sua esposa, Sarah (Rachel
Brosnahan, que recentemente foi a Lois Lane em Superman), é assassinada em um atentado terrorista na Europa, ele
exige participar da busca pelos culpados. Para isso, recebe treinamento de
campo do veterano Henderson (Lawrence Fishburne), que não vê como Heller será
capaz de cumprir a missão. As coisas se complicam quando Heller descobre que os
envolvidos no atentado são mercenários empregados pela CIA em missões secretas,
significando que a agência não tem qualquer interesse em capturá-los.
A primeira coisa que chamou minha
atenção enquanto assistia o novo Guerra
dos Mundos foi a opção de contar toda a história a partir da tela do
computador do protagonista que monitorava toda a situação. A escolha não
parecia casar com o escopo da narrativa. Depois descobri a real razão para o
filme ter sido feito dessa maneira e isso só piorou minha impressão a respeito
do resultado final.
Guerra confinada
A narrativa é protagonizada pelo
analista de inteligência William Radford (Ice Cube). Ele é responsável por
monitorar vazamentos de dados, mas também começou a receber pedidos das
agências especiais a respeito de estranhos fenômenos eletromagnéticos ocorrendo
ao redor do mundo. Quando estranhas máquinas de três pernas caem do céu e
começam a atacar várias cidades do mundo, William resolve analisar o que está
havendo para tentar articular uma resposta.
Tudo é narrado a partir da tela
do computador de William, no qual ele acessa imagens de câmeras, conversa com
colegas e familiares por chamadas de vídeo e se informa por noticiários. Como a
produção foi filmada em 2020, durante a pandemia de COVID-19, as medidas
sanitárias de isolamento provavelmente motivaram essa estrutura do filme. Seria
uma oportunidade de usar esse senso de isolamento como uma metáfora para o
temor e ansiedade do nosso confinamento durante a pandemia, quando estávamos fechados
em nossas casas temendo um inimigo invisível e sem saber o que estava acontecendo.
O Guerra dos Mundos de 2005 dirigido
por Steven Spielberg usava muito bem o romance de H.G Wells para refletir sobre
seu tempo, em especial o senso de insegurança, paranoia e vulnerabilidade dos
Estados Unidos pós 11 de setembro. Essa nova versão, no entanto, não faz nada
disso.
Não há qualquer tentativa de usar
o confinamento do personagem para refletir sobre o confinamento pandêmico.
Tampouco há qualquer senso da escala ou da gravidade dos ataques já que as
imagens da invasão e dos conflitos em si são poucas e sempre borradas ou pixelizadas
para disfarçar a qualidade baixa dos efeitos visuais. Em termos de narrativa,
há apenas o clichê do pai que tenta consertar a relação com os filhos e uma
trama sobre vigilância governamental e privacidade, mas nenhuma delas tem muito
a oferecer além de lugares comuns. Não ajuda que Ice Cube e o resto do elenco
entreguem performances automáticas, desinteressadas, que são incapazes de
injetar qualquer senso de drama ou urgência nos eventos. Apesar de noventa minutos,
a impressão é que a narrativa dura muito mais por conta das arrastadas videochamadas
nas quais tudo se desenvolve, lembrando o horrendo Black Wake(2020) protagonizado pela brasileira Nana Gouvea.
Cinismo corporativo
Além do vazio narrativo e dramatúrgico,
a produção também incomoda pelo excesso de exposição de marcas de ferramentas
digitais e o modo como o filme, sem qualquer sutileza, apresenta os atributos
positivos dessas ferramentas, mostrando essas plataformas como potenciais
salvadoras do mundo. São construções que quebram nossa imersão na narrativa e
também soam como uma tentativa cínica de construir uma representação positiva
de big techs que tem sido alvo de
bastante escrutínio nos últimos anos por seu papel em contribuir para
desinformação ou discursos de ódio. Aqui todos esses questionamentos são
sublimados e todas essas plataformas têm apenas impactos positivos no mundo.
O pior, no entanto, é o que
acontece no clímax, quando William precisa fisicamente fazer o upload de um
vírus em servidores e precisa de um pen drive, recorrendo a uma grande empresa
de comércio eletrônico. O que se segue é uma publicidade cínica da velocidade
de entregas da Amazon Prime com seu uso de drones, basicamente fazendo a Amazon
ser a responsável por salvar o mundo por sua suposta agilidade na entrega e
avanços tecnológicos. É uma escolha que reduz o filme a uma mera propaganda
corporativa (e uma propaganda ruim ainda por cima) pensada apenas para gerar
valor para a empresa sem qualquer preocupação em entreter o espectador ou
fazê-lo refletir.
Dirigido por Mel Gibson, Ameaça no Ar tenta construir um thriller a partir de um espaço
confinado. Em tese seria uma boa maneira de criar tensão, mantendo seus
personagens em um diminuto espaço enquanto lidam com uma ameaça constante. O
resultado, no entanto, é desprovido de qualquer fagulha de suspense.
Plano de voo
A narrativa acompanha a agente
federal Madolyn (Michelle Dockery), encarregada de levar uma importante
testemunha, Winston (Topher Grace) através do estado do Alasca. Da cidade onde
estão, a agência só lhe consegue um velho avião bimotor no qual só cabem eles
dois e o piloto, Daryl (Mark Wahlberg). No meio do voo, no entanto, eles
descobrem que Daryl tomou o lugar do piloto real e é um assassino enviado para
matar Winston, impedindo-o de testemunhar contra um figurão do crime. Agora
Madolyn e Winston precisam encontrar um meio de sobreviver ao assassino e levar
o avião até o seu destino.