Foi uma surpresa o anúncio de que a Marvel iria reviver a
animação dos X-Men da década de 90 neste X-Men
97. Mais surpreendente ainda é que a produção não tenha se acomodado a ser
uma exploração cínica da nostalgia noventista e tenha realmente feito algo
incrível com esses personagens e esse universo. A verdade é que X-Men 97 é muito melhor do que teria
qualquer direito de ser e provavelmente é a melhor produção da Marvel Studios
desde sua origem.
A série continua de onde a animação original parou, com
Xavier sendo levado pelos Shi’ar depois de sofrer uma tentativa de assassinato.
Sem seu líder, os X-Men tentam prender Bolivar Trask e os remanescentes do
programa dos sentinelas, mas o testamento de Xavier coloca Magneto no comando
da equipe e da escola, iniciando novas tensões dentro do grupo.
Poucos produtos da Marvel entenderam tão bem a essência de
seus personagens e suas diferentes facetas como essa série faz. A série explora
os X-Men como super-heróis, como metáfora social para o preconceito, como
personagens de ficção científica e também como protagonistas de um grande
melodrama familiar repleto de triângulos amorosos e traições. Tudo isso embalado
em um pacote coeso, que nunca soa tonalmente inconsistente a despeito das várias
direções nas quais joga seus personagens.
Depois do horrendo Morbius
(2022) a Sony parece não ter aprendido a lição e continua a insistir na ideia
equivocada de construir um universo com personagens que gravitam em torno do
Homem-Aranha sem, no entanto, usar o herói. A mais nova adição nesse plantel de
erros é Madame Teia, um filme tão
equivocado, tão sem sentido e incompetente que acaba se tornando divertido e,
nesse sentido, acaba sendo um pouco melhor do que Morbius. Um patamar fácil de superar, admito.
A trama acompanha Cassandra Webb (Dakota Johnson) uma
paramédica que desenvolve a capacidade de ver o futuro depois de um incidente
de quase morte. Ela passa a ter visões com três garotas sendo assassinadas e
quando as encontra no metrô decide protegê-las do perigoso Ezekiel Sims (Tahar
Rahim). Assim, Cassie coloca as jovens Julia (Sydney Sweeney), Anya (Isabela
Merced) e Mattie (Celeste O’Connor) sob sua proteção, já que elas estão
destinadas a serem super-heroínas e Sims tem visões de que elas o matarão no
futuro.
A primeira temporada de What If...? tinha algumas boas histórias, mas sofria um pouco com alguns
episódios que não desenvolviam suas premissas de modo interessante. Essa
segunda temporada é mais consistente na sua curadoria de histórias e apresenta
tramas que se valem melhor de suas ideias.
Como na primeira temporada, a série acerta ao situar suas
tramas em diferentes gêneros. O primeiro episódio protagonizado pela Nebulosa é
bem tributário ao film noir,
remetendo a produções como O Falcão
Maltês (1940) ou o noir futurista
de Blade Runner (1982). O episódio de
Peter Quill invadindo a Terra remete a filmes de monstro e aquele que traz
Happy preso na torre dos Vingadores com um bando de criminosos é claramente
feito para remeter a Duro de Matar(1988).
Depois do picolé de chuchu que foi a minissérie Invasão Secreta não estava disposto a voltar tão cedo a outra série da Marvel e só
acompanhei essa segunda temporada de Loki porque o primeiro ano foi bem
bacana. Ainda que não seja tão bom quanto sua estreia, esse segundo ano ao
menos tem um final que encerra com consistência o arco iniciado por Loki no
primeiro Thor (2011).
A trama retoma ao ponto em que o ano anterior terminou, com
Loki (Tom Hiddleston) retornando à AVT, mas uma versão diferente àquela em que
estava e agora ninguém o reconhece. Loki se dá conta de que está aleatoriamente
viajando através do tempo e O.B (Ke Huy Quan), o responsável por boa parte da
tecnologia da AVT, lhe avisa que isso pode estar relacionado com a energia
emitida pelo Tear Temporal, mecanismo que constrói as linhas do tempo, que saiu
do controle desde que Sylvie (Sophia di Martino) matou Aquele Que Permanece
(Jonathan Majors). Agora Loki precisa restaurar o Tear para salvar a si mesmo e
o multiverso.
Depois de um excelente primeiro
game em Marvel’s Spider-Man e um spin-off competente, ainda que carente
de inovações em Spider-Man: Miles Morales,
a Insomniac entrega uma continuação propriamente dita neste Marvel’s Spider-Man 2, que não apenas
alcança as altas expectativas deixadas pelos games anteriores como também é o
primeiro jogo que efetivamente me fez sentir a diferença da atual geração de
consoles.
A trama começa com o retorno de
Harry Osborn, aparentemente curado da doença degenerativa que o afligia. Peter
e Miles agora trabalham em conjunto e tentam equilibrar suas vidas como
Homem-Aranha e seus desafios pessoais. A chegada de Harry traz uma nova
oportunidade para Peter reconstruir sua carreira profissional, mas uma nova
ameaça surge quando o temível Kraven aparece em Nova Iorque disposto a caçar os
vários heróis e vilões que habitam a cidade. Ao mesmo tempo, o estranho traje
que mantem Harry saudável começa a dar sinais que talvez seja algo mais,
principalmente no modo como se fixa em Peter.
Não sou lá muito fã do arco da Invasão Secreta nos quadrinhos embora
ela tenha servido para repensar muitos personagens do universo Marvel na época
e trouxe momentos impactantes sobre quais heróis eram skrulls disfarçados.
Sabia que a minissérie Invasão Secreta
provavelmente não teria o mesmo escopo amplo da saga dos quadrinhos, mas ao
menos esperava que trouxesse repercussões que nos fizessem repensar certos
eventos do universo Marvel. Isso, porém, não aconteceu e o resultado é a mais
decepcionante série da Marvel produzida pelo Disney+. Aviso que o texto tem
SPOILERS da série.
Na trama, depois de anos no
espaço tentando encontrar um novo lar para os skrulls, Nick Fury (Samuel L.
Jackson) retorna à Terra para lidar com a ameaça de Gravik (Kingsley Ben-Adir),
um líder skrull que se cansou da política de “boa vizinhança” de Talos (Ben
Mendelsohn) e decidiu iniciar um movimento para tomar o planeta para sua raça.
Gravik infiltrou skrulls nas principais estruturas de poder do planeta e visa
iniciar um conflito entre várias nações. Sem ter em quem confiar, Fury conta
apenas com Talos para tentar deter Gravik.
Não esperava nada de Homem-Aranha: No Aranhaverso(2018) e
ele foi uma das melhores produções de 2018. Digo não apenas em termos de
animação, mas no geral. É lógico, portanto, que as expectativas estariam em
alta para este Homem-Aranha: Através do
Aranhaverso. Expectativas são uma coisa perigosa, podendo derrubar mesmo
uma produção competente caso ela não corresponda a todo o hype criado. Felizmente não é o caso aqui, que aprofunda boa parte
das ideias do original, ainda que eu tenha alguns problemas no modo como o
filme decide encerrar.
A trama se passa algum tempo
depois do primeiro. Miles (Shameik Moore) está mais confortável no seu papel de
Homem-Aranha, ainda que continue com dificuldade de conciliar isso com a escola
com a relação com os pais. As coisas se tornam ainda mais severas com a
aparição do vilão Mancha (Jason Schwartzman), cujo poder de criar portais mais
uma vez ameaça o multiverso. É nesse ponto que Gwen (Hailee Steinfeld) retorna
ao universo de Miles. Como parte de uma força-tarefa multiversal de “pessoas
aranha” que caça focos de instabilidade Gwen está lá para deter o Mancha, mas o
líder da equipe, Miguel O’Hara (Oscar Isaac), o Homem-Aranha do ano 2099, tem
seus próprios planos em relação a Miles.
Depois de um segundo filme que
ficou abaixo do original, ainda que divertido, o diretor James Gunn retorna
para um terceiro (e último, já que agora ele está a frente das produções da DC
na Warner) filme neste Guardiões da
Galáxia Vol. 3 e traz uma emocionante conclusão para a história que começou
no filme original.
A trama segue mais ou menos no
ponto em que encontramos a equipe ao final de Guardiões da Galáxia: Especial de Festas(2022). Os Guardiões
reconstruíram Luganenhum e agora usam o local como base, cuidando da população.
Tudo muda quando são subitamente atacados por Adam Warlock (Will Poulter), que
deixa Rocket (Bradley Cooper) gravemente ferido. Os equipamentos médicos dos
Guardiões não conseguem curar o companheiro por conta da tecnologia específica
que foi usada em seu aprimoramento. Assim, Peter Quill (Chris Pratt) e seus
aliados partem em busca da corporação liderada pelo perigoso Alto Evolucionário
(Chukwudi Iwuji).
Depois de ter a presença sugerida
em outras produções da Marvel, Homem-Formiga
e a Vespa: Quantumania finalmente introduz o vilão Kang, a próxima grande
ameaça a ser enfrentada pelos heróis. O filme não é livre de problemas, mas
mostra como Kang faz juz a toda expectativa criada sobre ele.
A trama mostra Scott (Paul Rudd)
tentando se reconectar com a filha, Cassie (Kathryn Newton). Quando ela cria
uma espécie de telescópio para o reino quântico, isso desperta temor em Janet
(Michelle Pfeiffer), que tenta desligar o aparelho. Antes que consigam, porém,
Scott, Cassie, Janet, Hope (Evangeline Lilly) e Hank (Michael Douglas) são arrastados para o reino quântico. Lá eles
precisam sobreviver aos estranhos perigos do local e ao temível Kang (Jonathan
Majors), que vê nas partículas Pym um meio de finalmente sair do reino
quântico.
Assim como falei em Lobisomem da Noite, gosto desse formato
da Marvel de especiais mais soltos e mais curtos, que vão direto ao ponto sem
demandar que precisemos assistir meia dúzia de filmes antes ou aguentar mais de
duas horas e meia de filme. Este Guardiões
da Galáxia: Especial de Festas cumpre exatamente o que se propõe: ser um
divertido especial de fim de ano ao mesmo tempo em que posiciona algumas
dinâmicas para o terceiro filme dos Guardiões.
A trama foca principalmente em
Drax (Dave Bautista) e Mantis (Pom Klementieff). Depois de ouvirem como Yondu
(Michael Rooker) sabotou o Natal de Peter (Chris Pratt) desde a infância, a
dupla decide trazer o Natal da Terra até Peter. Para isso Drax e Mantis decidem
vir à Terra e sequestrar o ator Kevin Bacon (interpretando a si mesmo) para
levá-lo de presente a Peter.
Quaisquer que fossem os planos
originais da Marvel e do diretor Ryan Coogler para o segundo filme do Pantera Negra, eles foram inequivocamente abalados pela prematura morte do astro
Chadwick Boseman. É preciso ter isso em mente ao analisar este Pantera Negra: Wakanda Para Sempre, que
certamente precisou fazer várias gambiarras narrativas para adaptar as ideias
originais, ser respeitoso com o falecimento de seu astro e atender às demandas
corporativas da Marvel e a construção de seu universo cinematográfico.
A narrativa começa justamente com
Wakanda lidando com o falecimento de T’Challa (Chadwick Boseman) por uma doença
misteriosa. Um ano depois, Wakanda e seu valioso vibranium são alvo de ataques
das potências mundiais que buscam o valioso recurso. O mundo acha que sem o
Pantera Negra, a rainha Ramonda (Angela Bassett) e a princesa Shuri (Letitia
Wright) estão vulneráveis. Ao mesmo tempo, quando uma plataforma marítima que
pesquisava vibranium é atacada por estranhos seres aquáticos, o mundo desconfia
de Wakanda. O líder desses seres, Namor (Tenoch Huerta) se revela para Ramonda
e Shuri pedindo que Wakanda entregue a ele os responsáveis pela pesquisa com o
vibranium submarino. Agora elas precisam ponderar como proceder com ameaças por
todos os lados.
A ideia de fazer uma série da Mulher-Hulk
estruturada como uma comédia jurídica estilo Ally McBeal parecia promissora e coerente com o humor das histórias
da personagem durante a fase comandada por John Byrne, que inseriu
características como o fato de Jen falar diretamente ao leitor, e também de
arcos mais recentes que colocavam a Mulher-Hulk para explorar a maluquice do
lado jurídico do universo Marvel. Em geral Mulher-Hulk:
Defensora de Heróis se sai bem em sua proposta de ser uma comédia e
apresentar um formato diferente das tramas do MCU, embora o formato escolhido
também soe como um grilhão em muitos momentos.
A trama é protagonizada por
Jennifer Walters (Tatiana Maslany), advogada e prima de Bruce Banner (Mark
Ruffalo). Durante um acidente de carro, Jen se contamina com o sangue de Bruce
e acaba se transformando também em uma Hulk. Ao contrário do primo, Jen
consegue controlar facilmente a transformação e tenta retornar a sua vida
normal. Logicamente a advogada não consegue retornar a esse senso de
normalidade, precisando lidar com o cotidiano de sua profissão como advogada e
também com as demandas de ter super-poderes, incluindo ser advogada de outros
heróis.
Depois que Cavaleiro da Luaprometeu algo mais ao estilo de um estudo de
personagem e acabou entregando um clímax que se entregava a todos os
lugares-comuns de histórias de super-heróis, Ms. Marvel chega para entregar uma trama focada em sua protagonista
de maneira mais coesa. Apesar de ter seus momentos de ação, o interesse
principal é o amadurecimento de sua protagonista e como ela lida com questões
de identidade e pertencimento. Aviso que o texto contem SPOILERS da série.
Na trama, Kamala (Iman Vellani) é
uma adolescente de origem paquistanesa que é fã de super-heróis, principalmente
da Capitã Marvel (Brie Larson). A vida de Kamala muda quando ela usa um antigo
bracelete que pertenceu a sua bisavó e ganha estranhos poderes de manipular
energia. Essas habilidades colocam ela na mira do Controle de Danos, agência
governamental que monitora indivíduos com potencial destrutivo, e também de um
grupo de seres poderosos interessados no bracelete.
A trama é menos sobre combater
uma ameaça específica e mais sobre Kamala compreender seu lugar no mundo como
uma filha de imigrantes que vive em um constante entrelugar entre o país no
qual nasceu, com tudo que ela se identifica nele, e a cultura de sua família
cuja comunidade é parte integral da vida dela. É uma questão que impacta boa
parte das segundas gerações de imigrantes, principalmente dos imigrantes que
são tratados como cidadãos de segunda classe ou como ameaça pelos EUA, a
exemplo dos muçulmanos.
Devo confessar que apesar de
gostar de muita coisa que o Taika Waititi fez por trás das câmeras, não me
agradei muito com Thor: Ragnarok. A
impressão é que o filme não conseguia equilibrar seu humor com as necessidades
da trama e que Waititi estava mais interessado na maluquice espacial do que nos
problemas de Asgard ou em introduzir a chegada de Thanos. Pois neste Thor: Amor e Trovão o diretor se sai bem
melhor.
A trama é praticamente a mesma de
Ragnarok, depois de perder tudo que
valorizava, Thor (Chris Hemsworth) precisa se redescobrir e encontrar um novo
propósito. Aqui as coisas se complicam quando o vilão Gorr (Christian Bale)
sequestra crianças asgardianas e também pela descoberta de que sua antiga
amada, Jane (Natalie Portman), agora empunha o Mjolnir.
Ao contrário do que acontecia no
filme anterior do Thor, a condução de Waititi sabe dosar a comédia com os
momentos de desenvolvimento de personagem, evitando sabotar a construção das
tramas com piadas inoportunas. Isso permite um desenvolvimento mais consistente
da relação entre Thor e Jane conforme eles navegam pelo reencontro que abre
velhas feridas e tentam encontrar uma maneira de reconstruir a relação.
Depois que Venom(2018) fez mais sucesso que a Sony esperava, o estúdio resolveu
fazer mais filmes de personagens secundários do universo do Homem-Aranha, o que
resultou neste Morbius. A decisão, no
entanto, parecia ignorar o contexto do sucesso do filme do simbionte. Venom é
um personagem com uma ampla base de fãs e era protagonizado por um ator
carismático que mais de uma vez tinha mostrado ser capaz de segurar um grande blockbuster.
Nada disso, no entanto, se aplica
a Morbius, que pega um personagem de
quinto escalão das histórias do Homem-Aranha, muito longe da popularidade do
Venom.Ainda por cima escalam Jared
Leto, um ator que nos últimos anos só tem atraído antipatia do público, em
especial do público de filmes de super-heróis devido ao seu pavoroso trabalho
como Coringa em Esquadrão Suicida(2016), por suas presepadas de
bastidores devido à “imersão” em seus personagens que não necessariamente
resulta em bons filmes ou boas atuações. Então de cara Morbius já era um filme que não prometia muita coisa, o que
surpreende é como ele consegue entregar ainda menos do que as expectativas já
baixas a seu respeito indicavam.
O primeiro Doutor Estranho(2016) apresentava ao lado mais bizarro da Marvel,
ainda que preso a uma trama excessivamente convencional que era basicamente uma
versão com magia do primeiro Homem de
Ferro (2008). Este Doutor Estranho no
Multiverso da Loucura prometia levar as coisas ainda mais para o lado
sombrio e psicodélico e graças à direção de Sam Raimi o filme cumpre o que
promete.
Na trama, a viajante
interdimensional America Chavez (Xochitl Gomez) chega ao nosso universo, sendo
encontrada pelo Doutor Estranho (Benedict Cumberbatch) que tenta protegê-la dos
poderosos seres que a perseguem. Para entender o poder de viajar entre
universos possuído por America, o Doutor Estranho recorre à ajuda de Wanda
(Elizabeth Olsen), mas a Feiticeira Escarlate tem seus próprios planos para a
garota.
Colocar Stephen Strange para
viajar pelo multiverso é uma ótima desculpa para que Raimi exercite sua
capacidade de introduzir criaturas bizarras, visuais psicodélicos e momentos de
horror que só não são mais impactantes pela baixa classificação indicativa do
filme. Ainda assim, encontrei sustos que não esperava em uma produção voltada
para o publico mais novo. A condução de Raimi consegue criar cenas bem
singulares, como o segmento em que um Estranho zumbi comanda um exército de
espíritos sombrios e que não soaria deslocado em um filme da franquia Evil Dead. Do mesmo modo, a ação usa de
maneira criativa as diversas habilidades de heróis e inimigos, seja na luta
contra Gargantos em Nova Iorque, seja no modo como America usa seus portais
para lutar ou na batalha que envolve os Illuminati, a ação sempre tem algo
inesperado a nos oferecer.
Tive minhas desconfianças quando
os envolvidos com Cavaleiro da Lua,
do diretor Mohamed Diab aos astros Oscar Isaac e Ethan Hawke, passaram a
divulgação inteira se referindo à série como um estudo de personagem.
Considerando o padrão das histórias dos filmes e séries da Marvel, no entanto,
não imaginei que o produto final fosse levar isso a cabo, mas, de fato, os seis
episódios colocam no centro o estudo da personalidade fraturada de seu
protagonista. Isso, porém, não significa que a série seja livre de falhas.
Na trama, Steven (Oscar Isaac) é
um pacato funcionário de museu que vê sua vida virar ao avesso quando começa a
ser perseguido pelo misterioso líder de seita Arthur Harrow (Ethan Hawke).
Aparentemente Harrow busca um artefato que lhe permitiria ressuscitar a cruel
deusa egípcia Ammit e esse artefato estaria com Steven. A questão é que Steven
tem uma personalidade alternativa, o aventureiro mercenário Marc Spector. Marc
serve como avatar do deus Konshu (F. Murray Abraham) na Terra, se transformando
no implacável Cavaleiro da Lua. Agora Marc/Steven precisa resolver sua
personalidade fraturada ao mesmo tempo que impede Harrow de reviver Ammit.
O primeiro episódio já estabelece
um claro tom anti-programático em relação ao que se espera de uma trama da
Marvel. Todas as cenas de ação são abruptamente cortadas toda vez que Marc
assume o lugar de Steven, com o personagem confuso em relação ao que aconteceu.
Isso permite a trama focar nos dramas de seu protagonista, nas tensões entre
ele e o deus Konshu e também no embate moral em relação a Harrow.
Apesar de ser um membro fundador
dos Vingadores, o Gavião Arqueiro até então não tinha recebido o devido
holofote. Mesmo a Viúva Negra recebeu seu próprio longa-metragem e nada do
Gavião ter seu momento de protagonismo. Isso muda com a primeira temporada de Gavião Arqueiro, que não apenas
aprofunda o que sabemos sobre Clint Barton, como abre caminho para sua
sucessora ao nos apresentar a Kate Bishop.
Na trama Clint (Jeremy Renner)
está em Nova Iorque com os filhos para compras de Natal e prestes a retornar à
fazenda na qual vive com a família. Problemas surgem quando a jovem Kate Bishop
(Hailee Steinfeld) esbarra em um leilão ilegal que vende itens retirados do
complexo dos Vingadores depois da batalha contra Thanos em Vingadores: Ultimato(2018). Entre os itens estão um relógio que
pertence a alguém que Clint conhece e o uniforme de Ronin usado por Clint
durante o período do Blip. Sem saber que Clint era o Ronin, Kate sai usando o
uniforme pelas ruas da cidade, o desperta hostilidade de vários criminosos, então
Clint precisa encontrá-la e confrontar seu passado como Ronin.
As primeiras informações sobre Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa me
deixaram preocupado. Afinal, a Marvel estava basicamente adaptando uma das
piores histórias recentes do herói nos quadrinhos, o arco em que ele pede a
Mephisto para apagar a memória de todos a respeito de sua identidade, apenas
substituindo aqui Mephisto pelo Dr. Estranho (Benedict Cumberbatch). Retificar
a continuidade (ou retcon) é um dispositivo dramatúrgico preguiçoso, que
“reseta” um personagem por alguma conveniência de roteiro e tira todo o peso do
que veio antes. Neste novo filme do teioso a Marvel parecia usar da nostalgia,
trazendo vilões (e outros personagens) de filmes passados, para nos fazer
esquecer que estamos diante de um retcon covarde.
Tendo visto o filme, posso dizer
que alguns dos meus temores estavam equivocados, enquanto outros se confirmaram.
A primeira coisa é que esses personagens de outrora não estão ali apenas por um
nostalgismo rasteiro, a presença deles aqui tem muito a dizer sobre a jornada
de Peter Parker (Tom Holland), o que está no cerne do Homem-Aranha e qual é a
essência do heroísmo. Todo mundo meio que concorda que um herói é aquele que
faz o bem, no entanto, a ideia de qual bem é esse que um herói faz pode variar.
Ao colocar o atual Peter diante da encruzilhada de enviar antigos vilões para a
morte certa, a trama nos lembra que um herói é alguém que, acima de tudo, salva
pessoas, mesmo vilões. A noção de Peter se arriscar por indivíduos que querem
matá-lo também dialoga com os temas de poder e responsabilidade que sempre
acompanharam o personagem.
O primeiro Venom(2018) não era lá grande coisa, mas encerrava com um gancho
para continuação que talvez rendesse algo melhorzinho por conta da presença do serial killer Cletus Kasady. Pois bem,
este Venom: Tempo de Carnificina tenta
pegar o gancho final do primeiro e não faz nada de muito interessante.
Na trama, Eddie Brock (Tom Hardy)
consegue uma entrevista exclusive com o serial
killer Cletus Kasady (Woody Harrelson), mas durante a conversa Brock é mordido
por Kasady, que fica com o pedaço do simbionte de Eddie. Usando o novo
simbionte para se tornar o perigoso Carnificina, Cletus foge da cadeia e começa
a causar destruição por onde passa. Cabe a Eddie Brock e ao simbionte Venom
deter a nova ameaça.
De cara incomoda como a relação
entre Brock e Venom parece estagnada em relação aos eventos do filme anterior.
No final do primeiro Brock parecia ter aceito a condição de “protetor letal”
permitindo que Venom devorasse bandidos. Aqui, no entanto, tudo parece ter
voltado à estaca zero, com o filme dando a desculpa de que as autoridades ainda
estavam à procura do simbionte por causa dos eventos do filme anterior, sendo
que nada disso tinha sido dito no final do primeiro filme quando Eddie deixa
Venom devorar um assaltante. Assim, ao invés de mover adiante a relação dos
personagens, tudo soa estagnado, repetindo o que já tinha sido feito no
primeiro filme, sendo que o primeiro filme não é exatamente bom.
Muitos defeitos do anterior
também retornam, como o fato de que o texto não consegue fazer Eddie soar como
um competente repórter investigativo. Porque inicialmente ele recusaria uma
exclusiva com um serial killer?
Porque ele aceitaria publicar uma fala de Cletus que claramente é uma mensagem
cifrada sendo que isso poderia ser um código para que crimes fossem cometidos
em nome dele? É um tipo de coisa que deveria passar pela cabeça de um
jornalista experiente, mas Brock continua a agir como um amador estúpido.
Do mesmo modo, a relação entre
Venom e Eddie continua sendo apresentada mais como uma espécie de comédia
romântica e menos como um sujeito lidando com um parasita alienígena querendo
controlar seu corpo. Ao fazer Venom engraçadinho, o filme diminui a capacidade
intimidadora da criatura como um predador voraz e letal, impedindo que Venom
seja aqui a presença imponente que o texto visa construir.
Qualquer um que já tenha
assistido Assassinos por Natureza (1994)
sabe que Woody Harrelson é perfeitamente capaz de fazer um serial killer caipira cruzando o país ao lado de um interesse
romântico igualmente letal. A escalação dele como Cletus Kasady seria um acerto
fácil, no entanto, não funciona por conta de um texto que não sabe fazer com o
personagem. Kasady muda de personalidade o tempo todo, uma hora sendo enquadrado
como um completo lunático e sádico, um psicopata cruel que busca destruição e
dor. Em outros momentos o filme tenta transformar Cletus em uma vítima das
circunstâncias, um coitado solitário e incompreendido que se tornou violento
por causa dos abusos que sofreu e só queria ser amado. Essas duas abordagens
entram em conflito uma com a outra e o personagem acaba soando vazio.
Não ajuda que o roteiro tenha uma
série de incoerências e elementos mal explicados ou desenvolvidos. Porque, por
exemplo, Cletus só queria dar entrevista para Eddie? O filme nunca dá uma
justificativa crível para isso e soa mais como algo que acontece porque precisa
acontecer para mover a trama. Do mesmo modo, porque exatamente o simbionte
Carnificina precisa matar Venom? É estabelecido desde o início que Carnificina
é naturalmente mais poderoso que Venom, então qual a razão dessa obsessão em
matar o “pai”? Porque Venom fica assustado ao ver Carnificina pela primeira
vez, explicando que é por ele ser vermelho? Qual o motivo do inimigo ser um
simbionte vermelho afetar tanto Venom?
A ação abusa de névoa e espaços
mal iluminados, provavelmente para facilitar os efeitos especiais que criam as
criaturas, mas assim como no anterior são escolhas que tornam tudo
incomodamente escuro. As lutas entre simbiontes continuam parecendo que duas
manchas de tinta foram jogadas em uma folha de papel. São menos confusas que o
filme anterior por causa das cores mais díspares entre as criaturas, entretanto
não empolgam como deveriam. Parte do motivo da ação não empolgar é que o filme
nos diz o tempo todo como esses seres são monstros carniceiros devoradores de
gente, porém nunca vemos essa violência e brutalidade nas cenas de ação, já que
o filme tem classificação indicativa baixa e não pode mostrar nada muito
explícito.
Não esperava nada de Venom: Tempo de Carnificina e ainda
assim o filme conseguiu decepcionar sendo pior que o primeiro em praticamente
tudo.