Parte do selo Desastre Total da Netflix, que
compreende documentários sobre catástrofes ou eventos controversos, Cruzeiro do Cocô narra um desastre
marítimo ocorrido em 2013 que mobilizou a imprensa dos Estados Unidos.
Viagem de merda
O documentário conta a história
do navio de cruzeiro Carnival Triumph que em 2013 sofreu um incêndio na casa de
máquinas que destruiu os geradores de energia da embarcação e a deixou sem
energia. Como até mesmo a descarga das privadas dependiam de geradores para
funcionar, os passageiros sequer conseguiam usar o banheiro direito. Soma-se
isso a uma demora da empresa que gerenciava o cruzeiro em mandar um reboque
para trazer a embarcação de volta a um porto próximo, temos um grande desastre
que colocou a vida de todos em risco.
Estrelado por Hunter Schafer, Cuckoo: O Medo Chama cria uma misteriosa
atmosfera de horror para sua história, mas conforme progride não consegue dar
conta dos múltiplos temas que tenta abordar. A narrativa é centrada em Gretchen
(Hunter Schafer), uma jovem que se muda para a Alemanha com o pai, Luis (Marton
Csokas), a madastra, Beth (Jessica Henwick), e a irmã caçula Alma (Mila Lieu),
que desde que nasceu nunca conseguiu falar. Luis vai para o país a trabalho,
para reformar o remoto resort nas montanhas de propriedade do excêntrico Konig
(Dan Stevens). Gretchen começa a trabalhar como recepcionista do remoto resort,
mas logo começa a notar estranhos fenômenos e a ser perseguida por uma bizarra
mulher encapuzada. Como ninguém mais vê a tal mulher, o pai e a madrasta acham
que Gretchen está tentando chamar atenção, já que eles estão focados nos
problemas de saúde de Alma.
Espécie invasora
A narrativa vai aos poucos
construindo um senso de tensão e estranheza conforme fenômenos bizarros vão
acontecendo ao redor de Gretchen, desde conduta esquisita dos hóspedes,
passando por estranhos sons e momentos de deja
vu que ela experimenta até as violentas perseguições da mulher encapuzada.
Há uma ambiguidade nesses momentos que nos deixa incertos se é tudo na mente de
Gretchen, que lida com o senso de isolamento e o falecimento inesperado de sua
mãe, ou se há de fato uma criatura à espreita que explica todos os fenômenos
estranhos.
Por outro lado, alguns segredos
são bem óbvios desde o início como o fato de Konig claramente estar escondendo
algo, o que mina parte da ambiguidade que a narrativa tenta construir. O que
era uma narrativa sobre o luto de Gretchen e o senso de não pertencimento dela
à nova família do pai vai se abrindo a outros temas a partir do momento em que
o filme decide explicar o que de fato está acontecendo e qual a natureza da
ameaça.
As experiências de Konig com
criaturas híbridas deslocam os temas do luto para falar de ética científica,
direitos reprodutivos da mulher e diferentes configurações de família, mas
nunca há tempo suficiente para desenvolver todas essas ideias. O filme se torna
um slasher competente, com bons
momentos de tensão graças aos visuais bizarros e senso de estranheza com o qual
tudo é conduzido, mas fica a impressão de que a narrativa levanta muitas
questões e não as trabalha a contento.
É impressionante como quase nada
funciona neste Shadow Force: Sentença de
Morte, misto de ação com comédia romântica que tenta fazer tanta coisa ao
mesmo tempo, misturando diferentes gêneros e propostas estéticas ou narrativas
que nada consegue operar conjuntamente com coesão. A impressão que fica é a de
um filme que parece brigar consigo mesmo o tempo todo.
Conflito interior
A trama acompanha o casal de
mercenários Issac (Omar Sy) e Kyrah (Kerry Washington). No passado eles
serviram juntos da Shadow Force, divisão secreta que realizada missões de
assassinato. Quando eles se apaixonaram e tiveram um filho decidiram abandonar
a divisão, mas isso os colocou na mira do líder, o ardiloso Jack Cinder (Mark Strong).
Eles vivem separados, com Issac cuidando do filho do casal, enquanto Kyrah caça
os remanescentes do grupo que estão atrás deles. As coisas mudam quando Issac
impede um assalto à banco, atraindo atenção da mídia e fazendo seu rosto
circular na mídia, chamando atenção de quem os caçava, obrigando ele e Kyrah a
se reunirem e eliminarem a ameaça de uma vez por todas.
Depois de uma tentativa de
construir um universo cinematográfico da DC que não engrenou por conta de
escolhas questionáveis e uma demora da Warner em corrigir o rumo este Superman tenta ser um recomeço tanto
para o personagem quanto para o universo DC. James Gunn já tinha colocado as
mãos em personagens com O Esquadrão Suicida (2021) e seus derivados e aqui assume tanto como diretor quanto
como a mente criativa por trás do recém criado DC Studios.
Olhe para o céu
Na trama, Clark Kent (David
Corenswet) já é Superman há alguns anos e agora lida com uma crise da confiança
do público em si depois que ele impede uma guerra entre dois países distantes.
Lex Luthor (Nicholas Hoult) aproveita para minar ainda mais a credibilidade do
herói para mobilizar a opinião pública e o governo contra ele, convencendo as
autoridades a lhe darem carta branca para tratar o Superman como um inimigo do
Estado, ao mesmo tempo em que lucra com a guerra no exterior que o Superman
tentou impedir.
Ainda há uma espécie de senso
comum equivocado de que a repressão da ditadura militar brasileira foi algo
focado nos grandes centros urbanos e que quem estava à margem disso foi pouco
afetado. O sucesso de Ainda Estou Aquino
ano passado e certas reações a ele mostrou como esse senso comum ainda está
presente, falhando em entender como a ditadura também afetou populações fora
desses centros urbanos, como as populações indígenas. O documentário Yõg Ãtak: Meu Pai, Kaiowá, conta
exatamente uma dessas histórias de como comunidades indígenas foram impactadas
nesse período.
Diáspora indígena
O filme parte da busca de Sueli
Maxakali (uma das diretoras do filme) e sua irmã Maiza Maxakali, pelo pai
delas, Luiz Kaiowá, de quem foram separadas quando eram pequenas ainda no
período da ditadura militar. A narrativa conta como Luiz foi removido à força
de seu território natal no Mato Grosso do Sul pelo então governo, sendo
transportado por vários estados até chegar ao território dos Tikmũ’ũn (também
chamados de Maxakali) em Minas Gerais, onde conheceu a mãe de Sueli e Maiza.
Depois Luiz sofre um novo deslocamento forçado por parte do governo e perde o
contato com a família que constituiu em Minas Gerais.
Não esperava nada quando comecei
a assistir Improvisação Perigosa, mas
me surpreendi com uma comédia divertida que consegue aproveitar o potencial
absurdo da premissa que apresenta. A trama é centrada em Kat (Bryce Dallas
Howard), uma atriz vivendo em Londres cuja carreira não decolou e vive de dar
aulas de comédia de improviso. Marlon (Orlando Bloom) também é um ator cuja
carreira está estagnada e faz parte da turma de Kat. Hugh (Nick Mohammed) é um
sujeito tímido que entra na turma de Kat para aprender a socializar melhor. Os
três são recrutados pelo policial Billings (Sean Bean) para trabalharem em
operações disfarçadas, mas suas habilidades de improviso permitem que eles
consigam ir além da missão inicial.
Anunciada em 2020, mas só lançada
agora em 2025, Coração de Ferro foi
parte de um período conturbado da divisão de televisão da Marvel em que suas
produções foram reavaliadas e passaram por revisões, refilmagens, quando não
foram refeitas do zero. Séries como Ecoou
Demolidor: Renascido conseguiram sair
desse crisol ao menos como produtos coesos, com uma visão bem demarcada da
história que queriam contar. Coração de
Ferro, por outro lado, não tem a mesma sorte. Aviso que o texto contem spoilers da série.
Gênia indomável
A narrativa segue Riri Williams
(Dominique Thorne) depois dos eventos de Pantera Negra: Wakanda Para Sempre (2022). Riri continua tentando criar um novo
traje de ferro e uma IA similar à que encontrou em Wakanda, mas quando seus
experimentos causam mais um grande acidente na faculdade, ela termina expulsa.
Riri volta para Chicago, sua cidade natal, e para financiar sua pesquisa não encontra
outro meio senão colaborar com os esquemas criminosos da gangue liderada por Parker
(Anthony Ramos), que recebe a alcunha de Capuz por conta do capuz místico que
lhe confere estranhos poderes.
O documentário é capaz de
resgatar eventos que não ficaram na memória coletiva, nos abrir a realidades
que não conhecíamos. O Presidente Surdo faz
exatamente isso ao contar a história de uma mobilização estudantil da universidade
Gallaudet na década de oitenta.
O som do silêncio
O filme acompanha eventos
ocorridos em 1988 na Universidade Gallaudet, a primeira universidade dedicada à
educação de pessoas surdas criada nos Estados Unidos ainda no século XIX. Os
estudantes estavam mobilizados pela eleição de um presidente que fosse surdo,
mas quando o conselho gestor da universidade aponta uma presidente que não é
surda e se mostra insensível às demandas e questões do corpo discente, os
estudantes se organizam para exigir mudanças.
Sendo um dos programas de
televisão mais longevos dos Estados Unidos, tendo completado 50 anos neste ano,
Saturday Night Live faz parte da
história da comédia e do entretenimento no país. Dirigido por Jason Reitman, Saturday Night: A Noite que Mudou a Comédia
tenta honrar o legado do programa ao narrar a origem do programa e como ele
marcou por fazer algo muito diferente da comédia televisiva de então.
Embalos de sábado à noite
A narrativa é centrada no
produtor Lorne Michaels (Gabriel LaBelle, de Os Fabelmans) e sua esposa Rosie Shuster (Rachel Sennott) horas
antes do primeiro Saturday Night ir
ao ar ao vivo. Lorne corre contra o tempo para ajeitar os últimos detalhes,
conciliar os egos dos membros dos elencos e roteiristas conforme lida com os
executivos da emissora e uma desconfiança de que esse programa enorme, ao vivo,
feito por comediantes desconhecidos, pode ser um grande fracasso.
Dirigido pelos irmãos Maysles,
nomes chave do movimento do cinema direto dos Estados Unidos, Grey Gardens foi lançado em 1975 e até
hoje permanece como um documentário envolvente tanto pela abordagem
observacional dos Maysles, que pregam por interferir o mínimo possível nas
cenas, e as personalidades pitorescas das duas protagonistas, que parecem
apreciar serem observadas pelas câmeras do documentário. O resultado é uma
enorme sinergia entre quem filma e quem é filmado, tornando difícil não se
deixar absorver pelo que está em tela.
Elite decadente
A trama acompanha a idosa Edith e
sua filha de meia idade Edie. Elas são tia e prima de Jackie Kennedy Onassis,
ex-primeira dama do país. Em 1973 a dupla tomou as manchetes dos jornais depois
que uma série de denúncias e vistorias de órgãos municipais decretou que a
mansão dilapidada em que viviam, chamada de Grey Gardens, estava condenada e
elas seriam removidas do local para que o imóvel fosse demolido. Jackie e irmã
ajudam as parentes da minimamente reformarem a casa e elas são autorizadas a
voltarem a morar no local e esse é o ponto de partida do filme, acompanhando o
cotidiano de mãe e filha nesse imóvel acabado.