Quando Shrek foi lançado em 2001 sacudiu o meio da animação de Hollywood
ao apresentar um filme acessível para todas as idades com um protagonista que
estava bem distante do tipo de personagem típico das animações da Disney, a
principal referência no meio. Nesse sentido, não parece coincidência que pouco
tempo depois a Disney lança uma animação que, como o ogro Shrek, era
protagonizada por uma criatura bruta, destrutiva, mau-humorada e de caráter
duvidoso, quase como uma resposta à Dreamworks. Até a publicidade do filme era
focada em mostrar como o monstrinho Stitch era uma antítese de tudo que a
Disney tinha feito até então, deixando evidente que a Casa do Mickey queria
chamar atenção do público que gostou de Shrek por ser “anti-Disney”.
Ohana significa família
A trama acompanha Lilo, uma
menina de cinco anos que perdeu os pais e é criada pela irmã mais velha, Nani.
Lilo é bem solitária e Nani luta para manter um emprego sob o risco de perder a
guarda da irmã. Depois que Lilo cria problemas na escola, Nani decide levá-la
para adotar um cachorro, pensando que um animal de estimação aplacaria a
solidão da menina. É aí que Lilo encontra Stitch, uma criatura alienígena fruto
de experimentos genéticos que veio fugida para a Terra e está sendo caçado por
forças intergalácticas. Agora, Lilo deve ajudar Stitch a ser parte de sua
família, ao mesmo tempo em que a criatura tenta encontrar um meio de evadir
seus perseguidores.
Há uma contradição fundamental
entre o regime estético e a narrativa de O
Estúdio. De um lado temos uma série de escolhas estéticas altamente
sofisticadas, com longos planos sequência conforme os personagens caminham em
sets de filmagem ou grandes eventos construindo um senso de constante movimento
e unidade espacial para as cenas. Por outro lado, por mais que haja uma encenação
cuidadosamente planejada que reflete bastante atenção na linguagem do cinema, a
série é fundamentalmente sobre um grupo de pessoas vulgares, estúpidas e que
podem até pensar que se importam com a arte, mas na prática produzem o mesmo
lixo corporativo de sempre.
Indústria caótica
Essa contradição não é um
equívoco ou uma escolha impensada. Na verdade soa como uma decisão bem
deliberada de construir um regime visual que tenta evocar como esses
personagens, em especial o chefe de estúdio Matt Remick (Seth Rogen), pensam
sobre si mesmos e faz o estilo chocar com a realidade estúpida do que eles de
fato são, desnudando de maneira ainda mais escancarada o cinismo, a estupidez e
a visão mercantilizada, utilitarista e imatura que eles tem do cinema enquanto
arte. A dissonância entre estética e narrativa é, na prática, uma maneira de
ilustrar a dissonância cognitiva de seu protagonista.
Nos últimos anos a Capcom vem
trabalhando bastante para tornar disponíveis seus sucessos de outrora que não
era possível mais jogar oficialmente em praticamente nenhuma plataforma. A
primeira Capcom Fighting Collection
era uma coletânea de games de luta que trazia de volta franquias como Darkstalkers e Cyberbots. Ano passado foi a vez dos jogos de luta em parceria com
a Marvel na Marvel vs Capcom Fighting Collection. Agora é a vez de jogos de luta lançados no início dos anos 2000
com esta Capcom Fighting Collection 2,
trazendo de volta para múltiplas plataformas games que não estavam mais disponíveis há tempos, cujas
últimas versões caseiras foram em consoles como PSP ou Dreamcast.
Estrelado por Jason Statham, Resgate Implacável soa como um filme de
ação diretamente saído da década de 80 e não digo isso como um elogio. Traz
consigo vários clichês e visões de mundo que soam extremamente datados hoje e não
consegue sequer entregar algum senso de espetáculo com suas cenas de ação.
Guerreiro do proletariado
A trama é centrada Levon (Jason
Statham) militar veterano que tenta reconstruir a vida trabalhando para uma
pequena empresa de construção. Quando a filha dos patrões é sequestrada, ele se
compromete a ajudar a encontrá-la por gratidão à família o ter acolhido. A
partir daí a trama se desenvolve como se espera, com o protagonista eliminando
um a um os membros da quadrilha de tráfico de pessoas até encontrar a filha do
chefe.
Lançado em 2019, Devorar trabalha o horror corporal de
uma maneira diferente do que estamos acostumados a ver em produções como as do
Cronenberg ou da Julia Ducournau. Ao invés de transformações bizarras e bastante
explicitas que despertam nossa angústia e até repulsa, o desconforto causado
aqui é mais pelo temor das consequências do que a protagonista faz com o
próprio corpo do que pela criatividade de modificações corporais insólitas.
Fome de viver
Não que as ações da protagonista
Hunter (Haley Bennet) não sejam bizarras. Recém-casada, Hunter vai morar com o
marido em uma remota mansão que seu sogro lhes deu de presente de casamento.
Ela agora é uma dona de casa que vive isolada, recebendo visitas apenas dos
sogros e de amigos do marido. Hunter se torna totalmente do cônjuge, que passa
a exercer muito controle sobre a sua vida. Isso se agrava depois que ela
engravida e a família do marido para a controla-la ainda mais, como se ela
deixasse de ser uma pessoa para apenas ser um veículo para o filho nascituro. É
aí que ela começa a desenvolver o hábito de comer estranhos objetos,
inicialmente com coisas como bolas de gude, mas logo ingerindo coisas mais
perigosas como pilhas ou tachinhas.
O ator Josh Hartnett tem
experimentado um retorno em sua carreira nos últimos anos, se encontrando novamente sob os holofotes a partir de produções como Oppenheimer(2023) ou Armadilha(2024) e
agora ganha uma oportunidade de estrelar um filme de ação neste Fight or Flight. É uma produção que
remete às comédias de ação ultraviolentas do início dos anos 2000 como Adrenalina (2006) e Mandando Bala (2007) embora aqui o filme não traga consigo nada de
muito marcante.
Voo perigoso
A trama acompanha Lucas Reyes
(Josh Hartnett), um ex-agente de inteligência que virou mercenário e vive na
clandestinidade, sendo caçado pelas autoridades dos Estados Unidos. Ele tem a
chance de limpar seu passado ao aceitar a missão de se infiltrar em um voo
transcontinental para localizar uma perigosa hacker e levá-la com vida aos EUA.
O problema é que o avião está cheio de mercenários contratados para matar a
pessoa que ele foi designado para proteger.
Em um mundo pós apocalíptico em
que os recursos são escassos e há um grande controle populacional por parte do
governo, qualquer casal que deseje ter filhos precisa se submeter a um processo
no qual são avaliados por alguns dias para analisar se eles tem condições de
criar filhos. A Avaliação parte desse
conceito para pensar sobre relacionamentos afetivos, controle populacional e
totalitarismo estatal.
Teste despadronizado
A narrativa foca no casal Mia
(Elizabeth Olsen) e Aaryan (Himesh Patel), dois cientistas que se submetem ao
processo de avaliação para tentarem ter um filho. Eles são avaliados por
Virginia (Alicia Vikander) que irá ficar com eles por sete dias observando
diferentes aspectos da vida do casal para determinar se eles estariam aptos a
terem filhos ou não. De início Virginia age de forma bastante protocolar,
perguntando sobre o trabalho do casal ou a relação deles, mas a partir do
segundo dia, os testes passam a ser menos ortodoxos, incluindo Virginia se
comportando como criança para testar as reações deles ou tentando seduzi-los.
Estrelado por Vince Vaughn, Nonnas é aquele tipo de “filme conforto”
que a gente sabe que é extremamente clichê, não tem nada que nos instigue ou
desafie enquanto espectadores, mas apreciamos pela familiaridade e pela emoção
genuína que oferece dentro de um esquema já conhecido de narrativa sobre
relações familiares e realização de sonhos.
Comida de vó
A narrativa se baseia em uma
história real e é centrada em Joe (Vince Vaughn). Depois de perder a mãe, Joe
tenta se reconectar com a memória dela refazendo suas antigas receitas. Daí ele
tem a ideia de usar o dinheiro que sua mãe lhe deixou para abrir um restaurante
focado em celebrar essa comida italiana caseira, trazendo “nonas” italianas
para cozinharem com ele. Assim ele recruta um time formado por Gia (Susan
Sarandon), Teresa (Talia Shire, a eterna Adrian da franquia Rocky), Antonella (Brenda Vaccaro) e
Roberta (Lorraine Bracco).
Apesar de boas cozinheiras, a
personalidade forte dessas senhoras as coloca em conflito, criando problemas no
restaurante. As dificuldades também vem do lado financeiro, já que Joe não tem
muita experiência com negócios e mesmo com o auxílio do melhor amigo, Bruno
(Joe Manganiello), as contas do restaurante não fecham. É tudo bem típico desse
tipo de história, sendo bem previsível que as senhoras irão eventualmente
dialogar e perceber as dificuldades que cada uma teve que superar e vão
cooperar umas com as outras.
O que conquista é o peso
emocional que cada uma das atrizes consegue dar a suas personagens, nos fazendo
sentir como elas são um produto de tudo com que tiveram de lidar ao longo de
suas trajetórias e no senso verdadeiro de amizade que se desenvolve entre elas.
É também um retrato bem sincero e afetuoso de comunidades de ítalo-descendentes
(diferente de estereótipos presentes em filmes como Amor em Little Italy) e de como o ato de cozinhar não tem apenas a
ver com comer e sim com um senso de comunidade e afeto. Como alguém que vem de
uma família de descendentes de italianos, acompanhar um ambiente de cozinha
repleto de senhoras italianas idosas berrando umas com as outras me fez sentir
em casa.
Empreendedorismo performático
O arco de Joe e os desafios do
restaurante, bem como sua tentativa de se reaproximar de sua antiga paixão de
infância, Olivia (Linda Cardellini), por outro lado, é bem menos interessante.
A trama romântica com Olivia se desenvolve de maneira muito fácil e sem muito
drama. Já a narrativa do restaurante segue a fórmula desse tipo de história de
superação, fazendo parecer que tudo é uma questão de força de vontade a
acreditar no próprio negócio, como isso por si só fizesse qualquer obstáculo
sumir.
Não importa qual o problema que
apareça, ele vai ser rapidamente resolvido por algum deus ex machina do roteiro como que conjurado pelo simples fato de
que Joe quer que o negócio dê certo. Em muitos casos a própria narrativa deixa
explícito que Joe sequer sabe o mínimo de como gerir um restaurante (incluindo
conhecimento de códigos ou regulamentos) e faz parecer que esses problemas são
culpa dos outros e não do sujeito que não se preparou para gerir um negócio que
abriu por vontade própria.
Felizmente, o elenco de atrizes
veteranas dá suficiente alma e coração a Nonnas
que a produção consegue trazer o conforto de um almoço de domingo na casa da
avó mesmo que seja uma refeição que já consumimos inúmeras vezes.
Fui assistir Caos e Destruição por ter sido dirigido por Gareth Evans,
realizador responsável pelos dois Operação
Invasão. Ainda que o filme até tenha bons momentos de adrenalina, o
restante é derivativo demais para oferecer algo digno de nota.
Metrópole corrompida
A trama gira em torno de Walker
(Tom Hardy), um policial corrupto que tenta se reaproximar da filha pequena
depois que suas ações o afastaram da família. As coisas se complicam quando ele
recebe a incumbência de resgatar Charlie (Justin Cornwell), filho de um
importante e corrupto político da cidade, Lawrence (Forest Whitaker), a quem
Walker costumava servir. Depois de um roubo que deu errado, Charlie
acidentalmente iniciou uma guerra de gangues, estando na mira de vários grupos
criminosos e da polícia.
Lançado em 2011 e dirigido por Nanni
Moretti, Temos Papa (Habemus Papam no original)reflete sobre o peso de ocupar um cargo
tão poderoso e influente como o de Papa. O filme traz consigo uma tentativa de
lembrar que por mais solene que seja o processo de eleição de um novo pontífice,
aqueles envolvidos e o próprio escolhido são pessoas com seus próprios problemas
dúvidas e inseguranças.
Papa em pânico
A trama começa com o falecimento do
atual Papa e a necessidade de um conclave para eleger um novo líder da Igreja
Católica. Durante a eleição o cardeal Melville (Michel Piccoli) é escolhido
como Papa apesar de não estar entre os mais cotados. No momento em que ele está
prestes a ser apresentado ao mundo, no entanto, o novo Papa tem um ataque de pânico
e não consegue sair na sacada. Sem um novo papa, o processo do conclave não é
concluído e os cardeais são obrigados a continuarem isolados.