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sábado, 15 de maio de 2010

Os Boêmios Analisam - Robin Hood


Devo dizer que acompanhei o desenvolvimento deste Robin Hood com desconfiança. Para quem não sabe, o filme foi inicialmente intitulado como Nottingham e mostraria a história do famoso fora-da-lei sob a ótica do Xerife de Nottingham, uma premissa deveras interessante e um sopro de novidade sobre um personagem que via sempre o mesmo estilo de narrativa. Depois de um tempo, entretanto, o diretor Ridley Scott anunciou uma mudança drástica no projeto, devolvendo o foco para Robin Hood, mas querendo mostrar sua origem sob "raízes históricas". Coloco o termo entre aspas porque até hoje não há evidências que Robin Hood sequer tenha existido e a experiência mostrou que épicos históricos com personagens lendários não são uma boa idéia, vide Rei Arthur e Tróia. Então entrei na sala de projeção esperando uma bomba.

Sim, o filme é decepcionante, mas não é a grande pilha de lixo que eu pensei que seria. A fita começa mostrando Robin(Russel Crowe) como membro do exército do Rei Ricardo Coração-de-Leão(Danny Houston) na jornada de volta para Inglaterra saqueando todos os castelos pelos quais passam para acumular riquezas de modo a reverter a situação de falência da nação britânica causada pela própria cruzada do Rei Ricardo. E se é interessante contextualizar a situação da Inglaterra naquela época, bem como retratar um Ricardo menos romantizado, aqui ele ainda é amado pelos súditos, mas também é um bêbado ambicioso, arrogante e ganancioso por riqueza e adoração, e além disso mostrar as condições da deserção de Robin, o mesmo não pode ser dito do segundo e terceiro atos da narrativa.

A partir da coroação do Rei João(aqui o mesmo babaca, traiçoeiro e covarde dos mitos e histórias) e da chegada de Robin e seus companheiros de deserção João Pequeno(Kevin Durand), Alan A-Dale(Alan Doyle) e Will Scarlet(Scott Grimes) a Nottingham, pensamos que a partir daí veremos o Robin fora-da-lei e seus embates como o Xerife(Matthew MacFayden). Entretanto, o que temos a partir daí é uma enfadonha trama envolvendo Robin assumindo o lugar de Sir Robert de Loxley(que ao morrer lhe pedira para devolver sua espada ao pai) e ajudando a Inglaterra e repelir uma invasão francesa orquestrada por Sir Godfrey de Ibelin(Mark Strong).

Além de se estender mais do que deveria, a trama se desenvolve de maneira preguiçosa, o passado de Robin é resolvido em meia dúzia de frases por Sir Walter Loxley(Max Von Sydow) e não, não acrescenta em nada ao que já sabíamos do personagem, além de ser de uma coincidência absurda o fato de que a pessoa que Robin é obrigado a encontrar é exatamente a que sabe tudo sobre sua linhagem. A dinâmica entre Robin e Marian é a clássica e clichezenta abordagem do casal que se detesta mas aos poucos se apaixona. Sem falar que absolutamente do nada o sizudo Robin de Crowe se mostra um hábil discursista com tamanha capacidade de argumentar que deixa um rei sem palavras, entre outras incoerências.

A trama ainda conta com personagens estereotipados(algo que cabe nas fábulas e mitos e nas adaptações que assumem esse tom, mas não numa obra que almeja acuidade histórica), Mark Strong aparece no piloto automático como o "vilão maquiavélico padrão), o Rei João, como já citei, beira o histerismo e Lady Marian é completamente insossa, beneficiando-se apenas da presença que Cate Blanchett impõe quando está em cena. Crowe faz de seu Robin um Maximus(seu personagem em Gladiador) com arco-e-flecha, adiciando apenas uma pitada de malandragem que é indispensável para um personagem como Robin Hood. Mais feliz são os veteranos Max Von Sydow, que faz valer cada segundo do seu tempo em cena como o cego Sir Walter, e William Hurt, que faz um William Marshal como um sujeito que apesar de odiar o Rei João aceita dar-lhes conselhos ao ver que isso traria maior benefício à Inglaterra.

Nos aspectos técnicos Ridley Scott continua exibindo a mesma competência de sempre, com figurinos de época bastante realistas, uma fotografia escura e cinzenta que contribui para dar o tom mais realista que ele tanto almeja e bastante crueza nas cenas de ação, valendo bastante do estilo câmera na mão para dar mais dinamismo e veracidade nas batalhas. Uma pena, portanto, que todo esse esmero técnico vá para o vinagre com uma trama tão desinteressante e quando finalmente nos empolgamos ao ver Robin, seu bando, os orfãos e a floresta de Sherwood, a projeção chegue ao fim.

Nota: 7

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Os Boêmios Analisam - Homem de Ferro 2


Homem de Ferro 2 é o tipo do filme que te faz sair satisfeito do cinema. Tem boas sequências de ação, personagens carismáticos, um roteiro fechadinho e algo cada vez mais raro nos blockbusters hollywodianos: não subestima a inteligência do espectador.

Sim, porque nada soa gratuito neste Homem de Ferro 2, desde as atitudes dos personagens, como o comportamento autodestrutivo de Stark(que atinge o ápice na cena do aniversário) que já vinha sendo trabalhado desde o filme anterior, desde às reviravoltas da trama, a maneira como Ivan Vanko(Mickey Rourke) passa a perna em Justin Hammer é sugerida logo no primeiro contato dos dois.

Além disso, o filme trabalha muito bem as questões levantadas no filme anterior quando Stark(Robert Downey Jr) anunciou ao mundo ser o Homem de Ferro, continuando com a abordagem um pouco mais realista do filme anterior, o diretor Jon Favreau mostra a todo tempo as modificações na balança de poder mundial e dentro do governo americano causadas pela aparição do Homem de Ferro.

As consequências vão desde as tentativas de terroristas imitarem a tecnologia de Stark a comissões de inquérito do senado americano, passando por espionagem industrial de empresas concorrentes. Para quem conhece as histórias do personagem é basicamente uma mistura dos arcos Demônio na Garrafa, que mostra Stark chegando ao fundo do poço devido ao alcolismo(que não achei que seria trabalhado por causa do lançamento de Hancock em 2008, mas felizmente o filme foi um fracasso e tocou no ponto superficialmente) e a Guerra de Armaduras, quando a tecnologia do Homem de Ferro é roubada e começa a ser maciçamente replicada.

Assim como no filme anterior, boa parte do mérito reside sobre Robert Downey Jr que constrói um Tony Stark inconsequente, arrogante, egocêntrico e dotado de sarcasmo e ironia bastante afiada(a cena em que ele é interrogado pelo governo é impagável), além de um enorme carisma que não nos permite deixar de gostar do personagem mesmo com todos os seus defeitos.

Gwyneth Paltrow também continua oferecendo um ótimo contraponto ao personagem principal, sua Pepper Potts vive constantemente preocupada e irritada com o comportamento impulsivo e imaturo de seu chefe, tentando sempre colocar algum juízo em sua cabeça argumentando com o mesmo cinismo do próprio Stark. Don Cheadle assume o papel de Terrence Howard como Rhodes e dessa vez o personagem tem um arco dramático próprio, ficando dividido entre sua amizade com Tony e suas obrigações como militar.

As novas adições no elenco também são bastante eficientes. Mickey Rourke constrói um Ivan Vanko assustador e maquiavélico, valendo-se de uma caracterização repleta de tatuagens que nos remete a Robert De Niro em Cabo do Medo, dentes de ouro e um cabelo desgrenhado(sem falar que a aparência normal do Rourke já é mais feia do que encoxar a mãe no tanque) e que não mede esforços para atingir o que quer, inclusive fingindo inferioridade, como quando diz a Hammer que não fala inglês apenas para que este pense estar tratando com alguém estúpido e abrir a guarda.

Sam Rockwell faz seu Justin Hammer como uma espécie de Bill Gates ou Steve Jobs do mal, sempre sorridente diante das câmeras, mostrando grande satisfação em exibir sua superioridade à imprensa, mas também disposto a qualquer bajulação ao governo ou ato ilícito para conseguir um monopólio para sua empresa. Scarlett Johansson constrói uma Viúva Negra com uma personalidade misteriosa e deliciosamente letal e, para minha própria segurança, isso é tudo que comentarei a respeito de seu trabalho sob pena de ser esfolado pela patroa.

A trilha sonora continua como um dos pontos altos, ajudando a conferir personalidade à fita, o diretor mantém seu foco em faixas de música eletrônica, rock e heavy metal, nada mais apropriado para um herói que se chama Homem de Ferro.

Os longos parágrafos que tratam da construção dos personagens em relação aos demais elementos da obra podem causar estranheza, mas isso acontece porque os personagens são de fato o coração do filme(lembrando que o diretor Jon Fravreu começou como ator e inclusive faz pontas nos dois filmes como Happy Hogan), todos eles bem trabalhados, com arcos específicos e bem desenvolvidos e a ação e os efeitos especiais trabalha em função dessa construção e não o contrário como na maioria dos filmes.

Talvez decepcione aqueles que esperavam por uma ação mais explosiva a la Michael Bay, mas aqueles que desejam ver um bom blockbuster que mostra que é possível sim casar entretenimento e conteúdo e o espectador só tem a ganhar com essa excelente mistura. Homem de Ferro 2 faz parte do rol de filmes que deveria ser usado para ensinar os executivos de estúdio a como fazer cinema comercial sem idiotizar a plateia.

Nota: 9

domingo, 31 de janeiro de 2010

Os Boêmios Analisam - Amor Sem Escalas


Amor Sem Escalas, novo filme de Jason Reitman(Obrigado Por Fumar e Juno), ao contrário do que tenta mostrar o cretino título nacional, não é uma açucarada comédia romântica, é, na verdade, um drama muito bem elaborado sobre as coisas que carregamos conosco(metaforica ou literalmente) e como elas definem quem somos.

Ryan Bingham(George Clooney) é um "consultor de transição de carreiras", basicamente é aquele cara que chega um dia num escritório, entra numa sala e começa a demitir pessoas, normalmente contratado por chefes que não qurem se sujar fazendo isso. Em virtude do seu trabalho Bigham vive viajando de uma cidade outra, sempre preso à rotina de saguões de aeroportos e quartos de hotéis, devido à isso, e à natureza de seu trabalho, Bingham tem uma personalidade metódica e impessoal, cujo único prazer é acumular milhas de vôo.

Os traços do personagem são muito bem mostrados pelo diretor em sequências como nas cenas em que Bingham faz as malas, adotando cortes rápidos e efeitos sonoros marcantes evidenciando uma precisão taylorística do persongem, além disso, o filme ainda é recheado de tomadas aéreas, imagens essas sem nada marcante, nada que identifique para onde o personagem está indo, mostrando assim a maneira impessoal como ele enxerga o mundo.

A sua maneira de encarar o mundo é inclusive tema para sua palestra, na qual ele afirma para grupos de executivos de que eles precisam jogar fora de sua bagagem de vida tudo aquilo que lhes atrasa, desde bens materiais até amigos, família e filhos.

Entretanto, o modo de vida de Ryan mostra-se ameaçado quando ele conhece duas mulheres. A primeira é Alex, um Ryan "com vagina" como a mesma se identifica, assim como Ryan ela não tem nenhum compromisso e de imediato os dois começam a marcar encontros entre vôos e trocar mensagens por celular, assim Ryan começa a vislumbrar a possibilidade de um relaciomento. Ao mesmo tempo entra em cena Natalie(Anna Kendrick), uma jovem recém-formada que cria um software que permite demitir pessoas via vídeoconferência, tornando o processo ainda mais impessoal.

A partir do convívio com as duas Ryan passa a rever seu conceito à respeito do que levar na "bagagem", confusão muito bem ilustrada quando o personagem precisa levar algo para uma parente e o item não cabe na mala, ficando desconfortavelmente do lado de fora ou no silêncio constragedor quando ele se encontra com as irmãs. Já a convivência com Natalie revela mais camadas de sua conduta profissional e se inicialmente vemos seu discurso ensaiado como uma demonstração de apatia, aos poucos percebemos que se trata de um profiossionalismo cuidadoso já que, como a própria Natalie vivencia, uma palavra errada pode levar a consequências irreparáveis.

Mas também não se enganem achando que se trata uma batida trama de redenção, pois, como na vida real, uma mudança de rumo nem sempre é fácil e nem tudo sai como se espera e se saímos do cinema com um gosto agridoce da boca é porque, assim como na vida real, nem tudo é felicidade e nem tudo é tristeza e se um filme consegue captar tão bem esse equilíbrio entre os dois gêneros mais básicos da dramaturgia a comédia(que essencialmente aborda a continuidade da vida e os prazeres que ela traz) e o drama(a inevitabilidade do sofrimento e da morte), então ele atingiu o objetivo mais básico da arte, ser um simulacro da vida.

Nota: 10

sábado, 19 de dezembro de 2009

Os Boêmios Analisam - Dissidia Final Fantasy


A princípio, a ideia de um jogo de luta com os personagens de diferentes Final Fantasy poderia causar calafrios na espinha do mais ardoroso fã da Square-Enix, principalmente aqueles que conhecem o histórico da empresa com games de luta e tiveram a (duvidosa)honra de jogar Ehrgeiz, pavoroso game de luta criado pela empresa e que tinha como principal chamariz a presença de alguns personagens do mega-sucesso Final Fantasy VII.

O material ia sendo divulgado, víamos gráficos e CGs caprichadas(e que exploravam todo o potencial do PSP), um design de personagens interessante e aparentemente uma história bacana, mas nada de como seria a jogabilidade. O segredo aumentava a apreensão e todos imaginavam que uma bomba estava a caminho.

Felizmente, todos estavam enganados. O jogo trazia uma mecânica diferente e inovadora, ao mesmo tempo que adicionava elementos de RPG ao tradicional esquema dos jogos de luta. As lutas ocorrem em cenários enormes e de movimentação livre como em Power Stone e são bastante rápidas, lembrando a franquia Kingdom Hearts, também da Square-Enix. Os combates consistem em atacar dois diferentes atributos do personagens adversários, o bravery, que pode ser atacado com o botão círculo, e o HP, os famosos heart points ou pontos de vida, a energia propriamente dita, que podem ser atacados com o botão quadrado. Ao atacar a bravery do adversário, o dano a este atributo é revertido para a bravery do próprio jogador, sendo que se os ataques deixarem o oponente com zero bravery, colocando-o sob um status chamado break e o jogador recebe um bônus em sua bravery. O valor da bravery determina o dano causado pelos ataques de HP dos personagens, então quanto maior a bravery, mais dano é causado. Assim os combates tornam-se bastante estratégicos, podendo o jogador adotar diferentes abordagens, ficar acumulando bravery para ataques mais poderosos ou lançar múltiplos ataques com força menor.

As lutas transcorrem de modo bastante simples e intuitivo, com uma jogabilidade semelhante à franquia Smash Bros da Nintendo, são utilizados dois botões para atacar sendo que cada botão serve para três ataques diferentes, variando de acordo movimentos no direcional análogico. Além disso, Dissidia tem um nível de customização que dificilmente será alcançado em outros jogos de luta, os personagens sobem de nível, tem acesso a variados equipamentos que alteram seus status e diferentes habilidades que são aprendidas conforme os personagens vão evoluindo oferecem múltiplas opções ao jogador.

A história é relativamente simples, os deuses do caos e da harmonia, Chaos e Cosmos respectivamente, travam uma guerra milenar, decidido a por um fim nessa guerra, Chaos convoca guerreiros de diferentes mundos para lutar a seu lado(os vilões dos Final Fantasy I a X), Cosmos, por sua vez, convoca os heróis que derrotaram esses guerreiros para lutar ao seu lado. O interessante mesmo, em termos de roteiro, é ver a interação desses personagens de diferentes universos, como por exemplo o conflito de personalidade entre a sisudez de Squall(FFVIII) e a expansividade de Bartz(FFV) ou a peregrinação martírica do Warrior of Light(FFI) e a busca por revanche de Tidus(FFX) para com seu pai.

Claro que nem tudo é perfeito, em alguns cenários a câmera atrapalha bastante com seus ângulos estranhos podendo prejudicar o jogador, mesmo o fato dela poder ser ajustada manualmente com toques nas setas do direcional não ajuda muito em relação a isso, pois até ajeitar a câmera o adversário já te encheu de golpes. Há também o fato de termos que ficar lutando contra as silhuetas dos personagens durante o modo história(embora o roteiro justifique isso), algo que fica cansativo com o tempo. Não custava nada para a Square criar alguns capangas genéricos para serem enfrentados.

A parte sonora traz de volta as principais canções dos games de cada personagem presente no jogo em versões remixadas, enriquecendo o game com as trilhas de diferentes épocas além de trazer composições originais, feitas exclusivamente para este jogo.

Dissidia Final Fantasy é uma justa homenagem aos 20 anos da famosa franquia da Square e uma grata surpresa tanto para os fãs de Final Fantasy quanto para os de jogos de luta.

Nota 9,5

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Os Boêmios Analisam - A Princesa e o Sapo


Neste A Princesa e o Sapo, a Disney retorna às suas raízes da animação tradicional em 2D, algo que não fazia desde o fraco Nem Que a Vaca Tussa em 2004, que parecia o último prego no caixão de um gênero que não dava retorno à empresa a um bom tempo, filmes como Atlantis e Planeta do Tesouro além da animação citada anteriormente não deram ao estúdio o retorno esperado e cada vez mais a animação tradicional parecia não ser retomada.

É aí que entra uma mosca na sopa, mosca essa denomida John Lasseter, ex-diretor da Pixar que foi alçado a diretor criativo do setor de animação da Disney quando esta comprou a Pixar. Mente pos trás dos sucessos mais recentes da empresa, Lasseter desejava retomar a clássica animação artesanal, feita a mão quadro por quadro e sem ajuda de computadores, queria fazer um filme com a mesma sensação dos clássicos de outrora da Disney e, já de antemão, digo que ele foi bem sucedido nesta empreitada.

O filme reconta a clássica história do príncipe transformado em sapo buscando uma princesa para reverter o feitiço, mas não espere aqui uma estrutura de conto-de-fadas, A Princesa e o Sapo consegue trazer modernidade e novas perspectivas a uma história que tinha tudo para ser um clichê sonolento.

Primeiramente porque o filme não se passa num reino muito distante(depois de Shreks e similares ninguém mais levaria algo assim a sério) e sim na Nova Orleans da década de 20 com toda a efervescência do jazz, além do Mardi Gras(algo que lembra o nosso carnaval) e a feitiçaria e o vudu que eram característicos da região sul dos EUA neste período(e que existe ainda hoje). Além disso a esforçada Tiana, que trabalha em múltiplos empregos para realizar o sonho de seu pai de abrir um restaurante, não é de fato uma princesa.

Quando o príncipe Naveem a encontra e pede um beijo, ela está numa festa a fantasia, por isso a confunde com uma princesa de verdade. Por não ter sangue real, o feitiço não se quebra com um beijo, ao invés disso, Tiana também é transformada em sapo.

E é aí que o filme realmente começa, adotando uma estrutura que mais se assemelha a uma comédia romântica, com protagonistas que não se aguentam devido às personalidades opostas, mas que aprendem a conviver um com o outro. De um lado temos a obstinada e trabalhadora Tiana e do outro o preguiçoso e festeiro príncipe Naveem, quebrando assim outro paradigma dos contos-de-fada, o do amor à primeira vista.

Mas não se enganem, apesar de tudo o filme mantém as características que tornaram as animações da Disney tão amadas. Todos os elementos do "padrão Disney de qualidade" estão presentes, dos coadjuvantes engraçados, com destaque para o jacaré amante de jazz Louis e do vaga-lume desdentado Ray, às cenas de música, elementos mágicos, aqui representados pelo vudu e pelo xamanismo, e os vilões esguios e sinistros, duas das características mais marcantes do Dr. Facilier, antagonista da fita.

E também não poderia deixar de citar a animação, que traz vida e expressividade aos personagens e cenários com todo o detalhamento e esmero no uso da paleta de cores, nos figurinos e na naturalidade da movimentação dos personagens.

Deste modo, A Princesa e o Sapo traz um interessante diálogo entre o antigo e um novo, mostrando que a Disney não precisa esquecer seu passado para encarar a modernidade e sim utilizá-lo para enriquecer ainda mais as suas obras.

Nota: 8

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Os Boêmios Analisam - Kingdom Hearts 358/2 Days


Para qualquer um que não tenha chegado perto de um Playstation 2, a idéia de juntar os universos da Disney e Final Fantasy com personagens originais da Square Enix pode parecer uma ideia fadada ao fracasso, entretanto, qualquer um que tenha conhecido qualquer um dos três Kingdom Hearts sabe a força que esta franquia tem.

O novo game não traz mais como protagonista o garoto Sora, mas o jovem Roxas, criado a partir de Sora do final de KH1(é complicado demais para explicar). Sem memórias de quem é ou para onde veio, Roxas é recrutado pela misteriosa Organization XIII, seita formada por seres que se denominam Nobodies, seres sem coração que vagam pelo universo coletando os corações contidos em dêmonios chamados Heartless para poderem recuperar seus próprios corações, e a amizade que se forma entre Roxas e dois membros da seita.

Os fatos deste Kingdom Hearts ocorrem durante todo o período entre o primeiro e segundo game(e consequentemente ao mesmo tempo de Chain of Memories), com os roteiros complexos, que captam o espectador pelo carisma dos personagens e forte apelo emocional.

O visual do jogo pode ser considerado um dos mais belos do DS, transmitindo um visual semelhante aos de PS2, apesar de um excesso de serrilhados e algumas texturas pobres. Por outro lado, as cenas em CG usadas para contar momentos chave da trama são de alta qualidade, engrandecendo ainda mais o game.

Os cenários são menos numerosos do que nos games anteriores, o que nos obriga a rodar por muitas vezes pelas mesmas paisagens. Para contrabalançar isso, a história se desenvolve num esquema de missões curtas que envolvem destruir um certo número de inimigos, coletar informações ou encontrar determinado item e nessas missões as áreas a se visitar já são pré-determinadas.

A ação do game se desenvolve em tempo real assim como nos jogos anteriores, dando ao jogador uma grande gama de combos, magias e finalizadores para conduzir o personagem de acordo com seu estilo de jogo. O novo sistema de painéis contribui para esse alto nível de customização, embora existam algumas ressalvas como a ausência do atributo MP(será que não aprenderam com Final Fantasy VIII?), tendo que equipar uma por uma as magias que se deseja usar, e também a necessidade de se equipar os levels ganhos através de experiência. Outras ressalva é a câmera, que em muitos momentos prejudica o jogador com péssimos ângulos.

Outro ponto forte da jogabilidade é o Mission Mode, que oferece um multiplayer para até 4 pessoas podendo escolher entre quaisquer integrante da Organization XIII, revisitando as missões do jogo e algumas extras. Uma pena esse modo cooperativo não se aplicar para a história principal.

A trilha sonora é toda reciclada dos jogos anteriores, mas isso não é algo que chegue a incomodar, pois não deixam cair o alto nível da produção, assim como a dublagem, que mantém a competência e as vozes dos outros games.

Kingdom Hearts 358/2 Days mantém a qualidade dos capitúlos anteriores usando toda a capacidade do hardware do Nintendo DS e ainda acrescenta ótimas inovações e adições à sua franquia de sucesso.

Nota: 8,5

sábado, 22 de agosto de 2009

Os Boêmios Analisam - Se Beber, Não Case


De uns tempos pra cá o diretor e produtor Judd Apatow mostrou a Hollywood um subgênero de comédia bastante rentável, aquele centrado em personagens masculinos, suas amizades e em seu amadurecimento tardio. Boa parte das melhores comédias produzidas nos últimos anos se valia dessa temática, algumas do próprio Apatow como Ligeiramente Grávidos e Superbad, e muitas de outros realizadores como Eu Te Amo, Cara e Dias Incríveis de Todd Philips, responsável por esse Se Beber, Não Case.

O filme conta a história de um grupo de amigos que vão a Las Vegas para uma despedida de solteiro. Lá eles tomam todas, acordam sem lembrar do que aconteceu, com uma baita ressaca(daí o título original, The Hangover). O quarto está destruído, há uma galinha perambulando pelo lugar, um tigre no banheiro, um bebê no armário e o pior: percebem que perderam o noivo!

É claro que a partir daí eles embarcam numa jornada épica e nonsense para relembrar o que fizeram e no caminho se envolvem em muitas situações absurdas envolvendo policiais que usam presos como cobaias de armas não letais, um gângster gay asiático, Mike Tyson e um casamento com uma prostituta.

O filme ainda encontra tempo para fazer referência a alguns filmes situados em Las Vegas como Cassino e Rain Man, mas faz isso de maneira sutil e orgânica, estando bem integradas à trama, diferente da forçação de barra da maioria das comédias recentes(sim, estou falando dos lixos produzidos Aaron Seltzer e Jason Friedberg).

Mas não se enganem pensando que Se Beber, Não Case é apenas um besteirol estúpido como Cara, Cadê Meu Carro? O filme faz questão de mostrar uma narrativa coesa e comprometida com a realidade apesar dos absurdos. Assim, quando vemos um personagem secundário ser baleado, temos ciência de que eles estão lidando com uma ameaça real e estão mesmo em perigo pelas besteiras que fizeram na noite anterior. O mesmo pode ser dito da "reviravolta" ao negociarem com o hilário gângster asiático, já que a história dava margem àquele acontecimento.

As relações entre os personagens também são bem trabalhadas. Como disse anteriormente, a fita trata das relações de amizade entre os homens e como, de certa forma, se recusam a amadurecer. Assim, vemos uma interação bastante verdadeira entre Phil(Bradley Cooper, cada vez mais carismático), Stu(Ed Helms, que tem a aparência de uma versão adulta do Christopher Mintz, o McLovin) e Alan(Zach Galifianakis, cuja barba o deixa igual ao Joaquin Phoenix), fruto da química entre os atores que defendem bem seus personagens. Phil é um homem casado que sente falta da sua juventude de festas, pegação e bebida, algo parecido com o personagem de Vince Vaugh em Dias Incríveis. Stu é um dentista certinho e submisso à noiva e logicamente fica histérico com todas as situações absurdas com as quais se envolve. Por fim, Alan é um sujeito tresloucado, sem noção e politicamente incorreto(algo como o Frank The Tank de Dias Incríveis) é o mais unidimensional dos três personagens, mas isso não chega a ser problema, já que Zach Galifianakis consegue arrancar risos até de piadas envolvendo assuntos delicados como o 11 de setembro e o Holocausto.

Divertido e absurdo, mas sem deixar de contar uma boa história(algo cada vez mais raro no cinema americano), Se Beber, Não Case é um filme que sem dúvida merece ser conferido.

Nota 8,5

domingo, 9 de agosto de 2009

Os Boêmios Analisam - G.I Joe: A Origem de Cobra


Metonímia é uma figura de linguagem em que uma parte significa o todo(e vice-versa). Na arte, normalmente analisar uma parte fora do todo normalmente não é válido, pois a parte perde seu significado fora do contexto do todo. Entretanto, há uma parte de G.I Joe que simboliza perfeitamente o todo do filme.

O ninja Snake Eyes(Ray Park) é um dos personagens principais do filme e durante toda a projeção ele não mostra o rosto, não diz uma palavra e distribui porrada pra todos o lados. E é exatamente isso que o filme é, uma obra sem cara(personalidade), que não tem nada a dizer, mas que chuta muitas, muitas bundas.

Se é ação que procura dificilmente G.I Joe irá decepcionar, o filme é recheado de tiroteios, lutas e perseguições de encher os olhos, ao contrário de filmes recentes como Transformers, cuja "ação" se resume a explosões intermináveis. A única ressalva são os efeitos especiais que continuam exibindo aquela CGI preguiçosa característica do diretor Stephen Sommers(A Múmia 1 e 2, Van Helsing), que mais parece saída de um videogame.

O roteiro simplesmente não existe, a trama gira em torno de um objeto que ambos os Joes e a organização liderada por Destro(Cristopher Eccleston), que ainda não é a entidade terrorista Cobra, desejam e por isso ficam se porrando o filme inteiro. O ritmo da "narrativa" ainda é bastante prejudicado por muitos flashbacks inúteis, que em muitas vezes apenas mostram coisas que já foram ditas pelos personagens ou com informações que poderiam ser esclarecidas com simples diálogos. Aliás, devo salientar que é a história do Comandante Cobra e o suas motivações são pra lá de patéticos. O roteiro tenta lhe dar um passado, mas falha miseravelmente em mostrar as razões dele ter resolvido seguir por aquele caminho. Seria melhor não mostrar sua história. Por outro lado, é bastante interessante que aqui G.I Joe é uma divisão internacional, ao contrário do desenho e dos bonecos onde todos eram americanos e mostrando que o restante do mundo também produz bons soldados.

Os personagens também não existem, sendo um bando de estereótipos unidimensionais definidos mais por suas caraterísticas físicas e equipamentos do que pela suas personalidades, se bem que esperar profundidade de um filme baseado em bonecos é pedir um pouco demais. Sendo assim, vemos atuações preguiçosas, como o inexpressivo Channing Tatum que é um zero à esquerda como Duke, e/ou caricatas, o Comandante Cobra interpretado por Joseph Gordon-Levitt, por exemplo, parece ter saído de um seriado dos anos 60 de tanto que ele força na entonação vilanesca(só faltou a clássica cena da gargalhada macabra com a câmera fazendo zoom-out). E para registrar, a ponta do Brendan Fraser é uma das mais inúteis que já vi num filme, colocaram o cara em meio minuto de filme só pra ficar repetindo a fala "de novo" umas 47 vezes, se ele foi pago deve ter sido a grana mais fácil que já ganhou.

Mas a verdade é que o filme é muito melhor nos momentos em que não tenta contar uma história ou exibir algum conflito dramático, sendo muito mais bem sucedido nos conflitos físicos como as lutas entre Snake Eyes e Storm Shadow ou o ataque ao Poço, a fortaleza dos Joes. Como já falei antes, as cenas de ação estão entre as melhores vistas esse ano.

G.I Joe mostra-se como um filme de ação razoavelmente satisfatório e bastante divertido apesar de sua total falta de conteúdo. Quem está procurando apenas se divertir não vai se decepcionar.

Nota: 5

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Os Boêmios Analisam - Ghostbusters The Videogame


Contrariando a idéia de que games baseados em filmes são uma porcaria, este Ghostbusters é uma divertidissíma exceção à regra. Logicamente ajuda o fato do jogo não ser baseado num filme que ainda será lançado, o que normalmente significa cronogramas apertados e muita coisa feita nas coxas e um resultado porco. Ghostbusters não teve esse problema, na verdade, atrasou bsatante desde o seu anúncio. Mas, sem mais delongas, vamos à análise do jogo em si.

Primeiramente devo dizer que foi mais do que acertada a escolha da versão para Wii exibir um visual mais cartunesco, uma vez que o console da Nintendo não tem o poder do PS3 e do Xbox360, tentar reproduzir o visual realista dessas versões resultaria em algo bastante mal feito, como vemos em games como Wolverine(onde o personagem nem de longe lembra o Hugh Jackman).

A história se passa anos depois do segundo filme, mas isso não significa que velhos conhecidos dos fãs como o fantasma Geléia ou o Homem de Marshmellow não estarão presentes, todos estão lá para o seu prazer nostálgico. Até o quadro de Vigo, vilão do segundo filme pode ser visto no QG dos Caça-Fantasmas.

A parte sonora vem melhorar ainda mais o clima da aventura, uma vez que conta com o elenco original dos filmes, assim vemos(ou melhor, ouvimos) a voz de Harold Ramis e as explicações prolixas de Egon, Dan Aykroyd e o otimismo de Ray, Ernie Hudson e o fleuma de Winston e, é claro, Bill Murray e a afiada ironia de Peter.

Logicamente, nada disso adiantaria se a jogabilidade não fosse boa, entretanto, esse não é o caso. Capturar fantasmas é uma tarefa bastante intuitiva, primeiramente atirando nele para cansá-lo, apontando o wiimote para a tela e depois realizar os comandos mostrados para deixá-lo tonto e então arremessar a armadilha com o nunchuk. Existem outros detalhes, mas não quero estragar a surpresa de ninguém. Tudo que precisam saber é que a jogabilidade é bastante fluida e funcional.

Depois de destruir tudo com sua mochila de prótons, ainda é possível revisitar fases já terminadas para coletar cards espalhados pelo game e escanear todas as criaturas com o medidor ectoplásmico, algo que dá um pouco mais de sobrevida ao game, visto que ele é um pouco curto e é necessário coletar todos esses itens para terminar o game com 100% e destravar alguns segredos.

Divertido e bem-humorado, Ghostbusters The Videogame é um título imperdível para o Wii. É o tipo do game que nos faz falta depois de terminarmos.

Nota: 9

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Os Boêmios Analisam - Super Paper Mario


Esse game já tem um tempinho de lançado, mas só agora o adquiri, então resolvi falar um pouco a seu respeito(sim, estou de férias e portanto tenho tempo livre para tal).

Assim como os games anteriores da série Paper Mario, este mistura elementos de games de plataforma com RPG, sendo que aqui temos muito mais elementos de plataforma. Sim, Mario continua adquirindo experiência e subindo de level, aumentando seu HP e seu poder de ataque, e ganhando novas habilidades(através de criaturas chamadas pixls), mas a ação agora é em tempo real, lembrando muito mais os games de plataforma bi-laterais ou quase isso, já que a principal habilidade do encanador bigodudo, o flip, permite que ele mude a perspectiva do jogo de 2D para 3D.


A exploração das duas dimensões é vital para o avanço no game e apesar da câmera estática atrapalhar um pouco nas partes 3D, devo dizer que a equipe fez um excelente trabalho ao basicamente fazer duas vezes cada cenário do jogo. Além de Mario, o jogador também controla Peach, que pode planar e se proteger com seu guarda-sol, Bowser, que incendeia certos objetos com suas chamas, e Luigi, que tem os maiores pulos do game.

A história acompanha a busca pelos 8 Pure Hearts, objetos que servirão para destruir a Chaos Heart, artefato criado pelo maligno Count Bleck pelo casamento entre Bowser e Peach e que tem o poder de destruir todas as dimensões. Como acontece nos Paper Mario a narrativa é permeada por humor e paródias do mundo dos videogames(como o encontro com um camaleão nerd) e itens hilários como a Megastar, uma estrela de invencibilidade que transforma o personagem numa versão 8-bits gigantesca de si mesmo. O único porém é a parte sonora, o jogo não tem diálogos falados(cada personagem tem apenas algumas onomatopéias) e a trilha sonora é apenas correta.

Super Paper Mario é uma aventura com uma sensação bastante old-school que lembra muito do antigos adventures bidimensionais de NES, principalmente aqueles com múltiplos personagens no qual o jogador alternava entre eles para superar os obstáculos como Bucky O'Hare e Little Samson. Jogadores mais novos talvez não saquem todas as piadas e referências feitas aos games de antigamente, mas quem cresceu com Atari e NES certamente se divertirá ainda mais com a nostalgia oferecida por Super Paper Mario.

Nota: 8,5

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Os Boêmios Analisam - Transformers: A Vingança dos Derrotados


Existe uma máxima no cinema que diz "menos é mais", obviamente existem excessões como Kill Bill ou Sin City onde exageros servem para compor ou dar o tom da obra, mas em geral acabam tornado os filmes tediosos. Michael Bay parece desconhecer essa máxima ou, pelo menos, a ignora.

Este Transformers: A Vingança dos Derrotados traz todas características da aventura anterior(que eu gostei bastante) e do modo filmar do diretor repetidas à exaustão durante as mais de duas horas e quarenta minutos do filme. Vemos uma profusão de giros de câmera ao redor dos personagens, ângulos baixos, slow-motions, planos na contra-luz, equipamentos militares, mulheres gostosas e, claro, o que há de mais marcante na filmografia de Michael Bay: explosões. Todos esses recursos são utilizados repetidamente pelo cineasta e, como já tinha dito na análise de Anjos e Demônios, excessos acabam por tornar o filme tedioso.

O filme é basicamente mais do mesmo, muito mais do mesmo para dizer a verdade, se no primeiro Transformers tinhamos cerca de 16 robôs, neste temos a impressionante marca de 45. Cada um deles com uma movimentação bastante fluida e realista e que parecem mesmo reais, a evolução tecnológica em relação à película anterior é bastante visível e se o primeiro perdeu o Oscar para o (inferior em termos de efeitos especiais) A Bússola Dourada, este deve, pelo menos, ter sua indicação garantida.

Novamente acompanhamos Sam Witwicky buscando algum artefato para os transformers na tentativa de que ele seja usado pelos Decepticons, os robôs malignos. A história começa bastante empolgante quando uma força militar aliada aos Autobots enfrenta um transformer gigantesco em Xangai. Deste ponto até uma surpreendente luta na floresta o filme até que flui bem e tive a impressão de estar assistindo a um "Império Contra-Ataca" dos Transformers, mas ao chegar em seu terceiro ato no Egito(e talvez até antes disso), o filme se alonga demais e somos obrigados a ver por minutos a fio mais piadinhas seguidas de explosões e tomadas de veículos militares que beiram o fetichismo, sendo que nenhuma dessas é realmente empolgante ou contribui para o real andamento da trama.

O desfecho também é decepcionante o tão alardeado Devastator, um construticon (transformer formado por outros transformers), aparece para não fazer nada, sendo destruído pouco tempo depois. O todo-poderoso vilão Fallen, que deveria ser um deus robótico, apesar de toda a expectativa gerada pelo roteiro, também é eliminado sem demora.

No quesito de atuações(se é que isso existe num filme de Michael Bay), devo dizer que o costumeiramente carismático Shia LaBeouf não tem muito o que fazer como Sam, já que seu personagem aparece menos do que no filme anterior e tem menos ainda situações que se valem do timing cômico do ator( como na cena com seus pais no início). Na verdade, boa parte das tentativas de humor são sofríveis como os gêmeos Autobots, cuja presença é bastante aborrecida, e do colega de quarto de Sam. Salvam-se apenas John Turturro, aparentemente se divertindo à beça, como o (ex)agente Simmons e um momento em que um pequeno Decepticon fica encoxando a Megan Fox como um cão no cio.

Fox, por sinal, permanece bela e também permanece sem a mínima capacidade de atuar (embora saibamos que isso não seja necessário para que ela desempenhe seu papel no filme, mas tenho de citar isso) se limitando a aparecer com pouca roupa e fazendo caretas sexy. Por sua vez, Josh Duhamel e Tyrese Gibson continuam sem dizer a que vieram, não servindo para absolutamente nada e não exibindo nenhum carisma ou personalidade.

Transformers: A Vingança dos Derrotados é um filme que se beneficiaria de uma metragem menor e mais ágil e por uma direção com menos vícios do que a de Michael Bay. Talvez fosse o caso de num provável terceiro filme o produtor Steven Spielberg assumisse a direção, a mudança de ares certamente beneficiaria o filme e os espectadores também.

Nota: 3

domingo, 17 de maio de 2009

Os Boêmios Analisam - Anjos e Demônios


É inegável que o escritor Dan Brown(ou Dan Bronha para os íntimos) tem um trabalho medíocre. Reviravoltas vazias, narrativa mais esburacada que um queijo suíço, personagens sem graça e para disfarçar todas as deficiências em seu texto o escritor coloca em suas obras descrições para lá a acuradas de obras de arte e monumentos históricos para que seu público tenha a (falsa)impressão de que suas obras oferecem algum conteúdo quando na verdade não passam de entretenimento escapista e facilmente esquecível e não é diferente com as trasposições de suas obras para o cinema.

É bem verdade que este Anjos e Demônios é bastante superior que O Código Da Vinci, mas isso não é lá um grande mérito. O formulaico diretor Ron Howard parece ter ouvido as queixas sobre a prolixa verborragia excessiva e tediosa do primeiro filme estrelado por Robert Langdon(embora na primeira meia hora nada aconteça e ela seja composta por 90% de diálogos expositivos), este novo filme é permeado por clímax atrás de clímax até o patético desfecho que não consegue se safar das resoluções originais do livro que simplesmente ricularizam da inteligência do espectador.

O resultado é um filme que se torna tedioso por conta de sua própria grandiosidade, afinal sabemos que assim que Langdon decifrar as pistas, veremos mais um assassinato grandioso de um dos religiosos sequestrados e a narrativa segue nesse esquema previsível assassinato-pista-assassinato até o final, algo que me lembra do também tediosamente exagerado Bad Boys 2 que consistia basicamente de uma cena de comédia seguida de um tiroteio explosivo e assim sucessivamente.

Se a narrativa é tediosa e esquemática, os personagens também não a ajudam a torná-la interessante. Não que o elenco seja incompetente, Tom Hanks continua carismático, mas nem todo carisma do mundo consegue salvar um personagem vazio como Robert Langdon, um indivíduo definido exclusivamente pelos seus interesses acadêmicos e nada mais. Seu único traço de personalidade era a claustrofobia mostrada no filme anterior e aqui convenientemente esquecida(e que poderia ser explorada nas cenas dos arquivos do Vaticano). A Vittoria Vetra(Ayelet Zurer) é um colírio numa narrativa repleta de homens, mas é inútil para o desenvolvimento da mesma. Ewan McGregor até que faz uma composição interessante como o camerlengo Patrick, adotando uma fala sempre baixa e calma e um olhar piedoso e obstinado, como se ele fosse a compaixão divina em pessoa, mas, como todos os outros personagens do filme, é raso como um pires(sendo que no livro suas motivações eram bem mais interessantes).

O roteiro escrito pelo execrável Akiva Goldsman(que cometeu atrocidades como Batman&Robin) até que tenta gerar discussões interessantes entre fé e ciência(como é de costume em alguns de seus trabalhos), sendo que elas ficam apenas na intenção(como também é de costume em suas obras), já que nunca são aprofundadas. Uma pena, já que nesse ponto o livro oferecia conteúdos interessantes, entre elas a origem do camerlengo. Além disso, como mencionei antes, o filme não consegue escapar de algumas incoerências do livro como o assassinato no templo da terra(se seriam execuções públicas, como encontrariam o padre ali?) ou a descoberta feita pelo chefe da guarda suíça interpretado por Stellan Skarsgard(porque não alertar a todos ao invés de confrontar sozinho seu suspeito?) e também um certo para-quedas indestrutível.

O filme ainda pode despertar os interesses daqueles que gostam de história, arquitetura e obras de arte pelas belas tomadas da Cidade do Vaticano e pelas curiosidades dos rituais católicos, mas para estes eu recomendo que vão assistir Discovery Channel ou National Geographic, já que estas curiosidades não salvam esse filme bobo e tedioso que muito provavelmente será esquecido logo depois de se sair da sala de projeção.

Nota: 5

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Os Boêmios Analisam - Star Trek


Tenho que dizer que nunca me interessei muito por Star Trek, nunca vi a série clássica, assisti apenas alguns dos filmes(e o único que presta é A Ira de Khan) e não entendo quase nada da mitologia deste universo. Entretanto, desde que vi os primeiros trailers do novo filme, fiquei mais do que empolgado para conferir.

E todas as minhas expectativas para com o filme foram superadas ao final da projeção. O diretor J.J Abrams conseguiu criar algo que consegue ao mesmo tempo adicionar novos elementos ao universo já estebelecido(através do recurso das viagens no tempo), ao mesmo tempo que mantém algumas convenções e elementos da mitologia desse universo construído há mais de quatro décadas.

O resultado é uma das raras ocasiões onde uma obra consegue agradar iniciados e não-iniciados. Os fãs, por exemplo, irão delirar ao verem o momento que Kirk passa no impossível teste do Kobayashi Maru, algo que tinha sido apenas citado em A Ira de Khan. Os não-fãs também conseguirão se divertir acompanhando a jornada de James Kirk, que desde jovem já se demonstra impulsivo e corajoso, para assumir o lugar que lhe foi negado devido a alterações no fluxo do tempo.

Mas não é só de viagens espaciais que vive Star Trek. O filme se beneficia de um elenco altamente coeso para trazer de volta a velha dinâmica da série clássica, principalmente o trio Kirk, Spock e McCoy que funcionam quase como uma versão viva da organização psicológica do Id, Ego e Superego proposta por Freud. Temos o "Magro" McCoy(aqui a origem do apelido é um pouco diferente, uma vez que Karl Urban está longe de ser raquítico) que é passional e emotivo, Spock é lógico e dedutivo e Kirk toma suas decisões ao confrontar as opiniões dos dois.

Karl Urban aliás parece estar possuído pelo espírito do falecido DeForrest Kelley, utilizando os mesmos trejeitos e modo de falar do médico. John Cho mostra a competência e a intrepidez de Sulu, apesar da inexperiência ainda levá-lo a cometer erros tolos enquanto Zoë Saldaña cria uma Uhura que esconde grande ternura por trás de sua fachada severa. Chris Pine consegue criar um Kirk que resgata a perfomance de William Shatner ao passo que também dá maior personalidade ao personagem(já que Shatner usara muito de si mesmo em sua composição, tornando-o raso). Anton Yelchin é um Chekov mais interessante que o original e Simon Pegg é o alívio cômico como o engenheiro Scotty.

Mas de todo o elenco o destaque fica mesmo por conta de Zachary Quinto que consegue captar todas as nuances de Spock, um indivíduo sempre divido pelo conflito de suas emoções humanas e sua lógica vulcaniana. Seu trabalho consegue captar tão bem a composição feita por Leonard Nimoy que o diretor não hesitou em colocá-los frente-a-frente, trazendo Nimoy para interpretar o velho Spock que viaja no tempo. Nimoy, aliás, nem parece que passou 18 anos sem colocar as orelhas de Spock, tamanho seu conforto no papel.

Além de um ótimo desenvolvimento de seus personagens o filme conta com sequências de ação muito bem orquetradas como a batalha espacial no início ou a luta de Kirk e Sulu contra os romulanos sobre a perfuratriz. Como de costume em seus trabalhos, Abrams trabalha com o compositor Michael Giacchino que mais uma trilha primorosa que peca somente por não resgatar o tema clássico da série.

Depois de um recomeço tão grandioso não há dúvida nenhuma que este novo Star Trek terá vida longa e próspera.

Nota: 9,5

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Os Boêmios Analisam - X-Men Origens: Wolverine


Em termos de filmes, a Fox cada vez se aproxima mais de se tornar sinônimo de lixo(ao contrário de suas ótimas produções para TV). São dela os piores blockbusters do últimos tempos, porcarias do nível de Jumper, A Liga da Injustiça, Elektra, Quarteto Fantástico e Dragonball. É famosa a reputação de que no estúdio quem mandam são os executivos e que os diretores são meros paus mandados. Por isso minha surpresa com a contratação do sul-africano Gavin Hood, vencedor do Oscar de melhor filme estrangeiro com o filme Infância Roubada, para o comando do filme.

O problema é que apesar de ser talentoso, Hood não é briguento como Bryan Singer(que capitaneou os dois primeiros X-Men) ou bem relacionado em Hollywood como Brett Ratner(que conseguiu evitar que X3 fosse ainda pior devido às exigências do estúdio ou do cronograma apertado). Então, não é surpresa que ao assistirmos esse X-Men Origens: Wolverine, vemos um roteiro extremamente promissor ser sabotado soluções apressadas e mal-elaboradas que contrastam grosseiramente com o estilo que Hood tenta imprimir. Ou seja, a visão do diretor para o longa foi alterada pelas decisões dos executivos devido ao pouco poder de barganha de Hood.

De um estudo das relações entre irmãos e da natureza dúbia do Wolverine, o longa descamba para a superficialidade e a um desfecho apressado que esquece de trabalhar as questões inicialmente levantadas. E se estão curiosos para saber quais relações de irmandade estou falando, vou explicar.

Para quem não leu a minissérie Origens(na qual o longa se baseia em parte), Wolverine, ou Logan, nasceu James Howlett, filho de um aristocrata candense. Em sua juventude James vivia doente, tendo apenas a companhia da filha da empregada e de Cão, filho do caseiro John Logan(que nos quadrinhos é a cara do Wolverine adulto). James só descobre suas habilidades mutantes quando Logan mata seu pai e descobre então que na verdade era filho de Logan e, portanto, meio-irmão de Cão. Acontece que Cão guardava certa semelhança com o estilo animalesco e as unhas do Dentes-de Sabre nos quadrinhos, mas não fica claro se ele é ou não Victor Creed. No longa, Cão já se chama Victor, então, no filme, Dentes-de-Sabre e Wolverine são irmãos.

Depois da breve introdução da infância do personagem, vemos um pouco da trajetória dele pelas várias guerras na sensacional sequência de abertura. A partir daí o filme faz o máximo possível para chegar em seu terceiro ato(Wolverine já com adamantium e partindo para vingança) prejudicando o aprofundamento da trama e oferecendo algumas soluções mal-elaboradas(as justificativas para o codinome Wolverine e para sua amnésia são bastante gratuitas e forçadas).

O maior mérito do filme reside em Hugh Jackman. Com seu carisma o ator australiano carrega o filme nas costas, personificando perfeitamente o mutante canadense e encontrando força no ótimo elenco de apoio que tem em Liev Schrieber seu ponto mais forte, que nos faz esquecer o Dentes-de-Sabre patético do primeiro filme dos mutantes, além do trabalho de Ryan Reynolds(também conhecido como o Sr. Scarlett Johansson), que dá alguma personalidade ao vazio(nos quadrinhos) Wade Wilson/Deadpool, e do sempre competente Danny Houston que assume o papel que fora do também competente Brian Cox em X2.

As sequências de ação também são outro ponto forte do filme, principalmente as lutas entre Wolverine e Dentes-de-Sabre e a perseguição de helicóptero liderada pelo Agente Zero. O grande número de personagens, entretanto, acaba enfraquecendo o filme(assim como aconteceu em X3) e muitos não passam de pontas de luxo, perdendo tempo precioso que poderia ter sido usado para trabalhar melhor a trama.

Apesar dos problemas, Wolverine ainda oferece uma experiência satisfatória para um blockbuster americano, mas fica a sensação de que o resultado poderia ter sido melhor se Gavin Hood tivesse mais liberdade para trabalhar.

Nota 6,5

domingo, 8 de março de 2009

Os Boêmios Analisam: Watchmen


Watchmen é a adaptação de uma graphic novel escrita por Alan Moore um dos mais celebrados autores de HQ e é a única obra de quadrinhos a figurar entre a lista das 100 melhores obras literárias do século passado da revista Time. Watchmen é uma obra tão complexa que muitos diziam ser infilmável.

E como o diretor Zack Snyder se saiu adaptando algo que se apropria de recursos tão particulares de sua mídia? Relativamente bem, eu diria, apesar de longe do ideal. O filme filme começa no mesmo ponto da hq, com o assassinato de Edward Blake e aproveita para contextualizar um pouco o espectador através de alguns programas de TV. As mudanças em relação à hq já começam nessa cena, mostrando Blake lutando contra o invasor, o principal problema, e este perseguirá quase todas as lutas do filme, é o exagero contido nelas, os personagens socam através de paredes, dão saltos impossíveis, coisas que contrariam o espírito da HQ de pessoas normais combatendo o crime.

A sequência de créditos mostra através de fotos a história dos Minutemen, primeiro grupo de super-heróis e pouco aborda este período no resto do filme à exceção dos flashbacks de Sally Júpiter, a música The Times They Are A-Changin de Bob Dylan que toca na abertura dos filmes é uma das poucas boas escolhas da equivocada seleção de músicas de Snyder(Sound of Silence, por exemplo, aparece totalmente deslocada no enterro de alguém tão amoral quanto Eddie Blake).

A partir daí acompanhamos as investigações do paranóico herói Rorschach acerca da morte de Blake. O trabalho do ator Jackie Earle Haley(Pecados Íntimos) como o personagem é simplesmente perfeito, utilizando a entonação monótona de falar que é sugerida nos quadrinhos e nos fazendo sentir repulsa e ao mesmo tempo admiração por sua ameaçadora figura, ele é um dos personagens mas bem trabalhados pelo filme, embora tenha sentido falta de alguns dos seus flashbacks na conversa com o psiquiatra que ajudariam mais a estaabelecer sua motivação para se tornar super-herói.

O outro personagem que é mais destacado no filme é o Dr Manhattan cuja cena em marte, apesar de não tão complexa, elaborada e cheia de transições como a hq, consegue nos fazer entender a sua percepção simultânea de tempo. Os efeitos especiais que criam o personagem funcionam muito bem e o ator Billy Crudup acerta o tom do personagem ao adotar uma fala suave, quase inteiramente racional, mas com uma leve tristeza, quase como se Manhattan lamentasse a humanidade que perdera.

Fechando o conjunto de grandes atuações no filme está Jeffrey Dean Morgan como o Comediante, apesar do pouco tempo de tela ele consegue mostrar muito bem o cinismo e amoralidade de Blake, sem deixar de nos chocar com o fato de que apesar de sua canalhice e pessimismo, ele provavelmente tem uma visão de mundo bastante realista.

O competente Patrick Wilson está apenas correto como o Coruja, assim como Malin Akermann e sua Espectral II. O personagem de Wilson, entretanto, acaba mais prejudicado pelo físico do ator que falha em exprimir a decadência de Dan Dreiberg. O Ozymandias de Matthew Goode é um pouco mais andrógino do que na hq(que tinha apenas uma menção do Rorschach sobre a possibilidade dele ser homossexual), mas isso não chega a interferir muito uma vez que Veidt é predominantemente definido na hq por suas ações e motivações e não por sua personalidade.

O roteiro escrito pelo competente David Hayter(X-Men 1 e 2, além dele ser a voz do fodão Solid Snake) e do estreante Alex Tse funciona muito bem, apesar do ritmo inconstante, até a parte final. Não, não irei reclamar aqui da remoção do monstro, nesse aspecto o novo final funciona perfeitamente, pois os arcos paralelos que mostrariam a origem do monstro tomariam muito tempo e confudiriam o espectador. Por outro lado, a ausência de alguns outros arcos, mais especificamente os dos humanos "não-heróis", acaba diminuindo o impacto da sensação de pânico causada pela iminência de uma guerra nuclear e da solução final de Ozymandias. A presença do tigre Bubastis também perde o sentido nesse novo final, uma vez que ele era fruto das experiências de manipulação genética do Ozymandias e que não aparecem no filme.

O epílogo também acaba prejudicado com algumas escolhas óbvias do roteiro, como o Coruja gritando após a morte do Rorschach(sério que alguém ainda cogita uma cena dessas?) ou a necessidade de "castigar" Ozymandias, além disso criar um juízo de valor que subestima a inteligência do espectador ao mostrar com todas as letras que ele é o "vilão" ainda descaracteriza o Coruja, na hq ele é apenas um homem comum que se envolve com algo grande demais para ele e aqui, apesar de demonstrar passividade o filme inteiro, toma a (inútil) ação de socar o Ozymandias.

Apesar de não possuir o mesmo impacto da graphic novel, não podemos deixar de aplaudir a coragem de todos os envolvidos em entregar um filme complexo(alguns detalhes só poderão ser percebidos assistindo mais de uma vez o filme) e que instiga tantas reflexões no espectador, tratando-o finalmente como adulto e não como um imbecil que precisa ser guiado pela mão para acompanhar um filme como faz a maioria dos blockbusters.

Nota 8

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Os Boêmios Analisam - Trovão Tropical


Finalmente pude conferir em DVD uma das melhores comédias do ano passado. De início tive medo que o filme não estivesse à altura das minhas expectativas, mas já comecei a rir desde o início com os falsos trailers de alguns filmes realizados pelos "astros" do filme.

Explico, Trovão Tropical conta a história de um grupo de atores que estão fazendo um filme baseado na história real do soldado Quatro Folhas(Nick Nolte) que ficou cativo no Vietnã. Acontece que devido a uma discussão entre os atores, uma bomba é disparada fora do tempo e destrói todo o set do filme, deixando um prejuízo enorme. O diretor do filme, Damian Cockburn(Steve Coogan) resolve então colocá-los no meio da selva, para algo mais genuíno. O problema é que eles acabam indo parar numa zona de guerra real e os tapados atores acham que tudo não passa de fingimento.

Ao contrário do que parece, Trovão Tropical não é mais um desses "filmes-que-parodia-tal-gênero" como vemos por aí. O filme é menos uma sátira de filmes de guerra e mais uma esculhambação do próprio metiê hollywoodiano como nos mostra as cenas envolvendo o personagem do Ben Stiller e seu hipercafeinado agente(Matthew McCaunaghey). Temos Tugg Speedman(Ben Stiller) um ator de filmes de ação querendo maior reconhecimento depois de se repetir em filmes indênticos. Jeff Portnoy(Jack Black) é um comediante famoso apenas pela sua escatologia e Kirk Lazarus(Robert Downey Jr, simplesmente impecável) é um ator australiano com fama de bad boy e que imerge em seus papéis, tanto que passa por uma cirurgia para pigmentar a pele e interpretar um afro-americano.

E é justamente esse papel tão atípico do Downey Jr que acaba roubando a cena, pois sua "imersão" não passa de uma caricatura de tudo o que se pensa em relação à comunidade negra americana, fato que provoca a ira do seu colega de elenco, o rapper viciado em bundas Alpa Chino(Al Pacino, sacaram?). Ao mesmo tempo Portnoy tenta lidar com sua abstinência em heroína(a cena dele amarrado em uma árvore é de rachar de rir) e o pobre coadjuvante Kevin tenta manter o grupo unido enquanto tentam resgatar Tugg Speedman que foi capturado por criminosos do camboja.

O filme não poupa ninguém, desde os critérios do Oscar(num diálogo que começa casual e cresce até chegar ao nonsense, "nunca fique totalmente retardado"), a moda por adoção de crianças de países pobres, diretores que assumem projetos maiores do que sua competência, os egos das estrelas e o pavio curto dos produtores(numa performance engraçadíssima de um irreconhecível Tom Cruise).

As cenas de ação revelam-se uma grata surpresa, já que em filmes desse gênero costumam ser relegadas ao segundo plano, mas Ben Stiller mostra-se bem confortável em criar sequências de tiroteios e explosões que não devem em nada aos filmes de ação atuais.

Ácido e politicamente incorreto, Tropic Thunder foi uma das melhores(se não a melhor) comédias do ano passado.

Nota 9

sábado, 17 de janeiro de 2009

Os Bôemios Analisam - O Curioso Caso de Benjamin Button

Nota 10

Benjamin Button revela-se como uma experiência artística edificante, nos mostrando que devemos fazer o máximo que pudermos com o tempo que nos é dado neste mundo, podendo conquistar tudo o que desejamos se acreditarmos em nós mesmos independente de nossa idade ou experiência, estejamos nós no início ou no fim.

Ora, a natureza da vida é a sua finitude e como a personagem de Cate Blanchett pontua em determinado momento "todos terminamos usando fraldas", mas isso em nada tira o valor das coisas que fazemos ou dos momentos de felicidade que vivemos, apenas temos que aceitar com serenidade quando o fim chega e Daisy compreende isso muito bem ao reencontrar Benjamin como um adolescente aparentemente desmemoriado(sendo que na verdade ele está esclerosado da mesma forma que uma pessoa com sua idade verdadeira ficaria).

Obviamente eles se encontram diversas vezes ao longo de suas vidas, mas sempre há algo que impede a concretização plena do amor entre os dois, a "aparente" diferença de idade, os relacionamentos com outras pessoas, entre outras coisas. Quando parece que finalmente é a hora cerca de ficarem juntos, Benjamin percebe que eventualmente sua condição atípica terminará por separá-los.

A estranheza então dá lugar ao fascínio conforme vemos o desejo de Benjamin em conhecer o mundo ao mesmo tempo em que se afasta de Daisy(Cate Blanchett) menina que conheceu e se apaixonou no asilo em que morava. Em suas viagens Benjamin presencia vários momentos históricos(mas sem nunca influenciá-los diretamente ao contrário de Forrest Gump) sem nunca esquecer de sua amada Daisy.

À primeira vista, o que salta aos olhos do espectador é o primoroso trabalho de maquiagem e efeitos especiais que transformam Brad Pitt numa diminuta criança enrugada e curvada como um velho, nos provacando uma sensação de estranheza e repúdio por aquela figura bizzara. Mas o desenvolvimento gradual deste pequeno ato vai aos poucos trazendo nossa simpatia por Benjamin conforme vemos ele balbuciando suas primeiras palavras, aprendendo a andar(de muletas, por causa da artrite) e ter suas primeiras experiências com a vida e a morte.

Escrito por Eric Roth(que também roteirizou Forrest Gump)e baseado num conto do romancista F. Scott Fitzgerald(autor, dentre outras coisas, de O Grande Gatsby), o filme conta a história de um homem "nascido sob circunstâncias especiais". Benjamin Button nasce velho, com todas as doenças de um homem de 80 anos e aparentemente às portas da morte. Aparentemente, pois com o passar do tempo, Benjamin não envelhece e sim rejuvenesce.

Sou fã confesso do trabalho do cineasta David Fincher, desde Seven, passando por Clube da Luta e Zodíaco, então foi com grandes expectativas que fui conferir seu novo trabalho, O Curioso Caso de Benjamin Button, e devo dizer que mais uma vez Ficher gerou um filme que será lembrado por muito anos, criando uma magnífica fábula que fala sobre vida e morte e como o rumo que seguimos depende apenas de nós mesmos. Conforme é dito no filme, não existe um limite de tempo para fazermos determinada coisa, somos livres para vivermos nossas vidas e moldá-las de acordo com os nossos sonhos e esperanças independente de sermos velhos ou jovens, vividos ou inexperientes. Pela natureza incomum do filme, esta resenha também será incomum, sendo feita de trás para frente. Afinal, não importa por onde começamos, o fim e o início são sempre semelhantes.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Os Boêmios Analisam - Crepúsculo


Hoje, por insistência de amigos, acabei indo assistir a essa adaptação baseada no romance que se tornou o fenômeno do momento entre o público adolescente. Confesso que não fui com a cara desse filme nos trailers que vi, mas tinha a esperança de me surpreender com ele já que paguei meu rico e suado dinheirinho para vê-lo. Para meu azar, esse não foi o caso.

Não li o livro no qual o filme se baseia, mas se for como a fita que vi hoje deve ser uma das leituras mais tediosas da história da humanidade, já que nada acontece e só na meia hora final há algum conflito na narrativa e este parece ter sido jogado a esmo pelo roteirista apenas para criar alguma tensão.

Para aqueles que não sabem, Crepúsculo conta a história de Isabella Swan(Kristen Stewart), adolescente que se muda para uma pequena cidade no interior dos Estados Unidos depois que a mãe resolve acompanhar as viagens do marido jogador de baseball. Bella, como a personagem é apelidada, sente-se sozinha de início já que possui uma problemática relação com o pai, sendo que as razões desta não são elucidadas em nenhum momento do filme. "Ah, ela é adolescente e adolescente sempre tem problemas com os pais", deve ter sido isso que passou na mente do roteirista durante a criação do texto para o filme. E devido à solidão que sente em seu novo lar, Bella acaba se aproximando do estranho colega de escola Edward Cullen(Robert Pattison).

Primeiramente devo dizer que é de uma conveniência assustadora o fato de uma cidadezinha do interior americano que possui aproximadamente três mil habitantes ter um grupo de jovens tão diversifacados, já que Bella tem colegas asiáticos, negros, brancos e qualquer outro grupo étnico que os produtores puderam lembrar. Voltando à Edward, devo dizer que a atuação do britânico Robert Pattinson faria o elenco de Malhação merecer o Oscar, já que ele se limita a fazer uma cara de mau inexpressiva com os olhos semicerrados e dizer mecanicamente que Bella deve se afastar dele. O curioso é que mesmo quando Bella de fato se afasta, ele volta a procurá-la somente para dizer que ela deve realmente se manter afastada, sendo que ele próprio não se afasta dela. Coerente o rapaz, não acham?

A Kristen Stewart, por outro lado, até que tenta tornar sua Bella uma personagem interessante, mas a todo momento é sabotada pelo péssimo roteiro que a coloca para protagonizar cenas toscamente expositivas como a que ela enumera em voz alta as caracteristicas "vampirescas" de Edward antes de deduzir sua verdadeira natureza, além de uma tentativa forçada de criar conflito quando ela "magoa o pai para salvá-lo"(sim, a infeliz que escreveu esse filme deve ter visto Moulin Rouge)sendo que ela não precisava relmente fazê-lo.

Aliás, a aparência vampírica do personagem é mostrada pelo filme de uma maneira patética. Tendo a pele semelhante a diamante, Edward brilha sob o sol como se simplesmente tivessem jogado purpurina no pobre coitado e essa é a explicação para que os vampiros não se exponham ao sol. As habilidades sobre-humanas dos vampiros também são mostradas através de efeitos paupérrimos que parecem ter sido emprestados da novela Os Mutantes, em especial uma cena vergonhosa de "baseball vampírico".

Somente em seus vinte minutos finais é que um antagonista aparece na história e, assim como qualquer outra tentativa de conflito criada pela roteirista Melissa Rosenberg(ou pela autora do livro, sei lá), é ineficiente. O vampiro James não possui nenhum carisma, nenhuma motivação real(em algum momento um personagem diz que é pelo "prazer da caça", o que não faz sentido nenhum já que Bella não difere de qualquer outra humana) e o confronto entre ele e Edward tem os mesmos efeitos pobres e preguiços já mostrados anteriormente.

Crepúsculo é um filme mal escrito, mal dirigido, mal interpretado e com péssimos efeitos. Salvam-se apenas alguns diálogos e o fato de, em alguns momentos, quebrar alguns estereótipos de personagens vampiros.

Nota 1,5

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Os Boêmios Analisam - 007 Quantum Of Solace


Confesso que fiquei aliviado na primeira vez que soube que o título original seria mantido pela distribuidora brasileira, afinal era um título dificílimo de traduzir(o mais próximo da sua significação original seria algo como Zona de Conforto ou Zona de Consolo) e dadas as traduções cretinas que vemos por aí, não duvidaria se tivessem posto um título sem relação nenhuma com o original. Entretanto, depois de assistir ao filme, eu de fato lamento que não tenham dado a merecida tradução ao título, afinal ele resume toda a narrativa.

Assim como Cassino Royale, o filme não se calca apenas na luta de Bond com um vilão megalomaníaco possuidor de alguma deformidade exótica para torná-lo interessante, Quantum of Solace tem como pedra fundamental a busca de James Bond por sua "Zona de Conforto". Eu explico: o filme começa minutos depois do término de Cassino Royale, onde Bond capturava um dos membros da organização responsável pela morte de Vesper Lynd, sentindo uma mistura de culpa(por tê-la deixado morrer) e raiva(por ter sido traído por ela) o agente encontra-se "danificado"(como bem lhe diz Dominic Greene) demais para exercer sua função com clareza, colocando em risco tanto ele quanto sua respeitosa chefe M(Judi Dench).

O diretor Marc Forster(reconhecido por filmes dramáticos como A Última Ceia e Em Busca da Terra do Nunca) mostra que pode muito bem comandar uma fita de ação, filmando lutas e perseguições com uma intensidade impressionante como podemos perceber logo na cena inicial. Forster, porém, não deixa seu lado dramático de lado trabalhando muito bem as seqüelas emocionais adquiridas por Bond em sua jornada e a cena em que ele segura nos braços um aliado prestes a morrer deve ser um dos momentos mais emocionantes dos seus mais de vinte filmes. A narrativa deste novo filme claramente privilegia a ação, deixando muitos detalhes da trama serem explicados de maneira breve e superficial, o que pode deixar alguns espectadores(principalmente os que não lembram do filme anterior) sem saber direito o que está acontecendo.

Em sua jornada para capturar Dominic Greene(Mathieu Amalric), o líder da organização eco-especuladora denominada Quantum, Bond cruza o caminho da misteriosa Camille(Olga Kurylenko, simplesmente linda) uma mulher que possui um desejo de vingança tão grande quanto o seu. A personagem se mostra uma das bondgirls mais ativas desde a agente chinesa interpretada por Michelle Yeoh em O Amanhã Nunca Morre, saindo o estereótipo da gostosa em perigo sua Camille esconde profundos traumas sob sua fachada fria e pragmática.

Apesar de possuir muitas qualidades, este novo 007 pode não agradar os fãs de longa data do agente britânico(apesar de uma cena fazer referência a um dos filmes antigos) já que ele não diz sua famosa frase de apresentação, não pede martinis e, como disse anteriormente, é um brucutu durante boa parte do longa, anos-luz do cavalheiro frio e cínico que todos estavam acostumados.

Estes, entretanto, não devem se desesperar, já que a exibição de uma clássica vinheta na cena final deixa implícito que Bond finalmente encontrou sua "Zona de Conforto" que o permite ser "metade sábio e metade assassino" como ele mesmo dissera em Cassino Royale. Se a iniciativa dos novos filmes era mostrar como Bond se tornou o espião imortalizado por Sean Connery devo dizer que eles foram muito bem sucedidos.

Nota 7,5

PS(22/11/2008): Tinha me esquecido. Esse filme tem o selo Chuck Norris de aprovação

sábado, 25 de outubro de 2008

Os Boêmios Analisam - Speed Racer


A primeira vez que vi o trailer deste Speed Racer tive certeza de que seria um fracasso financeiro. Não que tenha me parecido ruim, na verdade, fiquei indiferente à qualidade do filme ao ver os trailers. Era um filme-família que não parecia querer atingir nenhum de seus públicos-alvo, por demais orientalizado para o grande público ocidental, um personagem antigo demais para chamar a atenção da garotada(e também era um personagem mais puro e ingênuo, que não condiz com a era de anti-heróis que estamos vivendo) e com um estilo hiperbólico demais para chamar a atenção dos adultos.

Ao contrariarem toda a lógica de mercado os irmãos Wachowski criaram um ótimo filme, entretanto pagaram o preço por estarem muito fora dos padrões(assim como o Hulk de Ang Lee) e a fita naufragrou nas bilheterias.

Falou-se demais pelo visual demasiadamente estilizado do filme, mas fica claro ao assistir a projeção que a inteção dos diretores era mesmo criar um anime em live-action e essa estética funciona perfeitamente na lógica do filme, mais até do que se tentassem fazer algo mais real(tentaram fazer isso com Dragon Ball e vejam a merda que deu). Assim, ao mostrar cifrões nos olhos de determinado personagem ou outro rodando um ninja no ar como se não fosse nada, os irmãos nos lembram que Speed Racer é, essencialmente, um desenho animado e que negar isso negaria todo o universo que o personagem habita.

E já que estou falando da parte técnica do filme, tenho que tirar o chápeu pros Wachowski. Não só os efeitos especiais estão perfeitos, criando corridas com manobras inacreditáveis principalmente as do rali Casa Cristo, como também para toda a maneira com eles filmaram, com transições entre planos que lembram bastante um desenho animado, bem como os movimentos frenéticos de câmera que aqui servem para acentuar o ritmo movimentado da narrativa e funcionam muito bem para este objetivo(ao contrário dos filmes do Tony Scott).

O roteiro me surpreendeu bastante, apesar da narrativa permeada por flashbacks e idas e voltas no tempo, o que diminui sua fluidez e pode confundir os desatentos, a história trata de temas como totalitarismo corporativo, esporte como arte e não negócio, compromisso e legado familiar, tudo isso sem cair nos pieguismos fáceis que permeiam os chamados filmes-família,. E o mérito disso é todo do ótimo elenco. Emile Hirsch transmite com segurança a garra e a tenacidade de Speed, Matthew Fox(o Jack de Lost) traz em si todo o mistério e amargura que cercam o Corredor X e Susan Sarando e John Goodman parecem que simplesmente saltaram direto do desenho original nos papéis dos pais de Speed, tamanha sua fidelidade com o material original.

Speed Racer é certamente um filme que merece ser descoberto pelo público, seu fracasso nas bilheteria mostra que nem sempre a originalidade é facilmente assimilada pelas grandes audiências.

Nota 8,5