Plano de voo
A narrativa acompanha a agente federal Madolyn (Michelle Dockery), encarregada de levar uma importante testemunha, Winston (Topher Grace) através do estado do Alasca. Da cidade onde estão, a agência só lhe consegue um velho avião bimotor no qual só cabem eles dois e o piloto, Daryl (Mark Wahlberg). No meio do voo, no entanto, eles descobrem que Daryl tomou o lugar do piloto real e é um assassino enviado para matar Winston, impedindo-o de testemunhar contra um figurão do crime. Agora Madolyn e Winston precisam encontrar um meio de sobreviver ao assassino e levar o avião até o seu destino.
De partida toda a situação é implausível. Se Winston é tão importante assim, porque ter apenas uma agente fazendo a escolta e porque se arriscar em uma aeronave tão pequena em um local tão ermo? Não seria melhor um comboio de carros transportá-lo até um aeródromo no qual pudessem pegar um avião mais adequado e com mais agentes para vigiar Winston? É igualmente pouco provável que Madolyn não tenha requisitado qualquer documento de identificação de Daryl e checasse em sua base de dados para verificar quem ele era considerando que iria ficar presa com esse estranho dentro do avião.
Mesmo depois que eles decolam e a situação se agrava, o filme não deixa de apresentar soluções estúpidas e situações que tornam inviável qualquer sensação de descrença. Depois de nocautear Daryl (algo que acontece antes que o filme chegue sequer na metade de seus noventa minutos) a agente diz que não irá matá-lo porque talvez precisem dele para guiar a aeronave, já que ela não sabe fazer isso.
Minutos depois ela consegue entrar em contato com um especialista que passa a lhe dar instruções e a esse ponto não tem mais qualquer razão para manter Daryl vivo considerando o perigo real e imediato que ele representa. Ainda assim ela o mantem vivo apenas porque o roteiro exige que ele fique para que continue a atacar os protagonistas. Em outro momento o avião mergulha em uma colina cheia de neve e sai incólume depois da colisão. Se nada tem qualquer consequência é difícil se preocupar com os personagens.
Viagem entediante
Como o assassino é algemado com cerca de um terço da duração do filme, boa parte da narrativa é simplesmente Madolyn tentando pilotar o avião enquanto ouve instruções de um especialista que tenta flertar com ela o tempo todo. Com isso, boa parte do filme sequer tem qualquer situação de tensão. Esses momentos poderiam ser usados para desenvolver os personagens, mas nem isso o filme faz.
Madolyn é o clichê da policial que tenta se redimir por um erro que cometeu no passado e que custou a vida de alguém. Não tem nada mais em seu arco que não seja uma reprodução de lugares comuns manjados e Michelle Dockery não faz nada de interessante com a personagem. Ao menos ela se sai melhor que Mark Wahlberg. O ator pesa tanto a mão nos trejeitos, sotaque e inflexões vocais para tentar soar ameaçador que acaba ficando ridículo. Seu vilão provavelmente cria mais constrangimento do que tensão no espectador.
O filme recorrer a constantes supercloses em Wahlberg só ressalta ainda mais sua composição histriônica e contribui para a percepção do antagonista como alguém ridículo ao invés de perigoso. A escolha de enquadrar o momento em que é revelado que o assassino usava peruca e tratar como uma grande reviravolta o fato dele ser calvo é outra instância na qual a condução de Gibson tenta criar alguma tensão ao redor do personagem, mas apenas o faz soar tosco. Topher Grace é quem se sai melhor, sendo minimamente convincente como um sujeito assustado tentando sobreviver a uma situação que não está preparado para lidar, embora o personagem não tenha lá muito estofo.
Todo o clímax em que o avião
tenta aterrissar depois de ficar sem combustível é prejudicado por uma
computação gráfica que não convence e falha em evocar qualquer sensação de
perigo para os personagens. Com problemas de ritmo, personagens vazios, texto
incapaz de criar situações minimamente críveis e péssima condução de tensão, Ameaça no Ar entrega um fracasso
completo.
Nota: 1/10
Trailer
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