Culto perigoso
A narrativa gira em torno de Ben (Eric Bana), um psicólogo social que foi morar na Alemanha depois do divórcio. Reconhecido em sua área e professor universitário, Ben é chamado para auxiliar a polícia em um caso de suicídio coletivo que parece resultado de algum culto apolíptico. No curso da investigação ele se aproxima da policial Nina (Silvia Hoeks). Ao mesmo tempo, a filha de Ben, Mazzie (Sadie Sink, de Stranger Things), chega a contragosto na Alemanha para morar com o pai. Ela fica amiga de Martin (Jonas Dassler), mas logo o espectador percebe que o rapaz está tentando aliciá-la para a mesma seita que Ben investiga.
Todo o processo investigativo é desprovido de qualquer senso de tensão ou de urgência. Até o momento em que percebemos que Mazzie está sendo aliciada para uma seita sequer há a sensação de que existe qualquer coisa em jogo para os personagens. A relação conturbada entre Ben e a filha carece de impacto dramático.
A apatia que perpassa todo o filme se dá pelo fato de que praticamente todos os diálogos são expositivos. Ao invés de refletir sobre o que move as pessoas a participarem de seitas através das ações e eventos da trama, o filme faz isso através de longas conversas excessivamente didáticas nas quais não parece que os personagens estão conversando entre si, mas palestrando para o espectador. A mesma coisa acontece no desenvolvimento da relação entre o protagonista e Mazzie, na qual eles falam o tempo todo sobre o que sentem, mas o filme nunca permite que os personagens demonstrem ou vivenciem essas ações.
Seita sonolenta
Não ajuda que a seita no centro da narrativa seja desprovida de qualquer elemento marcante, não sendo nada mais do que um culto apocalíptico genérico e sua líder seja uma megalômana tão unidimensional que descamba para a caricatura. Mesmo que sejam louváveis as tentativas do filme em alertar como esse tipo de grupo busca conscientemente pessoas solitárias, isoladas e desejosas por pertencer a um grupo para que possa explorar as vulnerabilidades dessas pessoas, o resultado é um olhar raso sobre esses temas. As elucubrações professorais sobre consciência coletiva, vida em grupo e sociabilidade humana se pretendem a algo denso, complexo, mas entregam platitudes rasas que falham em dar qualquer entendimento mais consistente ou crítica mais contundente a como essas seitas operam ou como elas tem encontrado cada vez mais espaço em nossa sociedade.
Nada é tão ruim que não possa piorar, no entanto. Quando o filme chega no seu clímax a narrativa tenta fazer uma grande reviravolta que visa ressignificar toda a trama e se apresenta como uma grande sacada. O único problema é que essa reviravolta é muito, muito idiota e torna o filme ainda pior. Descobrimos que desde o início o alvo da seita não era Mazzie, mas Ben. Mesmo o suicídio coletivo do início foi encenado para atrai-lo e colocá-lo sob a influência de uma pessoa do culto próxima à investigação, ao mesmo tempo em que Martin aliciava Mazzie para, de algum modo atrair Ben ao culto. Claro, a melhor maneira de convencer alguém a se juntar a sua seita maluca é sequestrar a filha menor de idade dessa pessoa.
Não consigo pensar em um alvo pior para ser aliciado em uma seita do que um profissional de psicologia social altamente experiente e renomado. É óbvio que ele não só rejeitaria a retórica da seita, como conseguiria sondar facilmente a mente da líder para deduzir para onde levaram Mazzie. O fato desse ser o plano da líder a faz soar ainda mais como uma imbecil ao invés de uma manipuladora perigosa. É evidente que era um péssimo plano. Se Ben ao invés de um profissional e professor respeito fosse um sujeito fracassado, às margens de seu campo de estudo, não levado à sério por ninguém e desesperado por validar suas ideias, talvez aí ele fosse um bom alvo para a seita, servindo como porta-voz e legitimador deles.
O suicídio coletivo mostrado ao final tem a intenção de mostrar ao espectador como as seitas são um convite à tragédia, só que como tudo é mal construído ao invés de lamentarmos como essas pessoas tiveram suas vidas jogadas fora por esse culto, a sensação é ver um bando de idiotas recebendo o que merecem. Ao invés de fazer o espectador se compadecer com as vítimas da seita, o filme nos distancia delas.
Pretensioso e vazio, A Seita é um acúmulo de escolhas
equivocadas que resultam em um suspense risível.
Nota: 3/10
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