Depois do bacana Fale Comigo (2023), os irmãos Phillipou vem para seu segundo longa-metragem explorando o luto e os extremos nos quais as pessoas vão para sanar sua dor. Faça Ela Voltar tenta construir seu terror ao redor dessa dor.
Deixe ela entrar
Os irmãos Andy (Billy Barratt) e Piper (Sora Wong) ficam órfãos depois da morte do pai. Como os dois são menores de idade, são colocados em lares adotivos. Inicialmente, por Andy estar perto de completar dezoito anos, ele deveria ser mandado para um local diferente de Piper, mas consegue convencer a assistente social a mantê-los juntos por conta de Piper ser cega. Os dois vão morar com Laura (Sally Hawkins), uma mulher solitária que perdeu a filha, cega como Piper, anos atrás. Laura também cuida do garoto Oliver (Jonah Wren Phillips), que não fala e exibe um comportamento estranho, estando sempre com fome. Desde o início é visível que Laura se importa mais com Piper e deixa Andy de lado, mas conforme os irmãos passam mais tempo com sua nova tutora vai ficando evidente que ela tem planos sinistros para eles, principalmente pelo modo que ela atormenta Andy.
Como em Fale Comigo os irmãos são eficientes em criar uma atmosfera macabra e visuais sinistros. Conforme Laura coloca Andy em situações vexatórias, como obrigá-lo a beijar o cadáver do pai ou jogar urina nele enquanto dorme para que o garoto acredite que ele próprio está urinando na cama, há a impressão de uma crueldade voraz por baixo da superfície cuidadosa e inofensiva de Laura. O visual de Oliver e o modo como sua aparência vai piorando com o passar dos dias evidencia que há algo sobrenatural em jogo e cenas como o momento em que o garoto tenta mastigar uma faca e mutila o próprio rosto trazem um realismo gráfico angustiante.
A narrativa acerta em não dar muitos detalhes de como funciona o ritual performado por Laura, já que explicar demais poderia tirar um pouco do terror da situação ao ter os personagens lidando com forças que não compreendem completamente. A própria Laura não parece ter pleno controle sobre Oliver, o que amplia a sensação de que algo muito ruim pode acontecer a qualquer momento.
Dores ocultas
Se o terror é bem construído, o aspecto emocional desses personagens, por outro lado, acaba ficando em segundo plano. Vemos Andy dizer como o pai era abusivo e o agredia constantemente, mas nunca sentimos devidamente o quanto o garoto carrega esse peso consigo, principalmente por anos ocultando os abusos da irmã. De maneira semelhante, a dor de Laura pela perda da filha vem mais por diálogos expositivos do que por alguma situação que demonstre como a assistente social aposentada segue excessivamente apegada à filha perdida.
Claro, Sally Hawkins é convincente em apresentar Laura como alguém machucada e instável, mas se não fosse o trabalho da atriz muito da dor intensa que move essa personagem não seria construída pela narrativa. A impressão é que a trama não nos faz sentir devidamente a medida da dor de Laura e como a intensidade dessa perda molda sua conduta no presente. É por conta de Hawkins que os extremos que Laura vai durante o clímax, disposta a qualquer coisa para completar o ritual, soam críveis, assim como a hesitação dela diante de Piper.
Ainda que seu exame sobre o luto
se perca no meio da trama sobrenatural, Faça
Ela Voltar consegue ser um terror eficiente por conta da construção de uma
atmosfera sinistra e da performance de Sally Hawkins.
Nota: 7/10
Trailer
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