Órfãos de guerra
A narrativa é focada no jovem Seita e na sua irmãzinha Setsuko. Quando a vila deles é bombardeada, os irmãos perdem a casa e a mãe, sendo deslocados para morar com uma tia. A tia não está interessada em cuidar deles e os vê como um estorvo, fazendo Seita e a irmã quererem ir para outro lugar. Eles acabam indo morar em uma caverna abandonada, com Seita vendendo as coisas da mãe para tentar custear a alimentação deles, mas isso logo se mostra insuficiente.
Já na cena do bombardeio vemos a realidade brutal na qual Seita vive, precisando correr com a irmã nas costas enquanto fogo cai do céu e as cargas despejadas pelos aviões dos Estados Unidos incendeiam as casas, ruas e tudo que tocam, deixando pouco espaço para escapar. Ao chegar no abrigo, corpos queimados cobertos de bandagens com vermes ao redor das feridas deixam evidente as consequências severas desses bombardeios. Apesar de serem muito novos, esses personagens são expostos a uma violência extrema sem qualquer proteção.
Seita até tenta resguardar a pequena Setsuko, evitando dizer a ela explicitamente que a mãe morreu, embora eventualmente a menina se dê conta de que a mãe nunca irá voltar. Por mais que tentem construir algum senso de normalidade em suas vidas e se comportarem como crianças normais, o mundo ao redor deles sempre lhes dá duros lembretes da violência que os cerca. Isso é visível na cena em que Seita leva a irmã na praia e enquanto brinca na areia Setsuko encontra um cadáver, não permitindo que a menina tenha um momento sequer sem ser lembrada da morte, da miséria e do abandono no qual está imersa.
Dor solitária
Além de não encontrarem possibilidade de serem crianças ou construírem qualquer senso de normalidade, os irmãos sequer conseguem encontrar algum meio de elaborar a dor que sentem pela perda da mãe e do modo de vida que tinham. Quando Setsuko acorda no meio da noite chorando pela mãe, a tia imediatamente manda Seita silenciar a criança, dizendo ser inaceitável que a menina não a deixe dormir por conta do choro. A tia também menospreza o temor de Seita e o modo como ele corre para o abrigo toda vez que ouve barulho de aviões, tratando-o como um covarde e não como um garoto tomado por traumas recentes que ele não conseguiu lidar.
O modo como a tia os trata revela a desumanização causada por esse cotidiano de guerra. Mesmo não estando em combate ou em confronto direto com o inimigo, aquelas pessoas soam dessensibilizadas ou embrutecidas pelo cotidiano de morte, perigo e ataques constantes. O conflito torna todos piores e deixa a dupla de protagonistas ainda mais isolados já que ao invés de ajuda ou acolhimento em muitos casos encontram rejeição ou agressividade dos adultos ao seu redor.
É difícil não se comover ou
simpatizar com a dor de Seita e da irmã conforme vemos os dois definharem aos poucos.
A fome e as condições sanitárias adversas vão deixando os dois cada vez mais
frágeis e a animação nos mostra visualmente a pele esquelética e cheia de
urticárias de uma desnutrida Setsuka. É uma narrativa que, apesar de breves
momentos de leveza, não nos dá nenhum alento. É um passeio melancólico por uma
realidade brutal, lembrando as consequências duras que a guerra impõe sobre a
população civil, registrando a devastação que a Segunda Guerra Mundial causou
no Japão. Não há como terminar de assistir Túmulo
dos Vagalumes sem sair impactado pelos horrores da guerra.
Trailer
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