quinta-feira, 21 de agosto de 2025

Crítica – A Noite Sempre Chega

 

Análise Crítica – A Noite Sempre Chega

Review – A Noite Sempre Chega
Estrelada por Vanessa Kirby, a produção da Netflix A Noite Sempre Chega tenta funcionar simultaneamente como thriller, além como um drama social e um estudo de personagem. O filme nem sempre consegue equilibrar suas várias ideias, no entanto, alguns elementos bem executados fazem a experiência valer à pena.

Noite afora

A trama é centrada em Lynette (Vanessa Kirby), que vive junto com a mãe, Doreen (Jennifer Jason Leigh), e o irmão mais velho, Kenny (Zack Gottsagen), que tem Síndrome de Down. Lynette se equilibra entre vários empregos e outros serviços para tentar equilibrar as contas. Ela e a mãe estão prestes a conseguir um empréstimo para comprarem a casa onde moram ou perderão o imóvel. No dia de assinarem o financiamento, no entanto, Doreen não aparece e Lynette descobre que a mãe comprou um carro com o dinheiro que tinham guardado para a entrada da casa. Sem poder dar a entrada e iniciar a compra, Lynette tem até a manhã seguinte para levantar o valor ou perderá a chance de comprar o imóvel, iniciando uma corrida desesperada através da noite.

Ao longo do filme a protagonista tentará pedir ajuda, cobrar antigos favores e recorrer a ações ilegais, se associando a figuras perigosas que talvez estejam tentando tirar vantagem dela, para conseguir o dinheiro. Ela transita por locais decadentes, lidando com pessoas em situações tão precárias e desesperadas quanto a dela ou com pessoas que querem tirar vantagem de alguém como ela, a exemplo do empresário vivido por Randall Park ou o traficante interpretado por Eli Roth.

Vanessa Kirby faz jus ao desespero crescente de Lynette, que vê a possibilidade da vida desmoronar em questão de horas. Em cena durante o filme inteiro, Kirby nos faz sentir o desamparo e a intensidade do quanto Lynette está disposta a transgredir limites para garantir que a família ao menos tenha um teto. A câmera acompanha a inquietação da protagonista ao também estar em constante movimento, com muitas cenas filmadas com câmera na mão. Mesmo quando Lynette conversa com alguém, a câmera prefere se mover entre os diferentes personagens do que cortar o plano.

Tensão superficial

Por outro lado, a narrativa é tão focada nessa urgência de Lynette conseguir o dinheiro que nunca reflete sobre as forças que possibilitam a precarização da vida das pessoas. Reportagens que os personagens ouvem no início do filme apresentam o panorama social e econômico do contexto em que ela se encontra, mas o texto não chega a analisar isso para além dessa exposição inicial. A narrativa aponta para longos problemas na relação entre Lynette e Doreen, que sempre se aproveitou da bondade da filha e viveu de maneira desregrada sabendo que a Lynette resolveria seus problemas, porém, isso fica restrito a alguns diálogos expositivos e o filme também não se debruça de modo consistente nessa relação.

Assim, fica a impressão de uma corrida contra o tempo que, ao menos no papel, não teria muita substância. É o trabalho de Vanessa Kirby que dota o filme de impacto emocional mesmo que o roteiro não saia da superfície da personagem, mas a intensidade e a dor que a atriz coloca em cena nos deixa investidos na corrida contra o tempo empreendida pela protagonista.

 

Nota: 6/10


Trailer

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