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quarta-feira, 2 de outubro de 2024

Crítica – Monstros: Irmãos Menendez Assassinos dos Pais

 

Análise Crítica – Monstros: Irmãos Menendez Assassinos dos Pais

Review – Monstros: Irmãos Menendez Assassinos dos Pais
Quando estreou a primeira temporada de Monstros, nova série de antologia sobre crimes reais produzidas por Ryan Murphy, acabei deixando de conferir a história do assassino Jeffrey Dahmer por já estar saturado na época de séries “true crime”. A série chega a sua segunda temporada com este Monstros: Irmãos Menendez Assassinos dos Pais contando o caso de dois irmãos que mataram os pais no final da década de 80. Eu tinha ouvido falar do caso algumas vezes, mas nunca soube muito à respeito, então resolvi conferir a série.

A narrativa acompanha os irmãos Lyle (Nicholas Alexander Chavez) e Erik Menedez (Cooper Koch) que em 1989 assassinam o pai, José (Javier Bardem), e a mãe, Kitty (Chloe Sevigny), com múltiplos tiros de espingarda. O crime chamou atenção pela crueldade e pelo fato de que os irmãos inicialmente tentaram culpar a máfia pela execução dos pais, tentando sugerir que o pai, um rico empresário da indústria fonográfica, estava envolvido com o crime organizado. O caminho até a eventual condenação dos irmãos levou quase uma década e foi marcado por denúncias de abusos físicos e sexuais que José Menendez teria cometido contra eles.

quarta-feira, 25 de setembro de 2024

Rapsódias Revisitadas – A Paixão de Joana d’Arc

 

Crítica – A Paixão de Joana d’Arc

Review – A Paixão de Joana d’Arc
Lançado em 1928, A Paixão de Joana d’Arc é um marco na história do cinema por múltiplos motivos. Foi o primeiro longa-metragem a narrar a história da heroína francesa Joana d’Arc, que liderou o país contra os ingleses. É também um marco pela maneira de filmar do diretor Carl T. Dreyer que desafiou várias convenções da linguagem audiovisual da época e que mesmo em relação ao cinema de hoje traz uma construção pouco usual.

segunda-feira, 9 de setembro de 2024

Crítica – O Bastardo

 

Análise Crítica – O Bastardo

Review – O Bastardo
Histórias sobre a colonização de algum espaço costumam ser narradas como feitos heroicos de pessoas enfrentando ermos cheios de intempéries ou subjugando populações nativas, sem, no entanto, ponderar sobre as consequências ou a inerente violência desse processo colonial. A produção dinamarquesa O Bastardo, uma das escolhas do país para o Oscar, traz um pouco de ponderação sobre o egoísmo humano que está no cerne desse impulso desbravador.

A narrativa é baseada na história real de Ludvig Kahlen (Mads Mikkelsen) militar dinamarquês responsável por colonizar a península da Jutlândia no século XVIII, que hoje compreende a maior parte do território dinamarquês. Estabelecer o primeiro assentamento da região, no entanto, não era uma tarefa fácil e o reinado dinamarquês já tinha perdido o interesse no espaço. É apenas quando Kahlen propõe custear a empreitada do próprio bolso que a Coroa lhe dá permissão para construir seu assentamento. Lá, Kahlen enfrenta as intempéries do ermo, a dificuldade de cultivar um solo tomado por urzes, os saqueadores e principalmente as sabotagens perpetradas pelo magistrado local Frederik De Schinkel (Simon Bennebjerg) que quer as terras para si.

sexta-feira, 26 de julho de 2024

Crítica – Pequenas Cartas Obscenas

 

Análise Crítica – Pequenas Cartas Obscenas

Review – Pequenas Cartas Obscenas
Estrelado por Olivia Colman e Jessie Buckley Pequenas Cartas Obscenas é uma daquelas produções que nos lembra como a realidade pode ser mais maluca que a ficção. A trama é baseada na história real de um pequeno vilarejo no interior da Inglaterra pós Segunda Guerra que ficou em polvorosa quando cartas cheias de ofensas e palavrões começaram a ser recebidas por diferentes habitantes da cidade.

A narrativa é focada em Edith Swan (Olivia Colman), uma carola solteirona que mora com os pais e é um dos primeiros alvos das cartas obscenas. Depois de receber algumas correspondências os pais de Edith, Edward (Timothy Spall) e Victoria (Gemma Jones), chamam a polícia. Edith acha que a responsável é sua vizinha, a irlandesa Rose (Jessie Buckley), uma viúva de vida livre e boca suja que chegou na cidade pouco tempo depois da guerra com a filha Nancy (Alisha Weir, de Abigail). Como Rose é a única mulher “sem decoro” da cidade ela é automaticamente tratada como culpada pela polícia local, sendo presa enquanto aguarda julgamento pelo crime. Enquanto isso, Gladys (Anjana Vassan), a única policial mulher da cidade, crê na inocência de Rose e tenta encontrar o real culpado.

segunda-feira, 3 de junho de 2024

Crítica – A Musa de Bonnard

 

Análise Crítica – A Musa de Bonnard

Review – A Musa de Bonnard
Biografia do pintor pós-expressionista Pierre Bonnard, A Musa de Bonnard foca na relação dele com a esposa Marthe e como os vários quadros que fez dela impulsionaram a sua carreira. A produção tinha o potencial de nos fazer entender as transformações que um relacionamento causaram na arte de Bonnard e como isso mexeu com seu processo criativo, mas o filme parece mais interessado em meramente narrar os fatos do que entender o que está por trás deles.

A narrativa começa com Pierre (Vincent Macaigne) conhecendo Marthe (Cécile de France) durante uma sessão de pintura. A partir daí o casal desenvolve uma paixão arrebatadora e não consegue mais ficar separado. Acompanhamos então a trajetória dos dois até o fim de suas vidas e as eventuais turbulências no relacionamento.

quinta-feira, 23 de maio de 2024

Crítica – Feud: Capote vs the Swans

 

Análise Crítica – Feud: Capote vs the Swans

Review – Feud: Capote vs the Swans
Se em sua primeira temporada Feud contou a história dos anos de divergência entre Bette Davis e Joan Crawford, esse segundo ano resgata uma briga que mexeu com a alta sociedade nova-iorquina da década de 70 por conta da briga pública entre o escritor Truman Capote e um grupo de mulheres da alta sociedade da qual ele era amigo e denominava como suas “cisnes”.

A trama começa quando Capote (Tom Hollander) publica o conto La Côte Basque 1965 na revista Esquire. O conto seria parte de Súplicas Atendidas, um romance que o escritor estaria produzindo baseado em histórias que ouvia nas altas rodas da sociedade. O conto expunha várias indiscrições e boatos de membros da elite que, embora tivessem seus nomes modificados por Truman Capote, ainda eram facilmente identificáveis. A exposição de casos extraconjugais e outros escândalos levaram as “cisnes” a romperem relações com Capote e o excluírem de eventos da alta sociedade, levando o escritor ao ostracismo e paralisando sua carreira.

sexta-feira, 17 de maio de 2024

Crítica – A Batalha do Biscoito Pop-Tart

 

Análise Crítica – A Batalha do Biscoito Pop-Tart

Review - Unfrosted
Filmes sobre produtos viraram uma tendência recente em Hollywood, com histórias sobre Tetris (2023), sobre o tênis Air Jordans em Air (2023), o Cheetos picante em Flamin Hot (2023) ou sobre o Blackberry (2023). Escrito, dirigido e estrelado por Jerry Seinfeld, A Batalha do Biscoito Pop-Tart parecia ser mais um desses filmes feitos para exaltar histórias de sucesso e confirmar mitos sobre o capitalismo corporativo. A narrativa, no entanto, vai na contramão disso, preferindo tratar toda a história como uma farsa absurda, construindo os trâmites corporativos para a criação de produtos como um circo ridículo.

A trama se passa na década de 60 e é protagonizada por Bob Cabana (Jerry Seinfeld), executivo da Kellogg que descobre que a empresa rival, Post, está desenvolvendo um novo produto de café da manhã que mistura biscoito e geleia, dispensando leite e cozimento, podendo ser esquentado em uma torradeira. Para superar a concorrência Cabana chama a genial, mas geniosa, Stan (Melissa McCarthy), que tenta criar a própria versão desse biscoito antes que a Post o faça.

sexta-feira, 10 de maio de 2024

Drops – Quem Fizer Ganha

 

Análise Crítica – Quem Fizer Ganha

Review – Quem Fizer Ganha
Filme mais recente de Taika Waititi, Quem Fizer Ganha é uma comédia esportiva povoada por personagens interessantes, mas nunca consegue fazer nada de memorável com eles. A trama se baseia na história real da seleção da Samoa Americana que tenta reconstruir o time depois de sofrer uma goleada histórica de 31 a 0 da seleção da Austrália nas eliminatórias para a Copa do Mundo de 2002. O escolhido para ajudar o time é o técnico Thomas Rongen (Michael Fassbender), um sujeito problemático que aceita o cargo porque não consegue trabalho em nenhum outro lugar no mundo do futebol.

De início pensei que fosse mais uma daquelas histórias de “salvador branco” em que o técnico branco estrangeiro chegaria nesse país pequeno e ensinaria os locais a jogarem futebol e a serem melhores com seus valores ocidentais. Felizmente a trama meio que faz o inverso disso ao fazer de Rongen o sujeito a ser salvo, já que são seus demônios internos e senso de isolamento que o fazem ter dificuldade de treinar o time. Claro, ainda é aquela típica narrativa de superação através do esporte, mas ao menos tenta evitar certos clichês colonialistas.

sexta-feira, 26 de abril de 2024

Crítica – Último Ato

 

Análise Crítica – Último Ato

Review – Último Ato
O que fazer para unificar uma nação profundamente polarizada depois que uma parcela do país tentou violentamente abolir o Estado? É uma pergunta que se aplica aos Estados Unidos de hoje (e também ao Brasil, infelizmente), mas no caso da minissérie Último Ato se refere ao fim da Guerra de Secessão dos EUA e como o assassinato do presidente Abraham Lincoln representou um freio nas tentativas de unificar o país, trazendo justiça social e punindo os golpistas.

A trama começa no dia do assassinato de Lincoln (Hamish Linklater) e segue os doze dias da caçada empreendida contra o assassino John Wilkes Booth (Anthony Boyle) pelo ministro da guerra de Lincoln, Edwin Stanton (Tobias Menzies, de Outlander), e pelo detetive Lafayette Baker (Patton Oswalt). Ao mesmo tempo, Stanton luta para que o governo não recue nas reformas pretendidas por Lincoln, principalmente quando o presidente Andrew Jackson (Glenn Morshower), ele próprio um ex-escravagista, parece disposto a capitular às demandas dos ricos do derrotado sul.

quarta-feira, 10 de abril de 2024

Crítica – A Grande Entrevista

 

Análise Crítica – A Grande Entrevista

Review – A Grande Entrevista
O cinema gosta de contar histórias que lembram a importância do jornalismo. Em geral são narrativas focadas no jornalismo investigativo como Todos os Homens do Presidente (1976) ou Spotlight (2015), mas ocasionalmente também sobre o processo de entrevista e de extrair de um entrevistado alguma informação que ele não quisesse dar. Frost/Nixon (2008) fez isso ao retratar a seminal entrevista na qual David Frost fez Richard Nixon admitir publicamente os crimes que cometeu durante sua gestão. Em certa medida, A Grande Entrevista apresenta um processo similar ao mostrar como a BBC britânica conseguiu a entrevista com o Príncipe Andrew em 2009 na qual ele admitiu publicamente sua proximidade com o bilionário pedófilo Jeffrey Epstein e relações inapropriadas com menores de idade.

A trama começa em 2010, quando Andrew (Rufus Sewell) foi fotografado em público ao lado do bilionário que já era alvo de denúncias. Anos depois Epstein é preso por tráfico de menores e se suicida sob circunstâncias misteriosas na prisão. A relação entre o ricaço e o príncipe volta a ser discutida pela mídia britânica e o programa Newsnight da BBC decide tentar agendar uma entrevista com o arredio príncipe, recorrendo principalmente à produtora Sam McAllister (Billie Piper) e a âncora Emily Maitlis (Gillian Anderson).

terça-feira, 5 de março de 2024

Crítica – Garra de Ferro

 

Análise Crítica – Garra de Ferro

Review – Garra de Ferro
Em certo sentido Garra de Ferro me lembrou um pouco Foxcatcher (2014) por ser uma biografia sobre lutadores que tentam melhorar de vida, se envolvem em relações tóxicas com as pessoas responsáveis por seu treino e tudo acaba em tragédia. A diferença é que Foxcatcher era todo focado em mostrar esse lado sombrio do dito “sonho americano” enquanto Garra de Ferro parece incerto do que efetivamente quer, variando entre uma análise crítica da tragédia da família Von Erich e uma celebração de seu legado no universo da luta livre.

Focada em Kevin Von Erich (Zac Efron), a narrativa conta a história real de sua família. O mais velho de quatro irmãos, Kevin é conduzido pelo pai, Fritz (Holt McCallany), a se tornar um lutador. Fritz conduz a família com rigidez, criando um ambiente de competição entre os filhos no qual eles não disputam apenas títulos, mas também a afeição do pai. A exigência de Fritz que os filhos sejam os melhores os leva a excessos, como uso de anabolizantes, drogas e uma série de inseguranças. Essa combinação acaba levando a maioria dos filhos a destinos trágicos.

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2024

Crítica – Ferrari

 

Análise Crítica – Ferrari

Review – Ferrari
Acompanhando um recorte bem específico de seu biografado, Ferrari é uma ponderação sobre controle e a dificuldade em aceitar os limites de nossa capacidade de controlar as condições ao nosso redor. A narrativa se passa em 1957 e acompanha um Enzo Ferrari (Adam Driver) cuja montadora está prestes a falir e o casamento com a esposa Laura (Penelope Cruz) está em frangalhos. Enzo também tem uma amante, Lina (Shailene Woodley), com quem tem um filho que mantem em segredo de Laura. Para tentar virar a situação da empresa, Enzo aposta tudo em vencer a corrida Mille Miglia e para isso aposta no piloto espanhol Alfonso de Portago (Gabriel Leone).

Desde os primeiros minutos me chamou atenção o modo como o diretor Michael Mann usa o som. É um filme com pouca música e mesmo quando há ela é bem discreta, pouco intrusiva. Apesar das tensões constantes no cotidiano do protagonista, o filme é permeado por ambientes silenciosos. Isto é, exceto quando Ferrari está nas pistas de corrida e o intenso ronco dos motores domina a paisagem sonora. Parece haver uma clara intenção de manter o resto do filme mais discreto em termos de presença de sons para criar um contraste com a intensidade do ruído dos motores ressaltando a potência desses veículos, não apenas em termos de seu potencial para corridas, mas também de sua brutal letalidade quando algo dá errado.

Carros de corrida nos anos de 1950 eram bem menos seguros do que são hoje e o filme investe as cenas de corrida de um senso de perigo e velocidade que dá a impressão de que um desastre espera a cada curva. O uso de câmeras acopladas à frente dos carros ajuda a transmitir a sensação de vertigem causada pela alta velocidade e como é difícil guiar tão rápido. As cenas são bastante gráficas ao mostrar o que acontece quando aqueles carros colidem ou saem do controle em altíssima velocidade. Perto do final, o filme exibe uma dos acidentes mais chocantes e brutais que me recordo de ter visto no cinema, mostrando o quão horrível são as consequências quando algo dá errado.

Esse acidente, por sinal, é contraposto com imagens de outros membros da equipe de Ferrari cruzando a linha de chegada e comemorando a vitória. É uma escolha que parece ilustrar como o triunfo de uma empresa como a Ferrari se constrói, entre outras coisas, em cima da morte desses pilotos, como se fossem animais abatidos em sacrifício para um bem maior. Enzo, apesar de claramente impactado por essas mortes e disposto a prestar suporte para as famílias, continua a colocar pilotos em seus carros como se isso fosse a coisa mais normal do mundo.

A morte de pilotos, algumas vezes em acidentes fortuitos como o que ocorre no clímax, é só um dos elementos do cotidiano de Enzo que escapa de seu controle e que o protagonista precisa aceitar as próprias limitações. Ao longo do filme vemos como Enzo sempre tenta se manter no controle, apesar de nem todos os seus esforços serem suficientes, como na morte de seu primeiro filho ou no modo em que sua vontade de controlar todas as decisões da empresa sem qualquer sócio a colocaram em risco financeiro. Essa obstinação, intensidade e senso de controle são muito bem construídos na performance de Adam Driver, cujo corpo parece sempre estar em movimento e a mente está sempre maquinando um jeito de resolver os problemas que se apresentam. O roteiro é inteligente o bastante para não romantizar seu biografado, mostrando Ferrari como um homem vaidoso, egocêntrico, controlador e mulherengo, além de expor a contradição de seu discurso sobre se preocupar com os pilotos enquanto lucra com os riscos que eles correm.

O filme também acerta ao evitar tornar Laura Ferrari uma figura passiva que existe apenas para gravitar em torno do marido. Penélope Cruz faz de Laura uma mulher em frangalhos por conta da perda do filho e que agora vive como uma sombra de quem fora por não conseguir lidar com essa perda. A animosidade que ela tem com Enzo parte tanto das traições que ela sabe que o marido comete (embora a esse ponto a relação deles seja mais uma parceria de negócios do que um casamento de fato) como também por culpar Enzo por não ter conseguido salvar o filho deles, uma culpa que o próprio marido carrega também.

O arco de Laura é o de aceitar essa perda e entender que ela ou Enzo não tinham controle sobre isso. O casal só chega a alguma medida de conciliação justamente quando Enzo desiste de manter controle sobre a parte de Laura na empresa e passa a vê-la mais como uma igual do que alguém a ser conduzida por ele. De certa forma, os dois lidavam com questões de controle e só consertam alguns aspectos de sua relação quando abrem mão dessas tentativas de controle;

Shailene Woodley, por outro lado, é o elo fraco do filme. Sua Lina existe mais como um ponto de conflito para Enzo e Laura do que como uma personagem autônoma, falhando em nos fazer entender o que despertou o interesse de Ferrari em Lina. Além disso, a composição de Woodley se perde em um sotaque inconstante, no qual às vezes ela tenta um sotaque italiano e em outros momentos ela parece falar sem sotaque algum, causando algum estranhamento.

Ainda assim, Ferrari é uma competente biografia que examina o que move seu protagonista e exibe os riscos brutais do universo do automobilismo na década de 1950.

 

Nota: 8/10


Trailer

terça-feira, 6 de fevereiro de 2024

Crítica – Reality

 

Análise Crítica – Reality

Review – Reality
O título desse Reality parece fazer um jogo duplo. Primeiramente ele parece se referir à sua protagonista, a tradutora Reality Winner (Sydney Sweeney), alvo de uma operação do FBI. Em uma segunda análise, pode também se referir à realidade de sua história, baseada em eventos reais e o compromisso do filme em aderir ao realismo da história que conta. Adaptando a própria peça de teatro Is This a Room? a diretora Tina Satter constrói todo o filme em tempo real reproduzindo os diálogos a partir das gravações que o FBI fez durante todo o interrogatório de Reality.

A trama é foca em Reality Winner, uma tradutora de persa que trabalha para uma empresa que presta serviços à NSA. Um dia, chegando em casa, ela encontra agentes do FBI esperando por ela. De início ela pensa se tratar de alguma checagem de rotina considerando a natureza confidencial de seu trabalho na NSA e necessidade de atualizar suas credenciais de segurança. Conforme os dois agentes que lideram a operação começam a fazer perguntas, a tradutora se dá conta de que o propósito do FBI em sua residência é bem mais severo.

sexta-feira, 26 de janeiro de 2024

Drops – Rustin

 

Crítica – Rustin

Review – Rustin
Às vezes boas intenções não são o suficiente para sustentar um produto artístico. Rustin, filme produzido pela Netflix que visa resgatar um ícone esquecido do movimento negro e da luta pelos direitos civis dos Estados Unidos. A narrativa conta a história de Bayard Rustin (Colman Domingo) um dos responsáveis por organizar a marcha de Martin Luther King (Aml Ameen) para Washington e que foi deixado de fora do registro histórico por ser homossexual.

O filme traz um resgate histórico importante, dando devido valor a uma figura fundamental para as mudanças nos direitos civis do país, o problema é que a produção parece mais interessada nos pormenores da organização da marcha do que propriamente falar sobre Rustin e sua trajetória. Muito do filme se passa em longas reuniões discutindo logística, segurança ou financiamento para os manifestantes, sobrando pouco tempo para entender o seu biografado.

quarta-feira, 24 de janeiro de 2024

Crítica – Nyad

 

Análise Crítica – Nyad

Review – Nyad
Baseado em uma história real, Nyad acompanha a nadadora Diana Nyad (Annette Benning) que aos 60 anos tentou atravessar a nado de Cuba para a Flórida, uma façanha nunca antes feita. A trama é estruturada como uma típica história de superação, mostrando como Nyad, ainda na juventude, tentou e fracassou no feito e se tornou obcecada em conseguir a façanha desde então. As noções de nunca desistir, de persistir em seus sonhos são as ideias centrais da narrativa que não parece muito interessada em entender o porquê de Nyad desejar com tanto afinco realizar esse feito.

A narrativa se detém mais nos pormenores da façanha do que aconteceu em cada tentativa e como ela planejou suas tentativas ao lado da melhor amiga Bonnie (Jodie Foster) e uma equipe de apoio que cresce a cada novo esforço de realizar seu empreendimento audaz, de navegadores a socorristas passando por especialistas em predadores marinhos. A produção é eficiente em construir a tensão e senso de risco de nadar em mar aberto, com animais marinhos e mudanças de corrente posando riscos constantes e imprevisíveis. Nesse sentido, a maquiagem acaba sendo um meio de ilustrar o desgaste físico de Nyad, mostrando como ficar dezenas de horas no mar e sob o sol fazem com a pele de uma pessoa.

sexta-feira, 5 de janeiro de 2024

Crítica – Maestro

 

Análise Crítica – Maestro

Review – Maestro
O termo oscar bait é normalmente usado para qualificar produções que parecem feitas sob medida para a temporada de premiações. São filmes que seguem de perto aquilo que normalmente encontramos em películas indicadas a prêmios, como tramas baseadas em fatos reais, atores realizando transformações físicas e alguns outros elementos. Maestro, biografia de Leonard Bernstein dirigida e estrelada por Bradley Cooper, parece um filme perfeitamente formatado para a temporada de prêmios, embora acabe não entregando nada de interessante.

A narrativa segue Bernstein (Bradley Cooper) da juventude, quando rege a Filarmônica de Nova Iorque pela primeira vez, até seus últimos. O filme foca tanto no trabalho musical de Bernstein quanto na relação dele com o a esposa, Felicia (Carey Mulligan). O problema é que a trama parece não ter muito a dizer sobre o maestro além do fato dele ser genial e dele ser bissexual, sem, no entanto, explorar esses dois elementos.

terça-feira, 19 de dezembro de 2023

Crítica – Priscilla

 

Análise Crítica – Priscilla

Review – Priscilla
O Elvis (2022) de Baz Luhrmann focava tanto na relação do rei do rock com o Coronel Parker que Priscilla Presley, esposa do cantor, virava basicamente uma nota de rodapé na história. Em Priscilla a diretora Sofia Coppola decide contar a história dela e de como a relação com Elvis a afetou.

A narrativa se baseia no livro autobiográfico de Priscilla Presley, acompanhando Priscilla Beaulieu (Cailee Spaeny) desde sua adolescência, quando conhece um Elvis (Jacob Elordi, de Euphoria e A Barraca do Beijo) já adulto durante o período em que ele serviu no exército, até os anos finais de seu casamento com ele. Sob o olhar de Coppola, a história de Priscilla é narrada como a de alguém presa em uma gaiola de ouro. Por mais que ela tivesse tudo que o dinheiro pudesse proporcionar, isso não a impedia de se sentir solitária e infeliz, já que sua existência era reduzida a ser um bibelô nas mãos de Elvis.

É um olhar sobre o vazio e o tédio de uma jovem inadvertidamente jogada em um universo de riqueza para ser tratada como objeto que remete a outros filmes de Sofia Coppola, como a personagem de Scarlett Johansson em Encontros e Desencontros (2003) ou Maria Antonieta (2006). Priscilla é constantemente colocada sozinha no quadro, construindo seu senso de isolamento e alienação, amplificando isso com o uso de planos abertos a partir do momento em que ela vai para Graceland que ressaltam como aquela opulência pode soar opressiva, vazia e solitária.

segunda-feira, 18 de dezembro de 2023

Crítica – Se Eu Fosse Luísa Sonza

 


Review – Se Eu Fosse Luísa Sonza
Tudo que eu sei sobre a cantora Luísa Sonza foi contra a minha vontade. A garota é tão exposta na mídia que sei mais sobre a vida pessoal dela do que a respeito de alguns parentes e olha que nunca procurei ativamente nada sobre ela. Na verdade, ficaria bem contente em saber menos a respeito. Curiosamente, apesar da exposição sei mais sobre as tretas de sua vida pessoal do que sobre sua música, o que raramente é um bom sinal. O documentário Se Eu Fosse Luísa Sonza soa como um desdobramento inevitável para uma artista em ascensão, mas se muitos usam esse tipo de produto como um veículo para expandir sua audiência, o documentário da Netflix dividido em três episódios parece se dirigir aos fãs mais ardorosos, já que a maneira como tudo é contado dificilmente vai convencer ou aproximar qualquer outro espectador.

Trata-se de um documentário meramente laudatório, sem qualquer nuance ou interesse de tentar entender a personalidade do objeto do documentário. Tudo é posto para que Luísa seja vista como uma grande artista (sem nada de muito convincente para justificar essa visão) ou como uma grande coitada perseguida pela mídia (com um sensacionalismo exagerado que faz tudo soar artificial) para atrair nossa comiseração. É um produto marcado pela contradição de querer se expor intimamente e uma preocupação extrema em controlar a narrativa e imagem que cerca a cantora.

quarta-feira, 22 de novembro de 2023

Crítica – Dinheiro Fácil

 

Análise Crítica – Dinheiro Fácil

Review – Dinheiro Fácil
Fortunas são construídas e perdidas rapidamente no mercado financeiro. Investimentos na bolsa muitas vezes soam como um cassino e como tal, tem seus vícios nos resultados. Dinheiro Fácil é um filme que serve de lembrete de como os super ricos colocam o dedo na balança do mercado e viciam os resultados a seu favor, não dando nenhuma chance para que trabalhadores e assalariados consigam ganhar algo.

A trama se baseia na história real de Keith Gill (Paul Dano), bancário e analista financeiro que percebeu em 2020 que o mercado estava subvalorizando as ações da loja de games Gamestop. A franquia de lojas se mantinha aberta durante a pandemia por vender dispositivos eletrônicos considerados de primeira necessidade, mas grandes fundos de investimento compravam ações da empresa a descoberto apostando em sua queda. A tese de Gill era de que o mercado estava criando uma espécie de “profecia auto realizável”. Ao apostar bilhões na desvalorização, eles instigariam o resto do mercado a apostar junto, efetivamente fazendo outras pessoas investirem na queda das ações, quebrando a empresa, desempregando milhares e fazendo esses bilionários ainda mais ricos sem terem produzido efetivamente nada.

terça-feira, 21 de novembro de 2023

Crítica – Napoleão

Análise Crítica – Napoleão


Review – Napoleão
Dirigido por Ridley Scott, Napoleão funciona mais como um estudo de personagem do que como um épico histórico. Digo isso porque a trama é mais interessada na relação de seu personagem título com esposa e o que motiva suas ações do que em grandes batalhas ou em todo o contexto das Guerras Napoleônicas. Não que essa escolha seja um problema, apenas aviso para que ajustem suas expectativas.

A trama acompanha Napoleão (Joaquin Phoenix) a partir de sua ascensão no exército após a revolução francesa. Com suas primeiras vitórias ele se consolida em uma posição de liderança e se casa com a bela Josefina (Vanessa Kirby) enquanto suas ambições o impelem a almejar cada vez mais.

O filme é, em essência, um estudo sobre essa ambição desmedida que coloca a busca por grandeza acima de tudo, sacrificando até mesmo a relação com a mulher que ama, e o que impele essa busca. A narrativa constrói Napoleão como um bruto vulgar dotado de certo complexo de inferioridade por vir de uma família humilde ao contrário dos aristocratas ricos que o cercam. Assim, o personagem age como se sempre tivesse algo a provar e seu desejo de conquista, bem como a vaidade com a qual exibe sua inteligência tática, se mostram fruto dessa tentativa de ser visto como alguém grandioso.