
Por mais que eu adore o livro de
Antoine de Saint-Exupéry, vê-lo adaptado para o cinema sempre traz uma certa
apreensão, já que não se trata de uma obra simples, mas um texto rico, cheio de
metáforas e simbolismos que não são necessariamente fáceis de traduzir para as
telas. Felizmente este
O Pequeno Príncipe
é uma versão bastante competente do tradicional conto e, apesar de algum
excesso de didatismo aqui e ali, consegue captar muito bem a força do texto
original.
A trama acompanha uma menina (Clara
Poincaré / Larissa Manoela) que se muda com sua mãe para ingressar em uma nova
e melhor escola. Na nova casa, sua mãe lhe impõe uma severa agenda para se
preparar para o começo das aulas, já que ela tem todo um plano de vida para a
garota. Ela, porém, começa a se aproximar do excêntrico vizinho, um velho
aviador (André Dussollier/ Marcos Caruso) que começa a lhe contar uma história
sobre um príncipe que conhecera quando seu avião caíra no deserto.
O filme acerta em seu belo design que constrói a cidade como um
lugar completamente padronizado, no qual todas as casas são iguais e com as
mesmas plantas, as cores são frias e sem vida e os adultos são seres
cadavéricos, quase como assombrações, como nos mostra a cena da entrevista no início.
Em oposição a isso, a casa do aviador é a única "fora do padrão", o
que sugere sua percepção de mundo diferente, e também o único local em que as
cores são vivas e marcantes. Nos momentos em que narra a história o filme, a
estética muda, com personagens que lembram estátuas de papel machê, quase como
se as ilustrações de Saint-Exupéry tivessem saltado das páginas e ganhado vida.