De certa maneira Djeli: Contos Modernos adere com grande
proximidade a estruturas típicas do melodrama. Por outro lado, porém, essa
produção de 1981 da Costa do Marfim dirigida por Fadika Kramo-Lanciné apresenta
um senso de frescor pelo modo como o filme acompanha uma realidade cultural
pouco mostrada pelo cinema hegemônico e como usa essa realidade para pensar
seus conflitos.
Conto ancestral
A narrativa é focada em Fanta,
uma jovem da Costa do Marfim que se apaixona por Kramoko Kouyate, mas apesar
dos dois se amarem eles não podem se casar. Kramoko Kouyate vem de uma linhagem
de griots, enquanto Fanta vem de uma origem mais nobre e as famílias de ambos
não aprovam o casamento. Ainda assim, o casal viaja da capital para sua vila
natal de modo a tentar convencer seus pais a deixarem o casamento acontecer.
Em Amores Materialistas a diretora Celine Song tenta expandir algumas
ideias sobre relacionamentos amorosos que trabalhou no excelente Vidas Passadas (2023). Lá ela
desconstruía a ideia de que existe uma alma gêmea para cada pessoa, pensando
que essa noção de pessoa ideal tem muito a ver com oportunidade e conveniência.
Aqui em Amores Materialistas ela
pondera sobre a natureza transacional dos relacionamentos.
Material girl
A narrativa gira em torno de Lucy
(Dakota Jonhson), que trabalha numa agência de relacionamentos voltada para
clientes de alta classe. Seu trabalho consiste em encontrar os pares ideais
para seus clientes, homens e mulheres, que buscam alguém para casar. Em seu cotidiano
ela pesa preferências de cada um, nível de renda e o que cada cliente exige de
um par ideal. É um trabalho que pensa em relacionamentos quase como produtos,
nos quais alguém busca um objeto com certas características e ela procura outra
pessoa que se encaixe nas exigências e que cumpra as da outra pessoa. No
casamento de uma cliente, Lucy conhece Harry (Pedro Pascal), um rico e charmoso
investidor que reúne a beleza e dinheiro que ela espera de um par. Lucy também se
reencontra com seu ex, John (Chris Evans), um ator de teatro cuja carreira
nunca decolou e ainda vive de pequenos bicos mesmo próximo dos quarenta anos de
idade. Apesar de não ter nada de material a oferecer, Lucy tem uma forte
conexão afetiva com John e constantemente desabafa com ele.
A primeira cena do filme, com um
homem das cavernas se aproximando de uma mulher levando flores e ferramentas
feitas de osso e ela cede aos avanços do homem. É uma cena que ilustra como
relacionamentos podem se construir a partir do interesse no que a outra pessoa
tem a lhe oferecer, seja conforto material, status social que vem de riqueza ou
aparência física, seja do prazer sexual que a outra pessoa lhe dá. Casamentos,
afinal, são contratos e como qualquer contrato depende do interesse de ambas as
partes. Esse componente materialista e até mesmo primitivo dos relacionamentos
se verifica no presente nas reuniões que Lucy tem com os clientes nas quais
homens e mulheres elencam o que buscam no parceiro, desde faixa de renda,
passando por idade, altura ou medidas do corpo. Lucy encara tudo com um
pragmatismo extremo, indagando aos clientes que elementos eles estariam
dispostos a abrir mão na busca por um par e quais não são negociáveis, partindo
da ideia de que nos relacionamos com alguém na medida em que percebemos que a
outra pessoa nos agrega valor, mesmo que seja um valor sentimental, intangível.
Assim, ela é colocada em um
triângulo amoroso no qual suas convicções serão testadas. De um lado Harry é
tudo que sua mente materialista sempre desejou, ele atende a todos os seus
critérios e ela os dele, já que ele é tão pragmático em sua visão de
relacionamentos quanto ela. Por outro lado, John é alguém que está sempre
presente, alguém que ela sabe que pode depender para suporte emocional e que
consegue saber que Lucy não está bem pelas mínimas nuances de voz ou rosto.
Johnson, Pascal e Evans formam um trio charmoso, com Evans e Pascal dotando
seus personagens de uma medida de vulnerabilidade emocional que ajuda a dar aos
dois personagens mais camadas. A dinâmica que o trio de atores estabelece entre
si torna crível o dilema da protagonista mesmo quando o texto deixa pistas
muito explícitas a respeito de quem ela irá escolher.
Relações abusivas
O principal problema do filme nem
é a previsibilidade do triângulo amoroso, já que Evans e Pascal são
pretendentes atraentes e carismáticos o bastante para manter nosso interesse,
mas a maneira desajeitada com a qual a narrativa insere uma subtrama de abuso
sexual envolvendo Sophie (Zoe Winters), uma das clientes de Lucy. A primeira
coisa que chama atenção é o modo pouco crível pelo qual a situação é
construída. Lógico, Lucy ou qualquer pessoa da empresa não tem como ter certeza
total que os homens que participam do serviço não são agressores em potencial,
mas considerando que é um serviço para pessoas de alta classe e os tempos em
que estamos vivendo é difícil crer que a empresa de Lucy não possua qualquer
protocolo para lidar com isso, como um botão de pânico ou um serviço de
emergência.
Também incomoda que toda a trama
de Sophie não discuta o abuso, a falta de punição para os homens que cometem
isso ou outras variáveis sociais da questão. O abuso de sofrido pela personagem
existe apenas para avançar a história de Lucy, já que a violência que Sophie
passa e o confronto entre ela e Lucy lembram a protagonista dos perigos de
tratar pessoas como objetos. O abuso de Sophie é um mero motivador para Lucy
repensar suas convicções e as escolhas que faz em relação a John e Harry,
lembrando que por mais transacional que um relacionamento seja, é difícil
funcionar ou durar sem alguma medida de afeto.
O clímax é igualmente pouco
crível, já que é difícil de acreditar que Sophie não tinham mais ninguém para
ligar além de Lucy, mesmo tendo aberto um processo contra a empresa dela. Sim,
ela pode ser uma pessoa tão focada na carreira que não tem amigas, mas se ela é
essa figura bem sucedida ela provavelmente teria uma colega de trabalho, uma
secretária, uma estagiária, alguém que pudesse chamar. Do jeito que está tudo
soa forçado para fazer a redenção de Lucy, mesmo que o texto não a tenha feito
merecer essa redenção.
Assim, a diretora Celine Song
continua a trazer reflexões instigantes sobre a natureza dos relacionamentos,
pensando em sua dimensão de transação a partir de um romance que se sustenta
pelo charme de seu trio principal, já que a trama tropeça em algumas escolhas
problemáticas.
É impressionante como quase nada
funciona neste Shadow Force: Sentença de
Morte, misto de ação com comédia romântica que tenta fazer tanta coisa ao
mesmo tempo, misturando diferentes gêneros e propostas estéticas ou narrativas
que nada consegue operar conjuntamente com coesão. A impressão que fica é a de
um filme que parece brigar consigo mesmo o tempo todo.
Conflito interior
A trama acompanha o casal de
mercenários Issac (Omar Sy) e Kyrah (Kerry Washington). No passado eles
serviram juntos da Shadow Force, divisão secreta que realizada missões de
assassinato. Quando eles se apaixonaram e tiveram um filho decidiram abandonar
a divisão, mas isso os colocou na mira do líder, o ardiloso Jack Cinder (Mark Strong).
Eles vivem separados, com Issac cuidando do filho do casal, enquanto Kyrah caça
os remanescentes do grupo que estão atrás deles. As coisas mudam quando Issac
impede um assalto à banco, atraindo atenção da mídia e fazendo seu rosto
circular na mídia, chamando atenção de quem os caçava, obrigando ele e Kyrah a
se reunirem e eliminarem a ameaça de uma vez por todas.
Depois de Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo (2022) o público redescobriu o
carisma de Ke Huy Quan. Após o sucesso e as premiações que vieram com o filme,
Quan apareceu em projetos de visibilidade como a segunda temporada de Loki. Este Amor Bandido, porém, é o primeiro trabalho do ator como
protagonista depois de sua renascença e, infelizmente, é uma produção aquém do
seu astro.
Paixão perigosa
A trama gira em torno de Marvin
(Ke Huy Quan), um pacato corretor de imóveis que parece feliz com sua vida. No
dia dos namorados ele recebe uma mensagem de uma antiga paixão, Rose (Ariana
DeBose), que o lembra de sua vida pregressa. O contato de Rose coloca Marvin na
mira dos criminosos para os quais ele trabalhava e agora ele precisa lutar para
sobreviver. De certa forma é uma mistura de John Wick com comédia romântica e
personagens excêntricos a la Tarantino e Guy Richie. O problema é que nenhuma
dessas é bem executada.
Dirigido por Allan Deberton, do
ótimo Pacarrete (2019), O Melhor Amigo é uma comédia romântica
musical com um inesperado clima de nostalgia. É uma trama sobre encontros e
desencontros amorosos que se vale dos números musicais para fins de humor e
criar um clima de excentricidade.
Romance difuso
A narrativa acompanha Lucas
(Vinícius Teixeira) que vai sozinho em uma viagem de férias para a praia de
Canoa Quebrada depois de uma crise com o namorado, Martin (Léo Bahia). Lá ele
reencontra um antigo colega de faculdade, Felipe (Gabriel Fuentes), que
trabalha como guia no local. Os dois se reconectam, trazendo desejos antigos à
tona.
O cinema de André Novais e dos
outros diretores da Filmes de Plástico é muito calcado na construção de um
senso de cotidianidade. Se o drama normalmente tenta se concentrar nos grandes
momentos de triunfo ou tragédia da vida comum, André e seus colegas entendem
que a vida se constrói principalmente nos interlúdios entre essas duas coisas,
que o grosso de nosso tempo se concentra nesse “eterno quase” de conseguirmos
ou não aquilo que desejamos e neste "eterno quase" em que residem muitos de nossos momentos especiais. O Dia Que Te
Conheci é um romance que se desenvolve justamente nesses momentos.
Não esperava muita coisa de Assassino Por Acaso, já que o material de divulgação não dava a
impressão do quão esquisito era o filme. Ainda bem que resolvi dar uma chance a
ele e conferir essa ponderação bem humorada que o diretor Richard Linklater faz
a respeito de nossa relação com a ficção e nosso senso de identidade.
A narrativa é levemente baseada em uma história real. Gary
Johnson (Glen Powell) é um tímido professor de filosofia que ocasionalmente
trabalha disfarçado com a polícia de Nova Orleans. Ele lida com operações de
vigilância, prendendo pessoas que buscam contratar assassinos profissionais.
Quando o policial que costuma “interpretar” o falso assassino nas operações é
suspenso, Gary acaba assumindo a função e revela ter naturalidade para fingir
ser outra pessoa. É aí que ele conhece Madison (Adria Arjona), uma mulher
disposta a contratar alguém para matar seu marido abusivo. Entendendo as razões
dela, Gary a convence a desistir e acaba se apaixonando por Madison. O problema
é que ela continua acreditando que ele é um matador de aluguel e então tenta se
comportar como um.
É curioso como o cinema hollywoodiano sempre retorna ao
pouso na Lua como signo da engenhosidade, excelência e superioridade dos
Estados Unidos. Talvez por ser o evento histórico mais seguro (já que não
envolve invadir ou bombardear outros países) para tentar reforçar no público a
ideia de que esta é a maior nação do planeta. Este Como Vender a Lua mistura comédia romântica e drama histórico para
fazer precisamente isso, embora nem sempre atinja suas ambições.
A trama se passa nos anos 60, sendo protagonizada por Kelly
(Scarlett Johansson), uma profissional de marketing que é contratada pelo
governo dos EUA para fazer a opinião pública ficar favorável à ideia de uma
missão para a Lua. Chegando na base de lançamento na Flórida, as táticas de
Kelly para melhorar a imagem do programa espacial enfrentam resistência do
diretor da missão Cole (Channing Tatum) que não aprova os métodos escorregadios
de Kelly. Claro que a partir dessa união entre opostos os dois irão se
apaixonar.
Fui temeroso assistir Tudo
em Família, mais nova produção da Netflix, já que era uma comédia romântica
focada no problemático relacionamento entre mãe e filha, uma premissa muito
similar a outra produção recente da Netflix, a horrenda A Mãe da Noiva. Na verdade, o único motivo para eu ter resolvido
assistir Tudo em Família foi a
presença de Nicole Kidman, uma atriz que costuma ser cuidadosa na escolha de
seus projetos.
A trama é protagonizada por Zara (Joey King) que trabalha
como assistente pessoal do astro de cinema Chris (Zac Efron), aturando sua
personalidade ególatra pela promessa de se tornar produtora em seus filmes. As
coisas se complicam quando Chris conhece Brooke, Nicole Kidman, a mãe de Zara,
e se apaixona pela escritora.
Joey King e Zac Efron inicialmente estabelecem uma química
divertida na constante troca de farpas entre os dois personagens. Efron já
tinha se mostrando eficiente interpretando babacas vaidosos e meio burros em
comédias como Vizinhos (2014) e Baywatch(2017) e volta a divertir com
seu astro canastrão autocentrado. O ator ainda consegue mostrar uma
vulnerabilidade inesperada em Chris conforme ele se aproxima de Brooke. Kidman
também tem cenas divertidas ao lado de Kathy Bates, que interpreta a mãe de sua
personagem.
Este A Mãe da Noiva é
mais uma daquelas comédias românticas que segue a fórmula algorítmica da
Netflix de juntar um elenco moderadamente famoso (nomes conhecidos, mas que não
sejam tão caros) em uma locação paradisíaca (para dar ao público a impressão de
que está vendo algo novo). Tudo embalado por uma trama tão quadrada e
previsível que se você ver os primeiros vinte minutos e pular para os últimos
vinte não vai perder nada da narrativa.
A história é centrada em Emma (Miranda Cosgrove, a eterna
protagonista de iCarly), uma
influencer que vai casar com o homem de seus sonhos em um resort paradisíaco na
Tailândia com tudo pago por uma marca que a patrocina. O problema é que sua
mãe, Lana (Brooke Shields), foi ex-namorada do pai de R.J (Sean Teale), o noivo
de Emma. Lana considera Will (Benjamin Bratt) um cafajeste e teme pelo futuro
da filha ao lado do genro.
Eu não tinha lá muitas expectativas para este Está Tudo Bem Comigo? Considerando que
os últimos filmes que assisti protagonizados pela Dakota Johnson foram as
bombas Persuasão(2022) e Madame Teia (2024). Esta comédia
romântica dirigida pela comediante Tig Notaro e a esposa Stephanie Allyne,
porém, me surpreendeu pela mistura agridoce com a qual desenvolve a jornada de
autodescoberta e aceitação de sua protagonista.
Lucy (Dakota Johnson) e Jane (Sonoya Mizuno) são melhores
amigas desde sempre. Quando Jane está prestes a casar e se mudar para a
Inglaterra, Lucy começa a pensar no que vai fazer sem a melhor amiga e como, ao
contrário de Jane, nunca teve sucesso em seus relacionamentos com homens. Aos
poucos Lucy começa a se dar conta de que sempre sentiu atração por mulheres e
que sente algo pela colega de trabalho Brittany (Kiersey Clemons), mas tem
dificuldade de aceitar isso e embarcar nesses sentimentos, temendo ser tarde
demais para dar uma guinada na vida ou ser julgada pelos outros por não saber o
que quer.
Quando escrevi sobre Grandes Hits mencionei como é curioso que pessoas diferentes, em lugares
diferentes, tenham ideias similares para um mesmo filme. Nesse caso é a
premissa que ouvir certas músicas estaria tão conectado aos nossos sentimentos
e memória que nos faria viajar no tempo. A produção brasileira Evidências do Amor parte da mesma ideia,
embora trace com ela caminhos diferentes do hollywoodiano Grandes Hits, que foi lançado quase no mesmo tempo.
A trama gira em torno de Marco (Fábio Porchat), que não
supera o fim do noivado com Laura (Sandy Leah). Agora toda vez que ouve a
canção Evidências, de Chitãozinho
& Xororó, música que cantou junto com Laura em um karaokê quanto se
conheceram, ele é transportado ao passado e revive memórias do relacionamento.
Reviver essas memórias o faz perceber que a decisão dela em terminar talvez não
tivesse sido tão súbita quanto pensava e que ele tem responsabilidade no fim da
relação. Assim, Marco tenta embarcar nessas memórias para pensar em uma maneira
de retomar o relacionamento.
Novo filme de Daniel Ribeiro, responsável por Hoje Eu Quero Voltar Sozinho (2014), é
uma comédia romântica sobre término e sobre se reencontrar depois de um
relacionamento longo. A trama gira em torno de João (Artur Volpi), um jovem
cineasta que terminou a relação de dez anos que tinha com Hugo (Sidney
Santiago). Ele tenta reconstruir a vida e conhece Vitor (Michel Joelsas), se
apaixonando por ele, mas também não quer embarcar diretamente em um novo
relacionamento e tenta experimentar outros caminhos.
A narrativa tem uma estrutura que remete a comédias
românticas hollywoodianas, com o protagonista passando por vários encontros,
conhecendo diferentes tipos de pretendentes e conversando a respeito disso com
uma dupla de amigos. É uma estrutura que o filme executa razoavelmente bem,
ainda que repita certos clichês que soam bem manjados hoje. O principal é o dos
amigos que parecem existir para gravitar em torno dele, já que os dois não tem
qualquer arco narrativo e servem basicamente como orelha para João falar sobre
os próprios sentimentos, além de ocasional alívio cômico.
É curioso como as vezes cineastas chegam em ideias similares
num mesmo período de tempo. Esse ano, com semanas de diferença, tivemos dois
filmes sobre pessoas viajando no tempo com o poder da música. Aqui no Brasil
tivemos Evidências do Amor enquanto
que o cinema hollywoodiano produziu este Grandes
Hits, que parte de uma premissa relativamente similar, ainda que faça
coisas diferentes com ela.
Na trama, Harriet (Lucy Boynton) lida com a perda do
namorado, Max (David Corenswet, que vai ser o próximo Superman), em um acidente
de carro dois anos atrás. Por conta de um ferimento que sofreu na cabeça no
acidente em que Max morreu ela consegue voltar no tempo toda vez que ouve
alguma música que lhe remete a algum momento importante com o namorado. Ao
mesmo tempo, Harriet conhece David (Justin H. Min) no grupo de terapia de luto
que frequenta. Eles se aproximam, mas ela tem dificuldade de se permitir viver
algo com ele porque cada música que ouve a transporta para seu passado com Max.
De início não me interessei por Uma Ideia de Você. Parecia uma reciclagem de Um Lugar Chamado Notting Hill (1999) com gêneros invertidos e
acrescentando a questão da idade. Resolvi dar uma chance ao ver que era
dirigido por Michael Showalter, responsável por Doentes de Amor(2019) e pela minissérie The Dropout(2022), que nesses trabalhos conseguia equilibrar bem comédia,
emotividade e reflexões consistentes sobre relacionamentos e sociedade. Aqui,
porém, isso não acontece.
A trama é protagonizada pela galerista Solene (Anne
Hathaway) uma mulher de quase 40 anos, divorciada e que tem que levar a filha
para o concerto de uma boy band
depois que o ex marido, Daniel (Reid Scott), desiste de levar a garota por
conta de um compromisso de trabalho. Chegando no show, Solene se aproxima de
Hayes (Nicholas Galitzine), um dos músicos da boy band August Moon. Dias depois, Hayes a procura em sua galeria e
os dois iniciam um romance.
A máxima de que o amor nos leva a cometer as maiores
loucuras é levada aos extremos mais violentos neste Love Lies Bleeding: O Amor Sangra conforme as duas protagonistas
tentam proteger uma a outra e terminam por se envolver em mais crimes a cada
nova tentativa. A narrativa se passa na década de 80 e é focada em Lou (Kristen
Stewart), uma jovem solitária que trabalha em uma academia e se apaixona pela
fisiculturista Jackie (Katy O’Brien). Lou tem uma relação ruim com o pai, também
chamado Lou (Ed Harris), que é um importante traficante de armas da região e
com quem Jackie vai trabalhar como garçonete em seu bar sem saber inicialmente
o quanto ele é perigoso ou o parentesco dele. Expulsa de casa e viajando a esmo
pelo país enquanto tenta competir em um torneio de fisiculturismo em Las Vegas,
Jackie passa boa na academia em que Lou trabalha e as duas começam a se
aproximar.
É curioso que apesar de ser um romance queer passado na década de 80, a homofobia é o menor dos problemas que
essas personagens enfrentam, Mesmo o pai criminoso de Lou parece não se
importar com o fato dela “gostar de garotas” e como ele é um criminoso conhecido
isso dá a ela certa proteção. É uma maneira de não reduzir as experiências queer a uma existência de apenas lidar
com o preconceito e explorar outras histórias que podem ser contadas com esses
personagens.
Dirigido por Andrew Haigh, Todos Nós Desconhecidos é uma história sobre luto, solidão,
intimidade e estranhamento. Sua narrativa sobre se manter preso ao passado e
não se abrir para o presente, preferindo conviver os fantasmas de outrora
poderia render um filme bem piegas, daqueles feitos para forçar o público ao
choro, mas Haigh traz uma leveza e uma sensibilidade na condução que faz tudo
ser emotivo sem cair na pieguice.
A trama é protagonizada por Adam (Andrew Scott), um escritor
que aparentemente é a única pessoa morando em um alto prédio de habitação
popular. O único outro morador que ele parece encontrar no local é Harry (Paul
Mescal) e ambos começam a conversar. Com o tempo, Harry demonstra interesse em
Adam, mas o escritor passa seu tempo revisitando a casa que cresceu na
infância, tentando escrever um roteiro de cunho autobiográfico a respeito de
sua relação com os pais falecidos. Em uma dessas idas, nas quais o trem
funciona como uma máquina do tempo, ele encontra o pai (Jamie Bell) em uma loja
de conveniência e vai jantar com ele e a mãe (Claire Foy), como se nada tivesse
acontecido. Ele passa a dividir seu tempo entre os pais e Harry, mas esses
mundos não demonstram facilidade em coexistir.
Não sou lá grande fã do Sr.
& Sra. Smith (2005) estrelado por Brad Pitt e Angelina Jolie, então o
anúncio de uma série baseada no filme não fez muito para me empolgar. Mesmo a
informação de que Donald Glover, responsável pela excelente Atlanta, estaria à frente da série como
astro e produtor me fez mudar muito de ideia. Tendo visto a série Sr. & Sra. Smith, porém, posso dizer
que é um esforço melhor sucedido que o longa de 2005.
A trama acompanha John (Donald Glover) e Jane (Maya
Erskine), uma dupla de agentes que aceitam trabalhar para a misteriosa
Companhia. A atividade envolve fingirem ser um casal enquanto desempenham as
missões dadas por um contato misterioso que se comunica com eles via mensagens
de computador. Aos poucos, a relação de conveniência vai se tornando um
casamento de verdade, com um se apaixonando pelo outro, mas o cotidiano de
perigo ameaça o relacionamento entre eles.
Hollywood gosta de modernizar clássicos da literatura e
teatro em forma de comédia romântica. Emma,
de Jane Austen, foi transformado em As
Patricinhas de Beverly Hills (1995), A
Megera Domada, de Shakespeare, virou 10
Coisas Que Eu Odeio em Você (1999). Agora outra peça de Shakespeare se
torna uma comédia romântica passada na contemporaneidade, com Todos Menos Você tentando ser uma versão
modernizada de Muito Barulho Por Nada.
A trama é protagonizada por Ben (Glen Powell) e Bea (Sydney
Sweeney). Anos atrás eles tiveram um encontro que não deu muito certo e agora
se detestam. Os dois se reencontram indo para um casamento na Austrália, onde
Halle (Hadley Robinson), irmã de Bea, vai se casar com Claudia (Alexandra Shipp),
melhor amiga de Ben. Temendo que a animosidade dos dois estrague o clima do
casamento, as noivas e suas famílias tentam armar para que os dois se
apaixonem.
Nossa concepção de amor romântico gira muito em torno da
noção de “alma gêmea”, da ideia de que num mundo com bilhões de pessoas existe
uma única pessoa que está destinada a nós e que quando a conhecermos sentiremos
um amor tão arrebatador que não teremos outra reação que não perceber que essa
é nossa “alma gêmea”. Vidas Passadas,
no entanto, indaga sobre essa concepção pensando o quanto do amor e de
relacionamentos são uma questão de um momento ideal, de encontrarmos uma pessoa
em um tempo específico e em um momento específico e dessa conveniência
espaço-temporal que surgiria um relacionamento duradouro. Quando algo não se
encaixa, mesmo quando há amor, muitas vezes a relação pode não ir adiante e
essas pessoas podem seguir caminhos diferentes, construir vidas com outras
pessoas.
A trama é protagonizada por Nora (Greta Lee), uma mulher
coreana que imigrou para o Canadá quando tinha doze anos, deixando para trás
sua paixão de infância, Hae Sung (Teo Yoo). Alguns anos depois Nora reencontra
Hae Sung pela internet e eles retomam a conexão de juventude, mas eles estão
por demais focados em seus cotidianos e não tem meios para se reencontrarem
presencialmente, então Nora decide se afastar um pouco e dar atenção a carreira
que está começando nos Estados Unidos. Algum tempo depois Nora se casa com o
escritor Arthur (John Magaro) e anos se passam até que ela retome contato com
Hae Sung, que decide ir aos Estados Unidos para vê-la.