Amor digital
A narrativa se passa milênios no futuro quando a humanidade foi extinta e a Terra ficou desabitada. Um satélite vaga na órbita do nosso planeta contendo todo o acervo digital da humanidade para que outras formas de vida o encontrem. A única outra forma de vida inteligente, porém, é uma boia marítima criada para analisar os níveis de salinização da água. Ela entra em contato com o satélite e ao acessar seu acervo se torna fixada em um casal de influencers (interpretados por Stewart e Yeun) e decide experimentar a vida humana. Para isso tenta fazer a amizade com o satélite e juntos tentam construir uma simulação de como era a vida desse casal para reproduzir a experiência humana. Logicamente, viver um relacionamento humano é bem mais complexo do que imitar algumas centenas de reels de influencers e logo o casal começa a ter problemas.
É uma narrativa que se estende por bilhões de anos conforme essas inteligências artificiais tentam e fracassam na sua reprodução de um relacionamento humano, já que mesmo coisas como o modo que a água funciona não são fáceis de simular, quanto mais os sentimentos complexos envolvidos em um relacionamento afetivo. Stewart e Yeun adotam uma cadência de fala bem particular, que emula como ferramentas de IA normalmente vocalizam, com um ritmo irregular, que não parece seguir o fluxo de nenhum idioma específico, fazendo pausas estranhas entre as palavras e fundamentalmente soando bem distante como um ser humano fala. Ao longo do tempo, no entanto, conforme vão se tornando mais naturais na fala.
Repetição simulada
A trama reflete como inteligências artificiais, por simplesmente identificar e reproduzir certos padrões não conseguiriam dar conta da complexidade do sentimento humano, tanto que bilhões de anos se passam ao longo da tentativa dos dois protagonistas em se tornarem mais humanos. Também reflete sobre nosso comportamento performático em redes sociais, construindo uma imagem de como um relacionamento bem sucedido deveria ser que não corresponde a realidade e no esforço de nos conformarmos a ideais que não são nossos, emulando a conduta de influencers e famosos, nos afastamos de quem somos de verdade.
Ao longo do filme os dois protagonistas tentam reproduzir as ações do casal de influencers, mas essas performances constantemente soam falsas para as IAs, elas brigam, se reconciliam, tentam de novo e mais uma vez esbarram na artificialidade do que constroem. Imagino que essa estrutura foi pensada para reproduz a natureza iterativa de um programa de computador, que constrói um programa, analisa o que deu errado e tenta fazer uma versão melhor. O problema é que isso faz o filme ficar redundante, principalmente porque essas novas versões giram em torno das mesmas ideias e questionamentos sobre sentimentos e natureza humana, dando a impressão que tudo está caminhando em círculos.
Admiro o comprometimento do casal
Andrew e Sam Zuchero, que escreveram e dirigiram o filme, com a premissa
pitoresca e com todo o clima bizarro que envolve duas entidades eletrônicas
tentando descobrir o que sentem um pelo outro ao longo de bilhões de anos tendo
posts de Instagram e vídeos de Youtube como principais referências de
comportamento humano. Infelizmente o produto final esgota muito rápido as
ideias que o texto tenta apresentar, deixando a impressão de que o material
funcionaria melhor como um curta-metragem.
Nota: 5/10
Trailer


Nenhum comentário:
Postar um comentário