Natal materno
A trama parte de uma ideia interessante. Narrativas de Natal são sempre centradas em figuras masculinas, nos pais de família, com as mulheres tendo pouco espaço e seu trabalho para fazer as comemorações familiares sendo invisibilizado. Assim, a narrativa foca Claire (Michelle Pfeiffer) uma mãe de família que está dobrando os esforços para as festas já que todos os seus filhos estão vindo para casa. Ela pede que os filhos façam um vídeo indicando ela para uma competição de mães no programa de auditório de Zazzy Tims (Eva Longoria), mas eles a ignoram. Quando seus filhos, Channing (Felicity Jones), Taylor (Chloe Grace Moretz) e Sammy (Dominic Sessa, de Os Rejeitados) chegam em casa eles continuam a ignorá-la, esquecendo Claire em casa quando vão em um passeio em família. Farta de ser menosprezada, ela decide viajar sozinha no natal.
É louvável que o filme tente lembrar o quanto passa batido por muita gente o trabalho de uma matriarca para cozinhar, decorar e arrumar a casa para toda a família. O problema é que ao invés de questionar esse lugar social em que a mulher é colocada, o filme meio que endossa, apenas dizendo que as outras pessoas deveriam ser mais gratas por isso e ajudar de vez em quando ao invés de falar em uma divisão mais igualitária de tarefas ou qualquer tentativa de reestruturar esse tecido social.
Incomoda também como tudo é previsível e obedece às fórmulas pré-estabelecidas da maneira mais óbvia possível. É evidente que o relaxado Sammy vai aprender a ser responsável e vai finalmente se dar bem com a vizinha pela qual é apaixonado desde a adolescência. É lógico que Taylor eventualmente irá aceitar o cunhado, Doug (Jason Schwartzman), marido de Channing, deixando de lado sua má vontade por considerá-lo sem graça. No fim a protagonista perdoa a família depois que eles fazem o típico grande gesto público de desculpas como é comum nesse tipo de comédia, resolvendo rápido e fácil todos os conflitos.
Nada soa genuíno, é tudo muito pré-programado, acontecendo mais porque é o que se espera desse tipo de história do que desenvolvimentos orgânicos desses personagens. Não ajudam que os diálogos e as narrações em off sejam excessivamente expositivas, com os personagens o tempo todo dizendo o que pensam ou como se sentem através de comunicar isso por ações. A narração chega a ser quase uma descrição do que acontece em cena. Em dado momento Claire compra um carro e ouvimos sua voz narrar “eu comprei um carro modelo tal” como se já não estivéssemos vendo a personagem fazer isso.
Aqui e ali o filme encontra alguns momentos de emoção ou comédia com mais autenticidade a exemplo da cena em que Claire conversa com outras mulheres no camarim de Zazzy sobre as frustrações que tem com a família e elas se conectam pelas experiências compartilhadas. Há também a conversa que a protagonista tem com uma entregadora vivida por Danielle Brooks (de Pacificador e Orange is the New Black) em um hotel.
A questão é que esses momentos
são poucos e espaçados, não conseguindo afastar a sensação de que Um Natal Surreal é uma coleção de
lugares comuns pouco imaginativos que desperdiça tanto o elenco carismático
liderado por Michelle Pfeiffer como a proposta de questionar o espaço das
personagens femininas em filmes natalinos.
Nota: 4/10
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