sexta-feira, 12 de dezembro de 2025

Crítica – Tron: Ares

 

Análise Crítica – Tron: Ares

Review – Tron: Ares
Sempre achei a franquia Tron mal aproveitada. É um universo muito interessante, mas como os filmes sempre rendem abaixo do esperado, esse universo nunca decolou de fato. O primeiro filme, lançado em 1982, inovava com cenários e personagens completamente digitais, algo muito novo para época, mas os avanços tecnológicos fizeram um filme envelhecer mal. Uma continuação só viria quase trinta anos depois com o bacana, mas subestimado, Tron: O Legado (2010), que atualizou como esse universo computadorizado seria em um mundo ainda mais digital, mas também não teve o resultado esperado na bilheteria. Agora, quinze anos depois, temos mais um filme da franquia com este Tron: Ares, que infelizmente não fez valer o tempo de espera.

Guerreiros digitais

Na trama, a tecnologia evoluiu para ser possível trazer elementos do mundo digital para o nosso mundo. Há uma espécie de corrida tecnológica entre a Encom, empresa criada por Kevin Flynn (Jeff Bridges) e hoje chefiada por Eve Kim (Greta Lee, de Vidas Passadas e The Morning Show) e a Dillinger Systems, criada pelo rival de Flynn na época do primeiro filme e hoje liderada por Julian Dillinger (Evan Peters). As duas empresas buscam um meio de trazer permanentemente recursos digitais para o mundo real, já que qualquer elemento trazido para o nosso mundo dura apenas cerca de meia hora. Quando Eve descobre elementos para criar o “código da permanência” em meio a antigos arquivos de Kevin Flynn, Julian traz para o mundo real seu programa de segurança Ares (Jared Leto) para caçar Eve e recuperar o código. O contato com Eve, no entanto, faz Ares questionar sua programação.

É um filme que não se decide entre ser uma continuação ou um completo reboot. Uma narração inicial referencia elementos de Tron: O Legado, situando-o na mesma cronologia, mas ignora praticamente tudo que aconteceu lá. Somos informados que Sam Flynn (Garrett Hedlund) deixou a Encom sem muita explicação e nenhum dos fios narrativos deixados lá são retomados, como toda a questão dos ISOs, seres digitais que Kevin Flynn encontrou no mundo digital, como a Quorra (Olivia Wilde), que vem para o mundo real junto com Sam no final do segundo filme. O Edward Dillinger (Cillian Murphy) que Tron: O Legado introduzia como o herdeiro do Ed Dillinger do original e possível rival para Kevin e Sam nem é citado no novo filme, com a família Dillinger sendo representada aqui por Julian e pela mãe Elisabeth Dillinger (Gillian Anderson).

Assim, tudo fica em um estranho meio do caminho no qual o filme quer referenciar um monte de coisas que vieram antes, mas, ao mesmo tempo, ignora muito da continuidade estabelecida para introduzir novos elementos e personagens. Como resultado disso, é uma trama que não tem muito que atrair quem gostava dos anteriores e também não é independente o suficiente para servir como ponto de partida para atrair novatos. É um filme que parece não ter sido feito para nenhum público específico.

Isso seria um problema menor se ao menos a trama e os personagens presentes fossem interessantes, mas são igualmente inconsistentes. Todo o arco do despertar de consciência de Ares soa apressado demais e prejudicado por um texto que não sabe o que quer do protagonista, com Ares sendo extremamente ingênuo e inocente em alguns momentos e em outros agindo como um profundo conhecedor da natureza humana. Não ajuda que a performance de Jared Leto seja tão desprovida de carisma, falhando em nos dar qualquer coisa para aderir ao herói. Greta Lee se sai um pouco melhor ao evocar a obstinação de Eve e a dor que ela sente pela perda da irmã, no entanto é limitada por um material que não a dá muito com o que trabalhar.

Evan Peters, em geral competente em fazer sujeitinhos bizarros, faz de Julian uma caricatura sem graça. Seu gênio tecnológico motivado por insegurança e ressentimento soa como um Lex Luthor fuleiro, principalmente em um ano que Nicholas Hoult foi tão bom como o antagonista do Superman. Athena (Jodie Turner-Smith, de Queen & Slim), outro programa de segurança que Julian coloca no encalço de Eve e Ares, se sai melhor como vilã por conta de sua presença implacável e conduta fria.

Futurismo estagnado

Uma das coisas que sempre fez o universo Tron se destacar era a direção de arte e o estilo visual. Por mais que os efeitos do filme original tenham envelhecido mal, ele ainda tem uma identidade visual com muita personalidade e que o diferencia de outras produções do período. Sob a direção de Joseph Kosinski (de Top Gun: Maverick e F1: O Filme) Tron: O Legado conseguiu atualizar os conceitos do original, com um estilo visual mais arrojado tomado por neon e superfícies angulosas substituindo os visuais mais quadrados do primeiro filme e uma trilha musical assinada pelo Daft Punk que contribuía para a atmosfera de uma aventura eletrônica e furiosa.

O novo filme, por sua vez, falha em mais uma vez atualizar a visualidade desse universo para refletir o nosso zeitgeist tecnológico, afinal muito mudou nos últimos quinze anos. Aqui, o diretor Joachim Ronning, responsável por produções mornas como Piratas do Caribe: A Vingança de Salazar (2017) e Malévola: Dona do Mal (2019), se limita a reproduzir muito da estética estabelecida no filme anterior. Há alguma novidade ao ver os veículos e armas do mundo digital interagindo no mundo real, em especial nas cenas que mostram veículos como as famosas motos de luz seriam extremamente destrutivos em nosso mundo. Por mais que sejam interessantes, essas sequências de ação não são o suficiente para sustentar o filme. A trilha musical composta pelo Nine Inch Nails talvez seja o elemento mais marcante da produção, com várias faixas permanecendo na minha memória mesmo dias depois de ter assistido o filme.

É uma pena. Queria muito que essa nova incursão ao universo digital de Tron finalmente encontrasse o sucesso que esses filmes mereciam, mas o resultado de Tron: Ares é o mais fraco até aqui, entregando uma narrativa inconsistente e uma construção visual que falha em encantar.

 

Nota: 4/10


Trailer

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