quarta-feira, 10 de dezembro de 2025

Crítica – Bugonia

 

Análise Crítica – Bugonia

Review – Bugonia
Novo filme do diretor grego Yorgos Lanthimos, Bugonia declara já em seu título sua temática de morte e renovação da vida. O termo bugonia viria de uma expressão grega que postulava que abelhas e outros insetos nasciam das carcaças de boi. Essas ideias, no entanto, permanecem subjacentes ao longo de boa parte do filme, que parece priorizar outros temas.

Teoria da conspiração

A narrativa gira em torno de Michelle (Emma Stone), presidente de uma grande empresa que é sequestrada por Teddy (Jesse Plemons). Ele acredita que a executiva é na verdade uma alienígena que está na Terra para matar as abelhas e destruir nosso ecossistema, com uma ação grande planejada para um eclipse que acontecerá em poucos dias. Teddy e o primo, Don (Aidan Delbis) matem Michelle no porão e tentam forçá-la a admitir o plano dos alienígenas.

A narrativa constrói tensão a partir do posicionamento radical de Teddy em oposição ao modo como Michelle parece incrédula ao saber o motivo de seu sequestro e incapaz de atender às expectativas do sequestrador, já que clama não ser uma alienígena. Teddy vai se frustrando com a negativa de sua presa, recorrendo a expedientes cada vez mais cruéis para tentar extrair uma confissão dela.

A conduta extrema de Teddy dialoga como o modo que pessoas são radicalizadas por teorias da conspiração online e transformam a personalidade por conta disso, vivendo em uma realidade paralela da qual é difícil convencer a pessoa a sair. Conforme descobrimos que muitos dos problemas pessoais e financeiros de Teddy são consequência de ações da empresa de Michelle, se fortalece a ideia de que Teddy é um sujeito frustrado cujas dores foram apropriadas por comunidades online que radicalizam pessoas ao criarem um espantalho a ser combatido ao invés de buscarem compreender as razões reais para os problemas políticos ou econômicos. A impressão é que a narrativa vai discutir as consequências dessa radicalização e as consequências trágicas que uma pessoa radicalizada pode produzir.

Por mais que haja tensão, há também ironia e absurdo no modo como toda a situação se desenvolve, algo típico dos filmes de Lanthimos. Teddy parece ser tão radicalizado que em dado momento identifica em Michelle sinais de que ela seria parte de uma realeza alienígena e passa a tratá-la com grande deferência, mudando completamente da conduta agressiva de antes. Nesses momentos, Teddy mostra uma faceta mais ingênua, como se ele fosse só um coitado que acreditou em uma resposta fácil para seus problemas, isso acontece também na cena em que Michelle convence Teddy a injetar anticongelante na própria mãe.

Morte e renovação

É só nos minutos finais que o filme retoma os temas de morte como um meio de garantir a continuidade da vida. A reviravolta final envolvendo Michelle nos faz repensar tudo que vimos até aqui e embora o filme tenha plantado pistas de que algo assim poderia acontecer, o trabalho de Emma Stone carece de ambiguidade suficiente para sustentar essa guinada. Durante todo o sequestro Michelle se comporta como se tudo aquilo fosse novo para ela e mesmo nos momentos em que ela age como se fosse uma alienígena soa mais como se a executiva estivesse embarcando na farsa criada por Teddy numa tentativa de manipulá-lo do que revelando alguma faceta oculta.

A guinada final soa mais como algo feito para chocar e para Lanthimos mostrar sua verve excêntrica e iconoclasta do que para amarrar com consistência as ideias do filme até então. Sim o desfecho até fala sobre como a sobrevivência de uma espécie se dá pelo extermínio de outra, mas esse final não parece devidamente construído ao longo do filme. O diretor desenvolveu melhor essas ideias no excelente O Sacrifício do Cervo Sagrado (2017) e aqui ele repete esses temas sem a mesma competência. Sem mencionar que no ambiente cultural e político encerrar de uma maneira que praticamente valida a conduta de conspiracionistas malucos soa como algo desconectado de como isso traz muitos impactos reais e problemáticos para o nosso mundo.

É uma pena, já que durante boa parte de sua duração Bugonia transita bem entre a tensão e o absurdo, principalmente por conta do trabalho de Jesse Plemons, mas degringola no final.

 

Nota: 6/10


Trailer

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