Certos personagens tem uma
sinergia grande com as pessoas que as interpretam. Esse é o caso de Shelly,
protagonista de A Última Showgirl interpretada
por Pamela Anderson. É inevitável não pensar que a diretora Gia Coppola (neta
de Francis Ford Coppola) não levou em conta a trajetória profissional de
Anderson na hora de escalá-la como Shelly considerando as similaridades entre
as duas.
Show contínuo
Shelly (Pamela Anderson) trabalha
como dançarina no mesmo show burlesco em Las Vegas desde os anos 80. O show já
passou a muito de seu auge, atraindo cada vez menos público e tendo dançarinas
cada vez mais jovens e inexperientes. Shelly se tornou uma espécie de figura
materna para essas dançarinas mais jovens como Mary Anne (Brenda Song) e Jodie
(Kiernan Shipka, de O Mundo Sombrio de Sabrina). O mundo de Shelly, no entanto, sofre um revés quando Eddie (Dave
Bautista), o gestor do show, avisa que o espetáculo irá encerrar em duas
semanas. Shelly agora contempla o que o futuro lhe reserva depois de três
décadas construindo sua identidade ao redor de ser uma showgirl.
Quando o diretor Spike Lee
anunciou que seu próximo projeto, este Luta
de Classes, seria um remake de Céu e
Inferno (1963), de Akira Kurosowa, fiquei temeroso. A última vez que Lee
fez uma nova versão de um filme asiático o resultado foi um dos piores (talvez
o pior) filmes de sua carreira no péssimo Oldboy:
Dias de Vingança (2013), remake do sul-coreano Oldboy (2003). Felizmente Luta
de Classes é, ao menos, um suspense competente, embora se perca um pouco no
que quer dizer.
Dias de luta
A narrativa é protagonizada por
David King (Denzel Washington), um magnata da música que está tentando tomar o
pleno controle de sua gravadora para impedi-la de ser vendida para um grande
conglomerado. As coisas se complicam quando o filho de seu motorista é
sequestrado por engano, com os sequestradores acreditando que levaram o filho
do próprio King. Agora ele é colocado em uma encruzilhada moral entre usar o dinheiro
para salvar seu império ou para pagar o resgate do filho do amigo, Paul
(Jeffrey Wright).
Não acompanho automobilismo,
então uma produção como F1: O Filme não
é algo que imediatamente desperta meu interesse. Fui assistir sem esperar muita
coisa e me surpreendi com o quanto ele executa bem sua narrativa ainda que seja
bastante previsível e faça pouco para de distanciar de elementos familiares
desse tipo de história.
Correr para viver
A trama é focada em Sonny (Brad
Pitt), um piloto cujo auge já passou há décadas. Ele teve sua chance na Fórmula
1, mas perdeu tudo depois de um acidente. Agora ele vaga pelos Estados Unidos
atrás de corridas que o desafiem para reencontrar seu amor pelo esporte. Uma
oportunidade de retornar à F1 chega quando Ruben (Javier Bardem), que foi
piloto na mesma época de Sonny, o chama para correr pela equipe que agora é
dono. Ruben está endividado e em três anos sua equipe não marcou um ponto
sequer, o que significa que seu conselho diretor pode forçá-lo a vender a
equipe. Ele pede Sonny ajuda para manter a equipe de pé e ser mentor de seu
jovem piloto, Joshua (Damson Idris). Por consideração a Ruben, Sonny aceita o
desafio.
O escritor Stephen King e o
diretor Mike Flanagan são nomes que normalmente associamos com o terror. Flanagan
é responsável por séries como A Queda da Casa de Usher(2023), A Maldição da
Residência Hill (2018) e filmes como Doutor Sono(2019) e Jogo Perigoso(2017),
esses dois últimos também adaptações de Stephen King. Agora o diretor decide
adaptar um texto de Stephen King que não se encaixa no horror neste A Vida de Chuck, uma guinada que me
deixou curioso.
Por uma vida menos ordinária
A trama é focada em Chuck (Tom
Hiddleston), um homem de 39 anos que trabalha como contador. Quando anúncios
começam a aparecer por toda a cidade celebrando esse sujeito aparentemente
banal que ninguém conhece, todos ficam intrigados para saber o motivo de tanta
publicidade, principalmente em um mundo que parece estar à beira do colapso.
Aos poucos, vamos descobrindo a verdade por trás desses anúncios e aprendendo
sobre a vida de Chuck.
Dirigido por Jordan Scott, filha
de Ridley Scott, e adaptando um romance Nicholas Hogg A Seita tenta falar sobre a natureza das seitas e como elas
mobilizam o impulso humano por sociabilidade. Estruturado como um misto de
drama e suspense, a produção tem grandes pretensões, mas não alcança nenhuma
delas.
Culto perigoso
A narrativa gira em torno de Ben
(Eric Bana), um psicólogo social que foi morar na Alemanha depois do divórcio.
Reconhecido em sua área e professor universitário, Ben é chamado para auxiliar
a polícia em um caso de suicídio coletivo que parece resultado de algum culto
apolíptico. No curso da investigação ele se aproxima da policial Nina (Silvia
Hoeks). Ao mesmo tempo, a filha de Ben, Mazzie (Sadie Sink, de Stranger Things), chega a contragosto na
Alemanha para morar com o pai. Ela fica amiga de Martin (Jonas Dassler), mas
logo o espectador percebe que o rapaz está tentando aliciá-la para a mesma
seita que Ben investiga.
O título nacional de Motorista de Fuga vende a ideia de que
este será um filme de perseguições, alta velocidade, adrenalina e a produção
nunca entrega isso. Em parte por quase não ter perseguições, embora o principal
problema é que a produção não sabe exatamente o que quer ser.
Fuga sobre rodas
A narrativa é centrada em Edie
(Samara Weaving), uma mulher que na juventude foi motorista de fuga para
criminosos e agora tenta levar uma vida legítima. Ela acaba sendo puxada de
volta para o crime por conta do ex-namorado, John (Karl Glusman), que está
devendo a pessoas erradas, principalmente a Nico (Andy Garcia), com quem Edie
trabalhou no passado. Para ajudar John, Edie se envolve em um esquema para
roubar milhões de um cassino.
Envelhecer ainda é tratado como
algo inerentemente negativo. Muitas vezes tratamos pessoas idosas como um peso,
como pessoas que existem para dar trabalho aos demais. Principalmente em um
contexto no qual trabalhamos cada vez mais horas em temos menos tempo para
quaisquer outros afazeres. Dirigido por Gabriel Mascaro, O Último Azul pensa o que pode acontecer numa sociedade que leva ao
extremo essas visões sobre idosos.
Futuro imperfeito
Num futuro próximo o Brasil
embarcou em um regime totalitário no qual o foco é o trabalho e a
produtividade. Quando as pessoas chegam a uma certa idade são exiladas em uma
colônia de idosos supostamente para viver seus últimos dias em paz, evitando
causar problemas ou dar trabalho aos filhos, que ficam livres para trabalhar
sem preocupações. Tereza (Denise Weinberg) tem 77 anos, vive numa região remota
do Amazonas e está a poucos anos de ser mandada para a colônia. O processo, no
entanto, é acelerado quando uma nova lei baixa a idade para 75 anos, com ela
sendo imediatamente colocada sob tutela da filha, perdendo toda a autonomia, e
tendo sua viagem para a colônia agendada. Tereza, no entanto, ainda tem coisas
que quer fazer, especialmente viajar de avião. Como ela não consegue comprar
uma passagem comercial sem o consentimento da filha, ela decide pagar o
barqueiro Cadu (Rodrigo Santoro) para levá-la até uma cidade na qual poderá
fazer um voo de ultraleve. Ao longo da viagem irá descobrir mais sobre si do
que esperava.
Estrelada por Vanessa Kirby, a
produção da Netflix A Noite Sempre Chega
tenta funcionar simultaneamente como thriller,
além como um drama social e um estudo de personagem. O filme nem sempre
consegue equilibrar suas várias ideias, no entanto, alguns elementos bem
executados fazem a experiência valer à pena.
Noite afora
A trama é centrada em Lynette
(Vanessa Kirby), que vive junto com a mãe, Doreen (Jennifer Jason Leigh), e o
irmão mais velho, Kenny (Zack Gottsagen), que tem Síndrome de Down. Lynette se
equilibra entre vários empregos e outros serviços para tentar equilibrar as contas.
Ela e a mãe estão prestes a conseguir um empréstimo para comprarem a casa onde
moram ou perderão o imóvel. No dia de assinarem o financiamento, no entanto, Doreen
não aparece e Lynette descobre que a mãe comprou um carro com o dinheiro que
tinham guardado para a entrada da casa. Sem poder dar a entrada e iniciar a compra,
Lynette tem até a manhã seguinte para levantar o valor ou perderá a chance de
comprar o imóvel, iniciando uma corrida desesperada através da noite.
Lançada em 1988 a produção do
Estúdio Ghibli Túmulo dos Vagalumes é
um exame duro das consequências da Segunda Guerra Mundial sobre a população
japonesa, especialmente nos últimos momentos do conflito quando o país já
estava praticamente derrotado e bombardeios continuavam a afligir a população
civil do Japão. É um ótimo exemplo de como a animação pode ser usada para
tratar de temas maduros baseados na realidade sem tirar o impacto deles.
Órfãos de guerra
A narrativa é focada no jovem
Seita e na sua irmãzinha Setsuko. Quando a vila deles é bombardeada, os irmãos
perdem a casa e a mãe, sendo deslocados para morar com uma tia. A tia não está
interessada em cuidar deles e os vê como um estorvo, fazendo Seita e a irmã
quererem ir para outro lugar. Eles acabam indo morar em uma caverna abandonada,
com Seita vendendo as coisas da mãe para tentar custear a alimentação deles,
mas isso logo se mostra insuficiente.
Relacionamentos amorosos são
muitas vezes pensados a partir da ideia de encontrarmos alguém que nos
completa. Alguém que nos entende, com quem podemos contar, alguém para
partilhar nossos sentimentos. No entanto, estar em um relacionamento também
significa abrir mão de várias coisas, permitir que o outro ocupe espaço em sua
vida, levar o outro em consideração e não apenas a si mesmo. É quase como um
processo de simbiose no qual duas pessoas passam a existir não apenas como
indivíduos, mas como coletivo. Essa ideia de junção é levada às últimas
consequências do horror corporal por Juntos.
Até que todos se tornem um
O relacionamento entre Tim (Dave
Franco) e Millie (Alison Brie) está esfriando. Tim percebe que sua carreira
musical não vai a lugar algum e agora que Millie conseguiu um emprego de
professora em uma pequena cidade isso talvez signifique aceitar que ele de fato
não tem futuro na música. Há uma relação de co-dependência entre eles, mas
ambos começam a ressentir um ao outro. Chegando na nova cidade, eles decidem
explorar uma trilha na floresta, mas a chuva os derruba em uma estranha caverna
com um sino na entrada, entalhes esquisitos nas paredes e uma nascente de água.
Sem conseguir sair, eles passam a noite no local e bebem da água. No dia
seguinte começam a perceber estranhos fenômenos no qual compartilham sensações
e seus corpos começam a grudar um no outro.
Lançado em 1995 e dirigido por
Carla Camurati, Carlota Joaquina:
Princesa do Brazil foi um marco do cinema brasileiro, iniciando o período
da chamada “retomada”. Depois de anos estagnada por conta de ações do governo
Collor, o sucesso do filme de Camurati sinaliza a força da produção nacional e
um novo ciclo produtivo do nosso cinema. Comemorando 30 anos de seu lançamento
em 2025, o filme retorna aos cinemas em uma versão restaurada em 4K, como
também aconteceu neste ano com Iracema: Uma Transa Amazônica(1975).
História revisitada
O longa acompanha a trajetória de
Carlota Joaquina (Ludmila Dayer/Marieta Severo), desde sua infância como
princesa na Espanha quando é levada ainda criança para Portugal, forçada a
casar com a realeza portuguesa, até sua idade adulta quando vem ao Brasil
acompanhando o marido, Dom João VI (Marco Nanini), quando a corte de Portugal
foge da Europa para não se envolver nas Guerras Napoleônicas.
Entre os vários gêneros que o
cinema brasileiro tem explorado com regularidade nos últimos anos, o thriller é um dos que menos aparece na
nossa cinematografia. Dirigido por Fernando Coimbra (responsável pelo excelente
O Lobo Atrás da Porta) este Os Enforcados tenta construir uma trama
de suspense a partir do universo da contravenção do jogo do bicho.
Profissão de risco
Regina (Leandra Leal) está no
meio da reforma da mansão na qual vive com o marido, Valério (Irandhir Santos),
os gastos estão altos e Valério lhe informa que precisarão diminuir custos pois
seus negócios não estão indo bem. Valério trabalha com o tio (Stepan
Nercessian) na exploração de caça-níqueis e jogo do bicho, sendo responsável
por lavar o dinheiro da contravenção do tio. Regina tenta estimular o marido a
tomar o controle dos negócios, já que o tio teria assassinado o pai de Valério
para chegar ao topo dos negócios. A oportunidade vem quando o tio pede para se
esconder na casa deles antes de fugir do país por conta de algum esquema que
deu errado. Tomar o controle, no entanto, é apenas o início dos problemas do
casal, já que o tio deixou muitas dívidas com outros figurões do crime.
A produção britânica Os Radley tenta fazer algo diferente com
histórias de vampiros ao contar a história de uma família vampírica que tenta
viver uma vida normal em sua vizinhança pacata, abdicando do consumo de sangue.
Os problemas que se impõem a eles no cotidiano, no entanto, ampliam a vontade
de morder pessoas.
Fome de viver
Os jovens Rowan (Harry Baxendale)
e Clara (Bo Bragason) Radley são adolescentes aparentemente comuns, embora se
sintam diferentes e deslocados dos demais. A confirmação de que eles são de
fato diferentes vem quando Clara reage a um colega de escola que tenta abusar
dela, criando presas e mordendo seu pescoço para devorar seu sangue. É então
que seus pais Peter (Damian Lewis) e Helen (Kelly Macdonald) revelam a verdade:
eles são vampiros, mas optaram por uma vida abstêmia por não quererem ter que
matar pessoas. Para lidar com o cadáver do colega morto, Helen chama o cunhado
Will (também Damian Lewis), que ao contrário deles não tem qualquer questão
moral em devorar sangue.
Em Amores Materialistas a diretora Celine Song tenta expandir algumas
ideias sobre relacionamentos amorosos que trabalhou no excelente Vidas Passadas (2023). Lá ela
desconstruía a ideia de que existe uma alma gêmea para cada pessoa, pensando
que essa noção de pessoa ideal tem muito a ver com oportunidade e conveniência.
Aqui em Amores Materialistas ela
pondera sobre a natureza transacional dos relacionamentos.
Material girl
A narrativa gira em torno de Lucy
(Dakota Jonhson), que trabalha numa agência de relacionamentos voltada para
clientes de alta classe. Seu trabalho consiste em encontrar os pares ideais
para seus clientes, homens e mulheres, que buscam alguém para casar. Em seu cotidiano
ela pesa preferências de cada um, nível de renda e o que cada cliente exige de
um par ideal. É um trabalho que pensa em relacionamentos quase como produtos,
nos quais alguém busca um objeto com certas características e ela procura outra
pessoa que se encaixe nas exigências e que cumpra as da outra pessoa. No
casamento de uma cliente, Lucy conhece Harry (Pedro Pascal), um rico e charmoso
investidor que reúne a beleza e dinheiro que ela espera de um par. Lucy também se
reencontra com seu ex, John (Chris Evans), um ator de teatro cuja carreira
nunca decolou e ainda vive de pequenos bicos mesmo próximo dos quarenta anos de
idade. Apesar de não ter nada de material a oferecer, Lucy tem uma forte
conexão afetiva com John e constantemente desabafa com ele.
A primeira cena do filme, com um
homem das cavernas se aproximando de uma mulher levando flores e ferramentas
feitas de osso e ela cede aos avanços do homem. É uma cena que ilustra como
relacionamentos podem se construir a partir do interesse no que a outra pessoa
tem a lhe oferecer, seja conforto material, status social que vem de riqueza ou
aparência física, seja do prazer sexual que a outra pessoa lhe dá. Casamentos,
afinal, são contratos e como qualquer contrato depende do interesse de ambas as
partes. Esse componente materialista e até mesmo primitivo dos relacionamentos
se verifica no presente nas reuniões que Lucy tem com os clientes nas quais
homens e mulheres elencam o que buscam no parceiro, desde faixa de renda,
passando por idade, altura ou medidas do corpo. Lucy encara tudo com um
pragmatismo extremo, indagando aos clientes que elementos eles estariam
dispostos a abrir mão na busca por um par e quais não são negociáveis, partindo
da ideia de que nos relacionamos com alguém na medida em que percebemos que a
outra pessoa nos agrega valor, mesmo que seja um valor sentimental, intangível.
Assim, ela é colocada em um
triângulo amoroso no qual suas convicções serão testadas. De um lado Harry é
tudo que sua mente materialista sempre desejou, ele atende a todos os seus
critérios e ela os dele, já que ele é tão pragmático em sua visão de
relacionamentos quanto ela. Por outro lado, John é alguém que está sempre
presente, alguém que ela sabe que pode depender para suporte emocional e que
consegue saber que Lucy não está bem pelas mínimas nuances de voz ou rosto.
Johnson, Pascal e Evans formam um trio charmoso, com Evans e Pascal dotando
seus personagens de uma medida de vulnerabilidade emocional que ajuda a dar aos
dois personagens mais camadas. A dinâmica que o trio de atores estabelece entre
si torna crível o dilema da protagonista mesmo quando o texto deixa pistas
muito explícitas a respeito de quem ela irá escolher.
Relações abusivas
O principal problema do filme nem
é a previsibilidade do triângulo amoroso, já que Evans e Pascal são
pretendentes atraentes e carismáticos o bastante para manter nosso interesse,
mas a maneira desajeitada com a qual a narrativa insere uma subtrama de abuso
sexual envolvendo Sophie (Zoe Winters), uma das clientes de Lucy. A primeira
coisa que chama atenção é o modo pouco crível pelo qual a situação é
construída. Lógico, Lucy ou qualquer pessoa da empresa não tem como ter certeza
total que os homens que participam do serviço não são agressores em potencial,
mas considerando que é um serviço para pessoas de alta classe e os tempos em
que estamos vivendo é difícil crer que a empresa de Lucy não possua qualquer
protocolo para lidar com isso, como um botão de pânico ou um serviço de
emergência.
Também incomoda que toda a trama
de Sophie não discuta o abuso, a falta de punição para os homens que cometem
isso ou outras variáveis sociais da questão. O abuso de sofrido pela personagem
existe apenas para avançar a história de Lucy, já que a violência que Sophie
passa e o confronto entre ela e Lucy lembram a protagonista dos perigos de
tratar pessoas como objetos. O abuso de Sophie é um mero motivador para Lucy
repensar suas convicções e as escolhas que faz em relação a John e Harry,
lembrando que por mais transacional que um relacionamento seja, é difícil
funcionar ou durar sem alguma medida de afeto.
O clímax é igualmente pouco
crível, já que é difícil de acreditar que Sophie não tinham mais ninguém para
ligar além de Lucy, mesmo tendo aberto um processo contra a empresa dela. Sim,
ela pode ser uma pessoa tão focada na carreira que não tem amigas, mas se ela é
essa figura bem sucedida ela provavelmente teria uma colega de trabalho, uma
secretária, uma estagiária, alguém que pudesse chamar. Do jeito que está tudo
soa forçado para fazer a redenção de Lucy, mesmo que o texto não a tenha feito
merecer essa redenção.
Assim, a diretora Celine Song
continua a trazer reflexões instigantes sobre a natureza dos relacionamentos,
pensando em sua dimensão de transação a partir de um romance que se sustenta
pelo charme de seu trio principal, já que a trama tropeça em algumas escolhas
problemáticas.
No papel The Alto Knights: Máfia e Poder soa como um filme promissor. A
história real de uma rivalidade entre dois grandes mafiosos estrelada por
Robert De Niro e dirigida pelo renomado Barry Levinson parece um filme com
tudo para dar certo. Infelizmente, no entanto, o que parece se conduzir como se
fosse um novo Os Bons Companheiros
(1990)termina mais próximo de um
desastre como Gotti: O Chefe da Máfia(2018).
Dupla explosiva
A narrativa se baseia na história
real da rivalidade entre Frank Costello (Robert De Niro) e Vito Genovese
(também Robert De Niro), dois imigrantes italianos que trabalharam juntos em
organizações mafiosas nos Estados Unidos da metade século XX e se tornaram
rivais disputando pelo controle. Suas personalidades são opostas, com Costello
sendo um sujeito mais suave, mais político, enquanto Vito é cabeça quente,
irascível e propenso a resolver tudo na base da violência. Quando um atentado à
vida de Frank fracassa, ele resolve se aposentar do comando da organização
passando tudo para Vito, mas a ambição e paranoia de Vito colocam tudo em
risco.
Realizado por Orlando
Senna e Jorge Bodanzky e lançado em 1975 Iracema: Uma
Transa Amazônica chegou a ser proibido pela ditadura militar por muitos
anos e só foi lançado no Brasil em 1981. Hoje o filme recebe uma restauração em
4K para voltar aos cinemas e revisitá-lo agora traz a constatação melancólica
de que muito pouco mudou no país entre os cinquenta anos que separam
sua produção do seu retorno às salas de cinema.
Mitos desconstruídos
A narrativa acompanha o
caminhoneiro Tião Brasil Grande (Paulo César Peréio) que vai para o norte do
Brasil por conta da promessa de progresso e riqueza que a rodovia
Transamazônica (oficialmente a BR-230) supostamente traria. Chegando lá ele
conhece Iracema (Edna de Cássia), uma adolescente indígena que sobrevive de
prostituição, e a leva consigo em suas viagens pelo norte. É um filme que
mistura atores e cenas encenadas com personagens reais, colocando Peréio para
interagir com pessoas da região enquanto dialoga sobre o suposto progresso que
o governo militar diz estar acontecendo por conta da obra da rodovia.
Sendo um dos programas de
televisão mais longevos dos Estados Unidos, tendo completado 50 anos neste ano,
Saturday Night Live faz parte da
história da comédia e do entretenimento no país. Dirigido por Jason Reitman, Saturday Night: A Noite que Mudou a Comédia
tenta honrar o legado do programa ao narrar a origem do programa e como ele
marcou por fazer algo muito diferente da comédia televisiva de então.
Embalos de sábado à noite
A narrativa é centrada no
produtor Lorne Michaels (Gabriel LaBelle, de Os Fabelmans) e sua esposa Rosie Shuster (Rachel Sennott) horas
antes do primeiro Saturday Night ir
ao ar ao vivo. Lorne corre contra o tempo para ajeitar os últimos detalhes,
conciliar os egos dos membros dos elencos e roteiristas conforme lida com os
executivos da emissora e uma desconfiança de que esse programa enorme, ao vivo,
feito por comediantes desconhecidos, pode ser um grande fracasso.
De certa forma Tempo de Guerra passa por questões
similares a Falcão Negro em Perigo (2001).
Ambas são produções tecnicamente bem feitas nas suas reconstruções de situações
de guerra, mas que é míope demais no contexto ao redor desse conflito para que
seu efeito seja qualquer outra coisa que não uma celebração maniqueísta da
resiliência das tropas retratadas.
Guerra interior
A trama conta a história real de
uma tropa de fuzileiros durante a Guerra do Iraque que ficou acuada em dentro
de uma casa enquanto tentavam dar suporte a outra unidade. Sem ter como sair e
com soldados feridos, eles tentam resistir aos ataques externos enquanto buscam
um modo de cuidar dos feridos e evacuar em segurança. A narrativa se passa em
tempo real, acompanhando a situação conforme ela se desenrola e busca um
registro mais realista de uma operação de guerra.
Desde o início dos anos 2000 as
cinebiografias musicais se tornaram um filão comercial no cinema brasileiro. Nem
todas estão no mesmo nível de qualidade, com algumas, como Tim Maia (2014), se destacando enquanto outras, como a biografia
dos Mamonas Assassinas, ficando aquém de seus biografados. Homem Com H, por sua vez, é uma das melhores produções dos últimos
anos ao acompanhar a trajetória de Ney Matogrosso.
Sangue Latino
A narrativa acompanha Ney
(Jesuíta Barbosa) desde sua juventude até cerca dos anos 90 quando ele perde
seu companheiro, Marco (Bruno Montaleone), por complicações relativas à AIDS.
Ao longo de sua vida, vemos Ney Matogrosso lidou com o preconceito desde cedo
por conta de seu pai (Rômulo Braga), militar severo que batia no filho por
conta do comportamento afeminado, além de desafiar a ditadura militar com seus
figurinos e performances musicais.
Existem dois filmes dentro de Echo Valley e, infelizmente, a produção
escolhe por priorizar o menos interessante deles. Apesar de um começo promissor
e de um elenco competente, a produção acaba degringolando em um suspense B que sequer
consegue executar bem suas principais reviravoltas.
Querida menina
Depois de uma perda pessoal
severa, Kate (Julianne Moore) passa a viver reclusa em sua fazenda de cavalos.
O cotidiano solitário dela é interrompido pelo retorno Claire (Sydney Sweeney),
sua filha viciada em drogas. De início parece que Claire está disposta a se
reestruturar, mas logo fica evidente que ela está ali só para conseguir
dinheiro e outros recursos antes de voltar para as ruas. Kate tenta ajudá-la,
mas logo se vê enredada nos crimes da filha.