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segunda-feira, 15 de setembro de 2025

Crítica – A Última Showgirl

 

Análise Crítica – A Última Showgirl

Review – A Última Showgirl
Certos personagens tem uma sinergia grande com as pessoas que as interpretam. Esse é o caso de Shelly, protagonista de A Última Showgirl interpretada por Pamela Anderson. É inevitável não pensar que a diretora Gia Coppola (neta de Francis Ford Coppola) não levou em conta a trajetória profissional de Anderson na hora de escalá-la como Shelly considerando as similaridades entre as duas.

Show contínuo

Shelly (Pamela Anderson) trabalha como dançarina no mesmo show burlesco em Las Vegas desde os anos 80. O show já passou a muito de seu auge, atraindo cada vez menos público e tendo dançarinas cada vez mais jovens e inexperientes. Shelly se tornou uma espécie de figura materna para essas dançarinas mais jovens como Mary Anne (Brenda Song) e Jodie (Kiernan Shipka, de O Mundo Sombrio de Sabrina). O mundo de Shelly, no entanto, sofre um revés quando Eddie (Dave Bautista), o gestor do show, avisa que o espetáculo irá encerrar em duas semanas. Shelly agora contempla o que o futuro lhe reserva depois de três décadas construindo sua identidade ao redor de ser uma showgirl.

quarta-feira, 10 de setembro de 2025

Crítica – Luta de Classes

 

Análise Crítica – Luta de Classes

Review – Luta de Classes
Quando o diretor Spike Lee anunciou que seu próximo projeto, este Luta de Classes, seria um remake de Céu e Inferno (1963), de Akira Kurosowa, fiquei temeroso. A última vez que Lee fez uma nova versão de um filme asiático o resultado foi um dos piores (talvez o pior) filmes de sua carreira no péssimo Oldboy: Dias de Vingança (2013), remake do sul-coreano Oldboy (2003). Felizmente Luta de Classes é, ao menos, um suspense competente, embora se perca um pouco no que quer dizer.

Dias de luta

A narrativa é protagonizada por David King (Denzel Washington), um magnata da música que está tentando tomar o pleno controle de sua gravadora para impedi-la de ser vendida para um grande conglomerado. As coisas se complicam quando o filho de seu motorista é sequestrado por engano, com os sequestradores acreditando que levaram o filho do próprio King. Agora ele é colocado em uma encruzilhada moral entre usar o dinheiro para salvar seu império ou para pagar o resgate do filho do amigo, Paul (Jeffrey Wright).

terça-feira, 9 de setembro de 2025

Crítica – F1: O Filme

 

Análise Crítica – F1: O Filme

Review – F1: O Filme
Não acompanho automobilismo, então uma produção como F1: O Filme não é algo que imediatamente desperta meu interesse. Fui assistir sem esperar muita coisa e me surpreendi com o quanto ele executa bem sua narrativa ainda que seja bastante previsível e faça pouco para de distanciar de elementos familiares desse tipo de história.

Correr para viver

A trama é focada em Sonny (Brad Pitt), um piloto cujo auge já passou há décadas. Ele teve sua chance na Fórmula 1, mas perdeu tudo depois de um acidente. Agora ele vaga pelos Estados Unidos atrás de corridas que o desafiem para reencontrar seu amor pelo esporte. Uma oportunidade de retornar à F1 chega quando Ruben (Javier Bardem), que foi piloto na mesma época de Sonny, o chama para correr pela equipe que agora é dono. Ruben está endividado e em três anos sua equipe não marcou um ponto sequer, o que significa que seu conselho diretor pode forçá-lo a vender a equipe. Ele pede Sonny ajuda para manter a equipe de pé e ser mentor de seu jovem piloto, Joshua (Damson Idris). Por consideração a Ruben, Sonny aceita o desafio.

segunda-feira, 1 de setembro de 2025

Crítica – A Vida de Chuck

 

Análise Crítica – A Vida de Chuck

Review – A Vida de Chuck
O escritor Stephen King e o diretor Mike Flanagan são nomes que normalmente associamos com o terror. Flanagan é responsável por séries como A Queda da Casa de Usher (2023), A Maldição da Residência Hill (2018) e filmes como Doutor Sono (2019) e Jogo Perigoso (2017), esses dois últimos também adaptações de Stephen King. Agora o diretor decide adaptar um texto de Stephen King que não se encaixa no horror neste A Vida de Chuck, uma guinada que me deixou curioso.

Por uma vida menos ordinária

A trama é focada em Chuck (Tom Hiddleston), um homem de 39 anos que trabalha como contador. Quando anúncios começam a aparecer por toda a cidade celebrando esse sujeito aparentemente banal que ninguém conhece, todos ficam intrigados para saber o motivo de tanta publicidade, principalmente em um mundo que parece estar à beira do colapso. Aos poucos, vamos descobrindo a verdade por trás desses anúncios e aprendendo sobre a vida de Chuck.

quinta-feira, 28 de agosto de 2025

Crítica – A Seita

 

Análise Crítica – A Seita

Review – A Seita
Dirigido por Jordan Scott, filha de Ridley Scott, e adaptando um romance Nicholas Hogg A Seita tenta falar sobre a natureza das seitas e como elas mobilizam o impulso humano por sociabilidade. Estruturado como um misto de drama e suspense, a produção tem grandes pretensões, mas não alcança nenhuma delas.

Culto perigoso

A narrativa gira em torno de Ben (Eric Bana), um psicólogo social que foi morar na Alemanha depois do divórcio. Reconhecido em sua área e professor universitário, Ben é chamado para auxiliar a polícia em um caso de suicídio coletivo que parece resultado de algum culto apolíptico. No curso da investigação ele se aproxima da policial Nina (Silvia Hoeks). Ao mesmo tempo, a filha de Ben, Mazzie (Sadie Sink, de Stranger Things), chega a contragosto na Alemanha para morar com o pai. Ela fica amiga de Martin (Jonas Dassler), mas logo o espectador percebe que o rapaz está tentando aliciá-la para a mesma seita que Ben investiga.

terça-feira, 26 de agosto de 2025

Drops – Motorista de Fuga

 

Crítica – Motorista de Fuga

Review – Motorista de Fuga
O título nacional de Motorista de Fuga vende a ideia de que este será um filme de perseguições, alta velocidade, adrenalina e a produção nunca entrega isso. Em parte por quase não ter perseguições, embora o principal problema é que a produção não sabe exatamente o que quer ser.

Fuga sobre rodas

A narrativa é centrada em Edie (Samara Weaving), uma mulher que na juventude foi motorista de fuga para criminosos e agora tenta levar uma vida legítima. Ela acaba sendo puxada de volta para o crime por conta do ex-namorado, John (Karl Glusman), que está devendo a pessoas erradas, principalmente a Nico (Andy Garcia), com quem Edie trabalhou no passado. Para ajudar John, Edie se envolve em um esquema para roubar milhões de um cassino.

segunda-feira, 25 de agosto de 2025

Crítica – O Último Azul

 

Análise Crítica – O Último Azul

Review – O Último Azul
Envelhecer ainda é tratado como algo inerentemente negativo. Muitas vezes tratamos pessoas idosas como um peso, como pessoas que existem para dar trabalho aos demais. Principalmente em um contexto no qual trabalhamos cada vez mais horas em temos menos tempo para quaisquer outros afazeres. Dirigido por Gabriel Mascaro, O Último Azul pensa o que pode acontecer numa sociedade que leva ao extremo essas visões sobre idosos.

Futuro imperfeito

Num futuro próximo o Brasil embarcou em um regime totalitário no qual o foco é o trabalho e a produtividade. Quando as pessoas chegam a uma certa idade são exiladas em uma colônia de idosos supostamente para viver seus últimos dias em paz, evitando causar problemas ou dar trabalho aos filhos, que ficam livres para trabalhar sem preocupações. Tereza (Denise Weinberg) tem 77 anos, vive numa região remota do Amazonas e está a poucos anos de ser mandada para a colônia. O processo, no entanto, é acelerado quando uma nova lei baixa a idade para 75 anos, com ela sendo imediatamente colocada sob tutela da filha, perdendo toda a autonomia, e tendo sua viagem para a colônia agendada. Tereza, no entanto, ainda tem coisas que quer fazer, especialmente viajar de avião. Como ela não consegue comprar uma passagem comercial sem o consentimento da filha, ela decide pagar o barqueiro Cadu (Rodrigo Santoro) para levá-la até uma cidade na qual poderá fazer um voo de ultraleve. Ao longo da viagem irá descobrir mais sobre si do que esperava.

quinta-feira, 21 de agosto de 2025

Crítica – A Noite Sempre Chega

 

Análise Crítica – A Noite Sempre Chega

Review – A Noite Sempre Chega
Estrelada por Vanessa Kirby, a produção da Netflix A Noite Sempre Chega tenta funcionar simultaneamente como thriller, além como um drama social e um estudo de personagem. O filme nem sempre consegue equilibrar suas várias ideias, no entanto, alguns elementos bem executados fazem a experiência valer à pena.

Noite afora

A trama é centrada em Lynette (Vanessa Kirby), que vive junto com a mãe, Doreen (Jennifer Jason Leigh), e o irmão mais velho, Kenny (Zack Gottsagen), que tem Síndrome de Down. Lynette se equilibra entre vários empregos e outros serviços para tentar equilibrar as contas. Ela e a mãe estão prestes a conseguir um empréstimo para comprarem a casa onde moram ou perderão o imóvel. No dia de assinarem o financiamento, no entanto, Doreen não aparece e Lynette descobre que a mãe comprou um carro com o dinheiro que tinham guardado para a entrada da casa. Sem poder dar a entrada e iniciar a compra, Lynette tem até a manhã seguinte para levantar o valor ou perderá a chance de comprar o imóvel, iniciando uma corrida desesperada através da noite.

quarta-feira, 20 de agosto de 2025

Rapsódias Revisitadas – Túmulo dos Vagalumes

 

Análise – Túmulo dos Vagalumes

Review – Túmulo dos Vagalumes
Lançada em 1988 a produção do Estúdio Ghibli Túmulo dos Vagalumes é um exame duro das consequências da Segunda Guerra Mundial sobre a população japonesa, especialmente nos últimos momentos do conflito quando o país já estava praticamente derrotado e bombardeios continuavam a afligir a população civil do Japão. É um ótimo exemplo de como a animação pode ser usada para tratar de temas maduros baseados na realidade sem tirar o impacto deles.

Órfãos de guerra

A narrativa é focada no jovem Seita e na sua irmãzinha Setsuko. Quando a vila deles é bombardeada, os irmãos perdem a casa e a mãe, sendo deslocados para morar com uma tia. A tia não está interessada em cuidar deles e os vê como um estorvo, fazendo Seita e a irmã quererem ir para outro lugar. Eles acabam indo morar em uma caverna abandonada, com Seita vendendo as coisas da mãe para tentar custear a alimentação deles, mas isso logo se mostra insuficiente.

segunda-feira, 18 de agosto de 2025

Crítica – Juntos

 

Análise Crítica – Juntos

Review – Juntos
Relacionamentos amorosos são muitas vezes pensados a partir da ideia de encontrarmos alguém que nos completa. Alguém que nos entende, com quem podemos contar, alguém para partilhar nossos sentimentos. No entanto, estar em um relacionamento também significa abrir mão de várias coisas, permitir que o outro ocupe espaço em sua vida, levar o outro em consideração e não apenas a si mesmo. É quase como um processo de simbiose no qual duas pessoas passam a existir não apenas como indivíduos, mas como coletivo. Essa ideia de junção é levada às últimas consequências do horror corporal por Juntos.

Até que todos se tornem um

O relacionamento entre Tim (Dave Franco) e Millie (Alison Brie) está esfriando. Tim percebe que sua carreira musical não vai a lugar algum e agora que Millie conseguiu um emprego de professora em uma pequena cidade isso talvez signifique aceitar que ele de fato não tem futuro na música. Há uma relação de co-dependência entre eles, mas ambos começam a ressentir um ao outro. Chegando na nova cidade, eles decidem explorar uma trilha na floresta, mas a chuva os derruba em uma estranha caverna com um sino na entrada, entalhes esquisitos nas paredes e uma nascente de água. Sem conseguir sair, eles passam a noite no local e bebem da água. No dia seguinte começam a perceber estranhos fenômenos no qual compartilham sensações e seus corpos começam a grudar um no outro.

quinta-feira, 14 de agosto de 2025

Crítica – Carlota Joaquina: Princesa do Brazil

 

Análise Crítica – Carlota Joaquina: Princesa do Brasil

Resenha Crítica – Carlota Joaquina: Princesa do Brasil
Lançado em 1995 e dirigido por Carla Camurati, Carlota Joaquina: Princesa do Brazil foi um marco do cinema brasileiro, iniciando o período da chamada “retomada”. Depois de anos estagnada por conta de ações do governo Collor, o sucesso do filme de Camurati sinaliza a força da produção nacional e um novo ciclo produtivo do nosso cinema. Comemorando 30 anos de seu lançamento em 2025, o filme retorna aos cinemas em uma versão restaurada em 4K, como também aconteceu neste ano com Iracema: Uma Transa Amazônica (1975).

História revisitada

O longa acompanha a trajetória de Carlota Joaquina (Ludmila Dayer/Marieta Severo), desde sua infância como princesa na Espanha quando é levada ainda criança para Portugal, forçada a casar com a realeza portuguesa, até sua idade adulta quando vem ao Brasil acompanhando o marido, Dom João VI (Marco Nanini), quando a corte de Portugal foge da Europa para não se envolver nas Guerras Napoleônicas.

segunda-feira, 11 de agosto de 2025

Crítica – Os Enforcados

 

Análise Crítica – Os Enforcados

Review – Os Enforcados
Entre os vários gêneros que o cinema brasileiro tem explorado com regularidade nos últimos anos, o thriller é um dos que menos aparece na nossa cinematografia. Dirigido por Fernando Coimbra (responsável pelo excelente O Lobo Atrás da Porta) este Os Enforcados tenta construir uma trama de suspense a partir do universo da contravenção do jogo do bicho.

Profissão de risco

Regina (Leandra Leal) está no meio da reforma da mansão na qual vive com o marido, Valério (Irandhir Santos), os gastos estão altos e Valério lhe informa que precisarão diminuir custos pois seus negócios não estão indo bem. Valério trabalha com o tio (Stepan Nercessian) na exploração de caça-níqueis e jogo do bicho, sendo responsável por lavar o dinheiro da contravenção do tio. Regina tenta estimular o marido a tomar o controle dos negócios, já que o tio teria assassinado o pai de Valério para chegar ao topo dos negócios. A oportunidade vem quando o tio pede para se esconder na casa deles antes de fugir do país por conta de algum esquema que deu errado. Tomar o controle, no entanto, é apenas o início dos problemas do casal, já que o tio deixou muitas dívidas com outros figurões do crime.

sexta-feira, 1 de agosto de 2025

Drops – Os Radley

 

Crítica – Os Radley

Review – Os Radley
A produção britânica Os Radley tenta fazer algo diferente com histórias de vampiros ao contar a história de uma família vampírica que tenta viver uma vida normal em sua vizinhança pacata, abdicando do consumo de sangue. Os problemas que se impõem a eles no cotidiano, no entanto, ampliam a vontade de morder pessoas.

Fome de viver

Os jovens Rowan (Harry Baxendale) e Clara (Bo Bragason) Radley são adolescentes aparentemente comuns, embora se sintam diferentes e deslocados dos demais. A confirmação de que eles são de fato diferentes vem quando Clara reage a um colega de escola que tenta abusar dela, criando presas e mordendo seu pescoço para devorar seu sangue. É então que seus pais Peter (Damian Lewis) e Helen (Kelly Macdonald) revelam a verdade: eles são vampiros, mas optaram por uma vida abstêmia por não quererem ter que matar pessoas. Para lidar com o cadáver do colega morto, Helen chama o cunhado Will (também Damian Lewis), que ao contrário deles não tem qualquer questão moral em devorar sangue.

segunda-feira, 28 de julho de 2025

Crítica – Amores Materialistas

 

Análise Crítica – Amores Materialistas

Review – Amores Materialistas
Em Amores Materialistas a diretora Celine Song tenta expandir algumas ideias sobre relacionamentos amorosos que trabalhou no excelente Vidas Passadas (2023). Lá ela desconstruía a ideia de que existe uma alma gêmea para cada pessoa, pensando que essa noção de pessoa ideal tem muito a ver com oportunidade e conveniência. Aqui em Amores Materialistas ela pondera sobre a natureza transacional dos relacionamentos.

Material girl

A narrativa gira em torno de Lucy (Dakota Jonhson), que trabalha numa agência de relacionamentos voltada para clientes de alta classe. Seu trabalho consiste em encontrar os pares ideais para seus clientes, homens e mulheres, que buscam alguém para casar. Em seu cotidiano ela pesa preferências de cada um, nível de renda e o que cada cliente exige de um par ideal. É um trabalho que pensa em relacionamentos quase como produtos, nos quais alguém busca um objeto com certas características e ela procura outra pessoa que se encaixe nas exigências e que cumpra as da outra pessoa. No casamento de uma cliente, Lucy conhece Harry (Pedro Pascal), um rico e charmoso investidor que reúne a beleza e dinheiro que ela espera de um par. Lucy também se reencontra com seu ex, John (Chris Evans), um ator de teatro cuja carreira nunca decolou e ainda vive de pequenos bicos mesmo próximo dos quarenta anos de idade. Apesar de não ter nada de material a oferecer, Lucy tem uma forte conexão afetiva com John e constantemente desabafa com ele.

A primeira cena do filme, com um homem das cavernas se aproximando de uma mulher levando flores e ferramentas feitas de osso e ela cede aos avanços do homem. É uma cena que ilustra como relacionamentos podem se construir a partir do interesse no que a outra pessoa tem a lhe oferecer, seja conforto material, status social que vem de riqueza ou aparência física, seja do prazer sexual que a outra pessoa lhe dá. Casamentos, afinal, são contratos e como qualquer contrato depende do interesse de ambas as partes. Esse componente materialista e até mesmo primitivo dos relacionamentos se verifica no presente nas reuniões que Lucy tem com os clientes nas quais homens e mulheres elencam o que buscam no parceiro, desde faixa de renda, passando por idade, altura ou medidas do corpo. Lucy encara tudo com um pragmatismo extremo, indagando aos clientes que elementos eles estariam dispostos a abrir mão na busca por um par e quais não são negociáveis, partindo da ideia de que nos relacionamos com alguém na medida em que percebemos que a outra pessoa nos agrega valor, mesmo que seja um valor sentimental, intangível.

Assim, ela é colocada em um triângulo amoroso no qual suas convicções serão testadas. De um lado Harry é tudo que sua mente materialista sempre desejou, ele atende a todos os seus critérios e ela os dele, já que ele é tão pragmático em sua visão de relacionamentos quanto ela. Por outro lado, John é alguém que está sempre presente, alguém que ela sabe que pode depender para suporte emocional e que consegue saber que Lucy não está bem pelas mínimas nuances de voz ou rosto. Johnson, Pascal e Evans formam um trio charmoso, com Evans e Pascal dotando seus personagens de uma medida de vulnerabilidade emocional que ajuda a dar aos dois personagens mais camadas. A dinâmica que o trio de atores estabelece entre si torna crível o dilema da protagonista mesmo quando o texto deixa pistas muito explícitas a respeito de quem ela irá escolher.

Relações abusivas

O principal problema do filme nem é a previsibilidade do triângulo amoroso, já que Evans e Pascal são pretendentes atraentes e carismáticos o bastante para manter nosso interesse, mas a maneira desajeitada com a qual a narrativa insere uma subtrama de abuso sexual envolvendo Sophie (Zoe Winters), uma das clientes de Lucy. A primeira coisa que chama atenção é o modo pouco crível pelo qual a situação é construída. Lógico, Lucy ou qualquer pessoa da empresa não tem como ter certeza total que os homens que participam do serviço não são agressores em potencial, mas considerando que é um serviço para pessoas de alta classe e os tempos em que estamos vivendo é difícil crer que a empresa de Lucy não possua qualquer protocolo para lidar com isso, como um botão de pânico ou um serviço de emergência.

Também incomoda que toda a trama de Sophie não discuta o abuso, a falta de punição para os homens que cometem isso ou outras variáveis sociais da questão. O abuso de sofrido pela personagem existe apenas para avançar a história de Lucy, já que a violência que Sophie passa e o confronto entre ela e Lucy lembram a protagonista dos perigos de tratar pessoas como objetos. O abuso de Sophie é um mero motivador para Lucy repensar suas convicções e as escolhas que faz em relação a John e Harry, lembrando que por mais transacional que um relacionamento seja, é difícil funcionar ou durar sem alguma medida de afeto.

O clímax é igualmente pouco crível, já que é difícil de acreditar que Sophie não tinham mais ninguém para ligar além de Lucy, mesmo tendo aberto um processo contra a empresa dela. Sim, ela pode ser uma pessoa tão focada na carreira que não tem amigas, mas se ela é essa figura bem sucedida ela provavelmente teria uma colega de trabalho, uma secretária, uma estagiária, alguém que pudesse chamar. Do jeito que está tudo soa forçado para fazer a redenção de Lucy, mesmo que o texto não a tenha feito merecer essa redenção.

Assim, a diretora Celine Song continua a trazer reflexões instigantes sobre a natureza dos relacionamentos, pensando em sua dimensão de transação a partir de um romance que se sustenta pelo charme de seu trio principal, já que a trama tropeça em algumas escolhas problemáticas.

 

Nota: 6/10


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quarta-feira, 23 de julho de 2025

Crítica – The Alto Knights: Máfia e Poder

 

Análise Crítica – The Alto Knights: Máfia e Poder

Review – The Alto Knights: Máfia e Poder
No papel The Alto Knights: Máfia e Poder soa como um filme promissor. A história real de uma rivalidade entre dois grandes mafiosos estrelada por Robert De Niro e dirigida pelo renomado Barry Levinson parece um filme com tudo para dar certo. Infelizmente, no entanto, o que parece se conduzir como se fosse um novo Os Bons Companheiros (1990) termina mais próximo de um desastre como Gotti: O Chefe da Máfia (2018).

Dupla explosiva

A narrativa se baseia na história real da rivalidade entre Frank Costello (Robert De Niro) e Vito Genovese (também Robert De Niro), dois imigrantes italianos que trabalharam juntos em organizações mafiosas nos Estados Unidos da metade século XX e se tornaram rivais disputando pelo controle. Suas personalidades são opostas, com Costello sendo um sujeito mais suave, mais político, enquanto Vito é cabeça quente, irascível e propenso a resolver tudo na base da violência. Quando um atentado à vida de Frank fracassa, ele resolve se aposentar do comando da organização passando tudo para Vito, mas a ambição e paranoia de Vito colocam tudo em risco.

segunda-feira, 21 de julho de 2025

Crítica – Iracema: Uma Transa Amazônica

 

Análise Crítica – Iracema: Uma Transa Amazônica

Review – Iracema: Uma Transa Amazônica
Realizado por Orlando Senna e Jorge Bodanzky e lançado em 1975 Iracema: Uma Transa Amazônica chegou a ser proibido pela ditadura militar por muitos anos e só foi lançado no Brasil em 1981. Hoje o filme recebe uma restauração em 4K para voltar aos cinemas e revisitá-lo agora traz a constatação melancólica de que muito pouco mudou no país entre os cinquenta anos que separam sua produção do seu retorno às salas de cinema.

Mitos desconstruídos

A narrativa acompanha o caminhoneiro Tião Brasil Grande (Paulo César Peréio) que vai para o norte do Brasil por conta da promessa de progresso e riqueza que a rodovia Transamazônica (oficialmente a BR-230) supostamente traria. Chegando lá ele conhece Iracema (Edna de Cássia), uma adolescente indígena que sobrevive de prostituição, e a leva consigo em suas viagens pelo norte. É um filme que mistura atores e cenas encenadas com personagens reais, colocando Peréio para interagir com pessoas da região enquanto dialoga sobre o suposto progresso que o governo militar diz estar acontecendo por conta da obra da rodovia.

segunda-feira, 30 de junho de 2025

Crítica – Saturday Night: A Noite que Mudou a Comédia

 

Análise Crítica – Saturday Night: A Noite que Mudou a Comédia

Review – Saturday Night: A Noite que Mudou a Comédia
Sendo um dos programas de televisão mais longevos dos Estados Unidos, tendo completado 50 anos neste ano, Saturday Night Live faz parte da história da comédia e do entretenimento no país. Dirigido por Jason Reitman, Saturday Night: A Noite que Mudou a Comédia tenta honrar o legado do programa ao narrar a origem do programa e como ele marcou por fazer algo muito diferente da comédia televisiva de então.

Embalos de sábado à noite

A narrativa é centrada no produtor Lorne Michaels (Gabriel LaBelle, de Os Fabelmans) e sua esposa Rosie Shuster (Rachel Sennott) horas antes do primeiro Saturday Night ir ao ar ao vivo. Lorne corre contra o tempo para ajeitar os últimos detalhes, conciliar os egos dos membros dos elencos e roteiristas conforme lida com os executivos da emissora e uma desconfiança de que esse programa enorme, ao vivo, feito por comediantes desconhecidos, pode ser um grande fracasso.

quinta-feira, 26 de junho de 2025

Crítica – Tempo de Guerra

 

Análise Crítica – Tempo de Guerra

De certa forma Tempo de Guerra passa por questões similares a Falcão Negro em Perigo (2001). Ambas são produções tecnicamente bem feitas nas suas reconstruções de situações de guerra, mas que é míope demais no contexto ao redor desse conflito para que seu efeito seja qualquer outra coisa que não uma celebração maniqueísta da resiliência das tropas retratadas.

Guerra interior

A trama conta a história real de uma tropa de fuzileiros durante a Guerra do Iraque que ficou acuada em dentro de uma casa enquanto tentavam dar suporte a outra unidade. Sem ter como sair e com soldados feridos, eles tentam resistir aos ataques externos enquanto buscam um modo de cuidar dos feridos e evacuar em segurança. A narrativa se passa em tempo real, acompanhando a situação conforme ela se desenrola e busca um registro mais realista de uma operação de guerra.

quarta-feira, 25 de junho de 2025

Crítica – Homem Com H

 

Análise Crítica – Homem Com H

Review – Homem Com H
Desde o início dos anos 2000 as cinebiografias musicais se tornaram um filão comercial no cinema brasileiro. Nem todas estão no mesmo nível de qualidade, com algumas, como Tim Maia (2014), se destacando enquanto outras, como a biografia dos Mamonas Assassinas, ficando aquém de seus biografados. Homem Com H, por sua vez, é uma das melhores produções dos últimos anos ao acompanhar a trajetória de Ney Matogrosso.

Sangue Latino

A narrativa acompanha Ney (Jesuíta Barbosa) desde sua juventude até cerca dos anos 90 quando ele perde seu companheiro, Marco (Bruno Montaleone), por complicações relativas à AIDS. Ao longo de sua vida, vemos Ney Matogrosso lidou com o preconceito desde cedo por conta de seu pai (Rômulo Braga), militar severo que batia no filho por conta do comportamento afeminado, além de desafiar a ditadura militar com seus figurinos e performances musicais.

terça-feira, 17 de junho de 2025

Crítica – Echo Valley

 

Análise Crítica – Echo Valley

Review – Echo Valley
Existem dois filmes dentro de Echo Valley e, infelizmente, a produção escolhe por priorizar o menos interessante deles. Apesar de um começo promissor e de um elenco competente, a produção acaba degringolando em um suspense B que sequer consegue executar bem suas principais reviravoltas.

Querida menina

Depois de uma perda pessoal severa, Kate (Julianne Moore) passa a viver reclusa em sua fazenda de cavalos. O cotidiano solitário dela é interrompido pelo retorno Claire (Sydney Sweeney), sua filha viciada em drogas. De início parece que Claire está disposta a se reestruturar, mas logo fica evidente que ela está ali só para conseguir dinheiro e outros recursos antes de voltar para as ruas. Kate tenta ajudá-la, mas logo se vê enredada nos crimes da filha.