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quinta-feira, 12 de setembro de 2024

Crítica – O Cara da Piscina

 

Análise Crítica – O Cara da Piscina

Review – O Cara da Piscina
Se não me engano foi o crítico Roger Ebert que disse que um filme bom nunca é longo o bastante e um filme ruim nunca é curto o bastante. Isso se aplica perfeitamente a este O Cara da Piscina, cujos meros cem minutos de duração se transformam em algo tão dolorosamente excruciante que o filme parece ter mais de quatro horas de duração.

A trama é centrada em Darren (Chris Pine), um tratador de piscinas hiponga, conspiracionista, metido a filósofo e ativista político, sempre cobrando mudanças nas linhas de ônibus na câmara de vereadores. Quando ele esbarra em um escândalo envolvendo o presidente da câmara, Stephen Toronkowski (Stephen Tobolowski), que pode estar recebendo propina do magnata imobiliário Theodore Hollandaise (Clancy Brown) para aprovar um grande empreendimento, Darren decide investigar a questão. No meio do caminho encontra a femme fatale June (DeWanda Wise) e mais uma série de personagens pitorescos.

terça-feira, 10 de setembro de 2024

Rapsódias Revisitadas – Campo dos Sonhos

 

Análise – Campo dos Sonhos

Review – Campo dos Sonhos
Lançado em 1989, Campo dos Sonhos foi tão referenciado e parodiado que mesmo que não assistiu conhecia a frase “se você construir, ele virá”. É um drama que se vale do realismo fantástico para falar sobre beisebol, sonhos, relações entre pais e filhos e como o esporte pode unir gerações.

Sonhos e desilusões

A trama adapta um romance escrito por W.P Kinsella, sendo protagonizada por Ray (Kevin Costner), um fazendeiro que está se aproximando da idade que o pai tinha quando ele morreu e teme que, assim como o pai, vai envelhecer sem nunca ter concretizado seus sonhos. Um dia ele ouve uma voz dizendo “se você construir, ele virá” e tem uma visão de um campo de beisebol sendo construído em seu milharal. Com o apoio da esposa, Annie (Amy Madigan), Ray ceifa parte de sua plantação para construir um campo de beisebol. Com o campo pronto, o jogador Shoeless Joe Jackson (Ray Liotta), ídolo do pai de Ray, surge misteriosamente do meio do milharal para jogar apesar de ter morrido há décadas. Ray então começa a ter visões envolvendo o recluso escritor Terrance Mann (James Earl Jones) e decide ir atrás dele, acreditando ser possível resolver o mistério do campo de beisebol.

segunda-feira, 9 de setembro de 2024

Crítica – O Bastardo

 

Análise Crítica – O Bastardo

Review – O Bastardo
Histórias sobre a colonização de algum espaço costumam ser narradas como feitos heroicos de pessoas enfrentando ermos cheios de intempéries ou subjugando populações nativas, sem, no entanto, ponderar sobre as consequências ou a inerente violência desse processo colonial. A produção dinamarquesa O Bastardo, uma das escolhas do país para o Oscar, traz um pouco de ponderação sobre o egoísmo humano que está no cerne desse impulso desbravador.

A narrativa é baseada na história real de Ludvig Kahlen (Mads Mikkelsen) militar dinamarquês responsável por colonizar a península da Jutlândia no século XVIII, que hoje compreende a maior parte do território dinamarquês. Estabelecer o primeiro assentamento da região, no entanto, não era uma tarefa fácil e o reinado dinamarquês já tinha perdido o interesse no espaço. É apenas quando Kahlen propõe custear a empreitada do próprio bolso que a Coroa lhe dá permissão para construir seu assentamento. Lá, Kahlen enfrenta as intempéries do ermo, a dificuldade de cultivar um solo tomado por urzes, os saqueadores e principalmente as sabotagens perpetradas pelo magistrado local Frederik De Schinkel (Simon Bennebjerg) que quer as terras para si.

sexta-feira, 30 de agosto de 2024

Crítica – Tipos de Gentileza

 

Análise Crítica – Tipos de Gentileza

Review – Tipos de Gentileza
Os filmes do diretor grego Yorgos Lanthimos costumam ser divisivos, com reações que muitas vezes se localizam em polos extremos do amor ao ódio por suas produções. Em geral costumo gostar do niilismo surrealista do diretor, mas confesso que Tipos de Gentileza não me pegou.

Absurdo previsível

A produção consiste de um tríptico de três histórias curtas. Na primeira história seguimos Robert (Jesse Plemons), um sujeito completamente devotado ao chefe, Raymond (Willem Dafoe), que controla todos os seus horários e ações ao longo do dia. Quando Raymond pede a Robert que bata seu carro em alta velocidade contra outro veículo, Robert não fica confortável com a possibilidade de matar outra pessoa, criando um conflito na relação. Na segunda história um policial, Daniel (Jesse Plemons) se reúne com a esposa, Liz (Emma Stone), depois que ela se envolve em um naufrágio e fica meses perdida no mar. O problema é que Daniel desconfia que a mulher que voltou não é a sua esposa. A terceira história é protagonizada por Emily (Emma Stone) que é devotada a um bizarro culto sexual liderado por Omi (Willem Dafoe) e Aka (Hong Chau) e é incumbida de encontrar uma mulher que, segundo profecias, seria capaz de ressuscitar os mortos.

quarta-feira, 21 de agosto de 2024

Crítica – Estômago 2: O Poderoso Chef

 

Análise Crítica – Estômago 2: O Poderoso Chef

Review – Estômago 2: O Poderoso Chef
O primeiro Estômago (2007) divertia por sua mistura narrativa inusitada entre gastronomia, comédia e trama criminal. Era uma história bem executada, que amarrava com habilidade seus arcos narrativos e nunca senti que havia necessidade ou espaço para uma continuação. Talvez por isso vi com estranhamento o anúncio deste Estômago 2: O Poderoso Chef, que nos coloca novamente ao lado do cotidiano do protagonista como um detento e cozinheiro.

O chef agora é outro

Nonato (João Miguel) continua preso e continua cozinhando, agora não apenas para o líder de facção Etcetera (Paulo Miklos), mas para os guardas e o diretor do presídio, usando seu talento para obter mordomias. A dinâmica da prisão muda quando o misterioso italiano Dom Caroglio (Nicola Siri), chega para cumprir pena. As tensões aumentam e Nonato tenta acalmar os ânimos ao mesmo tempo em que voltamos ao passado para descobrir como o italiano passou de um ator fracassado chamado Roberto ao Dom de uma família criminosa.

terça-feira, 20 de agosto de 2024

Crítica – Motel Destino

 

Análise Crítica – Motel Destino

Review – Motel Destino
Motéis são um espaço de discrição e também de livre exercício de nossos desejos. Um lugar em somos encorajados a fazer o que queremos porque ninguém nos vê. Não é acidente, portanto, que a locação central de Motel Destino, um filme cuja história gira em torno de desejo e da necessidade de se esconder, seja um motel.

Neon Noir

A trama é protagonizada por Heraldo (Iago Xavier). Ele e o irmão trabalham para a chefe de uma facção local e são incumbidos de eliminar um rival dela. Um dia antes do assassinato, Heraldo se envolve com uma mulher que conheceu em um show e vai com ela para um motel, ele acorda no dia seguinte atrasado para o assassinato e quando chega no local combinado descobre que o irmão tentou o ataque sozinho e foi morto. Temendo a vingança da chefe e dos companheiros, Heraldo volta ao motel para se esconder e convence o casal de donos, Dayana (Nataly Rocha) e Elias (Fábio Assunção) a deixá-lo ficar lá em troca de emprego. Aos poucos, tanto Elias quanto Dayana demonstram interesse nele, com Heraldo eventualmente se envolvendo com Dayana.

segunda-feira, 19 de agosto de 2024

Lixo Extraordinário – Cinderela Baiana

 

Crítica – Cinderela Baiana

Review - Cinderela Baiana
Desde que comecei a Lixo Extraordinário, essa coluna dedicada a filmes lendários por sua ruindade, nos idos de 2017 sempre ouço a mesma pergunta: “e quando você vai falar sobre Cinderela Baiana?”. Talvez o mais lendário filme ruim do cinema brasileiro Cinderela Baiana foi lançado em 1998 e trazia Carla Perez interpretando uma versão ficcionalizada de si mesma e de sua trajetória de garota pobre de Salvador a estrela da dança. O filme foi um imenso fracasso no lançamento e só começou a ser visto pelas pessoas quando caiu na internet nos primeiros anos do Youtube (reza a lenda que Carla Perez teria adquirido e destruído boa parte dos VHS do filme) se tornando uma espécie de clássico cult da ruindade.

Ele foi, provavelmente, o filme que iniciou o meu masoquismo audiovisual e sem ele provavelmente nunca teria pensado em criar essa coluna. Talvez por conta disso eu tenha esperado para falar sobre ele em uma ocasião especial. Essa ocasião acabou sendo minha participação no Festival Cinderela Baiana de Cinema que ocorreu de 16 a 18 de agosto aqui em Salvador. Fui convidado pela organização do festival a falar sobre o filme, então tive que revê-lo e aproveitei para fazer por escrito minhas considerações. O que vem a seguir é menos uma análise pormenorizada do filme e mais uma tentativa de explicar como ele ganhou seu status lendário de ruindade e porque ele continua sendo discutido mesmo sendo tão ruim.

segunda-feira, 12 de agosto de 2024

Crítica - Meu Filho, Nosso Mundo

Análise Crítica - Meu Filho, Nosso Mundo

Review - Meu Filho, Nosso Mundo
Filmes sobre autismo muitas vezes pecam por excesso, romantizando demais a condição ou focando apenas nas limitações e sofrimento. Meu Filho, Nosso Mundo apresenta um raro equilíbrio no modo como trata essa situação, embora ainda estruture as coisas como uma jornada de superação relativamente previsível.

A trama acompanha o comediante Max (Bobby Cannavale), cujo filho, Ezra (William A. Fitzgerald), sofre na escola e acaba sendo atropelado na rua. O acidente faz Ezra ficar sob tutela do Estado, sendo forçado a tomar medicação e sendo colocado em uma instituição psiquiátrica. Sentindo-se impotente em proteger o filho, Max sequestra Ezra e o leva consigo em uma turnê de comédia que irá fazer através do país.

terça-feira, 6 de agosto de 2024

Crítica – Mais Pesado é o Céu

 

Análise Crítica – Mais Pesado é o Céu

Review – Mais Pesado é o Céu
O Brasil é um país profundamente desigual e Mais Pesado é o Céu conta a história de duas pessoas tentando sobreviver em meio à miséria nas áreas mais remotas do país. Não é uma narrativa de superação como outras histórias sobre a pobreza. É, sim, uma narrativa que pondera sobre as consequências de ter que estar sempre “se virando” para sobreviver e os impactos físicos ou psicológicos de se submeter a violências ou humilhações para conseguir o mínimo para se sustentar.

Antônio (Matheus Nachtergaele) está cruzando o Ceará rumo ao norte do país para encontrar um amigo que aparentemente tem um negócio de caranguejo. No caminho ele decide parar em sua antiga cidade que agora foi alagada por açude. Lá ele encontra Teresa (Ana Luiza Rios), que também foi ver as ruínas da antiga cidade e encontra um bebê abandonado no local. Agora os dois resolvem ficar juntos para ajudar a prover para o bebê.

terça-feira, 30 de julho de 2024

Crítica – Acima de Qualquer Suspeita

 

Análise Crítica – Acima de Qualquer Suspeita

Review – Acima de Qualquer Suspeita
Comecei a assistir a minissérie Acima de Qualquer Suspeita sem esperar muita coisa. Parecia só mais um drama jurídico e investigativo. Na prática ele é isso, não tendo qualquer reinvenção da roda nas mecânicas desse gênero, seja em forma ou conteúdo, mas é muito bem executado ao ponto de se elevar no oceano de produções similares.

Adaptando o romance homônimo de Scott Turow, a trama acompanha o promotor Rusty Sabich (Jake Gyllenhaal). Quando a promotora Carolyn Polhemus (Renate Reinsve, de A Pior Pessoa do Mundo) é assassinada com um método similar a um assassino que ela prendeu, Rusty se torna o promotor responsável pelo caso. O problema é que Rusty mantinha uma relação extraconjugal com Carolyn e esteve com ela na noite do assassinato, tornando-o suspeito do crime. Ele é retirado do caso e o promotor Tommy Molto (Peter Sarsgaard) trata Rusty como o principal suspeito. Agora Rusty precisa provar sua inocência.

sexta-feira, 26 de julho de 2024

Crítica – Pequenas Cartas Obscenas

 

Análise Crítica – Pequenas Cartas Obscenas

Review – Pequenas Cartas Obscenas
Estrelado por Olivia Colman e Jessie Buckley Pequenas Cartas Obscenas é uma daquelas produções que nos lembra como a realidade pode ser mais maluca que a ficção. A trama é baseada na história real de um pequeno vilarejo no interior da Inglaterra pós Segunda Guerra que ficou em polvorosa quando cartas cheias de ofensas e palavrões começaram a ser recebidas por diferentes habitantes da cidade.

A narrativa é focada em Edith Swan (Olivia Colman), uma carola solteirona que mora com os pais e é um dos primeiros alvos das cartas obscenas. Depois de receber algumas correspondências os pais de Edith, Edward (Timothy Spall) e Victoria (Gemma Jones), chamam a polícia. Edith acha que a responsável é sua vizinha, a irlandesa Rose (Jessie Buckley), uma viúva de vida livre e boca suja que chegou na cidade pouco tempo depois da guerra com a filha Nancy (Alisha Weir, de Abigail). Como Rose é a única mulher “sem decoro” da cidade ela é automaticamente tratada como culpada pela polícia local, sendo presa enquanto aguarda julgamento pelo crime. Enquanto isso, Gladys (Anjana Vassan), a única policial mulher da cidade, crê na inocência de Rose e tenta encontrar o real culpado.

segunda-feira, 22 de julho de 2024

Crítica – A Garota de Miller

 

Análise Crítica – A Garota de Miller

Review – A Garota de Miller
Primeiro longa metragem da diretora Jade Halley Bartlett, A Garota de Miller investiga o limite que separa desejo e desespero. A narrativa tenta dar conta das complexidades disso, mas fica na superfície de suas várias ideias apesar do esforço de seu elenco. A trama é centrada na estudante Cairo Sweet (Jenna Ortega), uma garota precoce e com talento para ser escritora que anseia por uma conexão real, mas não encontra ninguém que considere estar a sua altura na pequena cidade em que mora. As coisas mudam quando conhece o professor Jonathan Miller (Martin Freeman), um escritor frustrado que se resignou a ser professor de colegial.

Ter alguém que a compreende desperta o interesse de Cairo, do mesmo modo que Miller se atrai pela possibilidade de ser o mentor de alguém com talento real para ter sucesso no universo literário. São personagens movidos por suas carências. Cairo é uma garota rica cujos pais ausentes tentam compensar a distância afetiva (e física) dando tudo que ela quer, criando alguém que deseja ser próxima de alguém ao mesmo tempo em que não é alguém acostumada a ouvir um não. Jonathan é um escritor medíocre que nunca conseguiu o sucesso que almejava e sente que o mundo foi injusto consigo. Ele também ressente o sucesso da esposa, Beatrice (Dagmara Dominczyk de Succession), que o faz sentir diminuído e emasculado, enquanto que Beatrice parece ressentir a mediocridade do marido, constantemente soltando farpas passivo-agressivas lembrando-o de sua inferioridade.

quinta-feira, 18 de julho de 2024

Rapsódias Revisitadas – Garota Sombria Caminha Pela Noite

 

Crítica – Garota Sombria Caminha Pela Noite

A ideia de uma mulher vagando sozinha pelas ruas durante a madrugada em muitos casos pode estar ligada a uma noção de que ela estaria correndo perigo. A diretora Ana Lily Amirpour vira ao avesso essas expectativas sociais em Garota Sombria Caminha Pela Noite, seu primeiro longa metragem. Lançado em 2014, o filme traz como protagonista uma vampira que vaga pelas ruas à noite vestindo um hijab e usa a ideia de que uma mulher caminhando sozinha seria uma presa fácil para atrair suas vítimas.

A garota (Sheila Vand) vaga pelas ruas da ficcional Bad City em busca de vítimas para se alimentar. Seu caminho cruza com o de Arash (Arash Marandi), um jovem descolado e solitário preso entre os hábitos destrutivos do pai viciado, Hossein (Marshall Manesh), e a opressão do traficante Saeed (Dominic Rains). O modo como as vidas da garota e de Arash se cruzam acaba por transformar a vida de ambos.

terça-feira, 16 de julho de 2024

Crítica – Assassino Por Acaso

 

Análise Crítica – Assassino Por Acaso

Review – Assassino Por Acaso
Não esperava muita coisa de Assassino Por Acaso, já que o material de divulgação não dava a impressão do quão esquisito era o filme. Ainda bem que resolvi dar uma chance a ele e conferir essa ponderação bem humorada que o diretor Richard Linklater faz a respeito de nossa relação com a ficção e nosso senso de identidade.

A narrativa é levemente baseada em uma história real. Gary Johnson (Glen Powell) é um tímido professor de filosofia que ocasionalmente trabalha disfarçado com a polícia de Nova Orleans. Ele lida com operações de vigilância, prendendo pessoas que buscam contratar assassinos profissionais. Quando o policial que costuma “interpretar” o falso assassino nas operações é suspenso, Gary acaba assumindo a função e revela ter naturalidade para fingir ser outra pessoa. É aí que ele conhece Madison (Adria Arjona), uma mulher disposta a contratar alguém para matar seu marido abusivo. Entendendo as razões dela, Gary a convence a desistir e acaba se apaixonando por Madison. O problema é que ela continua acreditando que ele é um matador de aluguel e então tenta se comportar como um.

segunda-feira, 15 de julho de 2024

Crítica – A Filha do Pescador

 

Análise Crítica – A Filha do Pescador

Review – A Filha do Pescador
Em uma das primeiras cenas de A Filha do Pescador vemos um homem mergulhando no mar tentando pescar um mero. O mero é um peixe que está em extinção e que em situações de escassez pode trocar de sexo para continuar a se reproduzir e garantir a sobrevivência da espécie e de si. A ideia da transição como parte da natureza é central para o filme, cujo título original, La Estrategia del Mero, já faz alusão ao peixe e seu mecanismo de sobrevivência.

A trama se passa na década de noventa em uma pequena ilha do Caribe colombiano. Samuel (Roamir Pineda) é um pescador em apneia que vive uma existência solitária e amargurada, tendo sido abandonado pela esposa e filho anos atrás. As coisas mudam quando um amigo pescador lhe informa do retorno do filho à cidade, que agora é uma mulher trans e atende pelo nome de Priscilla (Nathalia Rincon). Ela está com problemas e precisa se esconder na pequena ilha por algum tempo, mas o pai não aceita o modo de vida da filha, tratando-a com preconceito.

segunda-feira, 8 de julho de 2024

Crítica – Ninguém Sai Vivo Daqui

 

Análise Crítica – Ninguém Sai Vivo Daqui

Review – Ninguém Sai Vivo Daqui
Inspirado no livro-reportagem Holocausto Brasileiro, de Daniela Arbex (que baseou o documentário de 2016 de mesmo nome), este Ninguém Sai Vivo Daqui narra a história do hospital psiquiátrico Colônia, localizado no interior de Minas Gerais, como uma história de terror. Com mais de 60 mil internos mortos ao longo de décadas, muitos dos quais sequer sofriam de transtornos mentais, o caso se tornou um símbolo da luta antimanicomial no Brasil.

A narrativa se passa nos anos 70 e é focada em Elisa (Fernanda Marques), enviada à força para Colônia pela família depois de engravidar de um namorado e recusar o casamento arranjado com outro homem feito por seu pai. Inicialmente sem saber o motivo de estar lá, ela logo descobre que outros internos e internas do lugar tem histórias como a dela, pessoas sem histórico de doença mental que foram colocados lá por não aderirem a certas normas sociais ou por não terem nada nem ninguém para onde ir. Ao vivenciar um cotidiano de maus tratos e torturas, ela tenta encontrar um meio de fugir.

quinta-feira, 4 de julho de 2024

Crítica – Tudo em Família

 

Análise Crítica – Tudo em Família

Review – Tudo em Família
Fui temeroso assistir Tudo em Família, mais nova produção da Netflix, já que era uma comédia romântica focada no problemático relacionamento entre mãe e filha, uma premissa muito similar a outra produção recente da Netflix, a horrenda A Mãe da Noiva. Na verdade, o único motivo para eu ter resolvido assistir Tudo em Família foi a presença de Nicole Kidman, uma atriz que costuma ser cuidadosa na escolha de seus projetos.

A trama é protagonizada por Zara (Joey King) que trabalha como assistente pessoal do astro de cinema Chris (Zac Efron), aturando sua personalidade ególatra pela promessa de se tornar produtora em seus filmes. As coisas se complicam quando Chris conhece Brooke, Nicole Kidman, a mãe de Zara, e se apaixona pela escritora.

Joey King e Zac Efron inicialmente estabelecem uma química divertida na constante troca de farpas entre os dois personagens. Efron já tinha se mostrando eficiente interpretando babacas vaidosos e meio burros em comédias como Vizinhos (2014) e Baywatch (2017) e volta a divertir com seu astro canastrão autocentrado. O ator ainda consegue mostrar uma vulnerabilidade inesperada em Chris conforme ele se aproxima de Brooke. Kidman também tem cenas divertidas ao lado de Kathy Bates, que interpreta a mãe de sua personagem.

quarta-feira, 3 de julho de 2024

Crítica – O Rito da Dança

 

Análise Crítica – O Rito da Dança

Review – O Rito da Dança
Estrelado por Lily Gladstone (de Assassinos da Lua das Flores), O Rito da Dança fala sobre a dificuldade das comunidades nativas dos Estados Unidos em manter contato com suas raízes e suas comunidades unidas diante de um descaso generalizado por parte do Estado. É também sobre conexões familiares, tentando construir um senso de intimidade com suas duas protagonistas.

Jax (Lily Gladstone) tenta procurar por sua irmã desaparecida já que a polícia tribal de sua reserva, composta apenas por uma pessoa, nada podem fazer e as autoridades externas não dão a mínima aos seus pedidos. Ela também cuida da sobrinha Roki (Isabel Deroy-Olson), filha da irmã desaparecida. Para manter a garota ocupada, Jax promete levá-la ao Powwow, um evento que reúne diferentes nações nativas do estado.

sexta-feira, 28 de junho de 2024

Rapsódias Revisitadas – Kramer vs Kramer

 

Análise – Kramer vs Kramer

Review – Kramer vs Kramer
Lançado em 1979, Kramer vs Kramer é um drama que tenta discutir sobre os papéis sociais presumidos para homens e mulheres, em especial nas expectativas da sociedade a respeito do trabalho de homens e mulheres nos cuidados domésticos. A trama é focada no casal Ted (Dustin Hoffman) e Joanna Kramer (Meryl Streep). Ted é um publicitário em ascensão enquanto Joanna abriu mão da própria carreira para se dedicar a cuidar da casa e do filho do casal, Billy (Justin Henry). Infeliz no casamento, Joanna decide deixar Ted e o deixa com Billy. Ted precisa reestruturar toda sua vida para cuidar do filho sozinho, mas depois de um ano e meio Joanna volta e decide pedir a guarda do garoto. 

Ted é um pai e marido negligente, que não percebe a infelicidade da esposa e não dá a mínima para as necessidades do filho, jogando tudo nas costas de Joanna. Ele exemplifica a mentalidade de que cabe ao homem apenas prover para o lar e que basta isso para ser considerado um bom marido, algo ressaltado posteriormente pelas perguntas do advogado dele a Joanna durante a audiência de custódia. 

terça-feira, 18 de junho de 2024

Crítica – O Estranho

 

Análise Crítica – O Estranho

Review – O Estranho
As primeiras imagens de O Estranho se situam séculos atrás, mostrando a região de Guarulhos numa época anterior à ocupação urbana de hoje. As imagens como a natureza foi severamente modificada e como uma população indígena que existia ali provavelmente foi removida ou não existe mais. Essa tentativa de trazer o passado para o presente e pensar no que foi feito com os espaços e populações nativas é o cerne do filme. 

A trama gira em torno de Alê (Larissa Siqueira), uma mulher que trabalha no aeroporto de Guarulhos e lida com uma dupla ausência. De um lado trabalhar naquele local a faz pensar na história passada de sua família indígena que foi removida da região e de outro da filha, que desapareceu décadas atrás. Outra ausência iminente é a da namorada, Silvia (Patricia Saravy), que está para se mudar para um local mais longe, também se afastando de suas origens e do terreiro do qual faz parte.