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segunda-feira, 6 de janeiro de 2025

Crítica – Babygirl

 

Análise Crítica – Babygirl

Review – Babygirl
Os trailers de Babygirl não me deixaram muito curioso pelo filme, soando como uma versão da A24 da franquia 50 Tons de Cinza. Felizmente o produto final não é isso, entregando um estudo sobre sexualidade, poder, liberdade e culpa que se sustenta principalmente pela performance de Nicole Kidman.

Desejo e controle

A trama é protagonizada pela executiva Romy (Nicole Kidman), que preside uma crescente empresa de automação de processos. Ela e o marido são casados há quase vinte anos, mas ela não parece sentir prazer com ele, sempre indo assistir pornô de sadomasoquismo depois do sexo para realmente se satisfazer. Ela tem a chance de viver suas fantasias quando conhece o jovem estagiário Samuel (Harris Dickinson), que parece perceber o desejo da empresária em ceder controle. Aos poucos eles se aproximam e começam um tórrido romance que ameaça os negócios e o casamento de Romy.

quinta-feira, 2 de janeiro de 2025

Crítica – Jurado Nº 2

 

Análise Crítica – Jurado Nº 2

Review – Jurado Nº 2
O cinema de Clint Eastwood sempre trouxe consigo meditações sobre moralidade na sociedade estadunidense, desde a expansão para o oeste no western revisionista Os Imperdoáveis (1992), passando por considerações a respeito de como a sociedade trata seus heróis em produções como Sully (2016) e O Caso Richard Jewell (2019). Agora Eastwood se volta para o sistema judiciário e sua moralidade em Jurado Nº2.

Crime e castigo

A narrativa é protagonizada por Justin (Nicholas Hoult), que é chamado para servir de jurado em um julgamento de homicídio. Ele tenta sair da convocação alegando a gravidez de risco da esposa, Allison (Zoey Deutch), mas a juíza nega afirmando que ele só irá ficar o mesmo número de horas de seu expediente regular. Quando os trabalhos começam, Justin se dá conta que o réu está sendo acusado de ter assassinado uma mulher que o próprio Justin tinha atropelado acidentalmente meses atrás. Como o réu era ex-namorado da mulher assassinada e tinha um histórico de violência, as autoridades automaticamente o consideraram como responsável pela morte. Justin é um alcoólatra em recuperação e tem uma condenação de anos atrás por dirigir embriagado, o que faria sua pena ser altíssima caso assumisse a culpa. Agora, Justin precisa convencer o júri a inocentar o réu para evitar que um inocente vá para a cadeia ao mesmo tempo que tenta afastar qualquer conjectura sobre o possível culpado real.

segunda-feira, 30 de dezembro de 2024

Crítica – Encontro com o Ditador

 

Análise Crítica – Encontro com o Ditador

Review – Encontro com o Ditador
O diretor cambojano Rithy Pahn, responsável pelo excelente A Imagem que Falta (2013), volta a tratar do período em que o Camboja esteve sob domínio do Khmer Vermelho neste Encontro com o Ditador, que se baseia levemente em uma história real de três jornalistas que foram ao Camboja entrevistar o ditador Pol Pot.

Jornalismo e poder

A narrativa é inspirada em um livro da jornalista de guerra Elizabeth Becker no qual ela narra suas experiências no Camboja e acompanha três fictícios jornalistas franceses que se baseiam em Becker e sua equipe. Lisa Delbo (Irene Jacob) é uma jornalista experiente que conhece o pensamento comunista revolucionário e sonda seus entrevistados com cuidado ao perceber as maneiras com as quais o regime de Pot contorce essas ideias para seus próprios fins. Alain (Gregóire Colin) é um comunista convicto, bastante familiar com o Camboja e que troca correspondência diretamente com Pol Pot e demonstra uma certa deferência para o grupo de seguranças armados que os acompanha durante a viagem e controla tudo que eles veem. O terceiro membro do grupo é o fotógrafo Paul (Cyril Guei), cuja obstinação jornalística em busca da verdade o faz constantemente correr riscos ao tentar escapar do controle de sua entourage estatal para tentar observar o que há por trás desse discurso.

quarta-feira, 18 de dezembro de 2024

Drops – Os Quebra-Nozes

 

Análise Drops – Os Quebra-Nozes

Review – Os Quebra-Nozes
Depois da recepção negativa de sua tentativa de continuar o universo de O Exorcista, o diretor David Gordon Green retorna a comédia com o natalino Os Quebra-Nozes. Mike (Ben Stiller) é um corretor de imóveis que precisa ir a uma pequena cidade no interior depois do falecimento de sua irmã e cunhado. Ele não tem qualquer interesse em ficar com a guarda dos quatro sobrinhos e tenta deixá-los com uma assistente social para que ela consiga uma família adotiva. O problema é que as crianças são extremamente travessas e ninguém quer ficar com elas. A contragosto, Mike fica na cidade enquanto tenta encontrar uma nova família para os sobrinhos.

Natal em família

Obviamente esse corretor que só pensa em trabalho e ganhar dinheiro irá se conectar com os sobrinhos e aprender a importância da família. Tudo é relativamente previsível, seguindo exatamente aquilo que se espera de uma película natalina. As quatro crianças que interpretam os sobrinhos de Mike, todas irmãs na vida real, tem uma boa química juntas e divertem com seus esquemas caóticos ou as situações inesperadas nas quais colocam o tio.

segunda-feira, 16 de dezembro de 2024

Crítica – Ainda Estou Aqui

 

Análise Crítica – Ainda Estou Aqui

Review – Ainda Estou Aqui
O cinema brasileiro já produziu vários filmes sobre o período da ditadura militar, um período que nunca passamos realmente a limpo e cujas consequências da impunidade em relação aos envolvidos continua a impactar o presente do país. Ainda assim não esperava me impactar tanto por Ainda Estou Aqui do jeito que me impactei, principalmente pelo modo como o filme constrói a jornada de sua protagonista sem didatismos, sem discursos fáceis. A dureza dos seus dias e seus esforços para seguir adiante são o suficiente para comunicar a brutalidade daqueles tempos.

Luzes e sombras

A trama acompanha Eunice Paiva (Fernanda Torres), esposa do ex-deputado Rubens Paiva (Selton Mello). Quando Rubens é levado por homens do governo, Eunice busca descobrir o que aconteceu com o marido enquanto tenta manter sua casa funcionando e os cinco filhos em segurança.

quinta-feira, 12 de dezembro de 2024

Crítica – Um Homem Diferente

Análise Crítica – Um Homem Diferente
 

Review – Um Homem Diferente
Tem sido interessante ver as escolhas de Sebastian Stan em seus projetos fora da Marvel como o Soldado Invernal. Ele vem arriscando em papéis inesperados como interpretar Donald Trump em O Aprendiz ou neste Um Homem Diferente em que vive um homem desfigurado que tem a chance de mudar de rosto, mas logo vê que seu sonho de ter uma aparência mais convencional não resolve seus problemas.

Ponto de mutação

Edward (Sebastian Stan) tem um problema de saúde que deixa seu rosto deformado. Ele sonha em ser ator, mas não consegue nada além de trabalhos em vídeos educativos sobre pessoas com deformidades. Ele também não tem sorte com mulheres, tentando se aproximar sem sucesso da vizinha Ingrid (Renate Reinsve, de A Pior Pessoa do Mundo), uma aspirante a dramaturga. Quando surge a oportunidade de testar uma droga que pode melhorar sua deformidade, ele aceita e para sua surpresa ele consegue uma aparência normal, forjando a própria morte como Edward e assumindo uma nova identidade como Guy. Tempos depois ele reencontra Ingrid e descobre que ela escreveu uma peça baseada na experiência que teve com ele. Apesar de Ingrid buscar um ator com uma deformidade no rosto para interpretar seu protagonista, Guy faz teste para o papel e a convence a escalá-lo pela verdade que ele traz ao personagem.

quarta-feira, 11 de dezembro de 2024

Crítica – Back to Black

 

Análise Crítica – Back to Black

Review – Back to Black
Nos últimos anos tivemos várias cinematografias de músicos bastante protocolares que pareciam versões ilustradas de verbetes de Wikipedia, narrando fatos notórios da vida dessas pessoas, sem oferecer qualquer insight a respeito do que as move. Produções como Bohemian Rhapsody (2018), I Wanna Dance With Somedoby: A História de Whitney Houston (2023) ou Bob Marley: One Love. Este Back to Black, cinebiografia de Amy Winehouse, está em outro patamar, sendo uma produção que não é apenas rasa, ela parece ativamente detestar a pessoa que está biografando.

Reescrevendo a história

A narrativa acompanha a trajetória da cantora Amy Winehouse (Marisa Abela), focando no lançamento do álbum Back to Black e na relação entre ela e seu pai, Mitch (Eddie Masran), e o marido, Blake (Jack O’Connell), bem como os problemas da cantora com drogas. Como as produções que citei no primeiro parágrafo, o filme se limita a reconstruir momentos notórios da vida da cantora, mas não ajuda a compreender quem ela era para além desse retrato midiático.

terça-feira, 10 de dezembro de 2024

Crítica – Senna

 

Análise Crítica – Senna

Review – Senna
Considerando o quanto Ayrton Senna é importante para o esporte brasileiro e os vários documentários feitos sobre ele é até estranho que tenham demorado tanto para fazer uma ficção. A minissérie Senna é exatamente isso, tentando condensar toda a trajetória do piloto em seis episódios, acompanhando desde seu início na Formula Ford, até seu dia derradeiro na Formula 1, quando faleceu em um acidente.

Vida veloz

A série sofre por tentar compreender um período de tempo muito longo em uma quantidade pequena de episódios e com isso passa muito rápido pelos eventos marcantes da vida de Senna sem dar o devido tempo para analisar como essas experiências impactaram sua trajetória. Talvez tivesse sido melhor se a produção fosse pensada como uma série de duas ou três temporadas. Do jeito que está fica a impressão de uma história compostos por verbetes soltos de Wikipedia que se limitam apenas a narrar os feitos mais notáveis do personagem sem buscar alguma compreensão deles.

terça-feira, 3 de dezembro de 2024

Crítica – O Jogo da Rainha

 

Análise Crítica – O Jogo da Rainha

Review – O Jogo da Rainha
O cinema de Karim Ainouz constantemente dialoga com noções de masculinidade, analisando os problemas e tensões de certas convenções a respeito do que é “ser homem”. Fez isso em filmes como Motel Destino (2024), Praia do Futuro (2014) ou Madame Satã (2002). Neste O Jogo da Rainha ele deixa o contexto brasileiro para ir à Europa do século XVI para construir uma história sobre patriarcado, masculinidade e a resiliência feminina diante de um mundo dominado por homens, algo que ele já fez em A Vida Invisível (2019).

Mundo masculino

A trama se baseia na história real de Catarina Parr (Alicia Vikander), sexta esposa do rei Henrique VIII (Jude Law). Enquanto o marido está fora em guerra, Catarina é nomeada regente e conforme adquire poder vai se tornando uma liderança em uma revolução protestante que via colocar a igreja acima do rei. Quando o monarca retorna da guerra, marcado por ferimentos e infecções, além de problemas com gota, ele não apenas remove o poder de Catarina, reduzindo sua regência a tarefas mínimas. Henrique também se torna mais agressivo e paranoico conforme seu estado de saúde piora e Catarina passa a temer por seu destino.

sexta-feira, 29 de novembro de 2024

Crítica – Disclaimer

 

Análise Crítica – Disclaimer

Review – Disclaimer
Enquanto assistia o último episódio da minissérie Disclaimer me lembrei da frase do crítico Roger Ebert sobre o cinema ser uma máquina de gerar empatia. O modo como narrativas nos mobilizam e nos fazem aderir a um personagem, mesmo quando ele é moralmente duvidoso, e o poder da narrativa em nos fazer agir por conta desses afetos que são mobilizados são temas centrais da produção criada e dirigida pelo diretor Alfonso Cuarón. É uma história que nos lembra como histórias podem ser usadas para convencer a gente sobre um ponto de vista, mesmo que esse ponto de vista não seja capaz de dar conta de toda a história.

Passado esquecido

A trama gira em torno de Catherine (Cate Blanchett), uma documentarista que construiu sua carreira em revelar transgressões que instituições querem esconder. Ela tem seu próprio segredo do passado que está prestes a ser revelado por conta de Stephen (Kevin Kline), um professor recém desempregado que encontra um livro escrito pela esposa falecida, Nancy (Leslie Manville). O livro se baseia na história real da morte de seu filho Jonathan (Louis Partridge) que se afogou na Itália décadas atrás e pinta de maneira extremamente negativa a mulher casada com a qual se relacionou. A mulher em questão é Catherine e Stephen vê no livro uma maneira de se vingar dela, já que a julga responsável pelo afogamento de Jonathan.

quarta-feira, 27 de novembro de 2024

Crítica – Blitz

 

Análise Crítica – Blitz

Review – Blitz
Dirigido por Steve McQueen, diretor responsável por 12 Anos de Escravidão (2013) e As Viúvas (2018), Blitz retrata o período dos constantes bombardeios nazistas contra Londres durante a Segunda Guerra Mundial. É uma produção que tenta retratar a sobrevivência em um período de constante perigo e escassez, mas que por vezes tenta manejar tantas ideias ao mesmo tempo que não desenvolve nenhuma de maneira impactante.

Notícias de uma guerra cotidiana

A trama acompanha a jovem Rita (Saoirse Ronan), que vive com o pai e o filho George (Elliott Heffernan) em uma Londres sob constantes alvos de bombardeios. Quando o governo evacua as crianças da cidade, Rita e George se separam, mas George não vai para o abrigo do governo. Ele pula do trem durante o trajeto e tenta voltar para casa sozinho, enquanto isso Rita continua a trabalhar em uma fábrica, produzindo armamentos para o esforço de guerra, enquanto tenta sobreviver aos bombardeios constantes.

terça-feira, 26 de novembro de 2024

Crítica – Meu Eu Do Futuro

 

Análise Crítica – Meu Eu Do Futuro

Review – Meu Eu Do Futuro
Como seria viver a juventude com o conhecimento e experiência de nossa versão mais velha? É essa pergunta que Meu Eu do Futuro tenta ponderar a resposta e o resultado é um exame singelo sobre o impacto de nossas escolhas de vida e como o tempo muda nossa perspectiva das coisas, nem sempre para melhor.

Convergência temporal

A narrativa é protagonizada por Elliott (Maisy Stella), uma garota que aproveita suas últimas férias antes de ir para a faculdade. Um dia ela vai acampar com as amigas Ruthie (Maddie Ziegler) e Ro (Kerrice Brooks) e elas acabam usando cogumelos alucinógenos. Durante a viagem nas drogas, ela encontra sua versão mais velha (Aubrey Plaza) e pede a ela conselhos para o futuro. Seu eu do futuro a alerta que tudo irá mudar depois que for para a faculdade, que ela deve aproveitar o tempo que tem com os irmãos e com os pais na fazenda da família e que deve evitar se apaixonar por um rapaz chamado Chad. No dia seguinte ela conhece um Chad (Percy Hynes White, de Wandinha) e não consegue entender porque a Elliott do futuro lhe disse para não se envolver com ele.

quinta-feira, 21 de novembro de 2024

Crítica – Detetive Alex Cross

 

Análise Crítica – Detetive Alex Cross

Review – Detetive Alex Cross
Criado na literatura pelo escritor James Patterson, o detetive Alex Cross já está a algum tempo na mira Hollywood, mas os resultados dessas adaptações variavam entre o morno, com os filmes estrelados por Morgan Freeman Beijos que Matam (1997) e Na Teia da Aranha, e o péssimo, com A Sombra do Inimigo (2012), que trazia Tyler Perry como Alex Cross. Talvez o problema tenha sido adaptar os romances de Patterson como filmes e não como séries, já que Detetive Alex Cross mostra que o personagem funciona melhor nesse formato.

terça-feira, 19 de novembro de 2024

Crítica – Tesouro

 

Análise Crítica – Tesouro

Review – Tesouro
Adaptando um romance escrito por Lily Brett este Tesouro tenta ser simultaneamente um road movie sobre pai e filha se reconectando depois da morte da mãe e um exame sobre a memória do Holocausto e as consequências do antissemitismo. Nem sempre ele se sai bem nas duas coisas, funcionando melhor na dimensão familiar do que no exame histórico.

Viagem em família

A narrativa se passa em 1990 e acompanha a jornalista Ruth (Lena Dunham) que viaja à Polônia para conhecer a cidade em que os pais cresceram. Ela é acompanhada pelo pai, Edek (Stephen Fry), um octogenário sobrevivente do Holocausto. Os dois se afastaram depois da morte da mãe de Ruth, então a viagem é também uma tentativa dos dois em se reaproximarem. De início Edek reluta em voltar para sua antiga cidade, mas o retorno acaba despertando nele sentimentos que havia esquecido.

quarta-feira, 13 de novembro de 2024

Crítica – Gladiador 2

 

Análise Crítica – Gladiador 2

Review – Gladiador 2
Não creio que ninguém que tenha assistido Gladiador (2000) tenha saído do filme pensando “nossa, mal posso esperar por uma continuação que conte a história do filho do protagonista”, mas mesmo sem ninguém querer ou que fosse necessário para amarrar qualquer ponta da história que Ridley Scott contou há mais de vinte anos atrás, Gladiador 2 está entre nós. Não faz a menor diferença, não precisava existir, mas não é exatamente ruim.

Ecos da eternidade

A narrativa é centrada em Lucius (Paul Mescal), filho de Lucilla (Connie Nielsen) e Maximus (Russell Crowe) do primeiro filme. Para ser mantido em segurança Lucius foi mandado para longe e se tornou um guerreiro no norte da África. Quando suas terras são conquistadas por Roma e sua esposa é morta pelo general Acacius (Pedro Pascal) ele é vendido como escravo e usado como gladiador pelo inescrupuloso Macrinus (Denzel Washington). Agora Lucius retorna à Roma para se vingar do general e dos cruéis imperadores Geta (Joseph Quinn, de Stranger Things) e Caracalla (Fred Hechinger).

É basicamente a mesma premissa do primeiro filme, mas tudo é duplicado. Ao invés de um guerreiro que luta por vingança e para restaurar a justiça em Roma temos essas motivações divididas entre Lucius e Acacius. Ao invés de um imperador imaturo e sádico temos dois em Geta e Caracalla, mas de resto é a mesma história sobre defender “o sonho de Roma” que embalou a história trágica de Maximus.

Repetição também está no trabalho do elenco ainda que entreguem performances competentes. Denzel Washington devora o cenário ao interpretar Macrinus como uma versão romana e com mais joias do que um bicheiro carioca de seu Alonzo de Dia de Treinamento (2001). Macrinus é um sujeito ardiloso, que joga em vários lados sempre visando o ganho pessoal e está sempre a frente dos oponentes, como se ele estivesse jogando xadrez enquanto os demais jogassem damas. É um personagem que domina cada cena em que está, mas a essa altura da carreira Washington o interpretaria com as mãos amarradas nas costas. Connie Nielsen traz a mesma dignidade e altivez a Lucille que apresentava no original, enquanto Pedro Pascal traz um misto de honra e desilusão a Acacius.

Os dois imperadores, por outro lado são tão histriônicos que pendem para a caricatura. Joseph Quinn se sai um pouco melhor ao conseguir injetar algum mínimo grau de humanidade a Geta, mas o Caracalla de Fred Hirchinger passa do ponto do exagero e soa como um vilão de desenho animado. Sim, eu entendo que ele deveria ser um sujeito louco com o cérebro carcomido pela sífilis, mas mesmo entre toda essa loucura há uma pessoa ali (pensem em Forrest Whitaker como Idi Amin em O Último Rei da Escócia) e o trabalho de Hirchinger é tão exagerado ao ponto de soar falso.

Arena Mortal

O primeiro filme foi alvo de críticas por sua falta de precisão histórica, algo que nunca me incomodou pessoalmente, mas aqui Scott desvia tanto da realidade que o filme praticamente entra no domínio da fantasia. Digo isso não apenas por sua trama se povoada por muitos personagens ficcionais, mas por uma série de eventos que transcorrem, principalmente dentro da arena do Coliseu. Aqui vemos batalhas com rinocerontes, uma batalha naval com direito a tubarões nadando na arena uma série de outras ocorrências que qualquer leigo é capaz de dizer que se trata de liberdades artísticas.

Não que a ação seja ruim, pelo contrário, ela é um dos pontos altos do filme. Essas liberdades que Scott toma servem para evidenciar ainda mais a opulência e desigualdade de sua Roma corrompida que gastava horrores com esses jogos no Coliseu enquanto a população ficava à míngua e os espetáculos brutais serviam como uma distração para essa miséria. A condução de Scott é eficiente em construir o senso de escala dessas e o caos brutal desses embates. São lutas vencidas tanto na estratégia quanto na força e cujas consequências sangrentas o filme faz questão de exibir. Seja nas batalhas mais grandiosas ou em duelos mais íntimos, como na luta entre Lucius e Acacius, a produção instila uma energia intensa na ação e um senso de que Lucius e outros personagens passam por um risco palpável de serem derrotados. O senso de grandiosidade e de tragédia também é construído pela música, inclusive com o uso de faixas da trilha do primeiro filme como Now We Are Free de Hans Zimmer cuja melodia dá senso da jornada grandiosa de seus personagens enquanto os vocais de Lisa Gerrard, cuja letra menciona liberdade, constrói a dimensão transcendental e trágica dessa história.

É por conta desse senso de grandiosidade da ação e pelo trabalho do elenco que Gladiador 2 consegue oferecer algo de interessante ainda que não tenha nada que Ridley Scott já não fez melhor antes. De certa forma é como ver aquela banda que você gosta e que já não toca como antes sair em uma turnê cantando seus melhores sucessos. É bacana, mas você sabe que é uma reprodução menor do que veio antes.

 

Nota: 7/10


Trailer

terça-feira, 12 de novembro de 2024

Crítica – Pinguim

 

Análise Crítica – Pinguim

Review – Pinguim
O anúncio de que o recente Batman (2022) ganharia uma série derivada centrada no Pinguim (Colin Farrell) não me soava muito interessante. Parecia mais o tipo de tentativa de forçar mais um universo compartilhado cheio de spin offs do que algo que partia de alguma premissa interessante. Os primeiros episódios de Pinguim reforçaram um pouco essa impressão, já que apesar de um drama competente, tudo soava muito derivativo. O protagonista, com seu ego instável, sociopatia violenta, relação tóxica com a mãe e Complexo de Édipo mal resolvido remetiam tanto ao Tony Soprano que a série parecia ser basicamente um Família Soprano situado no universo do Batman.

sexta-feira, 8 de novembro de 2024

Crítica – The First Slam Dunk

 

Análise Crítica – The First Slam Dunk

Review – The First Slam Dunk
Apesar do título, The First Slam Dunk não é um prelúdio para a história do anime/mangá Slam Dunk de Takehiko Inoue. Na verdade, ele é uma espécie de continuação do anime ao adaptar o último arco do mangá e mostrar a partida decisiva entre os protagonistas do colégio Shohoku e os rivais do colégio Sannoh. De partida isso pode afastar novatos a este universo, já que encontramos esses personagens e suas relações plenamente desenvolvidos, mas o filme, dirigido pelo próprio Inoue em sua estreia como realizador de cinema, consegue funcionar como uma ótima introdução a Slam Dunk.

Vidas em jogo

A narrativa se passa durante a partida derradeira entre Shohoku e Sannoh e ao logo do jogo volta algumas vezes ao passado dos protagonistas para construir suas histórias e o que está em disputa para cada um naquela partida numa estrutura similar a Rivais (2024). Se o anime e mangá eram protagonizados pelo jovem delinquente Sakuragi, que entrava para um time de basquete para se aproximar de uma garota de quem gostava, aqui o foco da narrativa é Ryota, um armador de baixa estatura, mas muito ágil.

sexta-feira, 1 de novembro de 2024

Crítica – Red Rocket

 

Análise Crítica – Red Rocket

Resenha – Red Rocket
O diretor Sean Baker sempre demonstrou interesse por pessoas que vivem nas margens, que sobrevivem nas fissuras, nos cantos que nosso olhar não alcança ou não se interessa muito em chegar. Em Projeto Flórida (2017) acompanhava o cotidiano de uma garotinha que vivia uma existência nômade por hotéis baratos ao lado da mãe viciada. Neste Red Rocket o diretor acompanha um ator pornô fracassado que volta para sua cidade natal na costa do Texas.

Uma vida obscena

Mike (Simon Rex) chega cheio de hematomas à sua cidade natal e pede para ficar uns dias na casa da ex-esposa Lexi (Bree Elrod), de quem nunca se divorciou. Ela e sua mãe, Lil (Brenda Deiss), que vive na mesma casa, não o querem ali, mas Mike usa sua lábia para convencê-las em troca de ajudar no aluguel. Ele tenta conseguir emprego, mas é recusado por conta de seu passado como ator pornô. Ele acaba convencendo uma traficante local a deixá-lo vender maconha e passa a fazer ponto em uma loja de rosquinha vendendo para trabalhadores que passam no local durante a troca de turnos. Ele também fica interessado pela balconista da loja, a jovem Raylee (Suzanna Son), cujo apelido é Morango.

terça-feira, 29 de outubro de 2024

Crítica – O Poder e a Lei: Terceira Temporada

 

Análise Crítica – O Poder e a Lei: Terceira Temporada

Review – O Poder e a Lei: Terceira Temporada
Chegando a sua terceira temporada, O Poder e a Lei funciona como uma espécie de série conforto para mim. Não tem nada de novo em termos de drama de tribunal, mas executa esses elementos com competência e carisma para me manter interessado mesmo que eu perceba todos os lugares comuns em cena.

Lei para quem precisa

A trama segue onde o segundo ano parou, com Mickey (Manuel Garcia-Rulfo) tentando descobrir quem matou sua antiga cliente, Gloria (Fiona Rene), ao mesmo tempo em que defende o homem acusado de matá-la, Julian (Devon Graye), a quem Mickey considera inocente. Para o advogado inocentar Julian o levará diretamente ao culpado pela morte de Gloria, mas isso o coloca em meio a uma perigosa teia de crimes.

quarta-feira, 23 de outubro de 2024

Crítica – A Garota da Vez

 

Análise Crítica – A Garota da Vez

Review – A Garota da Vez
Estreia da atriz Anna Kendrick como diretora, A Garota da Vez parte de uma história real para analisar as tensões de navegar no mundo sendo mulher sob o constante temor de que os homens ao seu redor se revelem abusivos ou violentos. A trama acompanha Sheryl (Anna Kendrick), uma aspirante a atriz cuja carreira não consegue decolar. A agente de Sheryl consegue para ela uma participação em um game show ao estilo Namoro na TV, no qual ela deve ser uma garota interessada em conseguir um namorado e precisa escolher entre três solteiros que ela não vê e vai conhecer apenas através de perguntas. O problema é que um desses solteiros, Rodney (Daniel Zovatto), é um serial killer.

Mulheres objeto

Já na primeira cena com Sheryl em um teste de elenco o filme ilustra como Hollywood é um espaço que objetifica mulheres ao mostrar os dois produtores de elenco cochichando sobre a aparência da personagem enquanto a câmera abre o plano para mostrar que Sheryl está em pé bem diante deles. O final da cena, em que eles mudam de atitude no instante em que ela diz não se interessar por fazer cenas com nudez reforça a ideia de que ela está ali para servir ao olhar masculino.

Ao longo de todo o arco de Sheryl isso é constantemente reforçado pelas interações entre ela e outros homens e pelo modo como Kendrick filma essas situações. Seja em closes ou em planos mais abertos, os homens estão sempre entrando em quadro para encostar na personagem ou tocar seu rosto, como se invadissem seu espaço pessoal. Essas interações são sempre marcadas com um senso de desconforto, como na conversa que ela tem em um bar com o vizinho Terry (Pete Holmes), na qual ela acaba cedendo aos seus avanços apesar de inicialmente rejeitá-lo. Como na cena com os produtores de elenco, é visível como Terry muda de atitude no momento em que percebe que não irá conseguir o que quer dela e Sheryl decide ceder talvez por medo de sua reação ou por receio de alienar o único amigo que tem na cidade.

O senso de objetificação se reforça quando ela chega no set do programa no qual o apresentador vivido por Tony Hale constantemente comenta sobre a aparência de Sheryl, toca em seu corpo e diz que ela está ali apenas para ser bonita. Não à toa que o pequeno gesto de resistência da atriz de sair do roteiro e fazer perguntas jocosas aos candidatos que expõem o seu machismo é recebida com fúria pelo apresentador. Nesse sentido, o fato de Rodney dar todas as “respostas certas” soando como um cara legal mostra que não há padrão para homens abusivos e mesmo alguém que soa bacana ou inofensivo pode ser um potencial agressor, criando um senso de tensão crescente conforme Sheryl se aproxima de Rodney e demora a perceber sua real natureza.

Muitas vítimas, pouco tempo

A questão é a despeito de ideias interessantes e composições de planos cuidadosas, o filme derrapa em um material que tenta abrir várias frentes narrativas simultâneas, mas não desenvolve quase nenhuma a contento. A espectadora do programa que reconhece Rodney como o estuprador de sua amiga está ali só para mostrar como mulheres são ignoradas ou silenciadas em suas denúncias, seja por quem detêm poder, como os funcionários do estúdio que a ignoram, ou de quem está próxima dela, como o namorado, que a trata como doida ao invés de acreditar no que ela diz. A personagem existe mais como uma engrenagem em um mecanismo e menos como uma pessoa autônoma dotada de suas próprias motivações.

Os segmentos que mostram o passado de Rodney e como ele constantemente matava com impunidade ou evadia autoridades enquanto mantinha emprego em grandes jornais e instituições similares tenta reforçar a existência de estruturas de poder que protegem homens abusivos e entender como esse predador age, mas fica na superfície dessas ideias. Ocasionalmente o filme aponta para questões subjacentes da personalidade de Rodney, como as várias sugestões de que ele se interessa por homens, mas não faz nada com esse dado.

A narrativa também passa algum tempo com as vítimas do assassino, revelando como ele é um predador astuto, sempre se aproximando de mulheres sozinhas ou em situação de vulnerabilidade. O desfecho, que nos faz acompanhar uma sobrevivente de seus ataques, analisa como a sobrevivência dela se relaciona em tentar manter um senso de normalidade com seu abusador, agindo como se nada demais tivesse acontecido para ganhar tempo para escapar. O problema é que passamos muito pouco tempo com essa personagem para que seu arco tenha o impacto devido e, considerando que é ela a responsável pela captura do assassino me pergunto por que não seria sua história a central para a trama ao invés da trama de Sheryl, que não seria muito mais que uma nota de rodapé na trajetória do assassino.

Do jeito que está, A Garota da Vez fica na superfície de seus temas principais, apontando os abusos e os mecanismos que facilitam sua perpetuação, mas fazendo pouco para analisar seu funcionamento, se dividindo em múltiplas tramas que não saem da superfície. É competente na construção do senso de desconforto experimentado por Sheryl no seu cotidiano e Anna Kendrick se mostra muito consciente das escolhas que faz como diretora, uma pena o texto não estar à altura disso.

 

Nota: 6/10


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