quinta-feira, 26 de junho de 2025

Crítica – Tempo de Guerra

 

Análise Crítica – Tempo de Guerra

De certa forma Tempo de Guerra passa por questões similares a Falcão Negro em Perigo (2001). Ambas são produções tecnicamente bem feitas nas suas reconstruções de situações de guerra, mas que é míope demais no contexto ao redor desse conflito para que seu efeito seja qualquer outra coisa que não uma celebração maniqueísta da resiliência das tropas retratadas.

Guerra interior

A trama conta a história real de uma tropa de fuzileiros durante a Guerra do Iraque que ficou acuada em dentro de uma casa enquanto tentavam dar suporte a outra unidade. Sem ter como sair e com soldados feridos, eles tentam resistir aos ataques externos enquanto buscam um modo de cuidar dos feridos e evacuar em segurança. A narrativa se passa em tempo real, acompanhando a situação conforme ela se desenrola e busca um registro mais realista de uma operação de guerra.

Isso se verifica principalmente na paisagem sonora. O filme não usa música e recorre a ruídos ambientes para evocar o silêncio que envolve as ações cotidianas dos soldados. Como Sam Mendes já tinha mostrado em Soldado Anônimo (2005), muito da guerra é ficar parado esperando algo acontecer. Em termos de som, o filme evita certas convenções de representação de armas de fogo, como constantes ruídos metálicos de armas chacoalhando (aquele “tlec tlec” toda vez que alguém se movimenta com uma arma e que não costuma acontecer no mundo real). Sons de tiros são menos explosivos, se apresentando como estouros secos.

Quando o caos irrompe, o filme não se furta de mostrar as consequências sangrentas de uma explosão ou o efeito psicológico que ver os companheiros estraçalhados tem nos soldados que sobrevivem, a exemplo da cena em que Ray (D'Pharaoh Woon-A-Tai) não consegue colocar um torniquete na perna de Sam (Joseph Quinn) por conta do tremor das suas mãos ou como o líder da unidade Erik (Will Poulter) fica tão abalado que passa o comando da operação para o colega que está a frente da unidade que chega para resgatá-los. O mesmo acontece quando Macdonald (Michael Gandolfini) tenta injetar morfina em Elliott (Cosmo Jarvis, de Xógum) e acaba injetando a droga em si mesmo por acidente.

Conflito simplório

O problema é que toda essa encenação bem cuidadosa não está a serviço de muita coisa além de celebrar a bravura dos soldados que conseguiram sair dali com vida. Não há nenhum esforço de entender qualquer outra variável, nem mesmo a família que os soldados prendem na própria casa durante a realização da operação tem muito tempo ou o filme demonstra qualquer interesse, como se aqueles soldados tivessem todo o direito de aterrorizar uma população civil acordando-os no meio da madrugada sob a mira de fuzis.

O filme também não pondera sobre a Guerra do Iraque em si. Claro, os soldados que estavam ali naquele momento estavam focados em sobreviver, mas este é um filme feito quase vinte anos depois dos eventos e o tempo nos dá a clara perspectiva de que foi uma guerra fabricada para servir interesses econômicos e cujos resultados trouxeram ainda mais instabilidade à região e não ajudaram a tornar os Estados Unidos mais seguros. Em nenhum momento o filme considera a possibilidade de que aquelas pessoas não deveriam ou precisariam estar ali, que foram usadas, sacrificadas em prol dos interesses de outros. Do jeito que é construído, o único problema são os insurgentes locais que os atacam e não todo o contexto estúpido daquela guerra. Entendo que a intenção era fazer jus aos soldados que morreram e sobreviveram, mas é possível pensar no modo como os cidadãos são usados como buchas de canhão em uma guerra que não lhes interessa sem necessariamente ser desrespeitoso com o sacrifício deles. Do modo como a trama se desenvolve ela termina mais como um endosso dessa realidade de guerra e intervencionismo militar estadunidense do que uma reflexão sobre essa lógica de conduta.

 

Nota: 5/10


Trailer

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