Elite do atraso
A trama acompanha uma reunião de quatro bilionários de tecnologia. Souper (Jason Schwartzman) traz os amigos Randall (Steve Carell), Venis (Corey Michael Smith) e Jeff (Ramy Youssef) para passar um final de semana em sua mansão na montanha. Ao longo do dia eles veem instabilidade política e econômica tomarem o planeta conforme uma atualização da IA criada por Venis permite fazer conteúdo quase que indistinto da realidade, o que obviamente começa a ser usado para fins espúrios. O quarteto começa a ver isso como uma oportunidade e passam a discutir maneiras de tomar proveito da situação e ficarem ainda mais ricos.
Armstrong faz de seu quarteto um bando de babacas escrotos e patéticos, que só se importam consigo mesmos e veem o mundo como um tabuleiro no qual podem brincar, algo que o filme explicita em uma metáfora pouquíssimo sutil no qual eles conversam diante de um tabuleiro de jogo ao estilo War. Esse é o principal problema, a falta de qualquer sutileza ou nuance que o filme traz. Seus personagens são caricaturas tão rasas ao ponto de serem quase indistintos uns dos outros.
Como a maioria das pessoas no mundo de hoje entendo a revolta contra essa classe de “tech bros” que erodem democracias e o próprio senso de realidade apenas para encher os próprios bolsos, os considero pessoas vis e desprezíveis, mas numa narrativa ficcional eu devo ao menos ter algum interesse com os personagens que acompanho, Jesse Armstrong fez isso muito bem em Succession, mas aqui ele soa mais como Ruben Ostlund em Triângulo da Tristeza (2022) no qual o desdém que ele tem por seus personagens os reduz a caricaturas sem graça que parecem saídas de algo como Zorra Total.
Mundo em colapso
Outro problema é que nunca sentimos a urgência do colapso global que o filme constantemente nos informa que está acontecendo e, com isso, todas as discussões e manobras de tomada de poder que os personagens tentam nunca soam como algo dotado de peso ou consequência. Eu sei que a ideia é nos manter dentro daquele espaço confinado e fazer o espectador acompanhar os eventos sob a ótica dos personagens, mas é perfeitamente possível criar drama mesmo com os protagonistas longe da ação. Diabos, Succession fez isso muito bem no episódio sobre eleições da última temporada. Isso para não falar de como Stanley Kubrick construiu um senso de paranoia sobre uma iminente guerra nuclear no excelente Dr. Fantástico (1964) mesmo situando praticamente toda trama dentro do bunker presidencial.
Se os personagens são caricaturas vazias e o senso de drama é inexistente, então não há praticamente nada além do nosso desdém por essa classe de bilionários para nos manter conectados a narrativa, mas nem mesmo nossa revolta coletiva consegue ser mobilizada de maneira eficiente pelo filme. Criticas bilionários da tecnologia seria, em tese, um alvo super fácil, existem vários caminhos para construir discursos contundentes indiciando esses indivíduos por vários males do mundo atual e, ainda assim, Mountainhead não consegue dizer nada além de atestar o óbvio, que eles são pessoas ruins. Já sabíamos disso antes do filme começar e ele não faz nada para ampliar nosso repertório a respeito do tema, lançar luz sobre novos olhares ou mesmo fazer uma execução impactante de críticas já familiares a esse tipo de pessoa.
A performance de Steve Carell ao menos consegue instilar alguma humanidade em Randall conforme ele lida com a própria mortalidade e a perspectiva de morte dentro de alguns anos, algo que mesmo seus muitos bilhões não conseguem evitar. Mesmo que o texto não tenha muito interesse nisso, Carell constrói Randall com o desespero silencioso de alguém que passou a vida inteira achando que seu dinheiro resolveria qualquer problema e agora percebe que mesmo sua vasta riqueza tem limites no que pode lhe proporcionar. Os demais personagens, no entanto, são desprovidos de qualquer característica digna de nota.
No fim, Mountainhead falha em trazer qualquer reflexão mais consistente
sobre o papel dos bilionários de tecnologia no estado atual das coisas, se
limitando a constatar o óbvio através de uma caricatura rasa.
Nota: 3/10
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