Crítica – Como Ganhar Milhões Antes que a Avó Morra

 

Primeiro longa-metragem do diretor Pat Boonnitipat, a produção tailandesa Como Ganhar Milhões Antes que a Avó Morra parte de uma premissa inusitada para contar uma afetuosa história sobre família, luto e legado. Às vezes é um pouco previsível, mas tem charme e emoção o suficiente para nos manter interessados.

Esquema afetivo

A narrativa é centrada em M (Putthipong Assaratanakul), um jovem sem perspectiva de futuro que passa seu tempo com jogos online. Ele vê a prima Mui (Tontawan Tantivejakul) tomar conta de um tio idoso e saltar para a prioridade em seu testamento, ficando com a casa dele quando ele morre. Percebendo como a herança permitiu que a prima subisse na vida, M enxerga a notícia que sua avó, Amah (Usha Seamkhum), está com câncer e provavelmente só tem um ano de vida, como uma possibilidade de ganhar a preferência da avó e ficar no topo das prioridades por herança.

Mesmo com a família não contando para avó sobre sua doença severa, M decide ir morar com ela e ajudá-la em seu cotidiano, o que a deixa desconfiada. Ganhar o favoritismo da avó, porém, não vai ser fácil, já que ela tende a favorecer seu filho mais velho, Kiang (Sanya Kunakorn), um day trader que negligencia a mãe, e seu filho caçula que não faz nada da vida, Soei (Pongsatorn Jongwilas). A mãe de M, Sew (Sarinrat Thomas), a única devotada a cuidar da mãe, por outro lado, é sempre subestimada por Amah.

É nesse cenário de disputa afetiva que M tenta se inserir e a partir do momento em que ele começa a morar com ela fica um pouco evidente como as coisas vão transcorrer. Se inicialmente ele vê a avó como um mero objeto para conseguir sua herança, aos poucos ele passa a vê-la como pessoa e desenvolve uma conexão genuína com ela, o que só vai tornar sua eventual partida mais dolorosa para ele.

Jornada agridoce

Chama atenção como o filme transita com muita naturalidade entre o drama e a comédia. A produção não suaviza a severidade do câncer da avó e deixa claras as dificuldades de cuidar de alguém em estado terminal. Ao mesmo tempo, a narrativa não permite que as coisas caiam para um pessimismo sombrio, sempre encontrando momentos de leveza e humor, como a divertida cena em que M vai dar banho na avó pela primeira vez.

A trama constrói bem o arco de M, de um jovem preguiçoso aproveitador para alguém responsável que passa a realmente se importar com a avó, mesmo quando parece que apesar de tudo ele será preterido em favor dos tios igualmente aproveitadores. Os últimos minutos guardam algumas guinadas inesperadas que evidenciam o crescimento do protagonista e o tanto que ele aprendeu sobre a avó.

Nesse sentido o filme é também um exame da cultura tailandesa, em especial na relação dessa cultura com a morte, observando a importância dos rituais fúnebres e das várias escolhas que estão em jogo nesses momentos. Provavelmente muitos elementos culturais devem passar batido para nós, uma audiência que não conhece à fundo essa cultura, mas não deixa de ser um veículo interessante para que saibamos mais sobre o modo de vida dessa população e sua perspectiva em relação àqueles que partiram.

Assim, ainda que seja uma história relativamente sem muitas surpresas, Como Ganhar Milhões Antes que a Avó Morra emociona pelo seu exame sincero e agridoce sobre relações familiares, luto e legado.

 

Nota: 7/10

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