Conto antigo
A premissa da história se mantem a mesma, Branca de Neve (Rachel Zegler) é uma jovem princesa que cresce controlada pela Rainha Má (Gal Gadot), que tomou o controle do reino depois da morte de seu pai. A Rainha é obcecada pela beleza e por ser a mais bela do reino, mas quando seu espelho mágico diz que Branca de Neve é a mais bela, a Rainha decide matá-la. Assim, Branca de Neve foge para a floresta onde é acolhida pelos sete anões. Em seu exílio ela conhece Jonathan (Andrew Burnap), um charmoso renegado que lidera a resistência contra a Rainha.
Há uma clara tentativa de atualizar a animação original da década de 30 produzida pela Disney. Nisso há o esforço que de que a protagonista seja mais assertiva e menos passiva, bem como uma tentativa de que sua relação com Jonathan (substituindo o príncipe da animação) não se resuma ao beijo dado quando todos acham que ela está morta. O problema não está tanto na ideia de atualizar, mas na execução.
Ainda que o filme não reduza a princesa a uma donzela que precisa ser salva o tempo todo, ainda assim ela nunca é colocada como uma líder capaz de resolver as coisas sozinha ou cuja capacidade soe convincente. O melhor exemplo disso é o final quando ela volta ao castelo confrontar a Rainha. Ainda que faça sentido que Branca de Neve recuse a adaga que a vilã lhe dá (afinal é um filme infantil e não daria para acabar com a Branca de Neve esfaqueando a Rainha como se fosse o final de Duna: Parte 2), o fato dela convencer os solados a se voltarem contra a sua antagonista só porque ela lembra os nomes deles é tão pouco convincente quanto a cena do “salve Martha” em Batman vs Superman (2016). Não ajuda que o confronto final com a Rainha Má seja basicamente a vilã se destruindo sozinha enquanto Branca de Neve apenas observa.
Fantasia sem encanto
Também sem importância são os sete anões, que aqui viram seres mágicos da floresta. Todos feitos em computação gráfica, os sete são criaturas bizarras, cujo visual fica em um meio termo esquisito entre o cartunesco e o fotorrealista, entregando seres que soam incomodamente esquisitos e meio que monstruosos, ao invés de seres mais fofos como na animação. Aqui eles abrigam a princesa e, bem, é isso. Nem no confronto final com a rainha eles tem qualquer relevância, em oposição à animação na qual eles a caçavam de maneira implacável em um desfecho que era relativamente sombrio.
Ao invés disso, Branca de Neve passa mais tempo com a trupe de renegados de Jonathan que, curiosamente, também tem sete integrantes como se em alguma versão do roteiro eles tivessem sido pensados para substituir os anões, mas depois voltaram na decisão ou alguém misturou rascunhos diferentes e ficamos com dois conjuntos de sete personagens sem que nenhum dos grupos tenha muito a fazer.
O romance com Jonathan até recebe algum tempo para florescer, mas é o típico clichê do casal que parece se detestar até perceber que se ama. Rachel Zegler se sai bem nos números musicais, ainda que as canções em si na sua maioria não sejam muito memoráveis, mas em todo resto sua Branca de Neve soa insossa. Muito disso é mais do texto do que dela, já que o material, como já disse antes, não faz muito para tornar a princesa uma figura interessante ou mesmo decisiva em boa parte dos confrontos. Na verdade, Zegler não apenas recebe um texto ruim, mas até figurino e penteado ruins. A tentativa de emular o vestido da animação a faz parecer uma cosplayer e o cabelo parece mais o Lorde Farquaad do Shrek do que o cabelo chanel da animação original. Quando um filme sequer consegue acertar a peruca, é porque há algo muito errado.
Gal Gadot está completamente fora do tom como a Rainha Má, em uma composição exagerada que pende mais para a comédia do que para a crueldade. Imagino que a ideia é que ela fosse o tipo de vilã que tem plena consciência da própria maldade e se satisfaz com isso, o problema é que Gadot entrega uma performance cheia de histrionismo, mas sem qualquer malícia, veneno ou ameaça. A nova canção feita para dar um número musical para a Rainha conforme ela canta pelo castelo é completamente constrangedora e só não é a pior cena musical que vi esse ano porque tivemos Emilia Perez.
No fim, Branca de Neve transparece exatamente o que ele é, um produto
pensado por executivos de estúdio, que não tem uma visão própria sobre essa
história, nem um foco no que quer fazer com esse universo, achando que a mera
nostalgia pela animação original será suficiente para manter o público
interessado nesse produto inane.
Nota: 3/10
Trailer
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