quarta-feira, 25 de junho de 2025

Crítica – Homem Com H

 

Análise Crítica – Homem Com H

Review – Homem Com H
Desde o início dos anos 2000 as cinebiografias musicais se tornaram um filão comercial no cinema brasileiro. Nem todas estão no mesmo nível de qualidade, com algumas, como Tim Maia (2014), se destacando enquanto outras, como a biografia dos Mamonas Assassinas, ficando aquém de seus biografados. Homem Com H, por sua vez, é uma das melhores produções dos últimos anos ao acompanhar a trajetória de Ney Matogrosso.

Sangue Latino

A narrativa acompanha Ney (Jesuíta Barbosa) desde sua juventude até cerca dos anos 90 quando ele perde seu companheiro, Marco (Bruno Montaleone), por complicações relativas à AIDS. Ao longo de sua vida, vemos Ney Matogrosso lidou com o preconceito desde cedo por conta de seu pai (Rômulo Braga), militar severo que batia no filho por conta do comportamento afeminado, além de desafiar a ditadura militar com seus figurinos e performances musicais.

É uma estrutura bem típica de cinebiografia que às vezes sofre por ter que cobrir um recorte temporal muito amplo. Com isso, soa episódica em muitos momentos já que precisa passar por uma série de eventos sem que muitas vezes haja o tempo devido para desenvolver certas situações, saltando rapidamente de um período temporal a outro. O filme se ancora, no entanto, na performance de Jesuíta Barbosa como Ney Matogrosso, que consegue ir além da mera mimese do tom de voz e dos trejeitos do cantor e capta de maneira muito precisa a personalidade intensa, afetuosa, por vezes geniosa e também vaidosa do cantor. Se muitas cinebiografias (e não apenas as brasileiras) se contentam em apenas reproduzir as ações do biografado, aqui há um esforço genuíno de entender o que move Ney como pessoa e como artista.

Música plural

Nesse sentido a produção evita ser um relato meramente laudatório, mostrando a relação conflituosa entre Ney e o pai, as brigas que levaram a sua saída da banda Secos & Molhados, bem como seus problemas com drogas e a relação conturbada com Cazuza (Jullio Reis), algo que, por sinal, não foi explorado na biografia do cantor, Cazuza: O Tempo Não Para (2003). Os números musicais são integrados na narrativa pelo modo como as performances servem para dar vazão aos sentimentos e estados de ânimo do personagem, usando em seu favor a força do canto e da performance do cantor.

Vemos na cena em que ele canta Homem Com H que funciona como uma afirmação de sua identidade e sexualidade desafiando os padrões da época ou no momento em que ele canta O Mundo é um Moinho, de Cartola, enquanto a montagem nos mostra Ney cuidando do pai doente na cama, com a canção ilustrando o fechamento de ciclo na relação dele com o pai. A cena, inclusive, usa uma luz estourada e meio borrada, como que querendo sugerir que a performance ocorre na imaginação do personagem. São números musicais que não apenas ressaltam o que Ney Matogrosso tem de tão singular enquanto artista, como também servem de janela para seu mundo interior, nos ajudando a compreender como sua trajetória influenciou em suas escolhas artísticas.

Assim, Homem Com H é uma envolvente biografia sustentada pelo trabalho de Jesuíta Barbosa e pela força das canções de Ney Matogrosso.

 

Nota: 8/10


Trailer

Nenhum comentário: