terça-feira, 13 de maio de 2025

Crítica – A Avaliação

 

Análise Crítica – A Avaliação

Review – A Avaliação
Em um mundo pós apocalíptico em que os recursos são escassos e há um grande controle populacional por parte do governo, qualquer casal que deseje ter filhos precisa se submeter a um processo no qual são avaliados por alguns dias para analisar se eles tem condições de criar filhos. A Avaliação parte desse conceito para pensar sobre relacionamentos afetivos, controle populacional e totalitarismo estatal.

Teste despadronizado 

A narrativa foca no casal Mia (Elizabeth Olsen) e Aaryan (Himesh Patel), dois cientistas que se submetem ao processo de avaliação para tentarem ter um filho. Eles são avaliados por Virginia (Alicia Vikander) que irá ficar com eles por sete dias observando diferentes aspectos da vida do casal para determinar se eles estariam aptos a terem filhos ou não. De início Virginia age de forma bastante protocolar, perguntando sobre o trabalho do casal ou a relação deles, mas a partir do segundo dia, os testes passam a ser menos ortodoxos, incluindo Virginia se comportando como criança para testar as reações deles ou tentando seduzi-los.

Deveria ser um processo obtuso no qual ficaríamos em dúvida sobre o que estava sendo avaliado e quais as intenções reais da avaliadora, se certas atitudes seriam parte da avaliação ou se seriam Virginia agindo por conta própria servindo seus interesses em relação ao casal. Digo deveria porque é bem transparente o motivo de cada ação que ela faz, com o texto sendo tão pouco sutil que fica fácil até antever a reviravolta do real motivo de Virginia estar ali. É uma pena, já que Alicia Vikander é muito boa em fazer personagens ambíguas, conforme mostrou em Ex Machina (2015) ou Pássaro do Oriente (2019).

O teste também mexe com feridas antigas do casal, seja ao mencionar o fato de que a mãe de Mia foi, de algum modo, expulsa desse lugar seguro no mundo e mandada para o “velho mundo” ou que Aaryan já tinha passado antes pela avaliação e fracassado ao lado de uma antiga companheira. É como se as ansiedades sobre paternidade começassem a desenterrar todos os problemas que eles acreditavam ter superado. As revelações sobre o estado daquele mundo e o que possivelmente existe fora dele são feitas de maneira muito orgânica, com conversas casuais aos poucos insinuando como aquele mundo funciona e como as coisas ficaram daquele jeito.

Rigidez visual

Ao mesmo tempo em que Mia e Aaryan vão sendo avaliados, a trama desvela como apesar de tudo parecer como uma utopia em que todos estão seguros e plenos após um apocalipse, apontando para uma reconstrução da humanidade, na prática aquelas pessoas parecem estar vivendo sob um regime totalitário no qual cada aspecto e de suas vidas, incluindo seus corpos, está sob o policiamento do Estado.

A rigidez da vida em que eles vivem é sentida no design de produção, com espaços tomados por linhas retas sempre dividindo e segmentando e com cores que só ocupam espaços dentro de linhas específicas. Em muitos momentos, essas linhas e cores remetem a pinturas de Mondrian, mas, ao mesmo tempo essa arrumação em que tudo está delimitado e colocado dentro de um espaço especifico soam menos como os estudos de forma e cor do pintor abstrato holandês e mais como um exercício de controle constante de espaços, movimentos e formas.

O que se impõe diante do casal protagonista é se eles estão dispostos a aceitar o conforto que esse espaço controlado fornece para eles, mesmo sabendo que nunca conseguirão plenamente tudo que desejam ou se arriscam tudo para tentar viver no “velho mundo” com todas as incertezas que esse espaço traz em si. A escolha de manter a câmera no rosto de Mia ao final, sem nunca mostrar o que é esse “velho mundo” deixa em aberto para o espectador interpretar a respeito da decisão final da protagonista.

Assim, ainda que careça de ambiguidade para que suas provocações impactem como deveriam e não dê conta de todos os seus temas, A Avaliação ao menos consegue oferecer um interessante exame sobre os anseios da maternidade e o quanto estamos dispostos a sacrificar por conforto ou para conseguirmos o que desejamos.

 

Nota: 6/10


Trailer

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