Confinamento veicular
A narrativa é centrada em Eddie (Bill Skarsgard) um criminoso pé de chinelo que está tentando juntar dinheiro para pagar suas dívidas e tentar rever a filha, cujos direitos de visitação perdeu por conta de seus problemas legais. Um dia ele vê uma SUV de luxo parada em um estacionamento deserto e tenta abri-la na esperança de encontrar algo de valor. Ao entrar ele se vê trancado no carro e uma voz vinda do computador de bordo se anuncia como William (Anthony Hopkins), um homem que transformou o carro em uma armadilha para criminosos. Transformando o veículo em uma câmara de tortura digna do Jigsaw de Jogos Mortais, William tenta punir Eddie enquanto ele tenta pensar em um meio de sair dali.
Skarsgard é convincente no desespero crescente de Eddie conforme ele vê suas opções de fuga diminuírem a cada nova tentativa e no modo como ele nos convence da degradação física e mental de Eddie por conta dos vários dias confinado praticamente sem comer ou beber nada, não conseguindo sequer dormir por conta de William manter um som alto dentro do carro para manter seu refém desperto. As qualidades do filme, no entanto, param por aí.
Embora seja um suspense, há muito pouco senso de perigo ou urgência pelo modo como se dá a dinâmica entre Eddie e William, com o captor mais interessado em palestrar para ele o tempo todo do que efetivamente puni-lo. Talvez o único momento de tensão seja a cena em que William guia remotamente o carro na intenção de colidir com uma criança e Eddie tenta dissuadi-lo. O texto também tem uma série de eventos implausíveis que tornam difícil continuar aderindo à história. Considerando como vias movimentadas de grandes cidades são hoje cheias de câmeras, é difícil crer que ninguém notaria esse carro dirigindo insanamente pela rua durante vários dias e estaria à procura dele, por exemplo.
Classes em conflito
O filme também tenta ser um conto moral sobre conflito de classes a partir das discussões entre William e Eddie, mas não consegue ir além de platitudes vazias que reduzem qualquer reflexão sobre dinâmicas sociais e de poder entre classes sociais aos clichês mais batidos ao ponto em que empobrece qualquer discussão sobre o tema.
Para que esse debate de classe e moralidade pudesse funcionar seria preciso também mais ambiguidade moral entre os dois personagens. Ainda que tenha alguma motivação para suas ações, William é desde o início estabelecido como um psicopata sádico que tem prazer em torturar Eddie. Para que o personagem funcionasse, o filme deveria dar o devido peso ao trauma passado de William e como isso o transformou em alguém muito diferente do que ele era e se perdeu na própria dor. Como isso não acontece, William fica só como um ricaço reacionário e fica difícil embarcar no questionamento moral que o texto tenta desenvolver ao redor dele.
Do mesmo modo, Eddie é mais um sujeito azarado recorrendo a crimes por desespero do que alguém que é propriamente um criminoso calejado. Até mesmo o fato dele abrir a porta do carro ao invés de arrombar já derruba todo o debate que filme tenta construir se ele merece ou não o que William faz com ele, já que isso coloca mais como uma vítima de um sujeito caricaturalmente cruel do que como um criminoso mau caráter que talvez esteja recebendo o que merece. Mais uma vez toda a ambiguidade moral que o filme pensa ter não se concretiza. Se um filme quer fazer um complexo debate moral sobre a conduta de seus personagens, eles precisam efetivamente ter uma moralidade complexa ao invés de figuras maniqueístas.
É nessa toada de suspense sem
tensão e conflito de classe inane que Confinado
se arrasta até um desfecho desprovido de qualquer impacto porque o filme
não consegue fazer sua audiência se importar com nada que acontece em cena.
Nota: 2/10
Trailer
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