sexta-feira, 23 de maio de 2025

Rapsódias Revisitadas – Lilo & Stitch (2002)

 

Análise – Lilo & Stitch

Review – Lilo & Stitch
Quando Shrek foi lançado em 2001 sacudiu o meio da animação de Hollywood ao apresentar um filme acessível para todas as idades com um protagonista que estava bem distante do tipo de personagem típico das animações da Disney, a principal referência no meio. Nesse sentido, não parece coincidência que pouco tempo depois a Disney lança uma animação que, como o ogro Shrek, era protagonizada por uma criatura bruta, destrutiva, mau-humorada e de caráter duvidoso, quase como uma resposta à Dreamworks. Até a publicidade do filme era focada em mostrar como o monstrinho Stitch era uma antítese de tudo que a Disney tinha feito até então, deixando evidente que a Casa do Mickey queria chamar atenção do público que gostou de Shrek por ser “anti-Disney”.

Ohana significa família

A trama acompanha Lilo, uma menina de cinco anos que perdeu os pais e é criada pela irmã mais velha, Nani. Lilo é bem solitária e Nani luta para manter um emprego sob o risco de perder a guarda da irmã. Depois que Lilo cria problemas na escola, Nani decide levá-la para adotar um cachorro, pensando que um animal de estimação aplacaria a solidão da menina. É aí que Lilo encontra Stitch, uma criatura alienígena fruto de experimentos genéticos que veio fugida para a Terra e está sendo caçado por forças intergalácticas. Agora, Lilo deve ajudar Stitch a ser parte de sua família, ao mesmo tempo em que a criatura tenta encontrar um meio de evadir seus perseguidores.

As primeiras cenas mostram como Lilo é isolada pelas colegas de escola e como a menina tem problemas de lidar com sua agressividade, provavelmente por não ter processado direto a perda dos pais e o senso de isolamento com o qual vive. Ter que educar uma criatura tão ou mais indomável que ela mesma serve como um meio para que Lilo se coloque no lugar da irmã e entenda o esforço dela para manter a família unida a despeito das dificuldades impostas por ter que cuidar de uma criaturinha de temperamento difícil.

Seria fácil, inclusive, tornar Nani a vilã da história, fazer dela a irmã frustrada obrigada a parar a vida para criar a irmã pequena e que desconta na menina os seus problemas. Felizmente o filme não faz isso e coloca Nani como uma jovem que tenta fazer o melhor que pode para manter unida o que restou da família, ainda que muitas vezes seja relativamente imatura para os desafios que se impõem a ela.

No ritmo do rei do rock

É uma história sobre luto e sobre família, lembrando que família não são apenas laços de sangue, mas aquela que construímos. O arco de Lilo e de Stitch é o de finalmente encontrarem uma sensação de pertencimento, de que são parte de uma unidade familiar. Há uma dimensão dramática e emotiva no modo como o filme lida com essa história, mostrando as brigas entre Lilo e Nani, as dificuldades de Nani em conseguir um emprego e no modo como Lilo se conecta com Stitch mesmo com a criatura causando todo tipo de dificuldades para ela.

Por outro lado, a narrativa também explora a comicidade de Stitch tentando se encaixar no cotidiano da família e Lilo tentando ensinar a criatura a conter seus impulsos mais destrutivos. Muito do humor vem de momentos musicais nos quais Lilo tenta usar a música de Elvis Presley para ensinar Stitch a ser uma pessoa boa, com direito a uma cena de Stitch fantasiado como Elvis em sua fase Las Vegas, embora os esforços da menina sempre falhem miseravelmente por conta dos impulsos de Stitch. A comédia também vem das tentativas frustradas das autoridades alienígenas em capturar Stitch, com a criatura tapeando seus perseguidores ou seus toscos disfarces chamando mais atenção do que deveriam.

Se a primeira metade estabelece muito bem os dramas familiares de Lilo e Nani, bem como o que está em jogo para elas e para Stitch, a resolução desses conflitos, porém vem um pouco rápido demais quando Lilo é capturada por forças alienígenas fazendo Nani e Stitch logo se entenderem e as diferenças entre esses personagens se resolverem de maneira muito fácil. O desfecho ainda recorre a uma série de conveniências, como o fato do assistente social Cobra Bubbles, que monitorava o caso de Nani e Lilo, ser convenientemente um ex-agente da CIA com experiência em lidar com alienígenas.

Mesmo com o clímax resolvendo a trama de uma maneira muito acelerada, Lilo & Stitch conquista pelo humor abrasivo de seu protagonista e pela emoção sincera da dinâmica familiar que tenta construir.


Trailer


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