Guerreiro do proletariado
A trama é centrada Levon (Jason Statham) militar veterano que tenta reconstruir a vida trabalhando para uma pequena empresa de construção. Quando a filha dos patrões é sequestrada, ele se compromete a ajudar a encontrá-la por gratidão à família o ter acolhido. A partir daí a trama se desenvolve como se espera, com o protagonista eliminando um a um os membros da quadrilha de tráfico de pessoas até encontrar a filha do chefe.
É uma defesa do vigilantismo urbano por parte do cidadão, repetindo o mito de que um “cidadão de bem” armado é o que vai deter a criminalidade armada, inclusive fazendo questão de apontar ao longo da narrativa a ineficiência e corrupção da polícia, deixando a ideia de justiça com as próprias mãos como o único meio de resolver as coisas. Isso já era questionável lá na década de 80 e hoje, com constantes tiroteios em massa nos EUA promovidos por figuras que se identificam com essa ideia de vigilantismo armado, soa ainda mais problemático.
Levon é o tipo de herói durão e estoico com um trauma do passado envolvendo seu tempo como militar. A narrativa até tenta esboçar uma crítica ao tratamento dado aos veteranos do exército quando voltam para casa, mas isso nunca é desenvolvido. Toda vez que algum personagem tenta questionar o estado mental de Levon e o fato dele provavelmente sofrer de estresse pós-traumático, a narrativa se recusa a reconhecer que isso é um problema e pinta como antagonista qualquer personagem que fale disso.
O melhor exemplo é o avô de Merry (Isla Gie), filha de Levon, que a todo momento é tratado como um babaca pela trama por fazer questionamentos pertinentes sobre o estado do protagonista que se recusa a reconhecer que tem um problema ou buscar ajuda. Mesmo quando todas as críticas do avô se concretizam quando os criminosos russos que Levon está caçando vão à casa de Merry e do avô para matá-los, ainda assim a narrativa trata como se o discurso do avô estivesse completamente errado simplesmente porque Levon os salvou, sendo que foram as ações dele que levaram aquela ameaça até eles. O ângulo do trauma poderia ajudar a dar camadas diferentes ao protagonista, mas ao se recusar a reconhecer que há qualquer coisa de errada com ele, o filme limita Levon a um clichê raso.
Violência estúpida
Nem mesmo a ação consegue oferecer momentos interessantes. Ainda que as lutas ou interrogatórios demonstrem a brutalidade do herói, a ação sofre com aquele tipo de montagem picotada que faz tudo soar fragmentado e desconexo ao invés de aproveitar as habilidades marciais de Jason Statham. Ocasionalmente a ação apresenta uma ou outra ideia interessante, como o momento em que Levon usa uma câmera com monitor bluetooth acoplado em sua arma para atirar nos inimigos sem sair da cobertura. Esses momentos, no entanto, são bem pontuais e não compensam uma ação pouco imaginativa e filmada de modo burocrático.
Em muitos momentos o personagem elimina inimigos capturados antes de extrair deles informações que precisaria para continuar a investigação, como acontece na cena em que ele tortura Wolo (Jason Flemyng). Ao invés de fazer Wolo dizer quem é Dimi (Maximilian Osinski) ou onde encontrá-lo, Levon se contenta com o nome sem contexto e mata Wolo, precisando então fazer uma longa tangente até encontrar outra pessoa que o direcionasse a Dimi. Se a morte de Wolo tivesse sido acidental ou que Levon fosse forçado a isso por Wolo tentar atacá-lo as coisas até fariam sentido, mas matar uma fonte sem ter toda a informação faz o protagonista soar como um homicida burro e não como o operativo experiente que a narrativa tenta nos convencer que ele é.
No fim das contas, Resgate Implacável não consegue ser nada
mais do que um monte de clichês datados e ação que não empolga.
Nota: 3/10
Trailer
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