terça-feira, 20 de maio de 2025

Crítica – Capcom Fighting Collection 2

 

Análise Crítica – Capcom Fighting Collection 2

Review – Capcom Fighting Collection 2

Nos últimos anos a Capcom vem trabalhando bastante para tornar disponíveis seus sucessos de outrora que não era possível mais jogar oficialmente em praticamente nenhuma plataforma. A primeira Capcom Fighting Collection era uma coletânea de games de luta que trazia de volta franquias como Darkstalkers e Cyberbots. Ano passado foi a vez dos jogos de luta em parceria com a Marvel na Marvel vs Capcom Fighting Collection. Agora é a vez de jogos de luta lançados no início dos anos 2000 com esta Capcom Fighting Collection 2, trazendo de volta para múltiplas plataformas games que não estavam mais disponíveis há tempos, cujas últimas versões caseiras foram em consoles como PSP ou Dreamcast.

Luta do milênio

O principal chamariz da coleção são os dois Capcom vs SNK, que finalmente colocaram para lutar personagens das duas maiores desenvolvedoras de games de luta da época. Capcom vs. SNK Millennium Fight 2000 PRO é o primeiro desses dois jogos e traz mais de 30 personagens das duas empresas. As batalhas são por equipes, evocando The King of Fighters, mas ao invés de trios, as equipes são montadas a partir do sistema de ratio no qual cada personagem tem um valor de 1 a 4 e o jogador tem quatro pontos a distribuir.

Isso permite criar desde quartetos a ter um lutador extremamente poderoso lutando sozinho. Apesar de certa flexibilidade, há certa limitação de escolhas já que certas combinações se tornam impossíveis. Como Sagat, por exemplo, sempre será ratio 3 e Terry Bogard  ratio 2, por exemplo, é impossível montar uma equipe com os dois na mecânica original. Felizmente o jogo permite trocar a dinâmica de ratio por uma mecânica de duplas, podendo escolher quaisquer dois personagens sem se preocupar com o valor deles, embora isso elimine outras possibilidades de composição, como trios e quartetos.

O jogo usa quatro botões, como era padrão nos games da SNK, ao invés dos seis botões típicos dos jogos de luta da Capcom. Antes de montar sua equipe, porém, o jogador precisa montar escolher sua groove, algo que vai guiar desde a barra de especial, passando por opções defensivas e de mobilidade. A Capcom Groove se assemelha às mecânicas de jogos como Street Fighter Alpha, enquanto a SNK Groove dá ao jogador movimentação, defesa e barra de especial similar à franquia The King of Fighters.

O jogo chama atenção pelo detalhamento dos cenários, que tem desde sombras projetadas na parede a reflexos das chamas, além de uma bela pixel art retratando os personagens da SNK no estilo visual da Capcom. No lado da Capcom, no entanto, os sprites são mais irregulares, enquanto alguns como Ryu, Ken ou M. Bison são totalmente novos e feitos a partir da direção de arte do jogo, outros como Zangief ou Morrigan são reaproveitados de outros games da Capcom e destoam um pouco do visual dos demais.

Capcom vs. SNK 2: Mark of the Millennium 2001 é um game do qual falei mais à fundo em um texto anterior e que melhora em praticamente tudo do original. Com mais personagens, mais flexibilidade na montagem dos times ao permitir customizar o valor da ratio de cada lutador e mais mecânicas, trazendo seis grooves diferentes (três da Capcom e três da SNK) que dão ainda mais possibilidades de experimentação. O resultado é um game cheio de variedade, ainda que bastante desbalanceado.

Gemas do poder

A franquia Power Stone estava esquecida pela Capcom desde a coletânea dos dois jogos lançada para PSP em 2006. O primeiro Power Stone é um game luta 3D no qual dois combatentes se enfrentam em uma ampla arena usando objetos do cenário e armas que aparecem (pensem em uma versão 3D de Smash Bros). Ao longo da luta joias místicas aparecem na arena e coletar três delas permite que seu lutador se transforme temporariamente em uma forma poderosa que pode mudar os rumos da batalha.

As lutas fazem o jogador estar tão ciente dos arredores quanto do adversário, sendo necessário prestar atenção para usar a arena ao seu favor e para chegar primeiro que o oponente nas Power Stones que surgem e aproveitar seu poder. Os combates, no entanto, não são tão caóticos ou ágeis quanto se esperaria das mecânicas que o game oferece, muitas vezes soando mais lento do que deveria.

Boa parte desses problemas são resolvidos em Power Stone 2. O jogo não só aumenta o número de personagens, como também o número de lutadores por combate, com as lutas envolvendo quatro lutadores. A mobilidade é mais veloz e tudo é mais ágil e caótico por conta de arenas mais amplas, com mais perigos e mais armas e elementos de interação. Tudo isso torna o segundo game bem mais divertido que o primeiro. Por outro lado, cada arena tem certas mecânicas singulares que muitas vezes tornam o sucesso e sobrevivência do jogador mais uma questão de sorte do que de habilidade, o que pode ser um pouco frustrante às vezes, principalmente em partidas ranqueadas online. Na verdade, Power Stone 2 tem mais cara de um jogo multiplayer para jogar com os amigos enquanto o primeiro jogo tem mais cara um jogo de luta propriamente dito.

Ápice sem origem

Project Justice foi lançado em 2000 e sua última versão para consoles foi no finado Dreamcast. Ele é a continuação de Rival Schools, lançado em 1997. Estranhamente, Rival Schools está ausente dessa coleção e nunca foi relançado desde a versão do primeiro Playstation. Do mesmo modo, Plasma Sword: Nightmare of Bilstein, lançado em 1998 para Dreamcast, é a continuação de Star Gladiator, lançado em 1996 para Playstation, com Star Gladiator também ausente dessa coleção ou de qualquer outra forma de relançamento.

Sim, Project Justice e Plasma Sword são superiores aos seus respectivos primeiros games, mas, pra fins de preservação de acervo e colecionismo, seria importante ter acesso aos jogos originais. Aparentemente Rival Schools parece ter alguma questão relativa a licenciamento de músicas que tornaria mais difícil seu relançamento (não sei se Star Gladiator tem problemas similares), mesmo assim seriam games importantes de serem disponibilizados novamente já que a última vez que foi possível tê-los em consoles tem quase 30 anos.

Project Justice é um game de luta 2D com gráficos 3D que gira em torno de uma disputa entre colégios rivais e um perigoso grupo que faz experiências com alunos. O jogador seleciona um trio de personagens com um deles ficando como lutador principal e os outros dois em função de suporte. Ao final de cada round é possível trocar seu lutador principal. Cada lutador tem habilidades de suporte diferente, que vão desde um ataque devastador, a recuperar a vida do seu lutador ou encher completamente sua barra de especial.

Os lutadores são variados, explorando vários arquétipos de colegiais, de atletas como o jogador de futebol Roberto ou o jogador de beisebol Shoma, passando por valentões como Edge, mauricinhos como Roy e Tiffany e até professores. Os combates se destacam pela mobilidade e a possibilidade de lançar os oponentes ao ar para combos aéreos devastadores como em Marvel vs Capcom. O modo Arcade chama atenção por permitir que o usuário acompanhe a história da perspectiva de cada um dos colégios que compõem o universo narrativo e algumas dessas histórias tem escolhas que impactam no final, oferecendo bastante replay.

Plasma Sword: Nightmare of Bilstein é um jogo de luta 3D com armas que remete a Soul Calibur, mas se diferencia por sua ambientação futurista. Quando a Capcom criou Star Gladiator o jogo foi inicialmente pensado como um game de Star Wars, mas quando a LucasArts recusou o game, a Capcom não quis descartar o projeto e criou sua própria história e personagens. O jogo tem mecânicas bem singulares em relação a outros games da Capcom como a habilidade de desferir um golpe que trava temporariamente a barra de especial do inimigo enquanto que aumenta o poder do seu lutador. Não tem a sofisticação de um Soul Calibur ou Tekken, mas não deixa de ser um experimento interessante da Capcom.

Preservando a memória

Os dois últimos jogos da coleção são Street Fighter Alpha 3 Upper e Capcom Fighting Evolution. Alpha 3 Upper é uma versão melhorada do Alpha 3 original de fliperama, adicionando os personagens das versões de Playstation e Saturn, como Guile, Fei Long e outros, além de rebalancear a jogabilidade e adicionar alguns modos como a Dramatic Battle, que permite que dois jogadores lutem contra a CPU, um modo sobrevivência e o modo Final Battle que permite pular direto para a luta final contra M.Bison.

Alpha 3 Upper nunca tinha sido lançado no ocidente, mas para a coleção a Capcom produziu pela primeira vez uma versão em inglês do jogo. É uma escolha louvável, mas me pergunto porque só fizeram isso agora e não fizeram o mesmo com Vampire Hunter 2 e Vampire Savior 2 que foram só lançados no Japão e colocados na primeira coletânea apenas em japonês. Considerando que a Capcom tem feito atualizações nessas coletâneas, ainda tenho esperança de uma localização em inglês para esses games dos Darkstalkers.

É curiosa também a escolha de incluir esse game aqui e não na coletânea de 30 anos de Street Fighter lançada anos atrás. Considerando que Upper é uma versão melhor do que o Alpha 3 original, faria mais sentido ele junto com os outros Street Fighter, mas tanto ele quanto Alpha 2 Gold (também nunca lançado no ocidente, nem em nenhuma coletânea recente) estranhamente ficaram de fora daquela coleção. Independente, é importante que Upper tenha finalmente dado as caras aqui.

Por fim temos Capcom Fighting Evolution, simplesmente o pior jogo de luta já produzido pela Capcom. Ele nasceu do cancelado Capcom Fighting All Stars, que seria um game de luta 3D juntando personagens de diferentes franquias da Capcom. Com o projeto cancelado e quase nenhum orçamento Capcom Fighting Evolution foi finalizado todo a partir da reutilização de sprites de personagens e artes de cenários de outros jogos da Capcom, com o único sprite novo sendo a personagem Ingrid, que seria uma das protagonistas de Jam.

O jogador seleciona dois personagens e pode trocar seu lutador ao final de cada round, similar a Project Justice. O jogo não tem exatamente muitas mecânicas próprias, com cada lutador trazendo as mecânicas de seu jogo de origem resultando em algo bem desbalanceado, mas não de um jeito divertido como em Capcom vs SNK 2. Como eu já falei de Capcom Fighting Evolution na coluna Lixo Extraordinário, não vou me estender muito nele aqui. Mesmo sendo muito ruim, aprecio que esteja aqui por fins de preservação acervo.

Jogos antigos, novas funcionalidades

Como em outras coletâneas de games de luta da Capcom, todos os jogos tem funcionalidades online com rollback netcode que faz as batalhas fluírem bem e mesmo quando joguei com pessoas em outros países a conexão se mantinha estável e com pouco lag, embora fluísse ainda melhor contra outras pessoas no Brasil. Todos os games tem um modo treino e um modo versus acessíveis diretamente do menu e todos tem função de save state, embora, como nas outras coleções, só é possível manter um único save através de todos os jogos ao invés do que seria ideal de cada jogo ter seu espaço para save state.

A maioria dos jogos também dá a opção de jogar com uma trilha musical toda remixada para essa coletânea, com novas versões dos temas originais, ou com a música original dos games. Todos os jogos tem diferentes opções de filtros de tela que vão desde emular o visual de monitores CRT a suavização de pixels. Os jogos com elementos 3D tem a opção de aumentar a resolução, melhorando os visuais poligonais. Cada jogo ainda oferece uma ampla galeria de pôsteres e artes conceituais em alta resolução.

Mesmo que nem todos os jogos estejam no mesmo patamar Capcom Fighting Collection 2 é mais um importante resgate do amplo catálogo de games de luta da Capcom, permitindo que novas gerações tenham acesso a excelentes games de outrora e quem já gostava desses jogos tenha mais uma oportunidade de apreciá-los. Considerando que ainda temos vários games de luta que não foram relançados, como Tatsunoko vs Capcom, Tech Romancer, os Street Fighter Ex feitos em parceria com a Arika ou os já citados Star Gladiator e Rival Schools não me surpreenderia se daqui a algum tempo tivéssemos outra coletânea.

 

Nota: 8/10


Trailer


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