segunda-feira, 5 de maio de 2025

Crítica – Amor Bandido

 

Análise Crítica – Amor Bandido

Review – Amor Bandido
Depois de Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo (2022) o público redescobriu o carisma de Ke Huy Quan. Após o sucesso e as premiações que vieram com o filme, Quan apareceu em projetos de visibilidade como a segunda temporada de Loki. Este Amor Bandido, porém, é o primeiro trabalho do ator como protagonista depois de sua renascença e, infelizmente, é uma produção aquém do seu astro.

Paixão perigosa

A trama gira em torno de Marvin (Ke Huy Quan), um pacato corretor de imóveis que parece feliz com sua vida. No dia dos namorados ele recebe uma mensagem de uma antiga paixão, Rose (Ariana DeBose), que o lembra de sua vida pregressa. O contato de Rose coloca Marvin na mira dos criminosos para os quais ele trabalhava e agora ele precisa lutar para sobreviver. De certa forma é uma mistura de John Wick com comédia romântica e personagens excêntricos a la Tarantino e Guy Richie. O problema é que nenhuma dessas é bem executada.

Quan faz de Marvin um sujeito tão otimista e boa praça que não há espaço para qualquer vislumbre de trevas ou agressividade em sua conduta. Mesmo nos flashbacks de sua vida pregressa nunca sentimos que ele é o assassino implacável que o texto diz que ele era. Não ajuda que não há muita química entre ele e Ariana DeBose, com os dois nunca convencendo como casal. A dinâmica dos dois ainda é atrapalhada pelo descompasso das interpretações, já que enquanto Quan faz um personagem mais pé no chão, DeBose faz de Rose uma femme fatale mais exagerada, como que autoconsciente dos arquétipos nos quais opera. Isso dá a impressão de que cada um deles está em um filme diferente. Ariana DeBose, por sinal, parece continuar com sua maldição pós Oscar, se colocando em mais um projeto equivocado e que não lhe aproveita bem, como em A Casa Mórbida (2024), Argylle (2024) ou Wish: O Poder dos Desejos (2024).

Sentimentos confusos

Na verdade esse sentimento de inconsistência tonal é presente no filme inteiro. A ação é bem executada, ainda que não tenha nada empolgante, mas o filme não parece certo de como quer retratar esses embates. Em alguns momentos as lutas de Marvin tem um viés cômico, com ele lutando com objetos improvisados e usando o espaço para evitar os inimigos como nos filmes do Jackie Chan. Em outros, a violência é brutal e bastante explícita, como na cena em que o vilão mata uma pessoa com um canudo. O filme não parece se decidir entre uma aventura mais leve, sem derramamento de sangue e com humor ou se é uma história sobre assassinos implacáveis e brutais.

Com enxutos oitenta minutos de duração, a produção consegue a proeza de ser simultaneamente apressado demais e muito inchada. Digo apressado porque a narrativa sequer dá o devido tempo de construir seus personagens. Mal somos apresentados à vida pacata de Marvin e ele já está sendo atacado por assassinos e aí a revelação de que ele era um criminoso violento não tem impacto nenhum. O filme parece ciente dessa falta de tempo para desenvolver os personagens, enchendo o filme de narrações expositivas que explicam o que acabou de acontecer ou como os personagens se sentem sem, no entanto, mostrar esses sentimentos em cena.

É também um filme que soa inchado pelo excesso de personagens e arcos que não são bem aproveitados ou soam redundantes com o resto do filme. Toda a subtrama da assistente de Marvin se apaixonando por um dos assassinos que tentou matá-lo não tem nada a dizer sobre as ideias de “amor bandido” que o arco principal já não faz. O amplo plantel de assassinos excêntricos que o filme apresenta nunca tem espaço para serem qualquer coisa além de uma série de cacoetes jogados aleatoriamente nas páginas. É como se os três roteiristas olhassem os diálogos casuais dos gangsteres violentos de Tarantino ou Guy Richie e achassem que basta inserir peculiaridades esquisitas e diálogos com referências pop para criar personagens interessantes, algo que já tinha acontecido em Trem Bala (2022), cujo diretor atuou como produtor em Amor Bandido.

Equivocado em todos os sentidos e incapaz de sequer decidir que filme quer ser, Amor Bandido desperdiça Ke Huy Quan e Ariana DeBose em uma produção inconsistente e sem graça.

 

Nota: 3/10


Trailer

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