segunda-feira, 22 de dezembro de 2025

Crítica – Avatar: Fogo e Cinzas

 

Crítica – Avatar: Fogo e Cinzas

Review – Avatar: Fogo e Cinzas
Depois do bacana Avatar: O Caminho da Água (2022), este Avatar: Fogo e Cinzas dá a impressão de que o diretor James Cameron está se repetindo. Originalmente esses dois filmes seriam uma história só, mas Cameron preferiu dividir em dois e é visível que tudo foi pensado junto, já que esse filme traz os mesmos temas, conflitos e até situações do anterior.

Fogo selvagem

Depois dos eventos do segundo filme, Jake (Sam Worthington), Neytiri (Zoe Saldana) e o resto da sua família lidam com a perda do filho. As coisas se complicam quando o suprimento de oxigênio de Spider (Jack Champion) começam a dar problemas e Jake pensa que talvez seja melhor que o humano vá morar no esconderijo dos demais humanos que se aliaram aos Na’vi. Na viagem eles são atacados por saqueadores da tribo do fogo liderados por Varang (Oona Chaplin) e Spider fica sem oxigênio. Para que ele não morra, Kiri (Sigourney Weaver) usa sua conexão com Eywa para ajudá-lo e fungos da floresta se entranham no corpo dele, permitindo que ele respire o ar de Pandora. Isso torna Spider dos humanos no planeta, já que a autonomia das máscaras de oxigênio facilitaria a colonização. Para capturar o garoto, Quaritch (Stephen Lang) forma uma aliança com Varang e ambos se unem para encontrar o esconderijo de Jake.

Todos os personagens lidam com as mesmas questões de antes. Jake com ser um líder para sua família e seu povo. Neytiri com aceitar um humano como Spider como parte de sua família. Lo’ak (Britain Dalton) em provar seu valor ao pai. Kiri em entender sua conexão com o planeta. Quaritch em lidar com o conflito entre seu dever com os humanos e sua nova identidade como Na’vi, especialmente conforme ele percebe que os humanos vêm mudando o tratamento dado a ele num arco que provavelmente não precisaria de dois ou três filmes para chegar em sua conclusão lógica se alguém desse um exemplar de Os Condenados da Terra de Frantz Fanon para o coronel ler. A única novidade é Varang como a líder de uma tribo que vive ao redor de um vulcão e rejeitou Eywa depois que sua floresta virou um deserto por conta das erupções. A ideia de um grupo de Na’vi que rejeita os ensinamentos é interessante, mas a narrativa não dá muito tempo para desenvolver isso, reduzindo a tribo do fogo a um bando de selvagens sanguinários, o exato tipo de olhar reducionista e exotizante que os filmes anteriores rejeitavam.

Amor até as cinzas

Isso não significa, no entanto, que o filme não consiga construir um drama eficiente ao redor desses elementos. A cena entre Jake e Spider na floresta é um exemplo de como o filme consegue muito bem criar tensão a partir dos conflitos emocionais dos personagens. A questão é mesmo nessas instâncias em que temos algum impacto dramático, muito do filme não afasta a impressão de repetição. Talvez por isso o “amor bandido” entre Quaritch e Varang seja o elemento mais interessante, já que sua duas pessoas destrutivas, em busca de poder, mas que forjam uma conexão genuína. A cena em que eles conversam na tenda de Varang enquanto Quaritch está sob efeito de um psicotrópico administrado pela xamã é um dos momentos mais interessantes tanto pela lisergia visual, quanto por permitir que esses personagens tão focados em fisicalidade se abram para falar como se sentem.

Até as cenas de ação não conseguem afastar o senso de que Cameron está reciclando as mesmas ideias. A batalha final é a mesma coisa do clímax do filme anterior, só que maior com a adição da tribo do fogo. Mais uma vez Jake lidera todo mundo em uma grande batalha, mais uma vez a filha caçula é pega de refém e Jake e Neytiri precisam resgatá-la. Mais uma vez temos um Eywa ex machina com a fauna do planeta sendo mobilizada para ajudar no combate.

Tudo bem que Cameron continue sendo excelente na condução das cenas de ação, trazendo uma clareza e senso de unidade que poucos realizadores do cinema blockbuster hollywoodiano conseguem fazer hoje. Mesmo em uma batalha massiva ou em perseguições aéreas não ficamos perdidos no meio do caos e sabemos quem está aonde, em relação ao quê e qual é o fluxo do combate. Não apenas isso, como a ação é bem coreografada, mostrando como o estilo sanguinário da tribo do fogo é letal, principalmente depois que eles têm acesso às armas de fogo humanas, ou a força das criaturas de Pandora, como os tulkuns, mesmo diante das mais colossais embarcações humanas. Essa condução consegue nos manter interessados mesmo quando temos plena consciência de que já vimos muito disso antes. O apuro visual é outro elemento que nos mantem fisgados, já que Pandora continua soando como um universo vivido, que existe a despeito da história sendo contada, repleto de locações e criaturas memoráveis.

Mesmo que não afaste a impressão de que estamos diante de uma janta requentada, Avatar: Fogo e Cinzas tem tempero suficiente para conseguir proporcionar algum sabor.

 

Nota: 6/10


Trailer

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