segunda-feira, 13 de outubro de 2025

Crítica – Pacificador: Segunda Temporada

 

Análise Crítica – Pacificador: Segunda Temporada

Review – Pacificador: Segunda Temporada
A primeira temporada de Pacificador foi uma grata surpresa ao entregar um consistente estudo de personagem que equilibrava bem o drama e a comédia. Esse segundo ano segue na mesma linha, ampliando os dramas conforme eles lidam com as consequências da aventura anterior, mas decepciona no final.

Multiverso de loucuras

Mesmo depois de ter salvado o mundo na primeira temporada, Chris Smith (John Cena), o Pacificador, ainda é um pária entre os super-heróis e as forças de inteligência. Cansado disso e rejeitado em seus avanços pela agente Harcourt (Jennifer Holland) Chris se entrega ao hedonismo, até que um dia entra na câmara quântica que seu pai, Auggie (Robert Patrick), usava e descobre portas para outros universos. Um desses universos é similar ao dele, mas lá o Pacificador é visto como herói ao lado do pai e do irmão, Keith (David Denman), que está vivo nessa realidade. Ao mesmo tempo, Economos (Steve Agee) e Adebayo (Danielle Brooks) descobrem que Rick Flag Sr. se tornou o diretor da Argus depois dos eventos da primeira temporada e de Comando das Criaturas, usando a agência para monitorar Chris em busca de vingança pela morte de Flag Jr (Joel Kinnaman) em O Esquadrão Suicida (2021). Sem perspectivas e perseguido, Chris pensa em fugir para a realidade alternativa que descobriu, principalmente depois de matar acidentalmente a versão do Pacificador dessa outra Terra.

A nova temporada explora os laços de amizade formados pelos protagonistas ao longo da aventura anterior e os impactos disso tudo diante de Flag usar a Argus para caçar Chris. Economos se vê dividido entre a amizade com Chris e sua responsabilidade como agente, enquanto Adebayo vê seu casamento piorar por conta de seu trabalho com inteligência. Harcourt rejeita a possibilidade de sentir algo por Chris e entra em uma espiral autodestrutiva ao se ver destituída de seu posto de agente, sentindo que perdeu seu propósito. Já o Vigilante (Freddie Stroma) segue o mesmo sociopata adorável de sempre.

Ao conjunto de desajustados se somam outras figuras pitorescas como o agente Fleury (Tim Meadows), que gosta de colocar apelidos em todos os colegas e compartilhar histórias constrangedoras, ou o caçador de águias excêntrico interpretado por Michael Rooker que usa uma espécie de magia indígena para tentar capturar sua presa.

Utopia enganosa

Ao longo da série vemos Chris lutar para ser aceito e ceder ao impulso de fugir para outra realidade quando vê que há um lugar no qual ele pode ter tudo que queria: aceitação, uma família e o amor de Harcourt. O problema é que esse mundo perfeito guarda segredos sombrios e desde o início a narrativa dá pistas do que pode estar errado nesse lugar. John Cena é eficiente em nos apresentar à dor e vulnerabilidade de Chris, alguém que é sempre derrubado pela vida não importando o quanto se esforce. É por conta do trabalho dele em nos fazer sentir o anseio por aceitação de Chris que as decisões mais extremas e estúpidas do personagem soam convincentes, já que sentimos o quanto de dor ele carrega consigo.

Quem também se destaca é Robert Patrick ao interpretar uma versão bem diferente do Auggie racista da primeira temporada. Aqui ele se comporta como um pai amoroso, preocupado com os filhos e a comunidade, com sua voz e linguagem corporal sendo razoavelmente diferentes da versão do personagem que vimos na primeira temporada. Mesmo quando descobrimos a verdade sobre a realidade paralela, a narrativa nos surpreende ao mostrar que Auggie era mais bondoso do que parece, embora conivente com o status quo tacanho daquele universo, uma revelação que só torna o destino final dele mais trágico e dá mais camadas à própria tragédia que é a vida de Chris.

Claro, nem tudo é drama. A série continua sabendo muito bem equilibrar esse desenvolvimento de personagem com momentos mais cômicos, seja pela conduta absurda dos personagens, como a cena em que descobrimos que o Vigilante guarda milhões em seu porão por ser dinheiro de criminosos e ele não querer se macular ao usar dinheiro corrompido, ou pelas situações insólitas a exemplo do momento em que a águia Eagly ataca uma tropa de soldados da Argus que tentam invadir a casa de Chris.

Essa segunda temporada tinha tudo para ser tão boa quanto a primeira, mas decepciona no episódio final, que é o mais fraco desse segundo ano. O desfecho até resolve o drama de Chris e a questão afetiva entre ele e Harcourt, mas todo o restante ou acontece de modo muito apressado para ter qualquer impacto, a exemplo da decisão do grupo de criar sua própria agência privada de segurança, ou simplesmente não é explorado como acontece com toda a questão da Terra X e o fato de Keith ter sobrevivido. O final apresenta ideias do que pode estar adiante, tanto para o Pacificador quanto para o resto do universo DC, entretanto essas ideias nunca formam conceitos que nos instigam a querer saber mais, é como se estivéssemos diante de um primeiro e inacabado rascunho. É o tipo de coisa que emula o pior da Marvel no cinema e na TV, largando mão da trama presente em prol de um monte de promessas vazias para o futuro que podem ou não render algo interessante. Eu preciso, antes de tudo, me envolver com o que acontece no presente para me interessar pelo que pode vir.

O principal problema do desfecho, no entanto, é a guinada que Rick Flag Sr. dá. Desde que o conhecemos em Comando das Criaturas ele não era exatamente um herói ou um sujeito de moral elevada, mas tinha ao menos algum senso de decência e justiça. Em Superman ele lamenta ter que prender o Superman (David Corenswet) e aqui, embora movido por um senso de vingança que o faz abusar do poder que tem, ele ainda parece movido por algum senso de preocupação com a segurança das pessoas. No último episódio, porém, Flag se mostra disposto a seguir as piores ideias de Lex Luthor (Nicholas Hoult), trabalhando com a equipe do vilão e seguindo com o plano de Lex de criar uma prisão secreta em uma realidade paralela. Para isso Flag sacrifica sem remorso seus homens enquanto eles exploram a câmara quântica em busca de uma porta adequada, não há aqui nenhuma diferença entre ele e alguém como Amanda Waller (Viola Davis), sendo que em produções anteriores podíamos ver os limites que separavam os dois. Se antes ele funcionava como um anti-herói, aqui ele entra totalmente no terreno da vilania, sendo difícil de continuar se importando com ele especialmente porque essa guinada nunca soa convincentemente construída pela narrativa.

Assim, embora continue a ser consistente no desenvolvimento de seu protagonista, a segunda temporada de Pacificador acaba sendo inferior ao seu ano de estreia por conta de um final que não faz jus ao restante da série.

 

Nota: 7/10


Trailer

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