terça-feira, 28 de outubro de 2025

Crítica – Eden

Análise Crítica – Eden


Review – Eden
Dirigido por Ron Howard, Eden conta uma intensa história real que poderia render um cuidadoso estudo sobre civilidade, a relação do ser humano com o mundo e os riscos da soberba humana em ser incapaz de entender sua pequenez diante do poder da natureza. Digo poderia porque o filme nunca faz jus ao potencial que sua história carrega. 

Na natureza selvagem

A narrativa se passa na década de 1940. A Europa está devastada por conta da Primeira Guerra Mundial, o fascismo está em ascensão. O médico Ritter (Jude Law) se muda com a esposa Dore (Vanessa Kirby) para a ilha de Floriana no arquipélago de Galápagos para iniciar um novo modo de vida em comunhão com a natureza e escrever uma nova filosofia para a humanidade. Com o tempo, as histórias do modo de vida dele alcançam o continente e atraem novas pessoas para ilha, como o casal Heinz (Daniel Bruhl) e a esposa Margret (Sydney Sweeney) que vai até lá na esperança de reconstruir a vida, ou a rica Baronesa (Ana de Armas) que chega no local esperando construir um hotel de luxo apesar dos poucos recursos na ilha. Ritter e Dore não ficam animados com a chegada de vizinhos e logo começam as hostilidades por conta dos poucos recursos na ilha.

A história é uma espécie de Robinson Crusoé às avessas. Ao invés de exaltar o conhecimento e civilidade do europeu em domar a natureza e fazer dela seu reino pessoal como faz o protagonista do romance de Daniel Defoe, aqui a natureza atroz vai piorando as condições de vida dos personagens que falham em domar esse espaço e a si mesmos. Essa ideia, de pessoas à margem da sociedade em lugares remotos ou perigosos que acabam sendo destruídos pela indiferença da natureza diante do ser humano me lembrou muito os filmes de Werner Herzog, que tanto na ficção quanto em documentários como O Homem-Urso (2005) ou Encontros no Fim do Mundo (2007) vai investigar o que move pessoas a esse tipo de extremo.

Investigação, no entanto, não parece ser uma questão para o diretor Ron Howard ou para o roteiro escrito por Howard em parceria com Noah Pink. Desde os primeiros ele já estabelece que Ritter é um mitômano delirante, que a Baronesa é uma dondoca fútil e manipuladora, que Heinz e Margret são idealistas ingênuos e que todas aquelas pessoas só se importam consigo mesmas. Tudo que sabemos sobre os personagens nos primeiros vinte minutos de filme segue igual até o final e nada na produção parece minimamente interessado em entender porque aquelas pessoas são assim, o que as impele ou dar quaisquer camadas adicionais que o olhar unidimensional estabelecido inicialmente. Como não tem qualquer nuance ou ambiguidade, todos os conflitos são muito óbvios ou desprovidos de tensão.

Relatos conflitantes

O elenco até tenta dar mais elementos aos personagens através de escolhas sutis na composição, como o fato de Dore constantemente repetir as frases do marido quando ele termina de falar, como que para confirmar sua devoção aos seus dogmas e reforçar sua importância deles ou certos olhares e inflexões de voz de Jude Law que dão a entender que Ritter não é tão confiante ou seguro de seus ideais radicais quanto parece ser. Esse cuidado, no entanto, não consegue contornar a visão simplória que o texto tem sobre esses personagens.

A fotografia ressalta a natureza inóspita e hostil daquele lugar, constantemente filmando a ilha com tons dessaturados e cores predominantemente frias. Não estamos diante de uma natureza esplendorosa ou exuberante que nutre seus habitantes e sim em um ambiente de poucos recursos, que oferece muitos obstáculos e se mostra indomável para os personagens. Mudanças na paleta de cores ajudam a transmitir longas passagens de tempo.

Embora o filme reconheça que os relatos dos sobreviventes apresentam versões conflitantes, o clímax da trama é surpreendentemente desprovido de qualquer dúvida ou ambiguidade, como se a narrativa tivesse aderido ao ponto de vista de Margret e Heinz. É mais uma instância em que a complexidade dos personagens se perde e o filme se entrega a um maniqueísmo simplório, falhando em perceber como todos ali são vítimas e algozes. Seria mais interessante se não víssemos quem mata uma determinada personagem ou se não nos fosse mostrado explicitamente as condições de morte de outro sujeito. Essas incertezas ampliaram a dúvida e a tensão já que nem mesmo os espectadores saberiam em quem acreditar ou confiar. Do jeito que está, entretanto, Eden é uma exploração superficial da história real que conta e de seus temas sobre civilização e natureza.

 

Nota: 5/10


Trailer

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