Mulheres desacreditadas
A narrativa é protagonizada por Laura (Keira Knightley), uma repórter que recentemente passou por uma experiência traumática ao noticiar injustiças cometidas contra mulheres. Para que ela relaxe, sua chefe, Rowan (Gugu Mbatha-Raw), lhe passa uma tarefa que pode ser mais tranquila. Laura deve passar três dias acompanhando a viagem marítima do super iate da ricaça norueguesa Anne (Lisa Loven Kongsli). Ela está com câncer terminal e com a ajuda do marido, Bullmer (Guy Pearce), irá devotar sua fortuna a uma fundação de pesquisa ao câncer, fazendo uma festa de arrecadação para o lançamento da ONG. Na viagem, Laura tem como tarefa entrevistar Anne e ajudar a divulgar a causa. Os problemas começam quando Laura vê uma estranha mulher loira na cabine ao lado da sua e na primeira noite ela ouve sons de briga na cabine vizinha e vê um corpo sendo atirado ao mar. Ela alerta a equipe, mas é informada que não havia ninguém na cabine ao lado. Agora ela precisa desvendar o que aconteceu.
É uma premissa bem típica de mistério que poderia render um suspense envolvente se bem trabalhada, ainda mais explorando o ângulo do gaslighting ao mostrar como homens poderosos tem facilidade de desacreditar uma mulher fazendo-a parecer louca. Nenhuma dessas ideias, porém, é bem desenvolvida. A resolução do mistério é tão óbvia e indicada de maneira tão pouco sutil na cena em que Laura entrevista Anne pela segunda vez que pensei se tratar de um despiste ou de que haveria mais alguma outra reviravolta. Não há.
Evidências gritantes
Como o mistério é conduzido com a sutileza de uma bigorna sendo arremessada na cabeça de um personagem dos Looney Tunes não há dúvida ou intriga para nos fazer questionar o que está havendo ou nossas certezas sobre esses fatos. Isso torna o filme um aborrecido exercício de paciência conforme esperamos a trama chegar à revelação que previmos com tanta facilidade. Os personagens se mostram figuras unidimensionais, longe dos tipos pitorescos e ambíguos que normalmente habitam esse tipo de história e que servem para gerar dúvidas a respeito de quem seria o verdadeiro culpado desperdiçando um elenco competente com nomes como Guy Pearce.
As coisas ainda pioram durante o terceiro ato quando os vilões que até então vinham agindo com esperteza e passos a frente da protagonista ficam burros por pura exigência do roteiro. Tudo isso culmina em um clímax histriônico no qual Laura confronta todos com a verdade durante o lançamento da ONG de Anne e o culpado simplesmente resolve admitir tudo na frente de todo mundo e tomar uma refém (para o caso que depois da confissão ainda duvidasse que ele era um criminoso) quando existiam inúmeras maneiras dele lidar com aquela situação de modo mais sutil.
No fim, A Mulher na Cabine 10 é um suspense que não consegue evocar tensão
por conta de um mistério óbvio e personagens desinteressantes. Falhando também
em dizer qualquer coisa consistente sobre os temas de gaslighting que tenta discutir.
Nota: 4/10
Trailer
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