Cortina de fogo
A narrativa se baseia na história real dos incêndios florestais que aconteceram no interior da Califórnia em 2018, um incidente que se tornou o mais mortal incêndio florestal da história do país. Depois que uma subestação de energia em mau estado dá início a um incêndio, os ventos e a secura da mata facilitam que o fogo rapidamente se espalha. Kevin (Matthew McConaughey) é um motorista de ônibus escolar que está retornando para a garagem ao terminar seu turno, mas é chamado a ajudar no transporte de uma escola da região que está sendo evacuada. Ele pega a professora Mary (America Ferrera) e sua turma de crianças do ensino fundamental. Durante a evacuação, o ônibus fica preso em uma área de incêndio e Kevin perde o contato via rádio com a base. Agora ele e Mary precisam encontrar um jeito de sobreviverem e levarem as crianças em segurança.
Kevin é um sujeito cuja vida está em total desarranjo, cheio de despesas médicas, cuidando da mãe depois que seu pai faleceu, preso a um emprego que não paga o suficiente, mas do qual teme sair, sem perspectivas e com uma relação abalada com o filho adolescente Shaun (Levi McConaughey, filho de Matthew na vida real). É quase como se o filme jogasse toda e qualquer fonte de sofrimento possível para que o espectador se compadeça pelo protagonista. Uma escolha que poderia soar forçada se McConaughey, acostumado a interpretar pessoas endurecidas por vidas traumáticas, não fosse convincente em nos fazer sentir que Kevin é um sujeito cujo cansaço faz transparecer o enorme peso emocional e constante desgaste físico presentes em sua vida.
Mary, por outro lado, é uma professora humilde que nunca saiu de sua cidade natal e sempre teve medo de sair de sua zona de conforto. A jornada de ambos segue exatamente a cartilha de filmes catástrofe, com os obstáculos impostos pelo desastre servindo como um meio de crescimento pessoal para eles, que superarão suas barreiras emocionais. Como a trama coloca vários problemas na vida de Kevin, a impressão é que muita coisa acaba não sendo desenvolvida a contento.
Temperatura máxima
A condução de Paul Greengrass contribui para o senso de urgência e perigo crescente, se movendo entre diferentes localidades e acompanhando a articulação das autoridades lideradas pelo chefe Martinez (Yul Vazquez) para tentar conter o incêndio e salvar a população. A escolha por filmar tudo com uma estética de câmera na mão dá a impressão que estamos junto daqueles personagens acompanhando seu cotidiano, conforme a câmera está sempre ajustando seu enquadramento ou buscando o elemento principal da cena como se ela não fosse encenada. Ao mesmo tempo, esse trabalho de uma câmera em constante movimento evita a sensação de que tudo está chacoalhando o tempo todo.
A música é outro elemento que constrói a tensão, estando presente quase que o tempo todo, mesmo que não seja imediatamente perceptível. Mesmo quando ela não se faz perceber explicitamente suas notas estão ali, martelando um senso de tensão e de urgência, como um alerta causado pela adrenalina martelando na cabeça das pessoas vivendo tudo aquilo.
O filme ainda recorre a planos amplos que mostram a devastação dos incêndios, inclusive recorrendo a imagens reais do incêndio de 2018 para dar uma medida precisa da força das chamas. Em algumas cenas a produção recorre à computação gráfica em momentos nos quais a câmera mergulha próxima ao solo para mostrar o que está acontecendo em meio ao fogo, mas os efeitos digitais acabam soando artificiais diante do restante da encenação mais naturalista e realista do filme.
É por conta desse senso de
urgência e do trabalho da dupla principal que O Ônibus Perdido consegue entregar uma trama envolvente mesmo que
arrisque muito pouco dentro das estruturas típicas de filmes de desastre.
Nota: 6/10
Trailer
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