segunda-feira, 6 de outubro de 2025

Crítica – Deu Match: A Rainha dos Apps de Namoro

 

Análise Crítica – Deu Match: A Rainha dos Apps de Namoro

Review – Deu Match: A Rainha dos Apps de Namoro
Baseado em uma história real, este Deu Match: A Rainha dos Apps de Namoro é mais uma daquelas histórias de empreendedorismo e superação. A narrativa ainda tenta tocar em outros temas, como o machismo no mundo da tecnologia ou como plataformas digitais transformam relacionamentos, no entanto, tudo é simplório demais resultar em qualquer coisa minimamente interessante.

Rede de pegação

A narrativa é inspirada pela história real de Whitney Wolfe (Lily James) uma das criadoras do app Tinder. Quando o seu ambiente de trabalho se mostra excessivamente machista, ela decide denunciar o que acontece, mas é colocada para fora da empresa e desacreditada. Ela então faz uma parceria com o magnata russo Andrey (Dan Stevens) para criar o Bumble, um aplicativo de relacionamentos que forneceria um ambiente seguro para as mulheres.

É tudo uma grande celebração do empreendedorismo que tenta refletir sobre machismo na cultura corporativa, em especial no ambiente de tecnologia, mas reduz tudo a um monte de clichês. Os homens com quem Whitney trabalha são os típicos “tech bros” misóginos e tão unidimensionais que beiram a caricatura. Do outro lado, Whitney atende a todos os clichês contemporâneos da “protagonista feminina forte” e palavras de ordem sobre ser uma girlboss sem qualquer esforço de dotar a protagonista de uma personalidade própria ou analisar com mais cuidado as camadas e contradições de Whitney. Sim, Lily James dá a Whitney um grande magnetismo pessoal que torna compreensível que a personagem seja uma eficiente executiva de marketing, mas não há nela muito mais substância.

O filme faz pouco para refletir como Tinder, Bumble ou aplicativos similares transformaram a busca por relacionamentos amorosos ou sexuais, focando mais no arco de Whitney. Isso não seria um problema se o texto também não tivesse tão pouco a dizer a respeito de sua biografada.

Feminismo capitalista

Se no início Whitney parece uma jovem idealista, tentando criar ONGs ou ferramentas para ajudar orfanatos e outras classes de pessoas marginalizadas, ao trabalhar com Sean (Ben Schnetzer) na criação do Tinder ela é convencida pelos argumentos dele de que primeiro deveria ser financeiramente bem sucedida para depois fazer a diferença. É a velha defesa de uma economia de gotejamento, que prega que primeiro devemos concentrar recursos em algumas poucas pessoas e depois, pela benevolência desses ricaços, esses recursos seriam redistribuídos. Um discurso que circula mais ou menos desde a década de oitenta e que na prática nunca causou qualquer transformação social significativa.

Ainda assim, o filme cola nesse ponto de vista e nunca questiona, fazendo desse modo de enxergar a realidade, não como o início de um processo no qual a protagonista abandona seus ideais iniciais ou mesmo usa essa mudança de atitude para ponderar a moralidade de suas ações. Não, isso é apenas um passo lógico na jornada de Whitney em se tornar uma empresária empoderada. Nesse sentido, o filme também não parece vislumbrar nenhuma ação possível dentro do feminismo que não seja transformar demandas feministas em produtos a serem comprados ou vendidos.

A narrativa também falha em olhar criticamente a ascensão de Whitney, preferindo romantizar seu arco como uma demonstração de que essa é a história de uma mulher que rompeu tabus e alcançou o sucesso sozinha. O filme pouco reflete sobre o fato de que Whitney estava bem disposta a fazer vista grossa para o machismo presente no Tinder enquanto colhia os louros de seu sucesso e só quando se tornou alvo dessa misoginia e passou a ser colocada de lado na empresa que ajudou a erguer é que decide tomar uma atitude. Tudo bem que há uma cena em que uma colega de trabalho coloca isso diante de Whitney, mas o conflito é resolvido tão rapidamente que algo que poderia ser usado para dar complexidade à protagonista é resolvido tão rápido e fácil que não faz muita diferença.

De maneira semelhante, o desfecho enquadra a promoção dela à presidência da empresa de Andrey como uma vitória feminina, deixando de analisar que ela só conseguiu essa posição porque outro homem (o executivo interpretado por Dermot Mulroney) permitiu que ela ocupasse essa posição. No fim, Whitney não se liberta de nada, continuando a servir a mesma lógica masculina de antes. Aquilo que o filme celebra como uma disrupção do status quo acaba sendo um reforço dele. Whitney pode ter subido de cargo, ocupado uma posição de maior poder, mas seu destino ainda é controlado por homens. Ao invés de enquadrar essa situação como a devida complexidade, como se fosse um passo adiante em uma luta maior, a produção enquadra como uma vitória definitiva, soando, no mínimo, ingênuo.

 

Nota: 4/10


Trailer

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