terça-feira, 14 de outubro de 2025

Crítica – O Telefone Preto 2

 

Análise Crítica – O Telefone Preto 2

Review – O Telefone Preto 2
O primeiro O Telefone Preto (2022) era um conto eficiente sobre perda de inocência que tocava em alguns elementos sobrenaturais, mas se mantinha razoavelmente pé no chão focando no protagonista que tentava escapar do cativeiro de um serial killer. Este O Telefone Preto 2 entra mais no sobrenatural e expande a mitologia ao redor dos personagens apresentados no filme anterior.

Nas montanhas da loucura

A narrativa se passa alguns anos depois que Finn (Mason Thames, cujo crescimento torna um pouco difícil acreditar que seu personagem ainda é um adolescente) sobreviveu ao Sequestrador (Ethan Hawke). Ele é marcado pelo trauma de tudo que viveu e sua irmã caçula Gwen (Madeleine McGraw) começa a ter visões intensas de crianças sendo mortas na neve e de sua falecida mãe ainda jovem em um retiro religioso nas montanhas. Finn recebe estranhas ligações, similares às do telefone preto de quando estava em cativeiro e Gwen passa a acreditar que as duas coisas estão conectadas. A garota logo descobre que a mãe deles trabalhou em um acampamento cristão nas montanhas geladas do interior e convence Finn a se candidatar com ela para trabalharem no local como monitores para investigar mais. Chegando lá, o local é tomado por uma violenta tempestade de neve, deixando Finn, Gwen e os funcionários do local isolados antes que os campistas chegassem. Presos nas montanhas, eles precisam descobrir o que conecta aquele lugar à mãe deles e ao Sequestrador.

Essa continuação foca mais nos elementos sobrenaturais, sendo mais um terror centrado em assombrações do que em um figura mais humana. O Sequestrador é aqui uma entidade que assombra os personagens e que busca vingança pelo passado. Embora o vilão permaneça de máscara durante praticamente o filme inteiro, Ethan Hawke usa sua voz de maneira eficiente para apresentar a malícia, sadismo e ameaça que ele representa. Inclusive não descartaria que Hawke tenha só dado a voz e a performance física tenha sido feita por um dublê considerando que nunca vemos o rosto do Sequestrador.

Como no filme anterior o diretor Scott Derrickson constrói aos poucos a tensão, deixando ambíguo se Finn e Gwen de fato estão tendo experiências sobrenaturais ou se são apenas alucinações causadas pelo trauma vivido por eles. Aos poucos, conforme eles passam tempo nas montanhas, o filme nos mostra como o elemento sobrenatural é bem real.

Um elo entre mundos

Muito do componente sobrenatural vem da capacidade de Gwen em transitar por outras camadas de realidade enquanto dorme, inclusive por eventos do passado. O filme é bem eficiente em apresentar visualmente esses dois planos de existência de modo que sempre sabemos onde os personagens estão. Quando Gwen está viajando por seus sonhos a imagem se torna bastante granulada, como se fosse um filme feito com película. Isso não só evoca uma temporalidade mais antiga do que o presente filmado em alta definição, como dá à imagem um aspecto levemente impreciso ou borrado evocando um clima onírico no qual aquilo que vemos não é tão preciso ou bem definido como na realidade concreta vivida pelos personagens.

Isso é bem perceptível nos momentos em que o filme alterna entre Gwen e Finn, deixando evidente a diferença na imagem entre a realidade e os espaços por onde Gwen transita. Inclusive o filme emprega um elegante efeito de dissolução de imagem no momento em que Finn tenta acordar Gwen e ela o vê no mundo dos sonhos, com o rosto granulado de Finn se dissolvendo em uma imagem de alta definição conforme ela acorda.

Narrativamente, a trama é criativa em mostrar como esses dois planos influenciam um no outro, com Gwen flutando como se estivesse possuída no mundo real, com feridas abrindo em seu corpo, conforme ela é atacada nos sonhos pelo Sequestrador e por outras criaturas sinistras que ela encontra por lá. Como no primeiro filme, a violência é bem explícita, deixando claro o que pode acontecer caso os personagens falhem.

O modo como o passado da mãe deles é costurado com o do Sequestrador acaba sendo um pouco conveniente demais, mas funciona porque a narrativa amarra esses elementos com o arco de superação de traumas de Finn e seus familiares. Os atores dão o devido peso emocional que paira sobre aquelas pessoas depois de tantas perdas e vivências traumáticas, facilitando que embarquemos na história a despeito dessas conveniências.

O Telefone Preto 2 é um terror tão competente quanto seu antecessor, expandindo os personagens apresentados no primeiro filme e adicionando algumas camadas aos seus elementos de sobrenatural. Só espero que não façam mais continuações, já que o desfecho é tão bem amarrado, que não vejo como seguir adiante sem que tudo soe forçado.

 

Nota: 7/10


Trailer

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