Nas montanhas da loucura
A narrativa se passa alguns anos depois que Finn (Mason Thames, cujo crescimento torna um pouco difícil acreditar que seu personagem ainda é um adolescente) sobreviveu ao Sequestrador (Ethan Hawke). Ele é marcado pelo trauma de tudo que viveu e sua irmã caçula Gwen (Madeleine McGraw) começa a ter visões intensas de crianças sendo mortas na neve e de sua falecida mãe ainda jovem em um retiro religioso nas montanhas. Finn recebe estranhas ligações, similares às do telefone preto de quando estava em cativeiro e Gwen passa a acreditar que as duas coisas estão conectadas. A garota logo descobre que a mãe deles trabalhou em um acampamento cristão nas montanhas geladas do interior e convence Finn a se candidatar com ela para trabalharem no local como monitores para investigar mais. Chegando lá, o local é tomado por uma violenta tempestade de neve, deixando Finn, Gwen e os funcionários do local isolados antes que os campistas chegassem. Presos nas montanhas, eles precisam descobrir o que conecta aquele lugar à mãe deles e ao Sequestrador.
Essa continuação foca mais nos elementos sobrenaturais, sendo mais um terror centrado em assombrações do que em um figura mais humana. O Sequestrador é aqui uma entidade que assombra os personagens e que busca vingança pelo passado. Embora o vilão permaneça de máscara durante praticamente o filme inteiro, Ethan Hawke usa sua voz de maneira eficiente para apresentar a malícia, sadismo e ameaça que ele representa. Inclusive não descartaria que Hawke tenha só dado a voz e a performance física tenha sido feita por um dublê considerando que nunca vemos o rosto do Sequestrador.
Como no filme anterior o diretor Scott Derrickson constrói aos poucos a tensão, deixando ambíguo se Finn e Gwen de fato estão tendo experiências sobrenaturais ou se são apenas alucinações causadas pelo trauma vivido por eles. Aos poucos, conforme eles passam tempo nas montanhas, o filme nos mostra como o elemento sobrenatural é bem real.
Um elo entre mundos
Muito do componente sobrenatural vem da capacidade de Gwen em transitar por outras camadas de realidade enquanto dorme, inclusive por eventos do passado. O filme é bem eficiente em apresentar visualmente esses dois planos de existência de modo que sempre sabemos onde os personagens estão. Quando Gwen está viajando por seus sonhos a imagem se torna bastante granulada, como se fosse um filme feito com película. Isso não só evoca uma temporalidade mais antiga do que o presente filmado em alta definição, como dá à imagem um aspecto levemente impreciso ou borrado evocando um clima onírico no qual aquilo que vemos não é tão preciso ou bem definido como na realidade concreta vivida pelos personagens.
Isso é bem perceptível nos momentos em que o filme alterna entre Gwen e Finn, deixando evidente a diferença na imagem entre a realidade e os espaços por onde Gwen transita. Inclusive o filme emprega um elegante efeito de dissolução de imagem no momento em que Finn tenta acordar Gwen e ela o vê no mundo dos sonhos, com o rosto granulado de Finn se dissolvendo em uma imagem de alta definição conforme ela acorda.
Narrativamente, a trama é criativa em mostrar como esses dois planos influenciam um no outro, com Gwen flutando como se estivesse possuída no mundo real, com feridas abrindo em seu corpo, conforme ela é atacada nos sonhos pelo Sequestrador e por outras criaturas sinistras que ela encontra por lá. Como no primeiro filme, a violência é bem explícita, deixando claro o que pode acontecer caso os personagens falhem.
O modo como o passado da mãe deles é costurado com o do Sequestrador acaba sendo um pouco conveniente demais, mas funciona porque a narrativa amarra esses elementos com o arco de superação de traumas de Finn e seus familiares. Os atores dão o devido peso emocional que paira sobre aquelas pessoas depois de tantas perdas e vivências traumáticas, facilitando que embarquemos na história a despeito dessas conveniências.
O Telefone Preto 2 é um terror tão competente quanto seu
antecessor, expandindo os personagens apresentados no primeiro filme e
adicionando algumas camadas aos seus elementos de sobrenatural. Só espero que
não façam mais continuações, já que o desfecho é tão bem amarrado, que não vejo
como seguir adiante sem que tudo soe forçado.
Nota: 7/10
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