Conto ancestral
A narrativa é focada em Fanta, uma jovem da Costa do Marfim que se apaixona por Kramoko Kouyate, mas apesar dos dois se amarem eles não podem se casar. Kramoko Kouyate vem de uma linhagem de griots, enquanto Fanta vem de uma origem mais nobre e as famílias de ambos não aprovam o casamento. Ainda assim, o casal viaja da capital para sua vila natal de modo a tentar convencer seus pais a deixarem o casamento acontecer.
É a típica história de um amor proibido, barrado por famílias em conflito no qual tradição entra em choque com modernidade. Seria fácil reduzir os costumes das famílias dos protagonistas como datados ou primitivos, mas a trama nunca faz isso. Pelo contrário, desde a primeira cena na qual vemos um grupo de griots tocando e contando a história de como essa linhagem foi formada o filme exibe um enorme respeito pelo modo como essas figuras preservam a cultura e repassam histórias através da tradição oral e da música. Isso, porém, não impede o texto de pensar como certos elementos, como a questão do casamento, não podem ser tratados como dogmas.
Tradição e modernidade
A ideia de uma convivência ou de um trânsito entre tradição e modernidade é construída também no modo como tudo é filmado. Há um contraste claro entre as paisagens urbanas em que o casal protagonista mora para a remota vila com chão de terra para a qual eles retornam. A imagem desenvolve um senso de como aquele é um país no qual o novo e o antigo estão presentes. Não apenas presentes, mas que existe um movimento entre eles, que essas coisas dialogam no tempo. Talvez seja por isso que ao longo do filme temos várias cenas longas de deslocamentos, de personagens caminhando ou dirigindo de uma localidade a outra sem que ocorra algum evento ou desenvolvido da trama.
A impressão é que esses momentos, como Fanta caminhando pela vila ou Kramoko Kouyate dirigindo da cidade até as estradas de terra batida de seu vilarejo para representar esse movimento constante entre a tradição e a modernidade, entre o velho e o novo, refletindo uma mudança de tempos e espaços que termina por impactar a todos. Por mais que questione os costumes, o que Fanta quer não é exatamente uma ruptura ou negação, mas que eles se adaptem aos novos tempos e que isso não necessariamente significa abandonar as tradições. Essa defesa da adaptação aos novos tempos acaba também sendo defendida por um dos anciões mais perto do fim. Aqui essas forças de tradição e modernidade não são completamente antagonistas, elas dialogam, coexistem, dividem espaço. Com isso, Djeli: Contos Modernos faz uma sensível análise das vivências culturais da Costa do Marfim e como elas são negociadas com o passar do tempo sem perder de vista passado ou futuro.
Esse texto faz parte de nossa
cobertura da Mostra de Cinemas Africanos 2025.
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