Por uma vida menos ordinária
A trama é focada em Chuck (Tom Hiddleston), um homem de 39 anos que trabalha como contador. Quando anúncios começam a aparecer por toda a cidade celebrando esse sujeito aparentemente banal que ninguém conhece, todos ficam intrigados para saber o motivo de tanta publicidade, principalmente em um mundo que parece estar à beira do colapso. Aos poucos, vamos descobrindo a verdade por trás desses anúncios e aprendendo sobre a vida de Chuck.
O mistério em si acaba sendo o menos importante, já que é resolvido ainda no primeiro segmento do filme envolvendo o professor interpretado por Chiwetel Ejiofor. O foco do filme é usar a trajetória de Chuck para pensar sobre vida, mortalidade, conexões sentimentais e como fazer o melhor com o tempo que temos no mundo. É uma narrativa ambiciosa ao tentar conciliar preocupações existenciais complexas enquanto transita entre diferentes gêneros, com momentos que flertam com o terror, como toda a subtrama envolvendo o sótão da casa do avo de Chuck, Albie (Mark Hamill), com ficção científica, a exemplo do segmento do professor, ou mesmo musical, com as várias cenas envolvendo Chuck aprendendo a dançar.
É um filme que tenta falar de várias de várias maneiras diferentes e por mais que seja um empreendimento louvável a verdade é que a produção não consegue sustentar as próprias ambições. Tecnicamente é muito bem sucedido em transitar por esses gêneros, mudando o regime estético dependendo da natureza da cena. Sempre que tenta subir no sótão do avô, por exemplo, a fotografia assume contrastes acentuados entre luz e sombra, fazendo os corredores da casa soarem sombrios e soturnos. Enquanto isso, no segmento em que Chuck começa a dançar na rua ao ouvir uma garota tocar bateria a fotografia é solar, cheia de cores quentes que ressaltam a alegria e espontaneidade daquele momento.
Multidões interiores
Se no regime estético, a produção consegue transitar entre suas várias ideias e gêneros, narrativamente a impressão é de um filme que não dá conta de desenvolver de maneira consistente seus ideais sobre vida, morte e relacionamentos. Lá pela metade do filme, quando um Chuck ainda criança ouve de uma professora a explicação para os versos de Walt Whitman em Canção de Mim Mesmo no qual ele fala sobre conter multidões dentro de si, a impressão é que o filme já disse tudo que tinha para falar acerca de como cada vida constrói um pequeno universo dentro de si a partir de experiências, conexões, afetos e medos, Sobre como a morte de um indivíduo nunca é individual, mas é também a morte de toda essa cosmologia interior que o sujeito carrega consigo.
A partir desse ponto a impressão é que a trama anda em círculos, se limitando a repetir as mesmas ideias a respeito de como somos plurais, de como nossa vida é breve (sob um ponto de vista cósmico) e como devemos aproveitá-la o melhor possível e a cada momento. São noções constantemente apresentadas através de platitudes simplórias e de uma narração feita por Nick Offerman cujo texto mastiga demais as mensagens do filme, quase como se não confiasse no espectador para interpretar o que é dado pelas imagens e ações dos personagens.
Assim, A Vida de Chuck passa toda sua duração caminhando ao redor das
mesmas ideias, mas sempre ficando à margem delas ao invés de explorá-las de
maneira mais intensa, não conseguindo dar conta de suas ambições
existencialistas.
Nota: 5/10
Trailer
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