Quando um estranho chama
O filme conta a história da adolescente Lauryn. Quando ela tinha catorze anos começou a receber mensagens hostis de um número anônimo que diziam para ela terminar com o namorado, Owen, e com várias ofensas e xingamentos a ela. Owen também passou a receber mensagens com ofensas e que faziam um duvidar da fidelidade do outro. O bullying virtual se estende por meses, até que as mães dos dois entram em contato com a escola, que não consegue descobrir quem é o responsável. A polícia também é contatada e seus esforços em apontar um culpado também não dão resultado, com a investigação se alongando por quase dois anos. Mesmo bloqueando o número ou trocando de celular os dois adolescentes continuam a ser alvo das mensagens, que ficam cada vez mais agressivas.
A estrutura segue o uso de entrevistas, imagens de arquivo e ocasionais encenações que se tornaram típicas em documentários sobre crimes em plataformas de streaming. Não há muito esforço em fazer nada criativo ou interessante em termos de linguagem, com o filme confiando mais nos caminhos inesperados que a história toma para conseguir envolver o espectador. O que a narrativa faz bem é ilustrar como a exposição prolongada ao bullying virtual afeta a vida dos dois jovens.
As constantes ofensas e ataques que Lauryn e Owen recebem nos celulares abalam o relacionamento deles, minando a confiança um no outro. As ofensas também afetam a relação deles com colegas, já que passam a desconfiar que qualquer um pode ser o responsável pelas mensagens. Com a confiança abalada, Lauryn deixa o time de basquete apesar de ser boa no esporte e se torna mais retraída. Até mesmo as famílias deles são abaladas conforme os pais lidam com a sensação de impotência de não conseguirem proteger os filhos disso tudo. O documentário faz um bom trabalho em mostrar como esse tipo de assédio virtual causa danos reais às vítimas mesmo que nunca haja uma violência mais direta ou física.
Inimigo interno
O que parecia ser uma história de bullying virtual comum, ganha outros contornos quando o real culpado é descoberto dois anos depois. Nesse sentido, comentar sobre a segunda metade do filme é inevitável mencionar sua principal revelação, então se você não quiser saber de antemão sugiro que pare de ler agora.
Depois de passar por vários suspeitos na escola de Lauryn, investigadores conseguem localizar um dos números de celular usados e através de mandados judiciais conseguem acessar o IP da conexão, revelando que todas as mensagens se originaram do celular da mãe de Lauryn, Kendra. A descoberta choca porque os pais ou mães dos adolescentes provavelmente seriam as últimas pessoas de quem suspeitaríamos, afinal quem sujeitaria o próprio filho ou filha a tamanho tormento psicológico? Isso simultaneamente a agir como se estivesse preocupada com a filha. É difícil não se chocar com a revelação, principalmente somado ao fato que Kendra também mentia ao marido ao longo desses quase dois anos sobre seu emprego na área de TI, quando na verdade estava desempregada durante todo esse tempo.
A revelação levanta outras perguntas, em especial quanto à motivação de Kendra para fazer um assédio virtual tão violento contra a própria filha. A impressão é que talvez nem a própria Kendra entenda plenamente o que a moveu a fazer isso. Ela salta de uma explicação para outra, costurando relatos de traumas de abuso sexual na adolescência com o desejo de proteger a filha enquanto nega ter iniciado o assédio, dizendo que as primeiras mensagens não foram dela (as autoridades negam a ideia de um segundo autor) dizendo que só pegou carona. Kendra é alguém claramente instável, no limiar entre ser alguém em surto por conta desses traumas passados ou uma mentirosa patológica movida pelo desejo de chamar atenção ou por alguma inveja mal resolvida pela filha.
Nesse aspecto o documentário fica devendo uma análise e uma investigação mais consistente sobre Kendra, preferindo delegar falas às mães de outros jovens que se entregam a conjecturas sensacionalistas que não necessariamente ajudam a entender o que aconteceu. A mãe de Owen, por exemplo afirma que Kendra sempre demonstrou um interesse exagerado no namorado da filha, enquanto que os pais de Khloe, uma garota popular que foi tida como suspeita, dizem que tudo foi uma grande conspiração de Kendra com o marido e a própria Lauryn para prejudicar a imagem da filha. Uma afirmação delirante e sem provas, que tenta implicar outras pessoas como cúmplices dos crimes de Kendra ao ponto que chega a ser irresponsável que o documentário tenha deixado isso no corte final.
Entender melhor a mente de Kendra
poderia ter dado ainda mais força para a história investigada, mas como os
fatos são relativamente recentes, talvez ainda seja cedo para que se chegue a um
entendimento mais aprofundado. Ainda assim, Número
Desconhecido: Catfishing na Escola envolve pela inesperada história de
assédio virtual que narra.
Nota: 6/10
Trailer
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