quinta-feira, 11 de setembro de 2025

Crítica – Wandinha: Segunda Temporada

 

Análise Crítica – Wandinha: Segunda Temporada

Review – Wandinha: Segunda Temporada
A primeira temporada de Wandinha sofria por sacrificar muito do que torna a personagem (e toda a família Addams) singular em prol de uma trama adolescente excessivamente aderente aos clichês desse tipo de história. Essa segunda temporada prometia evitar esses lugares comuns e ser mais fiel ao espírito da personagem. Tendo assistido a temporada completa é possível ver um vislumbre disso, mas a verdade é que ainda soa como uma série adolescente genérica vestindo a aparência do universo dos Addams.

Visões sinistras

A trama começa com Wandinha (Jenna Ortega) tendo uma visão de eventos catastróficos acontecendo na sua escola que culminariam na morte de sua amiga Enid (Emma Myers). Diante disso, a jovem Addams decide investigar o que suas visões significam ao mesmo tempo que lida com mudanças na escola, como a chegada do irmão Feioso (Isaac Ordonez) para estudar lá e o novo diretor, Dort (Steve Buscemi), que parece ter seus próprios interesses com o local.

Como na primeira temporada, muito da força da série vem do trabalho de Jenna Ortega como Wandinha e o modo como ela incorpora o jeito taciturno da protagonista e a maneira direta com a qual lida com as pessoas. Ela segue criando uma oposição divertida entre a personalidade trevosa de Wandinha e a personalidade mais agitada de Enid. Inclusive um dos episódios mais legais dessa temporada é quando elas trocam de corpo, dando a oportunidade de Emma Myers tentar emular a conduta de Ortega e vice-versa. A amizade das duas é acrescida por Agnes (Evie Templeton), uma garota fã de Wandinha que inicialmente age como stalker da protagonista, mas logo prova seu valor como aliada. Evie Templeton transita entre o bizarro e o adorável com a personagem, deixando evidente que Agnes é maluca, mas que tem alguma medida de boas intenções em sua conduta obsessiva.

Todo resto do núcleo da escola, no entanto, continua sendo desinteressante. A série não consegue afastar a impressão de que tudo não passa de uma versão emo de Hogwarts. A subtrama envolvendo o novo diretor e seu passado quase nem se conecta com a trama principal e boa parte dos conflitos e intrigas da escola são elementos que já vimos inúmeras vezes em séries adolescentes. Ao menos a série desistiu de tentar forçar um triângulo amoroso com Wandinha, embora ainda mantenha o insosso Tyler (Hunter Doohan) como possível interesse amoroso.

Família presente

O restante dos Addams estão mais presentes na nova temporada, mas isso não necessariamente significa que são todos bem aproveitados. Luiz Guzman e Catherine Zeta-Jones tem mais presença para explorar o relacionamento entre Gomez e Morticia, convencendo da devoção que tem um pelo outro. Se na primeira temporada Guzman não tinha muito que fazer, aqui ao menos ele pode explorar mais as facetas enérgicas e apaixonadas do patriarca Addams. Do mesmo modo, Fred Armisen tem mais tempo de tela para nos apresentar aos esquemas malucos do Tio Chico, roubando todas as cenas em que aparece.

Por outro lado, o fato da trama principal mais uma vez girar ao redor de segredos do passado guardados por Morticia e Gomez faz as coisas soarem repetitivas, um problema para uma série que ainda está na segunda temporada. Incomoda também a necessidade de precisar explorar cada canto do passado desses personagens e precisar dar uma razão para cada bizarrice que os cerca, em especial toda a história de origem que a série desenvolve para o Mãozinha. Nem todo personagem ou universo ficcional precisa de uma ampla mitologia para ser interesse e a família Addams é um exemplar disso.

A graça de muitos personagens é sua estranheza e bizarrice nata em oposição a normalidade do restante das coisas. Em anos que acompanho histórias envolvendo esses personagens em momento algum me questionei sobre o passado do Mãozinha ou qual sua origem. O interessante do personagem era o quão pouco sabíamos a seu respeito. Ao tentar criar uma espécie de passado trágico para o personagem, a série falha em dotá-lo de qualquer nuance ao mesmo tempo em que estraga parte de sua mística. É o tipo de coisa que me faz temer para que a série embarque nessa mitologização vazia de responder perguntas que ninguém fez e que não acrescenta nada aos personagens. Não me surpreenderia se próximas temporadas trouxerem explicações sobre como Tropeço ficou tão alto ou o motivo do primo It ser peludo.

Ao menos o final da temporada aponta para uma possibilidade de que as próximas desventuras de Wandinha rompam com as estruturas batidas que a série se apoiou até aqui, inclusive tirando a personagem desse manjado ambiente escolar, inclusive porque se cada temporada continuar a levar três anos para sair vai ficar cada vez mais difícil convencer que Wandinha e Feioso são adolescentes conforme o elenco envelhece.

No fim essa segunda temporada de Wandinha falha em cumprir a promessa de melhorar em elementos nos quais o primeiro ano ficou devendo, entregando uma trama de mistério que não consegue se afastar dos elementos familiares de histórias adolescentes, perdendo de vista o que torna os personagens da família Addams tão singulares.

 

Nota: 5/10


Trailer

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