quarta-feira, 17 de setembro de 2025

Crítica – A Hora do Mal

 

Análise Crítica – A Hora do Mal

Review – A Hora do Mal
O diretor Zach Cregger chamou minha atenção com o bacana e pouco visto Noites Brutais (2022), então fiquei curioso para seus próximos projetos. Este A Hora do Mal parte de uma premissa instigante e é visível o esforço do realizador em tentar algumas escolhas similares a Noites Brutais, mas que aqui não funcionam tão bem.

Crianças nas sombras

A trama segue o cotidiano de uma pequena cidade na qual todas as crianças de uma turma de ensino fundamental saem correndo de casa no meio da madrugada, com apenas um menino da turma deixando de fugir. As suspeitas logo caem sobre a professora, Justine (Julia Garner), que parece tão surpresa com o evento quanto o resto da cidade. Dois meses se passam e nada é resolvido. Justine começa a ser alvo de ataques dos pais das crianças, em especial de Archer (Josh Brolin), que fica inquieto com a inação das autoridades. Ao mesmo tempo, Justine começa a desconfiar que há algo errado na casa de Alex (Cary Christopher), o único de seus alunos que não sumiu, mas o diretor da escola, Marcus (Benedict Wong), não acredita nela.

Já nos primeiros minutos Cregger é eficiente em criar imagens macabras com os planos abertos das crianças saindo de suas casas e desaparecendo na escuridão enquanto correm em linha reta. A construção da cena reforça o senso de isolamento de cada uma das crianças e das forças sinistras que parecem estar agindo naquela cidade, um sentimento potencializado pelo uso da canção Beware of Darkness do George Harrison, cuja letra alerta para a presença de forças corruptoras.

Essas imagens inquietantes seguem ao longo do filme, como no momento em que um ensanguentado Marcus aparece correndo para atacar Justine no meio da rua ou a cena em que uma figura caminha pelas sombras e corta um tufo do cabelo de Justine enquanto ela dorme dentro do próprio carro. Há a constante sensação de que há algo sinistro à espreita, de que aqueles personagens estão lidando com forças que não compreendem e talvez não sejam capazes de enfrentar.

Divisão em desajuste

Como em Noites Brutais, a trama aqui é dividida em capítulos, cada um centrado na perspectiva de um personagem diferente. Se no filme anterior essa decisão funcionava porque expandia nosso entendimento do que estava acontecendo ao levar a história por caminhos inesperados, aqui a sensação é que essa estrutura prejudica o ritmo. Como são vários personagens e eles estão constantemente se cruzando na pequena cidade em que vivem, muitas interações se repetem. Claro, quando vemos a história sob o ponto de vista de outra pessoa a cena não é repetida na íntegra, mas isso não afasta a sensação de redundância e ritmo truncado.

A impressão é que tudo poderia ser mais fluido e conciso se trama simplesmente alternasse constantemente entre os vários personagens ao invés de dividir tudo em blocos nos quais acompanha um por vez. O mistério do que aconteceu com as crianças acaba não sendo tão surpreendente quanto a narrativa pensa ser já que lá pela metade do filme é possível entender o que aconteceu.

Tudo bem que ao menos a tia Gladys é uma vilã envolvente com seu visual bizarro e a desfaçatez com a qual se finge de idosa excêntrica para dominar suas vítimas. A narrativa acerta ao não dar explicações plenas a respeito de suas habilidades ou motivações, nos fazendo entender o necessário para que tenhamos medo de suas ações enquanto mantem certo mistério a seu respeito. Pistas são deixadas a respeito do que ela é ou do que ela pretendia com as crianças, com a trama constantemente mencionando parasitas que precisam tomar hospedeiros para sobreviver. Uma cena com Justine em sala de aula, por exemplo, mostra a professora ensinando aos alunos sobre os parasitas que entram em nosso corpo, enquanto outro momento em que Marcus e o marido assistem televisão passa um documentário a respeito de como o fungo cordyceps (o mesmo de The Last of Us) domina insetos para sobreviver.

É justamente na construção desse universo sinistro, habitado por seres bizarros e eventos sombrios que A Hora do Mal consegue envolver, ainda que sua estrutura traga problemas no fluxo da narrativa.

 

Nota: 7/10

Trailer

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