Show contínuo
Shelly (Pamela Anderson) trabalha como dançarina no mesmo show burlesco em Las Vegas desde os anos 80. O show já passou a muito de seu auge, atraindo cada vez menos público e tendo dançarinas cada vez mais jovens e inexperientes. Shelly se tornou uma espécie de figura materna para essas dançarinas mais jovens como Mary Anne (Brenda Song) e Jodie (Kiernan Shipka, de O Mundo Sombrio de Sabrina). O mundo de Shelly, no entanto, sofre um revés quando Eddie (Dave Bautista), o gestor do show, avisa que o espetáculo irá encerrar em duas semanas. Shelly agora contempla o que o futuro lhe reserva depois de três décadas construindo sua identidade ao redor de ser uma showgirl.
O fim do espetáculo não apenas coloca Shelly para questionar seu senso de si, mas a obriga a confrontar uma realidade que até então vinha ignorando. A noção de seu show já não é mais o espetáculo glamouroso de outrora e sim uma relíquia datada que a despeito de se dizer chique ou refinado, não está muito distante de qualquer outro show erótico na cidade. Com cinquenta anos de idade e sem a juventude que lhe garantiu um lugar de destaque no show, ela caminha perdida por um meio em que apenas a idade e beleza são valorizadas.
Considerando que Pamela Anderson também construiu boa parte de sua carreira em cima da beleza física e que perdeu espaço depois de certa idade, a escalação da atriz soa pensada para aproveitar os sentimentos dela em relação ao meio, embora Anderson tenha mostrado ser capaz de se reinventar tanto com esse filme quanto no recente Corra que a Polícia Vem Aí. Nesse sentido, Shelly é provavelmente o melhor trabalho de Anderson em muito tempo, trazendo o senso de desamparo e frustração de alguém que percebeu que todo o seu sistema de crenças está desabando e que ela nunca foi essa showgirl chique e refinada que acreditava, sendo só mais um corpo feminino descartável e com prazo de validade. Uma crise que se agrava com as tentativas de Shelly de se reaproximar da filha, Hannah (Billie Lourd), mas toda tentativa de contato acaba servindo de lembrete que ela sacrificou a relação com a filha em prol do show.
Tempo perdido
A premissa e a vulnerabilidade que Anderson traz à protagonista poderiam render um consistente estudo de personagem conforme Shelly tenta correr atrás do tempo perdido tanto no nível pessoal quanto no profissional. A narrativa desenha vários conflitos para a protagonista, mas nunca os desenvolve à contento.
Um deles se refere ao lugar de mãe que ela ocupa junto às dançarinas mais jovens. Em dado momento, em crise por conta dos conflitos com a filha, ela se recusa a dar apoio a Jodie durante um momento de dificuldade da garota. Imaginamos que isso terá repercussões adiante, mas a única consequência é Shelly rasgar a fantasia porque Jodie se recusa ajudá-la a se vestir. Depois disso não há mais qualquer conflito entre as duas.
Do mesmo modo, a trama desenha bem o drama entre Shelly e Hannah, mas ao final não há um senso satisfatório de conclusão. Eu entendo e aprecio o fato do filme evitar soluções fáceis, afinal não é o tipo de coisa que seria resolvida com apenas um gesto de afeto. Também entendo a ideia de deixar elementos em aberto, como se aquela etapa da vida de Shelly tivesse encerrado e ela tivesse uma nova vida e possibilidades diante dela.
A questão é que mesmo um final em
aberto precisa dar essa impressão de que há um fechamento de ciclo, de que
certas portas foram fechadas para que novas, dotadas de incerteza se abriram, e
isso não acontece aqui. A sensação é que o filme simplesmente acaba sem
oferecer um clímax, um senso de encerramento. Vemos essa sucessão de crises na
vida da personagem e possibilidades de futuro, mas a trama nunca as amarra de
maneira coesa. É uma pena, pois Pamela Anderson dá tudo de si e sua Shelly
merecia um filme melhor do que A Última
Showgirl é capaz de entregar.
Nota: 5/10
Trailer
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