Quem precisa de polícia?
A narrativa é protagonizada por Frank Drebin Jr. (Liam Neeson), que assim como o pai é detetive do Esquadrão de Polícia de Los Angeles. Seu caso mais recente envolve um assassinato que pode estar conectado a um roubo a banco e ao magnata da tecnologia Richard Cane (Danny Houston). Ao curso da investigação o caminho de Frank cruza com a irmã da vítima, a sedutora Beth (Pamela Anderson), que insiste em tentar ajudar com o caso.
Como na trilogia original, muito da graça vem do fato de que Neeson, Anderson e boa parte do elenco atua como se fossem personagens sérios, alheios à idiotice e absurdo de tudo que dizem, fazem ou testemunham. O elenco compor seus personagens como se fossem sujeitos sérios e não completos imbecis amplia o senso de absurdo de tudo que acontece, a exemplo da cena em que Beth tenta cantar para distrair o vilão, que reage como se os berros aleatórios da personagem fossem de fato uma grande performance musical.
O fiapo de roteiro existe mais para fazer rir do que para contar uma história coesa. Ainda que o vilão seja claramente inspirado em figuras como Jeff Bezos ou Elon Musk, o compromisso é mais com o absurdo ou a falta de noção do que com comentário social. Realismo ou verossimilhança pouco importam, desde que seja engraçado, como na aberta em que Neeson se fantasia de garotinha (a logística disso seria impossível, mas é justamente por isso que é engraçado) para deter assaltantes. Do mesmo modo, mãos emergem do nada para dar copos de café a Frank e seu parceiro e a grua usada para erguer um carro capotado é um daqueles brinquedos de garra que encontramos em fliperamas.
Humor conciso
Cada enquadramento sempre tem várias piadas acontecendo ao mesmo tempo. Seja os personagens em primeiro plano com diálogos que muitas vezes são levados literalmente, seja em vários elementos que acontecem no fundo do enquadramento ou nas margens dele, como na cena em que Ed (Paul Walter Hauser) liga para Frank para avisar que o departamento foi fechado e ao fundo, na fachada do prédio, está subindo um banner avisando que em breve a delegacia irá virar uma loja de artigos de Halloween.
Neeson e o resto do elenco também se comprometem com o humor físico. Seja na pantomima com Pamela Anderson que faz um dos capangas do vilão pensar que estão fazendo sexo ou nas exageradas cenas de ação em que capangas chegam a fazer fila para apanhar de Frank. Tudo isso embalado em cerca de 85 minutos, sem muita enrolação ou gorduras. O tipo de produção que vai direto ao ponto e que Hollywood parece ter esquecido de como fazer considerando que até coisas como o recente Um Maluco no Golfe 2 passam das duas horas de duração.
Por outro lado, a insistência do filme em fazer piadas envolvendo cultura pop soam deslocadas do espírito de besteirol puro que envolve esses tipos de filme. Algumas referências inclusive soam datadas como as menções ao Black Eyed Peas, uma banda que hoje já não tem a enorme fama que tinha anos atrás. Outras referências tem igual potencial de não envelhecerem bem daqui uns anos.
Creio que a diferença mais perceptível
em relação aos filmes originais seja na condução feita aqui por Akiva Schaffer,
que foi responsável pelo bacana Tico e Teco: Defensores da Lei (2022), cujo roteirista foi o mesmo Dan Gregor que
escreveu este novo Corra Que a Polícia
Vem Aí, e o divertido mockumentary Popstar:Sem Parar, Sem Limites (2016). Schaffer conduz tudo quase com uma
sensibilidade mais cinematográfica, com planos mais fluidos e com mais
movimento de câmera do que a planificação mais rígida, da trilogia original que
não tinha tanta fluidez. A cena inicial do capanga vivido por Kevin Durand
caminhando até o cofre do banco enquanto acompanhado por um longo movimento de câmera
lateral poderia estar tranquilamente em um thriller
sério. Assim como as atuações, essas escolhas de direção, quase como se ele
estivesse conduzindo drama, criam um contraste com a idiotice de tudo que
acontece.
Nota: 7/10
Trailer
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