terça-feira, 19 de agosto de 2025

Crítica – Jurassic World: Recomeço

 

Análise Crítica – Jurassic World: Recomeço

Review – Jurassic World: Recomeço
Depois do pavoroso Jurassic World: Domínio (2022), a franquia parecia não ter mais onde ir com aqueles personagens. Talvez por isso que resolveram fazer esse Jurassic World: Recomeço como uma espécie de soft reboot, mantendo o universo e a cronologia, mas trazendo novos personagens. Podia ser um meio de trazer frescor a essa desgastada série de filmes, ainda mais com Gareth Edwards, responsável por Rogue One: Uma História Star Wars (2016). Infelizmente não é o que acontece e a produção não consegue afastar o gosto de janta velha requentada.

Narrativa jurássica

A trama é focada na mercenária Zora (Scarlett Johansson), contratada pelo executivo de uma empresa farmacêutica, Martin Krebs (Rupert Friend), para liderar uma missão a territórios próximos da linha do Equador que agora são habitados por dinossauros. O objetivo é recuperar amostras de sangue de três grandes dinossauros ainda vivos para que elas sejam usadas em pesquisas para problemas cardíacos. A extração do material é tarefa do paleontólogo Henry Loomis (Jonathan Bailey, de Wicked). No percurso eles encontram uma família liderada por Reuben (Manuel Garcia-Rulfo, de O Poder e a Lei), que estava viajando de barco com as duas filhas quando a embarcação foi atacada por um dinossauro aquático. Com essa tripulação inesperada à bordo, o grupo liderado por Zora precisa chegar na ilha e sobreviver aos dinossauros do local, inclusive os bizarros experimentos que ficaram ocultos na ilha.

O filme começa promissor com uma cena do bizarro D-Rex atacando cientistas em um laboratório. A atmosfera é mais próxima ao terror e a cena não estaria deslocada em um filme da franquia Alien, com cientistas seguindo uma rotina de trabalho banal enquanto experimentam com criaturas perigosas até que um pequeno acidente faz o caos irromper. A impressão é que o filme poderá trazer uma nova abordagem, mas isso logo se esgota.

Do momento em que conhecemos Zora, tudo se torna uma grande reciclagem de elementos já conhecidos. No momento em que ela conhece Loomis, ele está no salão de um museu com o esqueleto de um T-Rex e uma faixa com os dizeres “quando os dinossauros dominavam a Terra”. Uma imagem similar à do saguão do primeiro parque. Quando a dupla vê os titanossauros na ilha, o modo como Gareth Edwards constrói o plano e contraplano deles observando os dinossauros tenta evocar o mesmo senso de encantamento de quando o doutor Grant (Sam Neill) vê dinossauros pela primeira vez em Jurassic Park (1993), incluindo o uso da poderosa música tema composta por John Williams. A tentativa de um personagem sem escrúpulos de fugir de carro é frustrada por um dinossauro tal como acontece com o Nedry (Wayne Knight) no filme original. A cena das crianças presas em um carro atacado por um T-Rex é similar a um momento aqui em que a filha caçula de Reuben fica presa em um bote salva-vidas e é atacada pelo mesmo dinossauro. Ou seja, praticamente todos os momentos-chave do filme são repetições de situações que já vimos antes e melhor executadas por Steven Spielberg trinta anos atrás.

Sobrevivência previsível

Não que Edwards faça uma má condução das cenas de ação. Elas são bem realizadas, bem filmadas, com um esforço visível de construir tensão e um senso de perigo. O problema é que por serem repetição de momentos que já vimos antes, sabemos como as coisas irão acontecer e o texto não faz qualquer esforço de subverter nossas expectativas. O texto também telegrafa de maneira bem óbvia quem irá viver ou morrer ao longo do filme. Sendo evidente que Reuben ou suas crianças irão sobreviver, bem como Zora e Loomis, enquanto que os personagens de mau caráter ou os tripulantes genéricos do barco de Kincaid (Mahershala Ali) irão todos virar comida de dinossauro. Como já está posto de antemão quem irá viver e quem irá morrer, muito da tensão das perseguições e embates com dinossauros fica esvaziada de tensão. Deveríamos sentir que ninguém está seguro, que qualquer um ali poderia morrer, mas esse sentimento nunca se faz presente.

A família liderada por Reuben, por sinal, passa boa parte do filme desconectada do núcleo liderado por Zora, com os dois núcleos mal interagindo e a família não fazendo qualquer diferença para a narrativa de Zora e seu grupo, podendo ser removida sem muitos prejuízos. A impressão é que a família está ali só como uma desculpa para inserir crianças na história e usá-las como muleta sentimental, afinal ninguém quer ver crianças sendo devoradas por animais perigosos. O expediente é tão escancarado, porém, que acaba tendo um efeito reverso, já que deixa evidente que as crianças são um mero dispositivo de roteiro para angariar nossa simpatia sem muito esforço.

Scarlett Johansson convence da amizade longeva entre Zora e Kincaid, bem como da camaradagem que se desenvolve entre ela e Loomis. Apesar de uma protagonista carismática, a atriz é prejudicada por um roteiro que não dá muita substância a Zora além do clichê da militar com passado traumático, o mesmo acontecendo com Kincaid. Assim, tanto Johansson quanto Mahershala Ali são desperdiçados em personagens pouco interessantes e com arcos de redenção previsíveis.

O clímax tenta retornar a atmosfera de horror do início ao fazer os protagonistas encararem o sinistro D-Rex e mais algumas outras mutações. O design dessas criaturas, com anatomias aberrantes cheias de protuberâncias e membros saindo de lugares inesperados, convence de que estamos diante de experimentos bizarros que saíram costurando pedaços de diferentes criaturas a esmo. Embora sejam visualmente ameaçadoras, o filme não explora plenamente seus monstros, fazendo os personagens evadirem facilmente o D-Rex quando um dos membros do grupo distrai a criatura com sinalizadores.

É por conta dessa falta de urgência, de narrativa previsível e de um senso de que já vimos tudo isso antes que Jurassic World: Recomeço nunca faz jus à promessa de renovar a franquia, desperdiçando um elenco carismático e um diretor competente em uma repetição cansada de elementos familiares.

 

Nota: 5/10


Trailer

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