Romance difuso
A narrativa acompanha Lucas (Vinícius Teixeira) que vai sozinho em uma viagem de férias para a praia de Canoa Quebrada depois de uma crise com o namorado, Martin (Léo Bahia). Lá ele reencontra um antigo colega de faculdade, Felipe (Gabriel Fuentes), que trabalha como guia no local. Os dois se reconectam, trazendo desejos antigos à tona.
É, em essência, um triângulo amoroso já que Lucas fica pensando no namorado que deixou ao mesmo tempo em que cede aos poucos ao charme de Felipe. A relação entre Lucas e Felipe é a típica dinâmica de oposição, com Lucas sendo mais tímido, retraído e inseguro enquanto Felipe é mais expansivo, mais aventureiro e sexualmente mais aberto a diversas experiências e parcerias. O problema nem é o filme recorrer a essa estrutura típica, mas que toda a dinâmica entre eles e o namorado que o protagonista deixou nunca tem nenhuma tensão, drama ou conflito real.
É bem evidente desde o início que Lucas irá ceder aos encantos de Felipe e que, dado espírito livre do guia, dificilmente aquilo passará de um amor de verão. Mesmo quando Martin desembarca na praia tudo é resolvido rapidamente, com o namorado indo embora mal depois de chegar. Não ajuda que Lucas seja um protagonista insosso, que se deixa levar o tempo pelas outras pessoas ou situações ao seu redor. Sim, o arco dele é meio que esse aprendizado de ser assertivo, de se encontrar e saber o que quer, mas é possível construir um arco de autodescoberta sem tirar a agência de um personagem.
É um problema mais de texto do que do trabalho de Vinícius Teixeira, sempre convincente da insegurança e dúvida do personagem. Gabriel Fuentes, por sua vez, acerta no charme cafajeste que traz a Felipe, com sua sensualidade sendo auxiliada pela fotografia, cujas cenas na praia ou em ambientes externos é sempre tomada por tons quentes e cores saturadas que fazem da praia um ambiente cálido, pulsante e repleto de volúpia.
Musical nostálgico
As cenas musicais são os momentos mais divertidos do filme pelo modo como usam canções famosas da década de oitenta, como o número de Doce Mel, de Xuxa, cantado por drags ou o número de Mais Uma De Amor, da Blitz, que começa dentro de uma casa e logo vai para as ruas mobilizando todos os transeuntes. Isso sem mencionar que o filme traz não uma, mas duas cenas musicais com a cantora Gretchen. Ou seja, é praticamente impossível deixar de gostar das cenas musicais.
Por outro lado essa paisagem musical nostálgica soa estranha se considerarmos que a trama se passa nos dias de hoje e os personagens tem vinte e poucos anos, pessoas que não viveram a época dessas canções e não teriam conexões de memória afetiva com elas. Faria mais sentido se os personagens fossem pessoas mais velhas, na faixa dos 35 anos. Sim, algumas dessas canções, como as da Gretchen ou What a Feeling (aparecendo mais uma vez em um musical latino depois de ser usada no uruguaio Miss Tacuarembó), foram apropriadas por comunidades LGBT+ e fazem parte do repertório cultural desse grupo, por isso soam coerentes dentro das vivências desses personagens, mas nem todas, como as da Blitz, se encaixam nessa categoria. Considerando que muitos números acontecem dentro da diegese, é estranho ver esses personagens cantando canções que pessoas da idade deles talvez nem conhecessem.
Essa desconexão, no entanto, não
tira a diversão excêntrica que os números musicais de O Melhor Amigo oferecem, uma pena que o resto de sua trama
romântica não acompanhe esse clima pitoresco.
Nota: 6/10
Trailer
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