quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

Rapsódias Revisitadas – Duro de Matar

 

Die Hard christmas movie

Análise crítica - Duro de Matar
Lançado em 1988, Duro de Matar é constantemente lembrado como um dos melhores filmes de ação de todos os tempos. Recentemente ele também entrou em outras discussões sobre gêneros e subgêneros narrativos, mais especificamente: seria Duro de Matar um filme de Natal? A narrativa certamente se passa no período natalino, mas seria isso o bastante para considerá-lo um filme de Natal?

Para quem não conhece, na trama o policial nova-iorquino John McClane (Bruce Willis) viaja até Los Angeles para reencontrar a esposa Holly (Bonnie Bedelia) para tentar recuperar o casamento dos dois. Holly trabalha em um luxuoso e tecnologicamente avançado arranha-céu na cidade e John chega para encontrá-la durante uma festa da empresa, mas a festa é invadida pelo grupo de ladrões liderados por Hans Gruber (Alan Rickman) que toma todos de reféns. McClane consegue escapar e agora ele tentará lidar com os criminosos por conta própria.

Na época de seu lançamento, o filme chamou atenção pelo modo como reconfigurava os padrões de um filme de ação hollywoodiano. Durante a década de oitenta, o gênero era tomado por astros com corpos hiperbólicos e personagens virtualmente indestrutíveis que despachavam hordas de bandidos sem se ferir como acontecia em Comando para Matar (1985) ou Stallone Cobra (1986). O John McClane de Bruce Willis era o oposto disso. Ele tinha um físico relativamente normal, estava em uma clara situação de desvantagem em relação aos seus inimigos e era vulnerável, física e emocionalmente.

Ao contrário de outros heróis de ação, McClane se machucava durante os embates e raramente saía incólume de alguma luta, sempre levando consigo algum ferimento após cada segmento de ação. Isso contribuía para um senso maior de perigo, já que víamos claramente o risco que McClane estava correndo e que havia uma chance real dele ser prejudicado pelos ferimentos. Além disso, McClane fala dos próprios fracassos pessoais, admitindo ao policial Powell (Reginald VelJohnson) que o casamento entrou em crise por ele ser emocionalmente fechado para a esposa, uma vulnerabilidade emocional que heróis de ação da época não demonstravam.

Claro, um bom herói não é nada sem um bom antagonista e o Hans Gruber de Alan Rickman é um excelente vilão. Inteligente, ardiloso e manipulador, Gruber parece sempre estar à frente das autoridades e certamente teria sucesso em seu plano se não fosse McClane. Gruber inclusive se dá ao trabalho de conhecer o inimigo para melhor enfrentá-lo, algo que fica evidente no segmento que ele finge ser um dos reféns para se aproximar de McClane. O trabalho de Rickman também dá alguma medida de humanidade a Gruber, como o fato dele parecer genuinamente aterrorizado enquanto cai para a morte no final do filme (parte disso era porque Rickman foi pego de surpresa quando o diretor mandou soltá-lo antes do momento combinado).

Mas e quanto ao Natal? Bem, temas típicos de filmes natalinos estão presentes aqui. O principal deles é a ideia de união familiar, lembrando que o Natal é uma época para deixar as diferenças de lado e reunir a família, celebrando os laços que os unem e se reaproximando de entes queridos distantes, exatamente o que acontece com McClane e Holly. Também lembra que o Natal é uma época de caridade e ajuda ao próximo como o protagonista faz quando encontra Hans fingindo ser mais um refém. Tudo bem que se ele soubesse que se tratava do líder dos ladrões McClane provavelmente enfiaria a porrada nele e eu sei que estou forçando a barra um pouco aqui com esse argumento, mas não dá para negar que há certo mérito nele.

O sucesso do filme gerou várias continuações, mas nenhuma chegou no nível do primeiro, que permanece (ao lado do segundo Exterminador do Futuro) um dos melhores filmes de ação já feitos e um ponto de virada para os blockbusters de ação hollywoodianos. Isso sem falar que é um ótimo filme natalino.


Trailer

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