sexta-feira, 29 de maio de 2020

Crítica – Te Pego na Saída




Resenha Crítica – Te Pego na Saída

Review – Te Pego na SaídaVocês já se perguntaram como seria se o filme Te Pego Lá Fora (1987) substituísse seus protagonistas de alunos para professores? Não? Bem, problema seu, pois perguntando isso ou não este Te Pego na Saída é a resposta e não é lá uma resposta muito boa. Na trama, depois de fazer o bruto professor Strickland (Ice Cube) ser demitido, o manso professor Campbell (Charlie Day) é desafiado para uma briga por Strickland depois do horário da aula.

O primeiro problema é que toda a situação é bem difícil de embarcar. Eu sei que a comédia é um gênero marcado pelo exagero e pelo absurdo, mas mesmo esses absurdos precisam ser algo que precisamos acreditar que seria possível acontecer, como fazem filmes tipo Se Beber Não Case (2009) ou o recente Bons Meninos (2019). Aqui, no entanto, nada soa crível ou genuíno, com muitas situações parecendo falsas ao ponto em que a imersão do espectador é quebrada.

Quando somos apresentados ao agressivo Strickland, é difícil crer que alguém com a conduta agressiva dele sobreviveria no constante escrutínio de pais do sistema de educação pública dos EUA. Também é difícil embarcar na ideia que o aluno que Strickland ataca com um machado iria evitar dedurar o professor. O desafio feito a Campbell também não faz sentido. Se Strickland foi demitido por agredir um aluno, porque a escola o deixaria terminar o expediente? Seria mais provável que ele fosse colocado para fora do campus. Porque esperar até o fim da aula para dar uma surra em Campbell se ele poderia fazer isso assim que saem da sala do diretor? Se a informação da briga viraliza na internet em questão de minutos, como o diretor ou o resto das instâncias superiores parece não saber ou não faz nada para evitar?

quinta-feira, 28 de maio de 2020

Crítica – O Estranho que Nós Amamos



Análise Crítica – O Estranho que Nós Amamos

Review – O Estranho que Nós AmamosDirigido por Sofia Coppola, este O Estranho que Nós Amamos é uma nova adaptação de um filme de mesmo nome lançado em 1971, que era baseado em um romance escrito por Thomas P. Cullinan. Não vi o original nem li o livro, então não sei dizer até que ponto essa versão da Sofia se aproxima ou se afasta. De todo modo, o que Sofia Coppola constrói aqui é uma competente metáfora para as relações entre masculino e feminino.

A trama se passa no período da guerra civil dos Estados Unidos e é centrada em um pequeno colégio interno para mulheres liderado por Miss Martha (Nicole Kidman). Um dia um soldado do norte, John McBurney (Colin Farrell), é encontrado ferido na floresta próxima ao casarão em que todas vivem. O soldado é levado para dentro da casa, onde Martha e as demais mulheres que ali habitam se comprometem a cuidar dos ferimentos dele. Aos poucos, algumas mulheres da casa vão se envolvendo com o soldado, o que começa a gerar problemas e ciúmes entre as garotas.

Poderia ser uma trama sobre rivalidade feminina e como todas as mulheres fazem de tudo para agarrar um homem, mas nas mãos de Sofia Coppola, o material acaba sendo virado ao avesso. O que a diretora faz é usar essa trama para falar de como a sociedade tem uma estrutura patriarcal, na qual as mulheres, mesmo em maior número, se preocupam mais em agradar um homem do que a si mesmas.

quarta-feira, 27 de maio de 2020

Rapsódias Revisitadas – O Homem Urso



Análise crítica – O Homem Urso

Review – O Homem UrsoLançado em 2005, o documentário O Homem Urso chama atenção não só pela história de Timothy Treadwell, que durante 13 anos seguidos passou o verão acampando em uma reserva de ursos pardos para viver entre os animais, mas pelo modo como o diretor Werner Herzog conta a história de Treadwell. Seria fácil, considerando as centenas de horas de material filmado pelo próprio Treadwell que Herzog teve acesso, pintar o sujeito simplesmente como um doido varrido caricato, na linha de alguma figura como o Joe Exotic de A Máfia dos Tigres (2020).

Seria fácil também Herzog guardar a informação da morte brutal de Treadwell e da companheira nas garras dos ursos que tentava proteger para o final de modo a criar uma reviravolta chocante. Ao invés disso, o diretor traz essa informação já no início, se preocupando mais em tentar entender quem era Treadwell e quais foram suas motivações para se arriscar ao ponto de eventualmente morrer. O olhar de Herzog é de empatia e respeito pelo seu personagem, no entanto, a linguagem direta e seca do diretor jamais romantiza o ator/ativista, deixando claras as suas falhas e também a ineficiência da militância dele pelos ursos.

terça-feira, 26 de maio de 2020

Crítica – Um Crime Para Dois


Análise Crítica – Um Crime Para Dois

Review – Um Crime Para DoisDe certa forma, esse Um Crime Para Dois é bem parecido com Uma Noite Fora de Série (2010), já que ambos acompanham um casal em crise no relacionamento que acidentalmente se envolve em um crime e precisa correr para resolver a situação. Assim como em Uma Noite Fora de Série, o resultado deste Um Crime Para Dois é bem morno.

Na trama, o casal Leilani (Issa Rae) e Jibran (Kumail Nanjiani) está prestes a terminar quando acidentalmente atropelam um ciclista, que logo foge do local. Logo depois seu carro é tomado por um homem que se diz policial que persegue o ciclista em fuga e o atropela até matá-lo. Como o suposto policial deixa a cena no crime e as testemunhas que aparecem veem apenas Leilani e Jibran diante do cadáver, o casal foge e decidem eles mesmos descobrirem o que aconteceu para não serem presos por um crime que não cometeram.

Rae e Nanjiani tem uma boa química juntos e convencem como um casal que já está junto a algum tempo, com o início do filme sendo eficiente em nos mostrar como e porque os dois se apaixonaram. O carisma dos dois nos faz ter um mínimo de conexão com os personagens, mas não ajuda a afastar a natureza previsível da trama e dos diálogos, que obviamente caminham para que o sentimento deles se reacenda durante o momento de crise.

segunda-feira, 25 de maio de 2020

Crítica – Quantico: 3ª Temporada


Análise Crítica – Quantico: 3ª Temporada


Review – Quantico: 3ª Temporada
Quantico iniciou com uma ótima primeira temporada, permeada com personagens complexos e um bom ritmo no manejo da intriga e da tensão apesar da longa quantidade de episódios. A segunda temporada oferecia mais do mesmo, conseguindo se manter competente ainda que já mostrasse que ficar repetindo a mesma estrutura narrativa podia fazer a série se perder. Pois a terceira e última temporada até tenta se reinventar, o problema é que não faz nada de interessante, preferindo se reduzir a um procedural genérico. Aviso que o texto a seguir contem SPOILERS da temporada final.

Depois dos eventos da temporada anterior, Alex (Priyanka Chopra) vive escondida no interior Itália, reconstruindo a vida ao lado do fazendeiro Andrea (Andrea Bosca) e da filha dele. Quando Alex é encontrada por uma terrorista internacional que busca os códigos secretos que ela escondeu, a ex-agente precisa novamente se aliar a Ryan (Jake McLoughlin) e Owen (Blair Underwood) para resolver a questão. Ao final da missão eles decidem se reunir e montar uma equipe secreta do FBI para lidar com os casos mais complicados.

quinta-feira, 21 de maio de 2020

Rapsódias Revisitadas – Violeta Foi Para o Céu

Crítica – Violeta Foi Para o Céu

Review – Violeta Foi Para o Céu
Conhecia muito pouco sobre a trajetória da cantora e artista plástica chilena Violeta Parra. Sabia que era um nome importante da arte e cultura do Chile, mas nunca tive muito contato com a obra dela. Foi movido pela curiosidade de conhecer mais e também pelo meu interesse em filmes nos quais a canção popular desempenha um papel importante que fui conferir esse Violeta Foi Para o Céu, originalmente lançado em 2011.

A trama segue a trajetória de Violeta Parra (Francisca Gavilán), sendo enquadrada a partir de uma entrevista que Violeta dá para uma emissora de televisão. A partir da fala dela a trama viaja para os principais momentos da vida da artista. A montagem se vale da estrutura testemunhal que guia a trama para organizar as imagens como se de fato estivéssemos vendo o fluxo de consciência de Violeta transitando por suas memórias, muitas vezes misturando tempos, espaços e imagens da subjetividade da protagonista usando a música para dar unidade a essas descontinuidades imagéticas.

De certa forma são essas escolhas de estrutura e de montagem que conferem personalidade ao filme, já que em termos de narrativa o texto segue bem o formato padrão de biografias de músicos. Acompanhamos a infância, as dificuldades, o despertar de seu interesse artístico, a inspiração de seus sucessos, os momentos de triunfo, os desencontros afetivos e sua decadência. Não fosse o esforço de fazer o espectador mergulhar no fluxo de pensamento da protagonista, o resultado seria bem quadrado.

quarta-feira, 20 de maio de 2020

Crítica – She-Ra e as Princesas do Poder: 5ª Temporada



Análise Crítica – She-Ra e as Princesas do Poder: 5ª Temporada

Review – She-Ra e as Princesas do Poder: 5ª TemporadaDesde que escrevi sobre a primeira temporada falo como She-Ra e as Princesas do Poder supera as expectativas. Poderia ser só um caça-níqueis para lucrar em cima da nostalgia de uma animação oitentista cuja única razão de existir era vender brinquedos, mas ao invés disso entregou uma envolvente jornada, marcada por personagens complexos que raramente podem ser definidos por maniqueísmos fáceis. Isso se confirma nesta quinta e aparentemente última temporada, que encerra muito bem todas as tramas iniciadas desde o primeiro ano.

A narrativa começa no ponto em que o quarto ano acabou. O Mestre da Horda chegou a Etéria com toda sua frota e capturou Cintilante. Adora destruiu a Espada do Poder para que ninguém use o Coração de Etéria, uma arma poderosa que pode destruir o universo. Sem a espada, ela também não consegue mais se transformar em She-Ra, o que torna ainda mais difícil enfrentar o Mestre.

A temporada consegue criar um senso palpável de perigo constante, do Mestre da Horda como um oponente formidável, não só pelos números de sua horda, mas por sua inteligência em ser capaz de antecipar os movimentos dos adversários e também por sua capacidade de assimilar qualquer um em sua mente coletiva, efetivamente transformando aliados em inimigos. Há um senso palpável de perigo em cada batalha e um claro temor que as heroínas fracassem pelo fato do inimigo ser um oponente tão formidável.

terça-feira, 19 de maio de 2020

Crítica – Ingrid Vai Para o Oeste


Análise Crítica – Ingrid Vai Para o Oeste

Review – Ingrid Vai Para o OesteEstrelado por Aubrey Plaza, este Ingrid Vai Para o Oeste se apresenta como uma comédia ácida sobre os efeitos das redes sociais nas vidas das pessoas e sobre a saúde mental. O filme, no entanto, nunca vai além dos sensos comuns sobre o tema, nem vai muito fundo na acidez ou na comédia sombria.

Na trama, Ingrid (Aubrey Plaza) tem um colapso mental e é internada em uma instituição para se tratar. Ao sair, ela se torna obcecada pela influencer Taylor Sloane (Elizabeth Olsen) e decide mudar para Los Angeles para tentar se aproximar dela. Aos poucos Ingrid começa a se colocar no círculo social de Taylor, mas vai descobrindo que aquela vida de Instagram não é tão perfeita no mundo real.

Conforme vai conhecendo Taylor, Ingrid descobre que todas aquelas atividades aparentemente espontâneas, como comer em um determinado lugar ou usar roupas de uma marca específica, são na verdade postagens pagas pelas marcas para divulgar seus produtos e que Taylor não necessariamente usa aquelas coisas em seu cotidiano. Do mesmo modo, como fica evidente na cena em que Ingrid e Taylor vão tirar uma foto no deserto, vemos como as fotos aparentemente perfeitas das pessoas nas redes sociais são, na verdade, altamente produzidas.

segunda-feira, 18 de maio de 2020

Crítica – A Missy Errada



Análise Crítica – A Missy Errada

Review – A Missy ErradaA quarentena realmente já está começando a me afetar. Só isso explica eu ter me sujeitado a assistir este A Missy Errada, mais uma produção picareta da Happy Madison de Adam Sandler que não tem outra razão de existir a não ser dar um contracheque aos amigos de Sandler que praticamente não trabalham em nenhum filme além dos que Sandler produz, como David Spade, Rob Schneider, Nick Swardson, Jonathan Loughran ou a esposa e filho de Sandler, Jackie e Jared.

Também existe para mandar toda essa galera em uma viagem de férias a ser posta na conta do estúdio financiando a produção (nesse caso a Netflix), inserindo arbitrariamente na trama uma viagem para algum lugar paradisíaco ou exótico, tal como já tinha acontecido em Esposa de Mentirinha (2011), Juntos e Misturados (2014), Zerando a Vida (2016), Mistério no Mediterrâneo (2019) ou mesmo o cruzeiro inserido sem qualquer motivo em Cada Um Tem a Gêmea que Merece (2011). Enfim, como muitas produções de Sandler, existe para que o elenco se divirta sem qualquer esforço de divertir sua audiência.

Na trama, Tim (David Spade) aparentemente conhece a mulher dos seus sonhos, Missy (Molly Sims) em um aeroporto, mas como ambos tem voos a pegar trocam telefones para conversarem. Quando recebe uma mensagem de Missy, Tim desenvolve a conversa e tudo flui bem ao ponto que resolve convidá-la para que o acompanhe em uma viagem de trabalho que vai no Havaí. O problema é que ele estava conversando com outra Missy (Lauren Lapkus), uma mulher grudenta e histérica que ele conheceu em um encontro às cegas dias atrás. Agora ele precisará lidar com essa estranha e tomar cuidado para que ela não estrague sua chance de bajular o chefe e obter uma promoção.

sexta-feira, 15 de maio de 2020

Crítica – Bons Meninos


Análise Crítica – Bons Meninos

Review – Bons Meninos
Eu me surpreendi positivamente com esse Bons Meninos. Parecia ser só uma espécie de cópia de Superbad (2007) com personagens um pouco mais jovens e sob o ponto de vista da trama até que é isso. Mas não imaginava que uma trama besteirol estrelada por personagens pré-adolescentes conseguisse criar situações tão absurdas e, ao mesmo tempo, conseguisse equilibrar todo esse besteirol com sentimento genuíno. Só para deixar claro, apesar de ter personagens pré-adolescentes, essa não é uma comédia para o público infantil.

A narrativa gira em torno do trio Max (Jacob Tremblay), Thor (Brady Noon) e Lucas (Keith L. Williams), garotos que acabaram de chegar na sexta série e esperam se tornar descolados. A oportunidade surge quando são convidados para a festa de um dos garotos populares, na qual Max vê a oportunidade de se declarar para Brixlee (Millie Davis), a menina de quem gosta. Chegar a essa festa não vai ser fácil e no caminho os garotos encontrarão muitas confusões.

É um fiapo de roteiro que poderia se transformar em algo entediante se não houvesse uma série de situações absurdas e criativas para preencher o percurso. Muito do humor vem da reação dos garotos a coisas do universo adulto que eles não entendem ou que analisam com um olhar muito ingênuo, como na cena em que encontram os objetos sexuais dos pais de Thor e acham que são armas, confundindo contas anais com um nunchaku, uma máscara de sadomasoquismo com uma máscara ninja ou uma boneca sexual ultra realista com um boneco de treinamento para primeiros socorros.

quinta-feira, 14 de maio de 2020

Crítica – Lost Girls: Os Crimes de Long Island



Análise Crítica – Lost Girls: Os Crimes de Long Island

Review – Lost Girls: Os Crimes de Long IslandBaseado em uma história real, Lost Girls: Os Crimes de Long Island acompanha uma mãe, Mari (Amy Ryan), que tenta desvendar por conta própria o desaparecimento da filha quando percebe a inação da polícia. As buscas acabam revelando vários corpos enterrados em uma área próxima, mas não o de Shannan, a filha de Mari. Como Shannan, assim como as demais mulheres encontradas mortas, também era prostituta, a polícia suspeita de que a filha da Mari também possa estar morta e que todas foram mortas pela mesma pessoa.

Além de mostrar o percurso investigativo e o descaso da polícia, o filme tenta também falar sobre o machismo estrutural que está por trás do tratamento dado ao caso pela polícia e pela mídia. Sempre tachando as mulheres como prostitutas, sem tentar apresentá-las como qualquer outra coisa além disso, a imprensa ou a polícia tratam as vítimas como se fossem culpadas pelas próprias mortes e como pessoas indignas de preocupação ou revolta por conta de mortes tão violentas. Ao mesmo tempo, há um esforço de mostrar como a morte de Shannan pesa na família de Mari e na relação da matriarca com as duas filhas mais novas.

quarta-feira, 13 de maio de 2020

Crítica – Má Educação




Análise Crítica – Má Educação

Review – Má EducaçãoContando uma pitoresca história real, é difícil não olhar para este Má Educação e não pensar em filmes dos irmãos Coen como Fargo (1996) por conta de como decisões estúpidas sem entender o que acontece se transformam em uma bola de neve de burrice que devastam tudo ao redor. Também lembram as tramas de filmes como Bernie: Quase um Anjo (2011) ou O Rei da Polca (2017), ambos sobre sujeitos aparentemente boa-praça que se envolvem em esquemas criminosos de apropriação indevida de dinheiro.

A trama acompanha Frank (Hugh Jackman), superintendente de um distrito de escolas públicas em Nova Jersey. Sob a tutela de Frank, as escolas de seu distrito começam a se tornar as melhores do país. Aos poucos, escândalos envolvendo desvio de dinheiro em seu departamento começam a aparecer e conforme a trama desses crimes começa a ser puxada, tudo aponta para o aparentemente simpático e inofensivo Frank.

A maneira como tudo se desenvolve é tão absurda que mostra como a realidade pode ser mais bizarra que qualquer ficção, nas quais atitudes estúpidas de pessoas envolvidas no esquema de desvio chamam atenção das autoridades e todos começam a olhar as contas do distrito escolar. Tudo isso envolvendo funcionárias que usam o cartão corporativo de maneira irresponsável e uma repórter do jornal de uma das escolas, Rachel (Geraldine Viswanathan) investigando as finanças do distrito mais do que deveria Frank percebe as paredes desmoronando ao seu redor e tenta se proteger a todo custo das acusações.

terça-feira, 12 de maio de 2020

Drops – Os Irmãos Willoughby



Resenha Crítica – Os Irmãos Willoughbys

A animação Os Irmãos Willoughby primeiramente chama atenção por seu estilo visual, que parece misturar diferentes técnicas de animação, como 2D, 3D e stop-motion. Talvez não tenham sido usadas de fato as três técnicas, mas visualmente dá essa impressão. A direção de arte mistura visuais coloridos e excêntricos com um quê de macabro, lembrando coisas como Desventuras em Série.

Além dos visuais, chama a atenção o humor carregado de ironia, especialmente na voz do narrador dublado originalmente pelo comediante Ricky Gervais. A própria trama transita entre o excêntrico e o macabro, com os irmãos protagonistas tentando se livrar de seus pais negligentes. O texto toca em temas muito comuns a tramas infantis, falando de amor fraterno, esperança e a importância da família, lembrando também que família não é só aquela em que nascemos, mas a que construímos para nós.

segunda-feira, 11 de maio de 2020

Rapsódias Revisitadas – O Apocalipse de um Cineasta



Resenha – O Apocalipse de um Cineasta

Análise – O Apocalipse de um Cineasta
Eu já tinha visto Apocalypse Now (1979) algumas vezes e já tinha ouvido falar do documentário O Apocalipse de um Cineasta (1991), que mostra o conturbado processo de filmagem de Apocalypse Now na selva filipina, mas só agora assisti o documentário, que é um competente registro de uma produção fora de controle.

Os registros de bastidores foram feitos Eleanor, esposa do diretor Francis Ford Coppola, com o intento de serem um making of do filme. As coisas saíram tanto do controle durante os mais de 200 dias de filmagem que as imagens captadas por Eleanor não foram usadas na divulgação do filme e só foram apresentadas ao público neste documentário.

O documentário começa com uma entrevista com Coppola no qual ele diz que Apocalypse Now foi feito como se fosse a própria Guerra do Vietnã, com um grupo grande de pessoas pretensiosas na selva, com muito dinheiro a disposição e sem muita ideia do que estavam fazendo. De fato é o que acontece. Apesar de ter financiado a produção do próprio bolso, Francis Ford Coppola tinha bolsos razoavelmente fundos, o que permitiu por exemplo, construir sets enormes, como o templo do coronel Kurtz, graças à mão de obra barata do local. Trabalhando em condições precárias, os operários filipinos recebiam valores tão baixos que um dos produtores se pergunta se estavam explorando a população local (sim, estavam).

sexta-feira, 8 de maio de 2020

Lixo Extraordinário – Gymkata: O Jogo da Morte



Análise – Gymkata: O Jogo da Morte

Review – Gymkata: O Jogo da Morte
Lançado em 1985, Gymkata: O Jogo da Morte parte da ideia de criar um novo estilo de luta a partir da combinação de artes marciais orientais e ginástica olímpica. Pode até parecer uma premissa curiosa e promissora, mas o resultado final causa risos pelo péssimo roteiro, atuações e cenas de luta.

Na trama, Jonathan (Kurt Thomas) é um ginasta de sucesso  que é recrutado pelo governo para participar de um mortal jogo de sobrevivência promovido pela fictícia nação do Parmistão. Como o governante do país concede um desejo a quem vencer, o governo americano quer colocar alguém na competição para ter seu desejo atendido, de colocar no Parmistão uma base militar de seu projeto antimísseis, o projeto Star Wars (como ninguém foi processado por usar esse nome no filme?). A partir daí acompanhamos o treinamento de Jonathan e depois sua participação nos jogos.

O filme é permeado por decisões sem sentido, sejam de roteiro ou de direção. Os primeiros minutos, que mostram Jonathan ganhando uma competição mais parecem o final de um filme da época, com uma única luz no protagonista, música tensa e a imagem sendo congelada (também conhecido como freeze frame) no momento em que ele desmonta do aparelho com um acompanhamento musical triunfante dá uma ideia de clímax, de fim. No entanto assistimos apenas uns quatro minutos do filme.

quinta-feira, 7 de maio de 2020

Crítica – Westworld: 3ª Temporada

Análise Crítica – Westworld: 3ª Temporada


Review – Westworld: 3ª Temporada
A segunda temporada de Westworld me incomodou por recorrer demais a truques desonestos de montagem para dar a impressão de algo complicado e impenetrável. Isso, no entanto, era artificialmente construído pelo fato da estrutura narrativa constantemente negar informações ao público apenas para poder revelá-las de maneira bombástica mais adiante sem dar qualquer pista do que poderia acontecer, como foi na primeira temporada, em que espectadores atentos conseguiram antever algumas reviravoltas.

A impressão é que o segundo ano queria tanto preservar seus segredos que foi desonesto com o público e criou uma estrutura hermética e complicada apenas para ser hermético e complicado ou soar mais esperta do que realmente é, sem que essa estrutura agregasse à jornada dos personagens como no ano de estreia da série. Felizmente essa terceira temporada é mais direta, sem recorrer a tantos truques desonestos, ainda que também tenha sua parcela de problemas. Aviso que o texto a seguir contem SPOILERS da temporada.

quarta-feira, 6 de maio de 2020

Crítica – Hollywood




Análise Crítica – Hollywood

Review – HollywoodProduzida por Ryan Murphy, criador de séries como American Horror Story e American Crime Story, a minissérie Hollywood começa como mais uma trama sobre como a indústria do cinema é uma máquina de moer gente. Aos poucos, no entanto, vai se mostrando algo mais e se transforma em uma fábula revisionista que mostra como a arte pode (ou poderia) moldar progressos sociais.

A narrativa se passa na década de 50 e acompanha um grupo de pessoas que chega a Los Angeles com o sonho de vencerem em Hollywood. Jack (David Corenswet) deseja se tornar ator, Archie (Jeremy Pope) sonha em ser roteirista, Ray (Darren Criss) quer ser diretor e Camille (Laura Harrier) quer ser atriz. Eles convergem no roteiro que Archie escreve sobre a vida de Peg Entwistle, uma figura real que tentou ser atriz, mas quando fracassou se suicidou se jogando do alto do letreiro de Hollywood.

A morte real de Entwistle serve para mostrar como a Hollywood da época (e mesmo hoje) era um lugar de sonhos partidos, que pega pessoas ingênuas e as destrói por completo e a jornada dos personagens parece refletir isso. Sem perspectivas de se estabelecer em Hollywood ou conseguir outro emprego, Jack e Archie acabam por se prostituir no serviço comandado por Ernie (Dylan McDermott). Camille consegue um contrato em um grande estúdio, mas por ser negra só é escalada como empregada ou serviçal.

terça-feira, 5 de maio de 2020

Crítica – Mentiras Perigosas




Análise Crítica – Mentiras Perigosas

Review – Mentiras PerigosasProdução original da Netflix, Mentiras Perigosas tem cara de um daqueles suspenses genéricos que são constantemente exibidos no SuperCine da Globo. O quê? Achou que viria um “mas” depois da primeira frase desse parágrafo? Bem, infelizmente não, já que o período define muito bem o que é Mentiras Perigosas.

A trama gira em torno de Katie (Camila Mendes, a Veronica de Riverdale), que trabalha como cuidadora de Leonard (Elliot Gould), um idoso solitário e sem parentes que mora em um casarão enorme. Quando Leonard morre aparentemente de causas naturais, Katie é surpreendida com a informação de que ela foi nomeada no testamento dele como a única herdeira. O fato chama atenção da polícia, que começa a suspeitar de Katie, e também de um corretor de imóveis, Mickey (Cam Gigandet), que insistentemente começa a rondar a casa. Aos poucos, Katie começa a descobrir que a propriedade guarda muitos segredos.

A premissa podia ao menos render um bom filme B, mas nem isso consegue. Tudo caminha de maneira arrastada, sem ritmo, sem senso de tensão ou urgência. Conforme as diferentes forças suspeitas começam a convergir em Katie deveríamos sentir como se as paredes estivessem se fechando ao redor da protagonista, que ela está em uma situação de difícil escapatória, no entanto isso nunca acontece.

segunda-feira, 4 de maio de 2020

Rapsódias Revisitadas – Inspetor Faustão e o Mallandro



Resenha Inspetor Faustão e o Mallandro

Review – Inspetor Faustão e o MallandroConfesso que não lembrava o quanto este Inspetor Faustão e o Mallandro era surtado até revê-lo. O filme começa com a câmera passeando por uma feira enquanto a voz de Deus (Paulo Cesar Pereio) reclama do comércio de animais silvestres e procura seu novo campeão para proteger os animais. A câmera passa por vários personagens que encontraremos ao longo do filme até chegar no feirante Faustão (Faustão) e Deus decide que ele será seu novo campeão, fulminando a barraca com um raio e, da fumaça da destruição, Faustão surge já uniformizado de policial para o choque dos populares. Sim, um literal deus ex machina dá início ao filme e as coisas não ficam menos doidas daí em diante.

Na trama, Faustão precisa encontrar um casal de codornas, as últimas da espécie, que foram roubadas do zoológico no qual Lucinha (Luiza Tomé), namorada de Faustão, trabalha. As codornas foram roubadas pelo contrabandista Budum (Chiquinho Brandão) a mando do estadunidense Tom Cru (Claudio Mamberti), que quer as codornas por conta das propriedades misteriosas de seus ovos que supostamente o ajudariam a arrumar uma namorada.

sexta-feira, 1 de maio de 2020

Crítica – Eu Nunca...


Análise Crítica – Eu Nunca...


Review – Eu Nunca...
Escrita por Mindy Kaling, a série Eu Nunca... parece ser mais uma narrativa cômica adolescente sobre perda de virgindade. Aos poucos, no entanto, vai mostrando ser um pouco mais que isso ao lidar com os traumas da protagonista e desenvolvendo os dramas de seus personagens.

A trama é centrada em Devi (Maitreyi Ramakrishnan) uma jovem de descendência indiana que começa o segundo ano do ensino médio decidida a perder a virgindade e se tornar popular. Ela decide essa guinada depois de um ano difícil envolvendo a morte do pai e de ficar com as pernas paralisadas. Agora que voltou a andar, Devi quer correr atrás do tempo perdido, mas a vida escolar guarda surpresas.

De certa forma, a série adere a batidas bem típicas dessas tramas adolescentes, como a protagonista que quer tanto ser popular que se afasta das amigas e se torna o tipo de megera que desprezava, o garoto com quem tem rivalidade, mas que acaba se aproximando dela, o galã popular que a protagonista quer a todo custo pegar. Tudo está aí, presente, mas o texto de Mindy Kaling evita que seus personagens sejam arquétipos vazios ao dar a eles seus próprios conflitos e problemas, ajudando a humanizar todos esses personagens e dando mais complexidade a eles.