quinta-feira, 31 de março de 2022

Crítica – Nossa Bandeira é a Morte

 

Análise Crítica – Nossa Bandeira é a Morte

Review – Nossa Bandeira é a Morte
Confesso que fui pego desprevenido por Nossa Bandeira é a Morte, série de piratas produzida pela HBO Max. De início parece apenas uma paródia com os clichês de filmes de piratas, mas conforme a temporada avança, ela cava mais fundo das ideias por trás da mitologia desse tipo de narrativa e vira tudo do avesso.

A trama é centrada em Stede Bonnet (Rhys Darby) um homem que deixou para trás uma vida infeliz pelo sonho de se tornar pirada. O problema é que Bonnet, apesar de seu otimismo e boa vontade, é completamente incompetente como pirata, mal conseguindo sobreviver aos perigos dessa vida não fosse o auxílio dos excêntricos membros de sua tripulação. Eventualmente ele cruza com o temível Barba Negra (Taika Waititi), que fica intrigado porque alguém da alta sociedade como Stede viraria pirata.

Stede, por sinal, é baseado em uma pessoa real. Um dono de fazenda de Barbados que largou esposa e filhos para se tornar pirata sob a alcunha de “o pirata cavalheiro”, o Stede Bonnet real é basicamente uma nota de rodapé na história da pirataria. Seria fácil a série reduzi-lo ao ridículo (e isso é feito em muitos momentos), mas o personagem nunca se limita a isso.

quarta-feira, 30 de março de 2022

Crítica – A Pior Pessoa do Mundo

 

Análise Crítica – A Pior Pessoa do Mundo

Review – A Pior Pessoa do Mundo
Em tese, A Pior Pessoa do Mundo é um filme que não deveria dar certo. Mudanças bruscas de tom e de regime estético tinham tudo pra tornar o filme uma bagunça incoerente. No entanto, o diretor norueguês Joachim Trier transforma em força a bricolagem inconstante que estrutura a trama, construindo um retrato agridoce sobre amadurecimento.

A trama acompanha Julie (Renate Reinsve), uma jovem que se aproxima dos trinta anos e se sente à deriva na vida, mudando constantemente de carreiras e prioridades. Em uma narrativa dividida em capítulos, o espectador acompanha Julie ao longo de quatro anos de sua vida enquanto ela tenta se encontrar profissionalmente e afetivamente em parceiros como o cartunista Aksel (Anders Denielsen) e Eivind (Herbert Nordrum).

Renate Reinsve traz um olhar inquieto a Julie, como alguém que sempre parece em busca de algo, de um ponto focal em que possa se fixar. É alguém movida por um desejo de construir uma vida para si ao mesmo tempo em sente a ansiedade de ver todos ao seu redor parecem já estabilizados e seguros de seus rumos de vida. Julie não tem nada disso, um sentimento que muitas pessoas na faixa dos trinta conseguem simpatizar conforme sabemos que não somos mais jovens e já deveríamos saber muito sobre nós mesmos ao mesmo tempo em que não nos sentimos adultos ou plenamente no controle de nossas vidas.

terça-feira, 29 de março de 2022

Crítica – Fantasmas do Passado

 

Análise Crítica – Fantasmas do Passado

Review – Fantasmas do Passado
Queria ter gostado mais deste Fantasmas do Passado, longa dirigido por Mariama Diallo sobre tensões raciais. Não que seja um filme ruim, mas não chega a aproveitar plenamente as ideias que apresenta. A trama se passa em uma universidade de elite no interior dos Estados Unidos. É um espaço predominantemente branco e isso afeta as duas protagonistas. De um lado Gail (Regina Hall) é a primeira mulher negra a assumir um cargo na alta gestão da faculdade, como diretora de assistência estudantil. Do outro está Jasmine (Zoe Renee), uma jovem negra recém ingressa na faculdade, cujo dormitório foi, no passado, um local em que a primeira estudante negra da faculdade cometeu suicídio.

A narrativa constrói bem o desconforto racial experimentado pelas duas personagens, que em seu percurso pela instituição são constantemente lembradas do passado racista daquele lugar e como pessoas como elas eram tratadas como alguém inferiores. Mais que isso, a jornada de ambas é ter esse desconforto relativizado por outros personagens, que acham que a presença delas ali já mostraria por si só como aquele espaço está longe de ser racista.

segunda-feira, 28 de março de 2022

Crítica – Drive My Car

 

Análise Crítica – Drive My Car

Review – Drive My Car

Alguns filmes nos causam dificuldades de falar sobre ele. Este Drive My Car, dirigido por Ryusuke Hamaguchi, é um desses filmes. São tantas sutilezas, tantos pequenos elementos que se juntam para produzir uma catarse sobre luto e falta de comunicabilidade que fico com receio de deixar algo de fora e não fazer justiça à produção.

A trama acompanha o ator e dramaturgo Yusuke Kafuku (Hidetoshi Nishijima). Depois da morte da esposa, Kafuku é chamado para uma residência em um teatro em Hiroshima para uma montagem da peça Tio Vânia, de Anton Chekov. Lá ele é colocado sob os cuidados da motorista Misaki Watari (Toko Miura), apesar de dizer que pode dirigir sozinho. Aos poucos um laço de amizade see forma entre eles conforme trocam experiências sobre o que perderam.

Hamaguchi conduz as três horas de projeção em um ritmo bem deliberado, dando tempo para que possamos perceber cada gesto, cada olhar, cada pequeno elemento que parece casual, mas que diz muito sobre a vida interna dos personagens. Um exemplo é como o enquadramento se detem sob o olhar perdido de Kafuku enquanto ele transa com a esposa, mostrando a desconexão entre os dois. Do mesmo, o plano com as mãos de Kafuku e Watari segurando seus cigarros acima do teto solar aberto do carro revela a cumplicidade que se formou entre os dois.

Conheçam os vencedores do Oscar 2022

 


A 94ª edição do Oscar aconteceu ontem, 27 de março, com No Ritmo do Coração vencendo o prêmio principal de melhor filme, além das categorias de roteiro adaptado e ator coadjuvante. Duna foi o filme a levar mais prêmios, com seis estatuetas. Em geral foi uma cerimônia cheia de vitórias previsíveis.

A questionável decisão de não apresentar certos prêmios técnicos durante a transmissão ao vivo não apenas desprestigiou os profissionais indicados, como sequer serviu ao propósito pretendido de diminuir o inchado tempo da cerimônia, já que a premiação deste ano durou mais do que a do ano passado. No fim, a única coisa inesperada foi o tapa que Will Smith desferiu em Chris Rock após o comediante ter ofendido a aparência de Jada Pinket-Smith, esposa de Will.

Confiram abaixo a lista completa de indicados com os vencedores destacados em negrito:

 

domingo, 27 de março de 2022

Conheçam os vencedores do Framboesa de Ouro 2022

 

Razzies 2022 Winners

No sábado, 26 de maio, foram divulgados os vencedores do Framboesa de Ouro 2022, premiação que “celebra” os piores filmes do ano. Entre os mais premiados estava a versão da Netflix para Diana: O Musical, que venceu cinco Framboesas incluindo pior filme, além de Space Jam: Um Novo Legado, que levou prêmios como os de pior ator para LeBron James. O único outro filme a vencer foi Casa Gucci, que levou na categoria de ator coadjuvante pelo equivocado trabalho de Jared Leto.

Sinceramente, concentrar os prêmios em praticamente dois filmes soa mais como birra, já que outras produções piores mereciam igual destaque e foram completamente esquecidas, a exemplo de Conquista que merecia mais indicações do que a menção a Ruby Rose como pior atriz. Confiram abaixo a lista completa de indicados, com os vencedores destacados em negrito

 

 

Pior filme

 

Diana: O Musical (Vencedor)

Infinite

Karen

Space Jam: Um Novo Legado

A Mulher na Janela

 

 

Pior ator

 

Scott Eastwood, por Dangerous

Roe Hartrampf, por Diana: O Musical

LeBron James, por Space Jam: UmNovo Legado (Vencedor)

Ben Platt, por Querido Evan Hansen

Mark Wahlberg, por Infinite

 

 

Pior atriz

 

Amy Adams, por A Mulher na Janela

Jeanna de Waal, por Diana: O Musical (Vencedor)

Megan Fox, por Meia-Noite no Switchgrass

Taryn Manning, por Karen

Ruby Rose, por Conquista

 

 

Pior atriz coadjuvante

 

Amy Adams, por Querido Evan Hansen

Sophie Cookson, por Infinite

Erin Davi, por Diana: O Musical

Judy Kaye, por Diana: O Musical (Vencedor)

Taryn Manning, por Every Last One of Them

 

 

Pior ator coadjuvante

 

Ben Affleck, por O Último Duelo

Nick Cannon, por Os Renegados

Mel Gibson, por Dangerous

Gareth Keegan, por Diana: O Musical

Jared Leto, por Casa Gucci (Vencedor)

 

 

Pior performance de Bruce Willis

 

Bruce Willis, por Emboscada

Bruce Willis, por Apex

Bruce Willis, por A Fortaleza

Bruce Willis, por Deadlock

Bruce Willis, por Meia-Noite no Switchgrass

Bruce Willis, por Sobreviva ao Jogo

Bruce Willis, por Out of Death

Bruce Willis, por Invasão Cósmica (Vencedor)

 

 

Pior casal

 

Qualquer ator & qualquer número musical mal escrito ou coreografado (Diana: O Musical)

LeBrown James & qualquer personagem de desenho animado que ele tenta driblar (Space Jam: Um Novo Legado) (Vencedor)

Jared Leto & sua maquiagem pesada de látex, suas roupas feias ou seu sotaque ridículo (Casa Gucci)

Ben Platt & qualquer outro personagem que finge que ele cantar 24h por dia é normal (Querido Evan Hansen)

Tom & Jerry (Tom & Jerry)

 

 

Pior remake, plágio ou sequência

 

Karen (remake não intencional de Cruella)

Space Jam: Um Novo Legado (Vencedor)

Tom & Jerry

Twist (remake hip hop de Oliver Twist)

A Mulher na Janela (plágio de Janela Indiscreta)

 

 

Pior direção

 

Christopher Ashley, por Diana: O Musical (Vencedor)

Stephen Chbosky, por Querido Evan Hansen

“Coke” Daniels, por Karen

Renny Harlin, por Os Renegados

Joe Wright, por A Mulher na Janela

 

 

Pior roteiro

 

Joe DiPietro & David Bryan, por Diana: O Musical (Vencedor)

“Coke” Daniels, por Karen

Kurt Wimmer & Robert Henny, por Os Renegados

John Wrathall & Sally Collett, por Twist

Tracy Letts, por A Mulher na Janela

 

sexta-feira, 25 de março de 2022

Crítica – De Rainha do Veganismo a Foragida

 Análise Crítica – De Rainha do Veganismo a Foragida


Review – De Rainha do Veganismo a Foragida
Depois de O Golpista do Tinder, esta minissérie documental De Rainha do Veganismo a Foragida é mais uma história de uma mulher vítima de um golpista delirante que teve a vida arruinada, embora aqui a situação seja um pouco mais complexa. A trama narra a trajetória de Sarma Melngailis, chef que ganhou notoriedade no cenário gastronômico de Nova Iorque ao abrir um restaurante todo focado em comida vegana crua. Rapidamente ela se tornou referência de um novo modelo de alimentação, atraindo atenção midiática, celebridades hollywoodianas e dando início a algo que poderia se expandir em uma grande multinacional.

Como essa é história de crime, nem tudo correu como esperado. As coisas mudam quando Sarma conhece o misterioso Shane, um sujeito que diz trabalhar para a inteligência militar dos EUA, e que se apaixona por Sarma. Os dois começam a se relacionar e Shane começa a exigir “provas de lealdade” por parte de Sarma para garantir que ela é confiável e não vai por o trabalho dele em risco. Logicamente essas provas de lealdade envolvem transferir dinheiro e passar coisas para o nome de Shane, que promete devolver esses valores e ainda dar mais dinheiro para Sarma conseguir comprar de volta o restaurante das mãos dos investidores.

quinta-feira, 24 de março de 2022

Crítica – Sorte de Quem?

 

Análise Crítica – Sorte de Quem?

Review – Sorte de Quem?
Dirigido por Charlie McDowell, responsável pelo bacana e pouco visto Complicações do Amor (2015), este Sorte de Quem? está longe de ser um típico suspense sobre invasão doméstica. Na verdade, quem assistir o filme procurando um suspense padrão provavelmente vai se decepcionar, já que McDowell está mais interessado na colisão de personalidades e interesses de seus personagens do que na tensão ou na intriga.

Na trama, um homem que nunca é nomeado (Jason Segel) invade a casa de veraneio de um bilionário da tecnologia, imaginando que o local estará vazio. Quando o dono da casa (Jesse Plemons) e sua esposa (Lily Collins), chegam inesperadamente no local, o estranho acaba fazendo-os de reféns numa tentativa de faturar mais.

Com planos que se estendem bastante e tensões que se constroem aos poucos, a construção da trama é relativamente lenta, mas que compensa conforme tudo chega ao sangrento clímax. É, no entanto, menos sobre o jogo de gato e rato entre sequestrador e reféns e mais uma tentativa de entender quem são essas pessoas através do dispositivo da situação limite na qual são colocadas.

quarta-feira, 23 de março de 2022

Crítica – Horizon: Forbidden West

 

Análise Crítica – Horizon: Forbidden West

Review – Horizon: Forbidden West
Desenvolvido pela Guerrilla Games, Horizon: Zero Dawn foi um dos melhores jogos de 2017. Com um singular universo pós-apocalíptico no qual a humanidade regrediu a um estado tribal e o mundo foi dominado por máquinas de aparência animal, o jogo entregava uma narrativa envolvente, bons personagens, combate desafiador e uma exploração recompensadora. Então obviamente fiquei empolgado de retornar a este universo em Horizon: Forbidden West.

A trama se passa meses depois do jogo original e da expansão Frozen Wilds. Apesar da vitória contra Hades, o mundo ainda enfrenta um potencial cataclismo ambiental a menos que Aloy consiga restaurar Gaia, a IA responsável pela terraformação do planeta. Depois de expedições malsucedidas, a heroína encontra pistas de que Gaia poderia estar na costa oeste, mas o “oeste proibido” é um lugar perigoso e lá Aloy também encontrará novos e antigos adversários.

A narrativa consegue trazer várias revelações inesperadas e assim como no original, consegue envolver pela condução dos mistérios. Perto do final, no entanto, tudo fica um pouco aloprado demais em relação a tudo que foi construído até então, ao ponto em que não sei se é exatamente uma boa direção para a franquia e próximos games. Eu entendo que a ideia era mostrar como o egocentrismo e irresponsabilidade dos bilionários resulta em uma insensibilidade genocida, mas o jogo original já tinha feito isso bem com a história de Ted Faro. Aqui as adições tanto ao passado quanto ao presente fazem pouco para aprofundar essas questões, na verdade tornam algumas figuras mais superficiais e em alguns momentos destoam do resto da trama.

terça-feira, 22 de março de 2022

Crítica – Águas Profundas

Análise Crítica – Águas Profundas


Review – Águas Profundas
É curioso como filmes estrelados por atores que formam um casal na vida real nem sempre dão certo. Ben Affleck já tinha experimentado isso com Jennifer Lopez quando fizeram o pavoroso Contato de Risco (2003) e agora volta a dividir a tela com uma companheira da vida real (ainda que agora não estejam mais juntos, aparentemente) em Águas Profundas.

Adaptando um romance de Patricia Highsmith (que escreveu, entre outras coisas, O Talentoso Ripley), a trama acompanha o casal Victor (Ben Affleck) e Melinda (Ana de Armas). Os dois vivem há tempos em uma relação estagnada, distante, e Melinda não tem nenhum problema em se envolver em casos extraconjugais e até levar seus amantes para festas da família, exibindo-os diante de todos. Um dia Victor decide abandonar sua postura passiva e resolve matar o mais recente amante (Jacob Elordi) da esposa.

O principal problema da trama é que o roteiro nunca nos dá contexto para como a relação dos dois chegou nesse estado. O que causou a estagnação no relacionamento? Porque Melinda decidiu trair o marido de maneira tão acintosa ao ponto de exibir seus amantes na frente dele e todos os seus amigos? Não é uma decisão que simplesmente acontece em uma pessoa que tem um casamento com filhos.

segunda-feira, 21 de março de 2022

Crítica – Red: Crescer é uma Fera

 

Análise Crítica – Red: Crescer é  uma Fera

Review – Red: Crescer é  uma Fera
Fazia tempo que a Pixar não fazia um filme tão maduro quanto este Red: Crescer é uma Fera, uma produção que pondera sobre as dores do amadurecimento e a complexidade das relações entre pais e filhos. A trama se passa no Canadá do início dos anos 2000 e é protagonizada por Meilin, uma garota de treze anos que sofre para atender as altas (e por vezes impossíveis) que a mãe, Ming, tem para ela. Um dia, depois de uma discussão com a mãe, Meilin se vê transformada em um enorme panda vermelho, descobrindo que isso é algo que acontece com as mulheres de sua família sempre que alcançam uma certa idade.

Meilin logo aprende a controlar a transformação e pensa em como conviver com ela, mas Ming acha melhor que a filha evite se transformar e pede que Meilin espere até o momento apropriado para um ritual que irá selar o panda dela para sempre. Aos poucos, no entanto, Meilin se questiona se quer se livrar dessa parte de si.

A ideia de uma transformação ligada a emoções extremas e a chegada da adolescência é uma clara metáfora para a puberdade (e a cor vermelha pode ser relacionada à menstruação). Digo isso tanto no sentido das transformações físicas da puberdade e dificuldade de conviver com essas mudanças e entender o próprio corpo, mas também das mudanças comportamentais da adolescência conforme os jovens começam a ser mais independentes, descobrir seu lugar no mundo e sair da proteção dos pais.

sexta-feira, 18 de março de 2022

Crítica – Amor Sublime Amor

 

Análise Crítica – Amor Sublime Amor

Review – Amor Sublime Amor
Com canções escritas por Stephen Sondheim, um dos melhores compositores a passar pela Broadway, Amor Sublime Amor (1961) foi um dos melhores musicais já feitos. Assim, o diretor Steven Spielberg tinha uma tarefa difícil nas mãos em tentar fazer uma nova versão. Existiam aspectos no original que não envelheceram muito bem que davam uma possibilidade de tentar algo novo, mas o esforço de Spielberg se escora tanto no original ao ponto em que essa nova versão soa desnecessária.

A trama se passa na década de 1950 em uma zona periférica de Nova York, cujo bairro está sendo demolido para dar lugar a novos empreendimentos imobiliários. O terreno é também habitado por duas gangues rivais, os Sharks, uma gangue de imigrantes latinos, e os Jets, uma gangue formada pela comunidade branca local. Nesse cenário de disputas floresce o amor proibido entre Maria (Rachel Zegler), uma jovem imigrante irmã do líder dos Sharks, e Tony (Ansel Elgort), melhor amigo do líder dos Jets e que está tentando reconstruir a vida depois de sair da cadeia.

Muito se falou sobre como Spielberg “corrigiu” os problemas do original. A verdade, no entanto, é que colocar atores de origem latina para os personagens latinos ou não legendar as falas em espanhol, tratando-a como uma língua tão nativa quanto o inglês, é o mínimo que se espera de uma adaptação de um filme de sessenta anos em plena terceira década do século XXI. O filme avança muito pouco em boa parte das discussões sobre classe e raça em relação ao original, o que soa como um desperdício de potencial considerando o quanto esse debate avançou e a ascensão recente de grupos e discursos xenófobos nos EUA. Assim, é estranho que o olhar de Spielberg acerca de todas essas questões ainda soe tão similar a algo produzido na metade do século passado.

quinta-feira, 17 de março de 2022

Drops – Espiral: O Legado de Jogos Mortais

 

Análise Crítica – Espiral: O Legado de Jogos Mortais

Review – Espiral: O Legado de Jogos Mortais
Existem dois filmes contidos neste Espiral: O Legado de Jogos Mortais e nenhum deles é minimamente interessante. De um lado há uma tentativa de continuar o universo de Jogos Mortais sem Jigsaw, de outro há uma trama de terror e suspense sobre brutalidade policial e impunidade destes.

Na narrativa, o detetive Zeke (Chris Rock) investiga uma série de assassinatos envolvendo policiais e armadilhas mortais que remetem ao trabalho de Jigsaw. Assim, Zeke precisa deter o assassino e descobrir o que está acontecendo. Normalmente os filmes da franquia Jogos Mortais se passam em locais confinados cheios de armadilhas, mas aqui a estrutura é menos Jogos Mortais e mais uma trama genérica de serial killer. Na verdade, sequer há tantas conexões assim com a franquia original e até o assassino é só um qualquer sem envolvimento direto com Jigsaw.

quarta-feira, 16 de março de 2022

Drops – O Projeto Adam

 

Análise Crítica – O Projeto Adam

Review – O Projeto Adam
De início O Projeto Adam parece uma daquelas aventuras da década de oitenta, cheia de humor e encantamento, mas aos poucos vai perdendo a graça pela natureza frouxa do universo que constrói e a superficialidade de seus personagens. Na trama, Adam (Walker Scobell) é um garoto que tem dificuldade de se ajustar depois da morte do pai. Arranjando problemas na escola e ressentindo a mãe, Ellie (Jennifer Garner), por estar seguindo adiante com a vida, o garoto parece à deriva. Um dia ele encontra um estranho na propriedade da família e logo descobre que esse estranho é ele próprio mais velho, vindo do futuro. O Adam futuro (Ryan Reynolds) veio ao passado para impedir uma catástrofe, mas é caçado por implacáveis vilões.

O garoto Waker Scobell é perfeito em reproduzir a natureza verborrágica da persona de Ryan Reynolds, convencendo como uma versão mirim dele. As interações entre os dois são o ponto alto do filme por conta dos diálogos ágeis e bem humorados nos quais o garoto pergunta várias coisas sobre o próprio futuro. Mais adiante, o contato com o pai de Adam, Louis (Mark Ruffalo), também rende momentos de diversão, além de emoção genuína. O filme também entrega boas cenas de ação que exploram criativamente diversas possibilidades de tecnologias futuristas.

terça-feira, 15 de março de 2022

Rapsódias Revisitadas – O Beijo da Mulher-Aranha

Análise – O Beijo da Mulher-Aranha

Review – O Beijo da Mulher-Aranha
Lançado em 1985 e dirigido por Hector Babenco, O Beijo da Mulher-Aranha chama atenção pelo tanto que consegue fazer com poucos personagens e em um espaço limitado. A trama foca em dois personagens, Molina (William Hurt) uma drag queen presa por corrupção de menores e Valentin (Raul Julia), um ativista político detido por fazer parte de um grupo revolucionário que tenta derrubar o governo ditatorial que controla o país. Molina foi incumbido pelo diretor da prisão (José Lewgoy) para se aproximar de Valentin e conseguir dele qualquer informação que os carcereiros não consigam mediante tortura. O problema é que aos poucos Molina se apaixona por Valentin.

Se passando boa parte do tempo dentro da cela de Molina e Valentin, o filme se apoia no desempenho dos dois protagonistas para falar sobre opressão, fuga e liberdade. Os dois personagens são indivíduos perseguidos simplesmente por serem quem são, Valentin por uma ideologia que desagrada ao governo ditatorial (que é claramente uma representação da ditadura militar brasileira) e Molina por sua sexualidade. Suas prisões não são, portanto, apenas a cela física que os detêm, mas também as próprias convenções sociais da época que os tratam como cidadãos de segunda classe.

segunda-feira, 14 de março de 2022

Crítica – Turma da Mônica: Lições

 

Análise Crítica – Turma da Mônica: Lições

Review – Turma da Mônica: Lições
Adaptando a graphic novel de mesmo nome escrita por Vitor e Lu Cafaggi, este Turma da Mônica: Lições é um esforço melhor em levar a turminha ao live-action do que Turma da Mônica: Laços (2019). Não que Laços fosse ruim, longe disso, mas acabava focando demais no Cebolinha e tinha problemas na maneira como construía a relação entre ele e a Mônica. Aqui, no entanto, cada membro da turma tem seus próprios arcos e seu espaço para brilhar.

Na trama, depois que uma tentativa de fugir da escola dá errado e termina com Mônica (Giulia Benite) quebrando o braço, os pais da turminha decidem separar os garotos, colocando-os em atividades extracurriculares e Mônica muda de escola. Sem a proteção de Mônica, Cebolinha (Kevin Vechiatto) e Cascão (Gabriel Moreira) se tornam vítimas dos valentões da escola, enquanto Magali (Laura Rauseo) tem dificuldade de ficar sem a amiga. Mônica, por sua vez, também se sente sozinha na nova escola, principalmente depois que um garoto mais velho rouba seu coelho de pelúcia, Sansão.

sexta-feira, 11 de março de 2022

Crítica – Queda Livre: A Tragédia do Caso Boeing

 

Análise Crítica – Queda Livre: A Tragédia do Caso Boeing

Review – Queda Livre: A Tragédia do Caso Boeing
O documentário Queda Livre: A Tragédia do Caso Boeing é uma daquelas histórias ao estilo “eles sabiam o tempo todo!” no qual descobrimos que alguma grande tragédia que vitimou centenas de pessoas não foi um acidente ou infortúnio, mas fruto de negligência criminosa cometida por uma empresa bilionária que decidiu rifar a vida de pessoas para ampliar suas margens de lucro.

A trama narra os problemas do modelo Boeing 737 Max que causaram duas quedas de avião em um intervalo de cinco meses e causaram centenas de mortes. Através de imagens de arquivo, testemunhos de ex-funcionários, especialistas e familiares das vítimas, o documentário explica quais foram os problemas que causaram a queda das duas aeronaves e como a Boeing não apenas sabia que os aviões tinham defeitos, como ocultaram esses defeitos dos órgãos de regulação e das empresas aéreas que compraram seus aviões.

É uma estrutura bem quadrada de documentário que arrisca ou inova pouco na maneira de contar a história. Nos momentos em que tenta, como as reconstituições de eventos nos cockpits dos aviões, sofre com uma computação gráfica tosca que quebra a imersão ao invés do efeito pretendido de nos deixar mergulhados no caos que os pilotos das duas aeronaves devem ter experimentado. Em alguns momentos também deixa de explicar alguns jargões técnicos de aviação utilizados dificultando o entendimento de certos elementos.

quinta-feira, 10 de março de 2022

Crítica – Diabólicos: 1ª Temporada

 

Análise Crítica  – Diabólicos: 1ª Temporada

Review – Diabólicos: 1ª Temporada
Enquanto a terceira temporada de The Boys não chega, os criadores da série trouxeram essa antologia de curtas animados The Boys Apresenta: Diabólicos para saciar nosso interesse por histórias neste universo. O resultado, como a maioria das antologias, tem histórias em que algumas são claramente melhores, mas, ainda assim, serve para expandir o universo da série. Não sei até que ponto os eventos mostrados aqui são cânone de The Boys, de todo modo, é interessante ter outros olhares e outras perspectivas sobre o universo da série.

Cada curta tem um roteirista e estética diferente, explorando gêneros que vão da comédia, ao romance, passando até pelo drama ou terror, embora a maioria siga pelo terreno da comédia. O primeiro curta, idealizado por Seth Rogen, remete aos antigos desenhos dos Looney Tunes tanto em estética quanto narrativa conforme um cientista da Vought tenta proteger um bebê que dispara raios laser que fugiu do laboratório.

O segundo curta, criado por Justin Roiland, de Rick & Morty, explora um grupo de supers com poderes ridículos rejeitados pelos pais e pela Vought que saem em busca de vingança. O curta diverte pela criatividade de criar poderes estúpidos (como um sujeito com seios no lugar do rosto) e mortes sangrentas. O terceiro adapta diretamente uma trama dos quadrinhos de The Boys, quando Billy e Hughie (aqui com a voz de Simon Pegg e aparência que remete ao ator como é nos quadrinhos) chantageiam um traficante de drogas que atende super-heróis a “batizar” as drogas que vende aos supers, provocando resultados sangrentos e hilários.

quarta-feira, 9 de março de 2022

Crítica – Naquele Fim de Semana

 

Análise Crítica – Naquele Fim de Semana

Review – Naquele Fim de Semana
De início Naquele Fim de Semana parece mais um daqueles suspenses em que uma turista estadunidense viaja para um local exótico, mas sua curtição é abruptamente interrompida por ela se envolver em um crime. São filmes que exalam colonialismo e xenofobia, tratando qualquer lugar distante dos Estados Unidos como um antro de perigo, criminalidade e incivilidade. De certa forma o filme é isso, embora também tente trazer, sem sucesso, alguns outros elementos.

Na trama, Beth (Leighton Meester) viaja para a Croácia para encontrar Kate (Christina Wolfe), sua melhor amiga com quem está há anos sem se falar direito. Kate está recém divorciada e quer curtir a solteirice, enquanto Beth, casada e mãe de um filho pequeno, usa a viagem como um momento de descanso. Depois de uma noite em uma boate, Beth acorda no local em que estava hospedada sem memória da noite anterior e sem Kate, iniciando uma corrida para descobrir o que ocorreu com a amiga.

O início até apresenta algumas reviravoltas interessantes, como o fato de Kate estar envolvida com o marido de Beth, mas o filme rapidamente perde a mão nas incessantes revelações e tudo rapidamente descamba para o absurdo, com um dono de hotel que filma todos os hóspedes, policiais corruptos e um taxista envolvido com o crime organizado local. O que era uma trama relativamente “pé no chão” desaba em uma série de eventos que expõem furos de roteiro, lógica e personagens pouco críveis. A trama até tenta falar sobre o modo como a sociedade trata as mulheres e culpabiliza as vítimas, no entanto, o discurso se perde em meio aos vários reveses exagerados.

terça-feira, 8 de março de 2022

Crítica – Kimi: Alguém Está Escutando

 

Análise Crítica – Kimi: Alguém Está Escutando

Review – Kimi: Alguém Está Escutando
Misturando Janela Indiscreta (1954) e Um Tiro na Noite (1981), Kimi: Alguém Está Escutando é um suspense eficiente, que fala sobre nosso medo de sair provocado pela pandemia e também a respeito da paranoia de sermos o tempo todo monitorados por dispositivos como Siri e Alexa.

Na trama, Angela (Zoe Kravitz) é uma jovem agorafóbica (medo de sair de casa) que trabalha numa companhia de tecnologia fazendo debug para a assistente virtual Kimi, um dispositivo não muito diferente da Alexa. Um dia, trabalhando nos áudios cujos comandos o programa não consegue interpretar, ela ouve o que parece ser um assassinato. Angela tenta levar o problema aos superiores, mas todos estão preocupados que a empresa em breve venderá ações na bolsa, preferindo silenciar Angela. Assim, a jovem precisa superar os medos, lidar com a ameaça e resolver o mistério.

Zoe Kravitz é ótima em construir o senso de alienação e distanciamento de Kimi, tão incomodada e temerosa por contato que soa quase como alguém com Asperger. Como o roteiro trata apenas de maneira vaga os eventos que levaram ao trauma da personagem, cabe à atuação de Kravitz nos mostrar como a ideia de sair de casa deixa Angela aterrorizada.