quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Crítica – Fruitvale Station: A Última Parada

Análise Fruitvale Station A Última Parada


Review Fruitvale Station A Última ParadaDifícil não olhar para a história de Oscar Grant (Michael B. Jordan) e não pensar no caso do pedreiro Amarildo que tomou conta dos noticiários no ano passado. Difícil também é pensar em quantos mais casos como os de Oscar ou Amarildo acontecem sem que saibamos, sem que haja justiça, completamente esquecidos e obliterados pelo tacanho véu do anonimato.

A trama mostra o caso real de Oscar Grant, residente da Bay Area de São Francisco que foi pego pela polícia na noite de ano novo devido a uma briga no metrô e mesmo estando algemado e dominado foi baleado por um dos policiais na frente de todas as pessoas que estavam na estação.

O primeiro grande mérito do filme é o de não transformar Oscar em alguma espécie de mártir, colocando-o como uma mera vítima das circunstâncias. Ao invés disso, reconhece que o protagonista é um ser humano como qualquer outro, cheio de defeitos e qualidades sendo capaz tanto de ajudar uma completa desconhecida, como faz com a garota no supermercado, como também ameaça sem reservas ou pudores seu antigo empregador.

Crítica - A Menina Que Roubava Livros

Filmes sobre o Holocausto ou a vida na Alemanha nazista são quase que um gênero em si mesmo, praticamente todo ano, em especial próximo à temporada de premiação, uma ou mais produções com estas características chegam aos cinemas. Muitas delas são bastante esclarecedoras, provocadoras e inspiradoras, mas outras são apenas produtos derivativos feitos para explorar a sensibilidade que esta temática faz aflorar e tentar amealhar indicações a Oscar, Globo de Ouro e similares, na tentativa de aumentar a visibilidade e arrecadação. Este A Menina que Roubava Livros, inspirado no best-seller de Markus Zuzak (que não li) tinha tudo para estar na primeira categoria, mas infelizmente caiu na segunda.
A trama acompanha Liesel (Sophie Nelisse) uma garota que é mandada para viver na Alemanha nazista sob a tutela de uma família adotiva durante o período em que eclode a segunda guerra mundial. Para lidar com suas dificuldades, a jovem se foca na literatura e passa a ser ajudada por Hans (Geoffrey Rush), seu pai adotivo, em seus esforços de leitura e começa a roubar livros da casa do prefeito local para aprender mais.
Tudo isso oferecia um olhar muito interessante sobre a importância da palavra e das ideias e de como elas sobrevivem e instigam temor mesmo em um ambiente altamente bruto e truculento como a Alemanha nazista e as queimas de livros representam exatamente esse ato de violência simbólica intolerante contra tudo aquilo que é diferente e que desafia suas crenças.

Crítica – 47 Ronins

Quando um filme passa por tantos problemas durante sua produção como 47 Ronins, cujos problemas atrasaram o filme mais de um ano, pois perto do fim das filmagens teve seu diretor demitido, roteiro reescrito e novas cenas filmadas, além do primeiro diretor ter pedido a intervenção do sindicato de diretores para manter seu nome nos créditos, em geral espera-se que o resultado final seja desastroso. Exceções acontecem, como Guerra Mundial Z (2013), que é minimamente apreciável, mas em geral o que vemos são grandes desastres. No entanto, 47 Ronins não chega a ser a bomba que se esperava, mas ainda assim é um filme insípido, sem personalidade que falha em empolgar e envolver.
A trama se baseia na história real de 47 ronins durante o Japão do período do xogunato, mas adicionando elementos fantásticos a ela. Aqui acompanhamos o samurai Oishi (Hiroyuki Sanada) que torna-se um ronin depois que seu senhor, Lorde Asano (Min Tanaka) é assassinado pelo ganancioso Lorde Kira (Tadanobu Asano) e uma poderosa bruxa (Rinko Kikuchi). Na sua busca por justiça e vingança Oishi se junta aos demais samurais desonrados de sua província, mas para vencer precisa buscar a ajuda do mestiço Kai (Keanu Reeves) que aparentemente teve contato com criaturas sobrenaturais.
Sim, ao contrário do que os trailers e pôsteres dão a entender, Keanu Reeves não é exatamente o protagonista do filme, ele até tem um arco próprio, mas é um ajudante na jornada de vingança dos ronins. Na verdade, alguns outros personagens mostrados em vídeos e cartazes não aparecem mais do que poucos segundos. Tudo bem, sabemos que muitas cenas que aparecem em trailers muitas vezes são cortadas, mas fazer cartazes individuais para personagens que são meros figurantes é uma picaretagem sem tamanho por parte do estúdio.

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Crítica – O Lobo de Wall Street

A recente crise econômica dos Estados Unidos motivou muitas séries e filmes a se debruçarem sobre o universo e quais as possíveis fatores responsáveis por fazerem a economia do país estourar feito uma bolha de sabão enquanto o cidadão médio tinha certeza de que tudo estava indo bem. Diante disso, havia certo temor de este O Lobo de Wall Street com suas intimidadoras três horas de duração pudesse ser um grande embuste que não fosse nada além de uma versão do Scorsese de Wall Street: Poder e Cobiça (1987) de Oliver Stone. Mas a verdade é que o veterano Scorsese não é alguém que deva ser subestimado e seu O Lobo de Wall Street é um retrato vibrante, enérgico e debochado dos bastidores do mundo financeiro com um vigor, uma energia e uma completa falta de noção que fazem o Gordon Gekko (Michael Douglas) do filme de Oliver Stone parecer um escoteiro perto da insana e delirante falta de escrúpulo de Jordan Belfort (Leonardo DiCaprio) e seus sócios. Chega a ser impressionante que Martin Scorsese, no alto de seus 71 anos, consiga fazer uma obra tão enérgica, juvenil, demente e porra-louca.
O filme conta a história real do corretor da bolsa de valores Jordan Belfort, que começou a trabalhar em um grande escritório de corretagem, mas logo abriu sua própria firma ao descobrir o quanto podia ganhar negociando ações de baixíssimo valor que não entravam nos índices do pregão e ofereciam comissão mais alta. Claro, suas atividades não eram completamente dentro da lei e logo o crescimento de sua empresa chama atenção do agente do FBI Patrick Denham (Kyle Chandler), ao mesmo tempo em que Belfort precisa lidar com seu crescente vício em drogas e com os problemas em seus relacionamentos.

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Crítica – Muita Calma Nessa Hora 2

O primeiro Muita Calma Nessa Hora (2010) foi uma grata surpresa em meio ao grande volume de comédias horrendas que a Globo Filmes começou a despejar nos cinemas nos últimos anos. Não era nenhuma obra prima, nem tinha uma trama muito elaborada, mas pelo menos era uma comédia despretensiosa, redondinha, bem realizada e conseguia divertir e fazer rir sem sentir que minha inteligência estivesse sendo sugada do meu cérebro. Assim, temi que esta continuação não fosse tão eficiente quanto o original e embora não tenha o clima de leveza e despretensão do anterior e exiba alguns problemas, ainda é uma comédia satisfatória.
A trama se passa três anos depois do original e coloca as amigas Tita (Andreia Horta), Estrela (Débora Lamm), Mari (Gianne Albertoni) e Aninha (Fernanda Souza) se reencontrando no Rio de Janeiro para um festival de música e a partir daí começam as famosas “muitas confusões”. O problema nem é a ausência de uma trama em si, mas que não há nenhuma preocupação em estabelecer qualquer tipo de conflito ou arco dramático para boa parte das personagens que simplesmente passeiam pelo filme sem, em geral, passar por qualquer transformação ou aprendizado.
Apenas Tita e Estrela apresentam alguma tentativa de possuir um arco dramático e os dois são bastante insatisfatórios. Tita enfrenta o desafio de tentar de tentar viver profissionalmente da fotografia enquanto que seus pais insistem que ela se contente com um emprego mais normal. A questão é que o filme termina sem resolver isso, vemos Tita fotografando as amigas em uma festa na cena final, mas em nenhum momento isso nos dá a sensação de que ela, enfim se tornou uma fotógrafa profissional. Já Estrela tem um arco envolvendo a herança de sua vó e as dívidas de seu pai Pablo (Nelson Freitas) a um grupo de mafiosos argentinos. Este arco funcionaria para construir algum tipo de clímax ao filme, mas falha em gerar tensão ou drama, principalmente porque os dois gangsteres jamais soam como uma ameaça crível, em especial depois do tolo “recado” à Pablo que tenta parodiar O Poderoso Chefão (1972).

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Crítica – Confissões de Adolescente

A adolescência é sempre um período de mudanças e descobertas e elas vêm sempre acompanhadas de medos, inseguranças e conflitos. Para o bem ou para mal é sempre um momento marcante de nossas vidas e este Confissões de Adolescente, adaptação da famosa série de tv dos anos 90, tenta trabalhar como essas experiências nos moldam e nos modificam.
O filme acompanha uma série de personagens, mas é focado nas irmãs Tina (Sophia Abrahão), Bianca (Isabella Camero), Alice (Malu Rodrigues) e Carina (Clara Tiezzi), cujo pai (Cássio Gabus Mendes) revela que não tem mais condição de pagar o aluguel do condomínio em que vivem e precisarão se mudar.
Por acompanhar muitos personagens simultaneamente, o filme acaba tendo um ritmo demasiadamente fragmentado e episódico, já que os arcos de cada personagem são, em geral, relativamente simples, mas são constantemente interrompidos enquanto pulamos de um personagem para outro. Isso também torna o filme um pouco irregular já que alguns personagens acabam se revelando muito mais satisfatórios do que outros.
O destaque fica por conta do arco envolvendo Juliana (Olivia Torres) e Bianca, uma vez que as duas lidam com sentimentos de inadequação, isolamento e bullying e o filme, bem como o trabalho das atrizes, trabalha com cuidado e sensibilidade essas questões, se beneficiando da ótima performance das duas. Chama atenção também a subtrama envolvendo dois garotos tentando imitar o vampiro Edward Cullen da saga Crepúsculo para tentar impressionar Carina. A dupla é responsável pelos momentos mais engraçados do filme ao tentar imitar falas e situações envolvendo o vampiro brilhoso, na verdade creio que os dois atores são melhores “Edwards” que o próprio Robert Pattinson.

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Crítica – Ajuste de Contas

Um antigo campeão de boxe há muito relegado ao ostracismo tem sua história revisitada por um programa de televisão e a partir daí cresce novamente o interesse público pelo velho boxeador e mais uma vez surge a oportunidade de provar seu valor no ringue. Esse era o enredo de Rocky Balboa (2006), retorno de Sylvester Stallone ao seu papel mais famoso, mas basta acrescentar um segundo boxeador de idade avançada à premissa que temos a trama básica deste Ajuste de Contas, que novamente coloca Stallone como um velho boxeador que trinta anos depois resolve disputar uma nova luta com um antigo rival, interpretado por Robert De Niro.
Na trama Henry “Razor” Sharp (Stallone) e Billy “The Kid” McDonnen (De Niro) são ex-campeões de boxe que se enfrentaram duas vezes pelo título com uma vitória para cada lado. A terceira e decisiva luta que desempataria a disputa acabou não acontecendo devido à uma súbita decisão de Razor de se aposentar do esporte, mas a rivalidade e o ressentimento permaneceu viva entre os dois por mais de trinta anos. Quando um especial de televisão revisita a carreira dos dois um promoter oportunista (Kevin Hart) decide tentar concretizar a derradeira luta entre eles, acreditando que isto o tornará rico.
Sendo bem sincero, não é apenas a premissa que o filme pega emprestado do ótimo Rocky Balboa, mas também toda a sua temática de mostrar que a chamada terceira idade é muito mais ativa e disposta do que era a tempos atrás e que envelhecer não é algo necessariamente ruim. Temos também toda a ideia desses antigos campeões como pessoas presas ao passado que ainda sofrem com perdas e traumas antigos e que tentam de algum modo reconstruir suas vidas. Tudo isto está presente aqui, mas sem a competência, sensibilidade e equilíbrio com que Rocky Balboa tratava tudo isto.