quarta-feira, 30 de junho de 2021

Crítica – Luca

 

Análise Crítica – Luca

Review – Luca
Quando escrevi sobre Soul (2020) mencionei a tradição da Pixar de pegar temas complexos e trazer discussões profundas sobre eles sem abrir mão da acessibilidade para um público amplo, inclusive para um público infantil. Falei também que, no caso de Soul, a discussão sobre vida, encontrar um propósito e aproveitar o tempo que temos era diluída pelo meio do filme que abandonava boa parte de seus temas para investir no humor do protagonista transformado em gato. Pois algo similar acontece neste Luca, que até tem metáforas bem construídas para falar sobre preconceito e autoaceitação, mas se perde em um miolo entediante.

A trama acompanha Luca, uma jovem criatura marinha que tem curiosidade em saber como é a vida na superfície. Um dia ele acidentalmente sai da água e descobre que assume uma forma humana quando não está molhado e decide explorar o mundo humano ao lado de Alberto, também um garoto monstro marinho que deseja se aventurar no mundo humano. O problema é que os humanos odeiam as criaturas marinhas, então eles precisam ter muito cuidado para não serem descobertos.

terça-feira, 29 de junho de 2021

Crítica – À Segunda Vista

 Análise Crítica – À Segunda Vista


Review – À Segunda Vista
Eu perdi a conta de quantas vezes vi e dei risada com o esquete Lying Brian da comediante Iliza Shlesinger. Em seu stand up, Iliza tinha um momento em que narrava a história de ter conhecido um homem chamado Brian durante um voo e acabou ficando amiga dele, uma amizade que se tornou namoro até que ela descobriu que tudo a respeito da vida dele, o fato de cuidar da mãe doente de câncer, de ser formado em uma universidade de prestígio ou trabalhar com fundos de investimento, tudo era uma completa fabricação. A história em si já é absurda o bastante por si só e a maneira como Iliza a contava tornava tudo ainda mais engraçado, então fiquei curioso quando soube que ela adaptaria isso em um filme neste À Segunda Vista.

Na trama, Andrea (Iliza Shlesinger) é uma comediante que sente que a carreira está estagnando. Um dia ela conhece Dennis (Ryan Hansen) em um voo e apesar dele não ser exatamente um sujeito atraente e ser um pouco esquisito, Andrea se aproxima dele por conta do jeito gentil e sincero do rapaz, eventualmente se apaixonando por ele. O problema é que as histórias que Dennis conta sobre si nunca soam convincentes e aos poucos Andrea e a melhor amiga Margot (Margaret Cho) começam a desconfiar que talvez haja algo errado com Dennis.

segunda-feira, 28 de junho de 2021

Crítica – First Cow: A Primeira Vaca da América

 

Análise Crítica – First Cow: A Primeira Vaca da América

Review – First Cow: A Primeira Vaca da América
De certa forma eu poderia dizer que este First Cow: A Primeira Vaca da América é um western. Pode parecer estranho usar esse gênero para falar de uma história sobre um padeiro que faz doces com leite roubado, mas a narrativa traz muitos elementos típicos do western desde sua ambientação durante a expansão para o oeste dos EUA (embora aqui focado nas áreas mais noroeste ao invés das regiões mais ao sudoeste) a temas como civilização versus barbárie e os mitos fundadores da sociedade do país, em especial a ideia de meritocracia e esforço individual.

A trama é centrada em Cookie (John Magaro), um padeiro de formação que acompanha um grupo de caçadores de pele no norte do Oregon para tentar fazer dinheiro com o comércio de peles durante a expansão ao oeste dos Estados Unidos. Durante a viagem ele conhece o chinês King Liu (Orion Lee) e ambos acabam se tornando amigos. Quando King descobre o talento de Cookie para fazer doces, ele sugere ao amigo que roubem leite da vaca (a primeira e única da região) do chefe do entreposto comercial em que moram para fazerem doces e venderem a preço alto já que ninguém ali seria capaz de vender algo semelhante.

sexta-feira, 25 de junho de 2021

Crítica – Lupin: 2ª Temporada

 

Análise Crítica – Lupin 2ª Temporada

Review – Lupin 2ª Temporada
A primeira temporada de Lupin acabou com um tenso gancho que me deixou ansioso pelo que viria a seguir. Esta segunda parte cumpre o que promete ao entregar uma tensa disputa entre Assane (Omar Sy) e Pellegrini (Hervé Pierre) que leva a astúcia do protagonista ao limite.

A narrativa começa no ponto em que a primeira parte parou, com Raoul (Etan Simon) sendo sequestrado por um capanga de Pellegrini e Assane tentando localizá-lo. Na empreitada o ladrão acaba contando com a ajuda do policial Guedira (Soufiane Guerrab) que estava seguindo Assane no trem. A partir disso o protagonista entende que se não derrubar Pellegrini de uma vez por todas sua família será sempre alvo do empresário inescrupuloso.

Essa segunda temporada tem um ritmo mais ágil e mais movimentado que o primeiro ano por conta do crescente de tensões entre herói e vilão. A narrativa é competente em estabelecer ambos como oponentes formidáveis, sempre tentando antecipar os passos do adversário para pegá-lo de surpresa. Se a temporada anterior forçava algumas situações em que Assane agia de uma maneira ingênua que era contrária à sua personalidade apenas para dar aos vilões algum momento de vantagem, aqui as situações em que ele se vê acuado pelos inimigos soam mais críveis como os ardis de uma mente que entendeu as vulnerabilidades do protagonista.

quinta-feira, 24 de junho de 2021

Crítica – Em Um Bairro de Nova York

 Análise Crítica – Em Um Bairro de Nova York


Review – Em Um Bairro de Nova York
Fui conhecer o trabalho de Lin-Manuel Miranda como criador de musicais da Broadway no excelente Hamilton, peça que retratava a vida de Alexander Hamilton, primeiro ministro da fazenda dos EUA, como uma espécie de ópera rap protagonizada por elenco todo composto por negros, latinos e asiáticos. Antes de Hamilton, porém, Miranda já tinha feito outros musicais, um deles foi In The Heights, que foi adaptado para os cinemas neste Em Um Bairro de Nova York.

A trama é centrada em Usnavi (Anthony Ramos), um jovem filho de imigrantes dominicanos que tem uma pequena mercearia em Washington Heights na periferia de Nova York. Usnavi sonha em voltar para a República Dominicana, de onde partiu ainda bem pequeno enquanto que seus vizinhos também lidam com os sonhos e as dificuldades do local, especialmente com o aumento da especulação imobiliária que dá início a um processo de gentrificação do bairro.

É um exame afetuoso e enérgico do que significa ser um imigrante latino-americano ou caribenho nos Estados Unidos, celebrando a força e união dessa comunidade ao mesmo tempo em que reconhece as dificuldades experimentadas por um imigrante no país. De um lado há o olhar sobre o sonho de uma vida melhor, a crença de que em um novo país é possível tornar sonhos realidade e, ao mesmo tempo, se manter fiel às suas raízes. De outro há o reconhecimento dos Estados Unidos como um país racista, que trata imigrante como indivíduos de segunda categoria ou de maneira desumana. De uma política e estrutura de poder que existe para manter essas pessoas pobres e marginalizadas.

quarta-feira, 23 de junho de 2021

Crítica – Em Guerra com o Vovô

Análise Crítica – Em Guerra com o Vovô

Review – Em Guerra com o Vovô
Certas decisões têm consequências severas e acabam causando dano às pessoas a nossa volta ou a nós mesmos. De certa forma essa é a moral deste Em Guerra com o Vovô, mas também se aplica à carreira de Robert De Niro, que depois de um divórcio custoso, aparentemente está precisando trabalhar em porcarias como Tirando o Atraso (2016) e esse filme para pagar os boletos no fim do mês. É uma pena, considerando o talento de De Niro, embora ele não seja o único desperdiçado aqui, já que nomes tarimbados Uma Thurman, Cheech Marin e Jane Seymour também participam dessa bomba.

Na trama, Ed (Robert De Niro) é um idoso que mora sozinho depois da morte da esposa. Quando ele machuca o joelho em um supermercado, a filha dele, Sally (Uma Thurman), resolve levar Ed para morar com ela. Com poucos cômodos, Sally coloca Ed no quarto do filho caçula, Peter (Oakes Fegley), mudando Peter para o sótão da casa. Peter não fica feliz com a decisão e decide declarar guerra ao avô, infernizando ele até que ele decida ir embora, mas Ed não está disposto a deixar barato as pegadinhas do neto.

terça-feira, 22 de junho de 2021

Crítica - Selva Trágica

Análise Crítica - Selva Trágica

Review - Selva Trágica
O realismo fantástico é bem comum na literatura latino-americana e o cinema dos países dessa região constantemente bebe nessa fonte. Este Selva Trágica, co-produção entre México, Colômbia e França, se vale de uma estrutura de realismo fantástico para contar um história que dialoga com a mitologia maia.

Na trama, Agnes (Indira Rubie Andrewin) é uma mulher que foge de um casamento arranjado atravessando a fronteira de Belize para o México se embrenhando na selva maia. Enquanto é caçada por homens britânicos, Agnes encontra um grupo de seringueiros fazendo goma a partir da seiva das árvores. Ela se refugia com eles tentando evadir seus perseguidores, mas coisas estranhas começam a acontecer e a jovem demonstra ser mais do que apenas uma mulher indefesa.

A maneira como a diretora Yulene Olaizola filma a selva confere um clima de mistério ao lugar ao mesmo tempo em que dá a ele uma dimensão esplendorosa e presta reverência à imensidão verde do lugar. Ela olha para essas paisagens e eventos sem pressa, com a trama se desenvolvendo em um ritmo bem deliberado, mas provida de uma atmosfera de estranhamento e deslumbre sempre presente. Essa reverência à natureza e a noção de que talvez o homem não deveria interferir tanto nela é reforçada pelas narrações no idioma maia que intercalam algumas cenas. Essas narrações contam a história de Xtabay, uma espécie de espírito da floresta de aparência feminina que atrai os homens e os faz se perderem pela selva.

segunda-feira, 21 de junho de 2021

Rapsódias Revisitadas - O Que Se Move

 

Análise Crítica - O Que Se Move

Review - O Que Se Move
O filme musical é normalmente associado a histórias de romance e a um certo otimismo por conta das inúmeras produções do gênero na Hollywood clássica. Isso não significa que não existam musicais sobre histórias trágicas e dolorosas, Dançando no Escuro (2000), Lars Von Trier, é um bom exemplo disso, mas há poucos nessa seara. Este O Que Se Move, dirigido por Caetano Gotardo, de certa forma se encaixa nesse uso do formato musical para contar histórias de dor e perda.

Ele se divide em três histórias de mães que perderam seus filhos em circunstâncias bastante dolorosas. Na primeira história há um suicídio, na segunda um bebê é esquecido no carro e na terceira uma mãe reencontra o filho que tinha perdido há dezessete anos. São tramas marcadas por dores e afetos intensos movendo essas personagens e os números musicais ajudam a pontuar os sentimentos que atravessam esses indivíduos.

Apesar de falar aqui em números musicais devo dizer que eles são relativamente pontuais no filme, aparecendo ao fim de cada uma das histórias. Eles são usados justamente como esse veículo de para extravasar os sentimentos que as personagens contiveram até então, como se fossem dores tão intensas e sentimentos tão profundos que apenas palavras não dariam conta de expressá-los, que apenas uma canção seria capaz de transmitir uma emoção tão arrebatadora.

Essa impressão do número musical como única expressão possível das dores dessas mães é reforçada pelo contraste desses momentos musicais com o resto do som do filme. Em geral a paisagem sonora do longa é marcada por uma representação naturalista do som, cheia de ruídos ambientes e momentos de silêncio, com poucos elementos sonoros extra diegéticos (fora do universo da trama), conferindo um olhar relativamente realista ao cotidiano retratado. Durante boa parte das jornadas dessas personagens são esses silêncios, essa quietude delicada, que marca as dores e inquietações vivenciadas.

Quando os números musicais entram, eles vêm como uma ruptura brusca dessa realidade construída até então, como se a dor dessas mulheres também fizesse ruir o mundo e a realidade ao redor delas. Dessa maneira, o filme usa esse não naturalismo que é típico dos musicais (que em geral promovem quebras da realidade do universo fílmico) para simbolizar esses sentimentos tão fortes que perfuram o tecido da realidade das personagens e que só pode ser expressado através dessas quebras de regime narrativo.

As canções também trazem imagens de pequenos movimentos coreografados, como clipes de papel sendo movidos em uma mesa ou pessoas deitadas movendo a cabeça num mesmo ritmo. Imagens que remetem aos mosaicos e caleidoscópios visuais criados pelas coreografias feitas por Busby Berkeley em musicais hollywoodianos das décadas de 1930 e 1940. São movimentos que funcionam como uma reprodução minimalista das coreografias imaginadas por Berkeley, tentando trazer o senso de inventividade visual do coreógrafo, mas mantando a dimensão íntima e delicada das canções.

O Que Se Move brinca bastante com as convenções do filme musical e encontra força no olhar sensível e intimista com o qual constrói as dores de suas personagens e na maneira com que usa os segmentos musicais para ilustrar os sentimentos delas.


Trailer

sexta-feira, 18 de junho de 2021

Crítica – DBZ Kakarot: Trunks o Guerreiro da Esperança

 Análise Crítica – DBZ Kakarot: Trunks o Guerreiro da Esperança


Review – DBZ Kakarot: Trunks o Guerreiro da Esperança
Depois de mais de um ano e meio de lançado Dragon Ball Z Kakarot finalmente entrega o último DLC de seu passe de temporada. Seria possível pensar que o atraso foi por conta da pandemia e, em certo grau, talvez tenha sido, mas é importante lembrar que entre além das duas expansões planejadas o jogo também inseriu um inexplicável multiplayer online na forma de um card game que ninguém pediu nem precisava. Deslocar recursos para esse modo provavelmente ajudou no atraso deste Trunks: O Guerreiro da Esperança que, como tinha sido dito, oferece um conteúdo maior do que os dois episódios anteriores.

As duas primeiras expansões iam além de DBZ e traziam histórias de Dragon Ball Super, adaptando os dois primeiros arcos. Imaginei que a última expansão seguiria essa tendência adaptando o arco de Zamasu e o Trunks do futuro, mas o que estava reservado era a história de outro Trunks do futuro. A nova expansão nos coloca de volta nas tramas de Dragon Ball Z contando sobre o futuro em que os Androides 17 e 18 destruíram o mundo e Trunks foi o último guerreiro Z que restou. A trama então acompanha os esforços de Trunks em sobreviver e lidar com a ameaça e surpreende ao contar a história deste Trunks para além da derrota de Cell.

quinta-feira, 17 de junho de 2021

Crítica - Awake

 

Análise Crítica - Awake

Resenha Crítica - Awake
A despeito do título e da temática sobre pessoas despertas, Awake é um filme extremamente sonolento. É um daqueles casos em que alguém pensou uma premissa curiosa sem a menor ideia de como desenvolvê-la em algo interessante achando que essa premissa sozinha seria capaz de carregar o filme. Não é.

Na trama, Um evento eletromagnético queima todos os aparelhos eletrônicos e deixa as pessoas incapazes de dormirem. Isso tem consequências apocalípticas, já que o corpo humano não consegue sobreviver durante muitos dias sem sono. A ex-militar Jill (Gina Rodriguez) tenta manter a família em segurança, principalmente a filha Matilda (Ariana Greenblatt), que parece ser uma das poucas pessoas capazes de dormir. O caos que toma a humanidade, no entanto, torna isso mais difícil.

A narrativa estabelece algumas regras sobre como as pessoas se comportariam depois de um período prolongado sem dormir, mas nunca explica como a família principal consegue se manter minimamente lúcida mesmo depois de dias se passarem e praticamente todas as outras pessoas que encontram se tornaram irracionais e violentas. A impressão é que isso acontece por pura necessidade de roteiro, já que se eles também sucumbissem rápido à irracionalidade, o filme não duraria tanto.

quarta-feira, 16 de junho de 2021

Crítica – Sweet Tooth

Análise Crítica – Sweet Tooth


Review – Sweet Tooth
Eu já tinha ouvido falar dos quadrinhos de Sweet Tooth, de Jeff Lemire, que falava sobre um garoto metade humano e metade cervo em um mundo devastado por uma epidemia viral. Nunca li os quadrinhos, mas fiquei curioso para conferir a série de mesmo nome da Netflix baseada nos quadrinhos de Lemire.

A trama segue Gus (Christian Convery), um garoto metade humano e metade cervo que vive isolado com o pai, Richard (Will Forte), em uma cabana da floresta depois que um vírus dizimou os humanos. Ao mesmo tempo em que o vírus surgiu, híbridos entre humanos e animais começaram a nascer, fazendo muitas pessoas acharem que os híbridos foram os responsáveis pelo vírus. Depois da morte do pai, Gus decide cruzar o país em busca da mãe e para isso consegue a ajuda de Jepp (Nonso Anozie) que o protege dos perigos desse mundo hostil e de pessoas como o general Abbot (Neil Sandilands, fazendo seu melhor cosplay de Dr. Robotnik) que capturam híbridos para usá-los como cobaias para uma possível cura do vírus.

terça-feira, 15 de junho de 2021

Crítica – Final Fantasy VII Remake: Intermission

 

Análise Crítica – Final Fantasy VII Remake: Intermission

Review – Final Fantasy VII Remake: Intermission
Havia uma imensa expectativa em Final Fantasy VII Remake. Era um jogo esperado há muitos anos, que sofreu atrasos na produção, com uma escolha polêmica (ainda que relativamente compreensível para manter toda a trama do original) de dividir em episódios (embora a falta de clareza em termos de quantos serão é preocupante), além mudanças no gameplay e outros elementos davam motivos para se preocupar. Felizmente o jogo não era apenas um excelente remake, mas um excelente game por si só, que redefinia todo o universo construído e aprofundava os personagens, justificando a divisão em episódios, ainda que o final vire uma bagunça desnecessária.

Pois quase um ano depois o jogo ganha uma versão para as novas gerações em Final Fantasy VII Remake Intergrade que traz melhorias gráficas, como iluminação dinâmica, efeitos de névoa e partícula melhorados e tempos de carregamento mais rápido. Além disso, traz uma expansão que é exclusiva para a nova geração em Final Fantasy VII Remake: Intermission, uma história curta protagonizada pela ninja Yuffie, que no jogo original aparecia só mais adiante na trama e era uma personagem opcional.

segunda-feira, 14 de junho de 2021

Crítica – Amonite

 

Análise Crítica – Ammonite

Review – Ammonite
Este Amonite é levemente baseado na história real da paleontóloga Mary Anning. Digo levemente porque não há confirmação histórica do relacionamento entre ela e Charlotte Murchinson ainda que seja amplamente falado que as duas tiveram um relacionamento amoroso.

A trama se passa na Inglaterra do século XIX, Mary (Kate Winslet) é uma prolífica paleontóloga que é subestimada dentro do seu campo de atividade. Um dia ela é visitada por Roderick (James McArdle), que paga Mary por um tour guiado pela praia na qual ela escava fósseis. É aí que ela conhece Charlotte (Saoirse Ronan), esposa de Roderick com quem tem uma relação fria e desprovida de afeto. Roderick parte em uma expedição e deixa Charlotte, que está com problemas de saúde, aos cuidados de Amy. Aos poucos as duas começam a se aproximar e o que era companheirismo vai dando lugar ao romance.

A trama evidencia bem a solidão dessas duas personagens. Ambas mulheres carentes, que se sentem invisíveis, desvalorizadas e isso ajuda a entender a razão da forte conexõe que é construída entre as duas, como se elas se reconhecessem na solidão da outra e reparar isso na outra fosse reparar seus próprios problemas.

sexta-feira, 11 de junho de 2021

Crítica – O Caso Evandro

 

Análise Crítica – O Caso Evandro

Review – O Caso Evandro
Eu já tinha ouvido falar bastante do podcast Projeto Humanos: O Caso Evandro do jornalista Ivan Mizanzuk sobre o escabroso caso do assassinato de um garoto no interior do Paraná na década de 1990 e a investigação labiríntica e problemática que se seguiu sobre caso. Entretanto nunca parei para ouvi-lo, mesmo interessado na história real que ele contava. Então quando foi anunciado que O Caso Evandro viraria uma série documental na Globoplay com direção de Aly Muritiba, fiquei imediatamente interessado.

A série aborda o caso real do desaparecimento do garoto Evandro Caetano no interior do Paraná da década de 90. O corpo dele foi encontrado mutilado dias depois em um matagal próximo e as suspeitas é que tinham sido usado em um ritual de magia negra. O caso toma atenção da mídia, principalmente quando testemunhas apontam a família do então prefeito como envolvida no caso. Aos poucos, no entanto, surgem provas que a história não é aquilo que imaginávamos.

Estruturalmente a série segue o padrão de documentários de crimes reais que já vimos antes, com entrevistas, imagens de arquivo e reconstituições com atores. Ainda assim, a narrativa envolve pelo ritmo de tensão e suspense que Muritiba imprime nos eventos bem como pela própria natureza surpreendente e pouco usual dos eventos narrados, um daqueles casos em que a realidade se mostra mais bizarra que qualquer ficção.

quinta-feira, 10 de junho de 2021

Crítica – Sailor Moon Eternal

 

Análise Crítica – Sailor Moon Eternal


Review – Sailor Moon Eternal
Eu assisti todas as temporadas da série clássica de Sailor Moon na época em que passaram no Cartoon Network, então fiquei curioso quando a Netflix anunciou o longa Sailor Moon Eternal, que seria dividido em duas partes. Fiquei um pouco preocupado quando soube que esses dois filmes de oitenta minutos fariam parte do cânone da recente Sailor Moon Crystal, remake da série que era mais fiel ao mangá eliminando os fillers. Especificamente Sailor Moon Eternal contaria o quarto arco da história das guerreiras planetárias, correspondendo à temporada Sailor Moon Super S na série original (que consistia de 39 episódios) e obviamente temi que o resultado fosse ser uma bagunça incompreensível.

Na trama, Chibiusa, uma descendente da protagonista Usagi vinda do futuro, está prestes a voltar para seu tempo de origem, quando o misterioso Dead Moon Circus chega à Terra criando uma onda de energia que a impede de viajar no tempo. Usagi e as demais Sailors decidem investigar o estranho circo, descobrindo que elas servem à misteriosa rainha Nehelenia que veio à Terra roubar o lendário cristal dourado. Ao mesmo tempo, Chibiusa começa a ter visões envolvendo um Pégaso que pode ser a chave para derrotarem esses novos inimigos.

quarta-feira, 9 de junho de 2021

Crítica – Virtua Fighter 5: Ultimate Showdown

 

Análise Crítica – Virtua Fighter 5: Ultimate Showdown

Review – Virtua Fighter 5: Ultimate Showdown
Tive pouco contato com a franquia Virtua Fighter. Lembro brevemente de ter jogado os dois primeiros jogos em fliperama e o péssimo port do primeiro jogo para Mega Drive. Sempre fui mais interessado em jogos de luta 2D como Street Fighter, The King of Fighters ou Mortal Kombat, então nunca fui muito de jogar esses games 3D como Virtua Fighter ou Tekken. No entanto, fiquei curioso para conferir essa tentativa da Sega em reviver sua franquia de luta com este Virtua Fighter 5: Ultimate Showdown, uma espécie de remaster de Virtua Fighter 5: Final Showdown originalmente lançado há quase 12 anos atrás.

Os gráficos e modelos de personagem foram refeitos da Dragon Engine, motor gráfico usado na série Yakuza. Os personagens ganharam mais detalhamento e texturas, aproximando-os da qualidade de um game contemporâneo e toda a interface foi refeita também para melhorar a qualidade visual. Efeitos de luz e saturação de cor foram melhorados e soam mais realistas. Os cenários, por sua vez, receberam melhorias, mas não tem tanta qualidade quanto os modelos dos personagens e mostram um pouco a idade.

terça-feira, 8 de junho de 2021

Rapsódias Revisitadas – Coração de Cavaleiro

 

Crítica – Coração de Cavaleiro

Review – Coração de Cavaleiro
Lançado em 2001, Coração de Cavaleiro ajudou a sedimentar o ator Heath Ledger como um astro de Hollywood. Ele já vinha do sucesso modesto da comédia adolescente Dez Coisas que Eu Odeio em Você (1999) e aqui ele mostrou que poderia carregar uma produção de grande orçamento, já que apesar da recepção morna da crítica da época, o filme se saiu relativamente bem na bilheteria para ser considerado um sucesso financeiro. É curioso pensar que a crítica não deu muita bola para ele em seu lançamento considerando o quanto ele foi reprisado tanto em canais a cabo quanto na tv aberta, sendo aquele tipo de filme que é tão carismático que a gente sempre assiste um pouco quando vemos que está passando.

Dirigido e escrito por Brian Helgeland, que vinha de uma vitória do Oscar melhor roteiro adaptado por Los Angeles: Cidade Probida (1997), a trama se passa na Inglaterra medieval e segue o jovem escudeiro William (Heath Ledger), que toma o lugar de seu suserano falecido e resolve participar das competições de justa da nobreza em busca de glória e dinheiro como cavaleiro. Ao lado dele estão os escudeiros  Wat (Alan Tudyk) e Roland (Mark Addy), o arauto Geoffrey Saucer (Paul Bettany) e a ferreira Kate (Laura Fraser). Em sua jornada rumo à glória William encontra um rival no conde Adhemar (Rufus Sewell) e se apaixona pela bela Jocelyn (Shannyn Sossamon).

segunda-feira, 7 de junho de 2021

Drops – Synchronic

 

Análise Crítica – Synchronic

Review – Synchronic
Filmes sobre viagem no tempo existem de monte, mas a maneira com a qual Sychronic constrói sua trama de viagem no tempo chama atenção pelo modo singular com o qual tudo flui. A narrativa é centrada em Steve (Anthony Mackie) e Dennis (Jamie Dornan), dois paramédicos trabalhando na cidade de Nova Orleans. Aos poucos a dupla começa a receber chamados para ocorrências estranhas, muitas dela soando fisicamente impossíveis ou cujas vítimas não conseguem explicar. Conforme o número de ocorrências aumenta, eles percebem que esses eventos estão conectados com uma estranha droga sintética que mexe na maneira com a qual as pessoas experimentam o tempo.

A narrativa cria um competente clima de suspense conforme inicialmente nos apresenta às ocorrências estranhas com as quais os personagens se defrontam. Acerta também no clima convincente entre os dois protagonistas, parceiros de anos que se conhecem tão bem que sabem perceber os problemas e falhas do outro apenas com um olhar. O problema é que quando a trama parecia engrenar, a partir do momento em que Steve consegue a tal droga, a trama demora um pouco de desenvolver para que o personagem vá aos poucos explicando como funciona a questão do deslocamento temporal.

sexta-feira, 4 de junho de 2021

Rapsódias Revisitadas – Morte em Veneza

 Análise Crítica – Morte em Veneza


Review – Morte em Veneza
Revendo Morte em Veneza, de Luchino Visconti, me surpreendi com o quanto alguns de seus temas soam terrivelmente atuais para os tempos pandêmicos em que vivemos. O filme também traz algumas reflexões sobre arte, beleza e permanência que, de certa forma, são atemporais.

A trama adapta um romance escrito por Thomas Mann. Sendo situada na virada do século XIX para o século XX, a narrativa é centrada na figura de Gustav von Aschenbach (Dirk Bogarde) um pianista em meio a uma crise criativa, afetiva e de saúde. Para lidar com seus problemas Gustav viaja a um resort em Veneza e lá se encanta pela beleza do garoto Tadzio (Bjorn Andresen) e passa a segui-lo. Ao mesmo tempo, o músico começa a desconfiar que os funcionários do hotel talvez não estejam sendo sinceros quanto a severidade da epidemia de cólera que se espalha pela cidade.

A fixação de Gustav por Tadzio é sempre enquadrada em uma chave mais platônica e idealizada, nunca sexual. O interesse do músico é o da contemplação dessa beleza que emerge naturalmente do garoto, uma beleza que ele sempre tentou transmitir através de sua música, mas teve dificuldade. A trama pondera sobre a relação entre a beleza e o desgaste do tempo. Se a beleza nas artes requer trabalho, ela ao menos sobrevive a passagem do tempo. Por outro lado a beleza física de Tadzio emerge dele naturalmente, no entanto, é algo fugidio que se desgastará com tempo. As andanças de Gustav pela cidade para observar o garoto servem, portanto, como uma metáfora para a natureza fugaz da beleza.

quinta-feira, 3 de junho de 2021

Crítica – Master of None: 3ª Temporada

 

Análise Crítica – Master of None: 3ª Temporada

Review – Master of None: 3ª Temporada
Depois de um longo hiato causado, dentre outras coisas, por acusações de assédio sexual contra o criador e protagonista Aziz Ansari, a série Master of None retorna com um foco renovado. Ao invés de Dev (Aziz Ansari), a trama dessa terceira temporada é centrada em Denise (Lena Waithe) e na relação dela com a esposa. Não significa que Ansari tenha sido colocado em escanteio, além de Dev ainda aparecer ocasionalmente, o ator dirigiu os cinco episódios da temporada que foram escritos com a Lena Waithe.

A trama parece se passar anos depois da segunda temporada. Denise é uma escritora de sucesso e vive com a esposa, Alicia (Naomi Ackie) em uma idílica casa de campo. A protagonista está tentando escrever seu segundo livro, mas encontra problemas para desenvolver a escrita. Ao mesmo tempo, Alicia insiste que é hora delas terem um filho, algo que Denise não embarca completamente.

O subtítulo original desta terceira temporada, Moments in Love, dá a tônica do que veremos ao longo dos cinco episódios, uma coletânea de momentos em uma relação afetiva com todos os complicadores, problemas e incoerências que as pessoas exibem em uma relação. São tramas relativamente contidas na intimidade das personagens, dentro de suas casas e com poucos coadjuvantes além do casal protagonista. Imagino que muitas decisões derivaram do fato de que toda a temporada foi filmada ano passado e por questões de segurança em virtude da pandemia mantiveram o elenco razoavelmente pequeno.

A pandemia parece também guiar as escolhas estéticas de Ansari ao longo da temporada, optando por takes mais longos, com uma câmera estática e a meia distância dos personagens provavelmente para diminuir o numero de pessoas necessárias no set caso resolvesse filmar com múltiplas câmeras em constante movimentação. Mesmo que pareçam decisões pragmáticas e motivadas por razões extra-fílmicas, esses elementos fazem sentido dentro da narrativa e do olhar que Ansari e Waithe construíram para a jornada de suas personagens. É como se a dupla tivesse pensado na melhor maneira de contar uma história impactante e consistente com os elementos que tinham em mãos.

A distância da câmera em relação às personagens dá a impressão de que somos observadores distantes desse cotidiano afetivo, quase como voyeurs entrando na intimidade alheia, embarcando no universo pessoal dessas personagens. Os longos takes, com poucos cortes, contribuem para uma impressão de naturalismo, construindo a impressão de que estamos vendo tudo aquilo conforme se desenrola, como em um documentário observacional, evidenciando o trabalho do elenco, em especial das duas atrizes principais, em transmitir esse sentimento de que aquelas pessoas tem uma conexão longeva, um afeto e um conhecimento da conduta da outra.

A trama olha para a complexidade do relacionamento das personagens e dos desequilíbrios que existem entre elas. Quando começamos a temporada Denise ainda surfa na onda do sucesso de seu primeiro livro enquanto Alicia está no meio de uma transição profissional, iniciando como designer de interiores. Nesse sentido, o desinteresse de Denise em ter filhos naquele momento vem, em parte, da vontade de querer continuar aprimorando a carreira. Alicia vê na maternidade um meio de construir algo para si naquela relação, saindo do papel de coadjuvante, da cônjuge que apoia a esposa bem-sucedida, uma função que fica claramente definida na entrevista que Denise dá no início do primeiro episódio.

Os conflitos nascem justamente da incapacidade delas em tentarem observar as coisas pela ótica da outra. Denise vê as necessidades de Alicia como caprichos e Alicia vê o foco de Denise na carreira como desinteresse na relação. Com isso, ao invés de dialogarem e se entenderem, as duas se afastam ainda mais e a relação vai se erodindo até o inevitável.

Ao longo da temporada a posição das duas se inverte, com Denise lidando não apenas com o fracasso da relação, mas de seus projetos como escritora, tendo que reavaliar as escolhas que tomou até então. Em paralelo Alicia vai atrás do sonho de ser mãe e apesar dos percalços, incluindo estruturas homofóbicas dos sistemas de saúde, vai adquirindo sucesso em suas empreitadas. Essa inversão nas vidas delas da a ambas perspectiva para analisar o passado da relação das duas, algo que vemos no episódio final.

O desfecho da temporada é, ao mesmo tempo, uma culminância natural do arco das duas e uma resolução um pouco covarde já que a trama não faz as personagens se comprometerem com nada em relação à situação da vida delas naquele momento. Acompanhamos as duas passando um final de semana da casa em que moraram, agora sendo alugada via aplicativos, e descobrimos que elas tem se encontrado regularmente apesar de ambas já terem se casado e tido filhos com outras pessoas.

Fica evidente o quanto elas se sentem confortáveis juntas e apreciam uma a outra, principalmente agora que o tempo lhes deu entendimento sobre o que aconteceu. Trabalhando em um emprego que odeia apenas para pagar as contas e sustentar a nova família, Denise entende melhor Alicia e o sentimento de estar se anulando para manter uma relação. Alicia por sua vez, tendo encontrado sucesso profissional entende agora o foco de Denise em querer dedicar ainda mais tempo ao trabalho para continuar subindo a novos patamares.

Apesar de alcançarem um nível mais profundo de diálogo e conforto do que com suas próprias cônjuges, a temporada termina sem que isso implique em qualquer mudança de direção para as duas, que parecem, naquele momento, em manter essa relação extraconjugal em um “não lugar”, reduzindo-a a uma mera fuga do cotidiano. Em nenhum momento as personagens parecem ponderar que um cotidiano que as instiga a fugir constantemente talvez não seja tão saudável assim.

Em uma inesperada terceira temporada que tenta fazer o melhor com as limitações de filmar durante uma pandemia, Master of None faz um exame sensível e intimista sobre um relacionamento conturbado.

 

Nota: 8/10


Trailer

quarta-feira, 2 de junho de 2021

Crítica – Godzilla vs Kong

 

Análise Crítica – Godzilla vs Kong

Review – Godzilla vs Kong
Depois de três filmes (Godzilla, Kong: A Ilha da Caveira e Godzilla 2: Rei dos Monstros) construindo o universo de monstros e preparando terreno para o embate entre os dois famosos monstros gigantes do cinema neste Godzilla vs Kong. Eles mostram que aprenderam algumas lições com os filmes anteriores, embora ainda insistam em repetir alguns dos problemas.

Na trama, Godzilla começa estranhamente a atacar cidades humanas e as pessoas começam a pensar na criatura, que até então protegia o mundo de outros monstros, como uma ameaça. O aumento da agressividade do réptil atômico preocupa a pesquisadora Ilene (Rebecca Hall), que supervisiona o Kong na Ilha da Caveira e teme que Godzilla o ataque. Ao mesmo tempo, Madison (Millie Bobby Brown) desconfia que haja um motivo para os ataques de Godzilla, que não seja apenas agressividade irracional e decide investigar os eventos.

terça-feira, 1 de junho de 2021

Crítica – Vanquish

 Análise Crítica – Vanquish

Review – Vanquish
Não fosse a presença de atores conhecidos do cinemão hollywoodiano, eu seria capaz de dizer que este Vanquish é era um filme amador por conta de suas múltiplas inaptidões técnicas e artísticas. No entanto, sabendo que foi feito por profissionais, é só um produto incompetente em todos os níveis que não serve nem como comédia acidental.

Na trama, Vicky (Ruby Rose) é uma ex-traficante de drogas que trabalha como cuidadora do policial aposentado e paraplégico Damon (Morgan Freeman). Um dia Damon revela a Vicky que ele controla um império de corrupção e drogas e precisa de alguém para recolher o dinheiro de seus negócios antes que o FBI descubra os locais. Vicky inicialmente recusa, mas Damon pega a filha dela de refém e assim a personagem precisa fazer o que ele quer.

É curioso que ao invés de dar logo de uma vez os cinco locais em que quer que Vicky recolha o dinheiro, Damon dá um local por vez, fazendo ela retornar à casa dele com o dinheiro antes de informar o local seguinte. Porque fazer isso ao invés de dar os cinco locais de vez? Não sei. Faria mais sentido, já que ele está correndo contra o tempo, do que fazer Vicky perder tempo indo e voltando, mas o filme nunca dá uma razão consistente para essa escolha do personagem.