sexta-feira, 17 de abril de 2020

Crítica – Final Fantasy VII Remake



Análise Crítica – Final Fantasy VII Remake

Resenha Crítica – Final Fantasy VII Remake
Faz mais de uma década que espero por este Final Fantasy VII Remake. A expectativa por uma reimaginação do jogo com toda a força dos consoles atuais começou no lançamento do Playstation 3, em 2005, quando a Sony recriou a abertura de Final Fantasy VII usando motores gráficos do console para mostrar todo o poder do aparelho. O público tomou aquele tech demo como um indicativo de que o remake estava a caminho, mas nunca veio. Só dez anos depois, em 2015, o jogo foi finalmente anunciado.

Após cinco anos de espera finalmente temos ele em mãos. Em geral um jogo com tanto hype, tanta espera, pode não ser capaz de dar conta das altas expectativas ou de estar à altura de um game que de tornou praticamente sagrado na memória afetiva dos jogadores. Final Fantasy VII Remake, no entanto, entrega tudo aquilo que esperamos por 15 anos. Quando escrevi sobre a demo do jogo, mencionei que carregava uma grande promessa e o produto final entrega isso. Uma reimaginação grandiosa, com música e visuais impressionantes, personagens carismáticos e um sistema de combate veloz, que reproduz nas batalhas o senso de poder e grande escala da trama.

Para quem não sabe, esse remake não dá conta de toda a trama do jogo é apenas a primeira parte de algo que irá se estender por alguns episódios (a Square não anunciou quantos serão). Esse primeiro game abrange apenas o arco de Midgar, que era relativamente curto no jogo, o que me deixou um pouco preocupado. A experiência, no entanto, é sim a de um jogo completo, com mais de quarenta horas de conteúdo e que conta um arco narrativo com começo, meio e fim, ainda que claramente conectado a uma história maior.

Para quem não conhece nada do original, a trama acompanha o mercenário Cloud Strife, que passa a trabalhar para o grupo eco-terrorista Avalanche em sua luta contra a companhia de energia Shinra, cujos reatores estão drenando a energia vital do planeta. O jogo amplia muitos elementos do game original, aprofundando, por exemplo, as personalidades e histórias de membros secundários da Avalanche, além de expandir nosso entendimento sobre como funciona a este universo e a cidade de Midgar.

Perto do final, mais especificamente no último capítulo, a narrativa começa a introduzir uma série de conceitos metafísicos envolvendo destino e linhas temporais que acaba complicando demais coisas que eram simples, se desenvolvendo em uma bagunça de diálogos expositivos digna dos piores momentos da franquia Kingdom Hearts. O pior que toda essa bagunça está a serviço de dar justificativas para coisas que não precisavam necessariamente ser justificadas e cria furos onde antes não haviam. Está longe de estragar a história, mas deve dividir os fãs. Fica a impressão que o Tetsuya Nomura poderia ter segurado a mão nessa maluquice conceitual e entregado algo bem menos questionável.

Além da trama principal, alguns capítulos da história trazem também missões secundárias a serem cumpridas opcionalmente. São o tipo menos imaginativo de sidequests, com aqueles objetivos manjados de matar x monstros ou recuperar um item para alguém. Elas valem a pena, no entanto, pelas recompensas que dão, como Matérias e ocasionalmente armas para os personagens.

Também valem porque dão mais chance para nos engajarmos no excelente sistema de combate do jogo. Misturando um estilo de ação em tempo real com as mecânicas da barra de tempo do jogo original, o combate acontece em tempo real e usar o botão de ataque serve também para encher a barra de ação de cada personagem. Com a barra de ação cheia é possível utilizar as habilidades especiais e magias, causando mais dando e atordoando os inimigos para golpes devastadores.

Como o grupo pode ter até três personagens, o jogador precisa ficar alterando entre eles a cada luta para que encham sua barra de ação e usem suas habilidades. A coordenação entre o grupo é essencial e se o jogador focar em controlar apenas um personagem, provavelmente terá dificuldades. Simplesmente apertar o botão de ataque não vai te levar longe, sendo preciso pesar as fraquezas e a barra de atordoamento dos inimigos. As batalhas com chefes são particularmente desafiadoras, com muitos chefes mudando seus padrões de ataque e sendo capazes de aniquilar facilmente o grupo se o jogador não estiver atento.

Cada personagem também tem habilidades bem particulares, que ajudam a diferencia-lo dos demais. Cloud pode alterar para uma segunda postura de combate que o deixa mais lento, mas mais poderoso e capaz de realizar contra-ataques quando bloqueia um golpe. Tifa pode realizar golpes que aumentam o percentual de dano a inimigos atordoados e assim por diante. No game original a única coisa que diferenciava os personagens durante o combate eram seus Limits, golpes extremamente poderosos, também presentes nesse remake, que só poderiam ser usados quando a barra tivesse cheia. Aqui, no entanto, cada guerreiro tem um conjunto de atributos, habilidades e mecânicas de gameplay que contribuem para uma maior identidade.

O sistema de Matéria do original retorna. Matérias são orbes mágicos que permitem aos personagens usar magias e determinadas habilidades e podem ser equipados em qualquer um, o que dá versatilidade em definir os papéis de cada um no grupo. O sistema de equipamentos ganha algumas nuances, já que subir de nível dá pontos de habilidade que são usados para melhorar as armas, aumentando os valores de seus atributos e lhes conferindo novas habilidades. Assim, mesmo as armas iniciais de cada um podem permanecer opções viáveis até o fim do jogo ou dão diferentes opções de builds para os personagens que podem se adequar a diferentes situações de combate. Algumas armas vão priorizar o ataque físico, outras o ataque mágico, outras defesa e assim por diante. Como elas continuam em evolução, podemos retornar a uma arma anterior caso a consideremos mais adequada para lidar com uma situação específica.

Os gráficos trazem uma enorme sensação de escala, transmitindo a grandiosidade de Midgar, bem como o contraste entre a modernidade dos níveis superiores e a precariedade das comunidades do nível inferior, que mais parecem favelas. Impressiona também a qualidade dos efeitos de iluminação (sair de um ambiente escuro para um muito claro deixa a tela brevemente ofuscada, como se nossos olhos estivessem se adequando à variação de luz) e os efeitos de partícula que inundam a tela durante os combates quando múltiplas magias e habilidades inundam a tela.

Por outro lado, esse nível de detalhamento as vezes provoca alguns problemas de performance, com texturas demorando de carregar (ao menos em um PS4 base) quando chegamos a um novo ambiente. O que faz o cenário parecer em baixa resolução por alguns segundos até que todas as texturas efetivamente surjam nos objetos ao nosso redor. Considerando que ele é (ao menos por enquanto) exclusivo do console da Sony, esses problemas de otimização da performance soam incômodos, já que se eles estão desenvolvendo para uma única plataforma se espera que deem o tempo para que o jogo seja devidamente otimizado.

Final Fantasy VII Remake faz valer toda a espera, entregando uma excelente e aprofundada reimaginação da história épica que nos conquistou há mais de duas décadas. Ele amplia nosso entendimento desse universo e atualiza as mecânicas de jogo como poucos remakes fizeram.

Nota: 9/10


Trailer

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